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O Programa Escola de Gestores da Educação Básica como política pública de

CAPÍTULO I A FORMAÇÃO DE GESTORES ESCOLARES NO BRASIL: DOS

1.7 O Programa Escola de Gestores da Educação Básica como política pública de

ESCOLARES.

A partir de 2004, o Ministério da Educação passa a induzir, fomentar e propor um conjunto de programas, projetos e ações voltados para a formação inicial e continuada dos profissionais da educação e para a melhoria e fortalecimento da gestão educacional dos sistemas de ensino e unidades escolares. Essas políticas passam a delinear novas formas de atuação do MEC junto aos entes federativos no enfretamento dos problemas educacionais.

Neste trabalho parte-se do pressuposto de que os processos de formulação e implementação de políticas públicas, como asseveram Cunha e Cunha (2008), “envolvem conflitos de interesses entre camadas e classes sociais, e as respostas do Estado para essas questões podem atender a interesses de um em detrimento do interesse de outros”. Nesta perspectiva o desenho de políticas públicas não é um processo linear e unidirecional, mas um processo complexo e no qual emergem tensões e conflitos, destacando-se a participação de diversos movimentos que lutaram e lutam por garantia de direitos civis, políticos e sociais. Muitas ações do Estado emergem como resultado dessas lutas (CUNHA; CUNHA, 2008, p. 12).

Nesse contexto, o desenho inicial do Programa Escola de Gestores, enquanto política pública tem início em 2004 a partir de manifestação do ex-ministro da Educação Tarso Genro, de que uma política de formação de gestores escolares deveria fazer parte da agenda de ações prioritárias do MEC.

As discussões iniciais para a criação do Programa contaram com a participação e influência de organismos internacionais como o Fundo das Nações Unidas para a Infância, a Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI), a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), o Banco Mundial e entidades empresariais como a Fundação Victor Civita. Participaram também como órgãos gestores da educação no País o Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSED) e a União dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME).

Em 2005 o Programa teve o seu início oficial com o projeto-piloto de um Curso de Extensão em Gestão realizado pelo INEP e oferecido em dez Estados da Federação5,

5 Os estados foram Tocantins, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Bahia, Espírito Santo,

utilizando o ensino a distância de forma semipresencial. A organização curricular e acadêmica do curso contou com a parceria da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e interface com as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação.

O MEC justifica essa iniciativa política de formação continuada de diretores tendo como referência estudos e pesquisas que identificam que as escolas que apresentam bom desempenho de proficiência dos alunos têm, entre outros fatores, diretores buscam se atualizar, promover uma gestão democrática e participativa envolvendo a comunidade escolar. Aliado a esse contexto, dados do Censo Escolar/2004 indicam que, no Brasil, a realidade da gestão escolar é bastante diversa no que se refere à formação dos dirigentes escolares. Do total de dirigentes escolares, 29,32% possuem apenas formação em nível médio, sobretudo nos Estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O percentual desses dirigentes com formação superior é de 69,79%, enquanto apenas 22,96% possuem curso de pós-graduação lato sensu/especialização.

Entre os marcos jurídicos que justificam o citado programa estão a LDB (Lei nº 9.394/96), especificamente no seu artigo 63, inciso III, que determina às instituições formadoras de educação manter “programas de educação continuada para os profissionais da educação dos diversos níveis”. O artigo 80 dispõe que “o Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada”. Ainda segundo a LDB, o artigo 87, inciso III, das Disposições Transitórias, prevê que o Distrito Federal, cada Estado e Município, e supletivamente a União devem “realizar programas de capacitação a distância para todos os professores em exercício, utilizando também, para isto, os recursos da educação a distância”.

Na etapa piloto do Programa foi proposta uma engenharia organizacional e de gestão com a participação de várias instituições. Ao INEP coube a responsabilidade pela Coordenação Nacional do Programa e apoio técnico e financeiro. O FNDE financiou a elaboração e desenvolvimento dos materiais instrucionais, bem como garantiu recursos para alimentação e diárias para os especialistas e as equipes técnicas envolvidas. Coube diretamente ao MEC por meio da SEB a avaliação externa do Curso e a Secretaria de Educação a Distância (SEED) formação dos assistentes e orientação quanto à utilização da plataforma e-Proinfo6 utilizada no Curso de Extensão. A etapa piloto contou também

6 O e-Proinfo é um ambiente Colaborativo de Aprendizagem que utiliza a tecnologia internet e permite

concepção, administração e desenvolvimento de diversos tipos de ações, como cursos a distância, complemento a cursos presenciais, projetos de pesquisa, projetos colaborativos e diversas outras formas

com parcela de financiamento do Banco Mundial, o qual, segundo Sholze (2007), exigiu reformulações no projeto básico visando atender suas diretrizes.

Desde as discussões do Projeto Básico do Programa ficou definido que a disseminação dessa política de formação de diretores ficaria a cargo da SEB/MEC e que o INEP coordenaria apenas a fase final do Projeto Piloto, por se tratar de um estudo de viabilidade.

Assim, a partir de 2006, a SEB/MEC por meio do seu Departamento de Apoio aos Sistemas de Ensino e Coordenação de Articulação Fortalecimento Institucional dos Sistemas de Ensino (CAFISE) inicia as discussões para a continuidade e expansão do programa. Nesse momento, novos atores e sujeitos entram em cena visando delinear outros formatos, objetivos e diretrizes para a política de formação em análise.

Para as discussões iniciais e o desenho da nova etapa de disseminação do Programa a SEB/MEC utilizou como subsídio às discussões, as recomendações da etapa-piloto realizada pelo INEP e encomendou a realização de um estudo sobre experiências de formação de gestores de escolas públicas que foi realizