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2. PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO NO BRASIL

2.2. Pós-Graduação Stricto-Sensu na Unicamp

2.2.3. Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE/FE

A história do PPGE/FE, segundo documentos do programa, se confunde com a da FE, tendo se iniciado em agosto/1975, com a implantação do curso de mestrado em educação, sendo suas disciplinas e demais atividades delegadas às cinco áreas de concentração e departamentos existentes na época. Em meados da década de 1970, como várias outras unidades de ensino da Unicamp, a FE recebeu destacados intelectuais de sua área, que

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estavam sendo perseguidos e discriminados pelo regime militar da época. Nesta condição foram convidados para colaborar na implantação do PPGE/FE, entre outros, Casimiro dos Reis Filho, Maurício Tragtemberg, Evaldo Amaro Vieira, Luiz Antonio da Cunha, Joel Martins e Dermeval Saviani.

Em 1980, houve a implantação do curso de doutorado em educação, que foi se compondo nas mesmas áreas e departamentos. Na década de 1980, também passaram a compor seu quadro docente, outros renomados professores como Paulo Freire, Moacir Gadotti, Vanilda Paiva e Gilberta Januzzi, entre outros pensadores que colaboraram muito com as discussões sobre educação no país, abordando vários campos de conhecimento e se tornando grandes referências da produção acadêmico-científica da área, tendo orientado os trabalhos de vários docentes da FE.

Interessante que, passados muitos anos, Saviani (2002) apresentou fatos interessantes sobre sua trajetória como docente do PPGE/FE, citando que, como orientador de mestrado e doutorado, aprendeu a acolher as propostas dos alunos sobre temas de pesquisa, não só sugerindo os de seu interesse ou que encontravam- se em evidência naquele período. Mencionou que, ao longo do tempo, adotou a forma coletiva de orientação de trabalhos, discutindo projetos em diferentes fases de pesquisa, um procedimento que se revelou enriquecedor, interferindo de forma positiva na qualidade dos trabalhos por meio de um processo coletivo de aprendizagem.

Posteriormente houve a consolidação dos grupos de pesquisa e de outras formas sistemáticas de produção, envolvendo docentes e discentes do programa, possibilitando um crescente desenvolvimento do conhecimento. O autor comenta ainda que, a partir dos resultados de um balanço de 1970 a 1990 sobre a pós-graduação brasileira, seu momento de consolidação havia chegado, pois já havia produzido muitos resultados satisfatórios, mas que, devido à falta de financiamentos, passaria a enfrentar uma nova realidade, com o forte declínio de seus recursos.

Um Relatório de Autoavaliação produzido em 2005 cita que o programa passou por vários processos de mudança ao longo de sua trajetória. Menciona que, em 1989, o PPGE/FE atingiu o número de 30 docentes em seu quadro; em 1995, passou a contar com 75 doutores atuando no programa (um aumento de mais de 100%). Na década seguinte, 108

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docentes estavam incorporados, ou seja, uma média de três novos doutores por ano, causando um impacto perceptível nos rumos da docência e pesquisa na FE. À medida que mais professores compunham seu quadro, foi possível, tanto a ampliação do número de vagas, como o aumento da média de titulação discente por ano. Em termos comparativos, entre 1984 e 1994, a média de titulação era de 31 alunos/ano, enquanto que, na década seguinte, houve um aumento substancial, passando para 74 alunos/ano.

Gamboa (2012) comenta os primeiros cursos de pós-graduação em educação do país, apresentavam como predominante, a abordagem empírico-analítica em suas pesquisas, em função de uma tradição positivista que considerava que a pesquisa científica deveria gerar observações e dados por meio de variáveis quantificáveis. No final da década de 1970, já havia a opção entre a abordagem quantitativa ou qualitativa, mas até a metade da década de 1980, 60% da produção em educação ainda se baseava no modelo empírico-analítico, embora nem todos utilizassem tratamento estatístico.

Também é ressaltado pelo autor que o ensino superior não foi objeto de estudo em nenhum curso stricto-sensu nas décadas de 1970 e 1980, sendo registrados apenas alguns grupos de pesquisa com tal abordagem, como o Núcleo de Pesquisa do Ensino Superior – NUPES, da USP e o Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educação Superior – GEPES, da Unicamp (no qual este trabalho está inserido, sendo orientado por sua coordenadora), além de algumas iniciativas da UFSC e da UFRS. Cita ainda que, na década de 1980, foi realizado um estudo pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA tendo apresentado que, dentre o conjunto de 121.228 docentes do ensino superior da época, 12,7% possuía o doutorado; 21,2% o mestrado e 66,1%, apenas o curso de especialização ou a graduação, verificando que os mais qualificados se encontravam em instituições públicas, federais e estaduais.

Santos Filho, Balzan & Gamboa (1991) desenvolveram um trabalho comparando as tendências de pesquisa do PPGE/FE desde seus anos iniciais para mapear sua evolução, levantando que somente após 1980 a prioridade das pesquisas passou a ter uma tendência interdisciplinar, com articulação macro e micro de problemas educacionais, bem como seu foco voltou-se para o desenvolvimento e a consolidação das ciências da educação. Assim,

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suas áreas, subáreas, núcleos temáticos de pesquisa e temas de interesse passaram a expressar novas tendências.

A fragmentação e a dispersão verificadas nos anos iniciais foram reduzidas, havendo a diminuição dos núcleos temáticos, o surgimento dos grupos de pesquisa, bem como maior integração e articulação entre os mesmos. Além da pesquisa individual, Santos Filho, Balzan & Gamboa (1991) citam o surgimento de pesquisas interdisciplinares, intra e interdepartamentais, integrando o conhecimento produzido, a teoria e a prática, aumentando sua relevância.

Outra mudança foi a adoção de abordagens mais específicas e concretas, no lugar das gerais e teóricas. O anterior predomínio da abordagem empírico-positivista, com técnicas estatísticas e tratamento analítico, abriu espaço para propostas que tratavam o objeto como parte de um fenômeno, inserido dentro de um contexto abrangente. Ao longo do tempo, as pesquisas desenvolvidas pelo PPGE/FE, assim como produzidas em outros programas de pós-graduação da área de educação, passaram a enfocar problemas mais concretos, contando com contribuições de diferentes áreas.

Numa análise entre métodos e teorias, referente à produção do conhecimento em educação de 1987 a 2012, Gamboa (2012) indica várias transformações, como: a expansão dos programas de pós-graduação; o aumento do número de teses e dissertações, bem como as mudanças nas condições da produção, através da formação de grupos e redes de pesquisadores. O autor ainda destaca a importância das formas coletivas de produção e as condições controversas do produtivismo acadêmico no contexto da competividade internacional.

Quanto à expansão dos programas de educação, de 1987 a 2012, o país passou de 15 a 122 programas, registrando um aumento de 815% em 25 anos. Além disso, ampliou sua produção, passando de 146 dissertações e 14 teses (1987) para 4.090 dissertações e 1.018 teses (2012). Em relação aos grupos de pesquisa, não existiam registros oficiais em 1987, quando já começavam as discussões sobre a necessidade de estruturar os programas em linhas e grupos de pesquisa, pois eram estruturados em áreas de concentração.

Entre 1996 e 1998, o PPGE/FE passou por um processo de análise e discussão nas várias instâncias da instituição, mudando sua configuração, em junho de 1998, fixando-se

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em oito áreas temáticas, sendo os cinco departamentos responsáveis pelas mesmas. As atividades relacionadas à pós-graduação eram propostas e executadas pelas áreas, coordenadas por um docente escolhido por seus pares.

Apesar da origem modesta, a FE e o PPGE foram construindo uma sólida participação no pensamento nacional sobre educação, propondo políticas e cursos, contando com a participação de docentes de várias instâncias, em nível regional e nacional. Entre outros fatos importantes, houve na FE a criação da Conferência Brasileira de Educação (1978-1986), um espaço de debates sobre a LDB – Lei 9394/1996. Além disso, a instituição foi responsável pela publicação de uma das mais importantes revistas da área – Educação e Sociedade, lançada em novembro/1978, posteriormente publicada em parceria com o Centro de Estudos de Educação e Sociedade – CEDES.

Também foram criadas na FE outras publicações importantes, como a Revista Pro- Posições, existente desde 1990 (indexada em vários bancos de dados e avaliada com o conceito ‘A’ no Qualis) e a Revista Zetetiké, publicada desde 1993, como as anteriores, também ligada ao PPGE/FE, voltada a trabalhos da Educação Matemática.

Segundo o Relatório de Autoavaliação produzido por seus membros em 2005, o PPGE/FE já vinha acumulando significativa relevância no cenário nacional, tanto pela militância política e teórica de seu corpo de pesquisadores, como pela reconhecida liderança na comunidade educacional brasileira e latino-americana.

O programa se constituiu ponto de referência para interfaces, convênios, intercâmbios e projetos conjuntos de investigação com grupos, laboratórios e instituições brasileiras, da América Latina, Europa, América do Norte e Canadá. Em paralelo, houve a expansão e a melhoria de sua infraestrutura, que incluiu a construção de um amplo prédio para a biblioteca, com salas de estudo individuais e de grupo, além de espaço para consultas rápidas e auditório.

Dados do Anuário Estatístico 2014 / Base 2013, apresentam que a nova biblioteca da FE possui obras de referência, coleções raras, documentos, manuscritos e outros materiais em seu acervo, que atualmente agrega 74.600 livros e 6.673 teses, sendo 3.124 digitalizadas. Para ilustrar seu alcance e relevância, somente em 2013, o acesso à Biblioteca Virtual desta unidade registrou 1.317.771 visitas e 77.001 downloads. Também houve uma

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expansão do edifício de salas de aula, implantou-se um novo laboratório de informática, além de o antigo ter sido modernizado; foi construída uma sala de videoconferência com auditório, entre outras ações.

Ao longo dos anos, foi registrada ainda a melhoria da titulação dos profissionais não docentes que atuam na FE, prestando serviços à pós-graduação e a graduação, sendo que, no ano de 2005, já compunham seu quadro: um doutor, cinco mestres, 18 graduados, 42 técnicos de nível médio e apenas dez servidores com ensino fundamental.

O PPGE/FE, segundo seu regulamento, objetiva a formação em nível de mestrado e doutorado, de pesquisadores, docentes e gestores para atuação direta ou indireta com todos os níveis e modalidades do sistema educacional do país e da América Latina, assim como a promoção de estudos e pesquisas no campo educacional. Para o cumprimento destes objetivos, tem oferecido ainda cursos de pós-graduação lato-sensu, modalidade especialização, nas diversas áreas do campo educacional, além de receber pesquisadores brasileiros e estrangeiros para realização de estágios de pós-doutorado, com a supervisão de docentes do programa, permanecendo em contato direto com os grupos de pesquisa. Muitos docentes do programa realizaram seu doutorado no exterior, em países como Estados Unidos, Alemanha e França, sendo que boa parte dos docentes possui pós-doutorado, livre- docência e são titulares.

Interessante citar que, em 2010, a coordenação do PPGE/FE realizou um levantamento de informações sobre o destino profissional desses egressos, por meio da consulta de seus currículos na Plataforma Lattes e de contatos por e-mail. Do total de doutores da época, 33 já atuavam como professores de programas de pós-graduação, em diversas regiões do Brasil; 191 atuavam como professores universitários, dos quais, 99 estavam trabalhando concursados em instituições públicas. Vale ressaltar que inúmeros currículos estavam desatualizados ou incompletos, impedindo a fidedignidade da pesquisa e consequentemente a transferência dos dados obtidos sobre os egressos, tanto para o sistema de avaliação do programa, quanto para o sistema de avaliação da Capes, pois alguns índices poderiam gerar sérios prejuízos.

De forma geral, 85% do quadro docente do PPGE/FE se titularam no doutorado de universidades públicas brasileiras; 7,5% em universidades particulares nacionais e 7,5%

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obtiveram seu doutorado em universidades do exterior. O quadro atual de docentes do programa é formado, em grande parte, por seus egressos, reforçando a confiabilidade em sua qualidade e excelência, mas também denotando a dificuldade de atração de perfis talentosos titulados por outras universidades.

Além das bolsas de estudo concedidas pela Capes e CNPq (infelizmente ofertadas em pequena quantidade em relação à sua procura), os pós-graduandos podem se candidatar às bolsas da FAPESP; da Fundação FORD (representada no Brasil pela Fundação Carlos Chagas) e, para doutorandos interessados em desenvolver parte de seus estudos no exterior, a Capes tem oferecido a possibilidade de Estágio de Doutorado no Exterior - PDEE (doutorado sanduíche).

Outro dado relevante é a criação do Programa de Estágio Docente – PED na Unicamp em 2003, com o objetivo do aperfeiçoamento dos pós-graduandos em relação ao exercício da docência superior, por meio de participação semestral em disciplinas de graduação na própria universidade, sendo crescente a sua evolução. Existem regras para a seleção e o acompanhamento dos pós-graduandos bolsistas e voluntários, que podem atuar em uma das três modalidades de participação, que possuem carga-horária e atribuições específicas, dependendo da vaga: PED A, PED B ou PED C.

Foram registradas 75 participações na FE em 2012, sendo 41 remuneradas (quatro como PED B e 37, PED C) e 34 voluntárias. O ano de 2013 contou com 98 participações neste programa, 46 remuneradas (cinco como PED B e 41, PED C) e 52 voluntárias. Além disso, o PPGE/FE registrou na composição de sua equipe, 85 docentes ativos em sua carreira de magistério superior, 22 professores colaboradores voluntários e 70 servidores não docentes, tendo registrado 1.153 produtos científicos. Além disso, ocorreu o ingresso de 139 novos alunos (76 de mestrado e 63 de doutorado) e 156 titulações (73 de mestrado e 83 de doutorado).

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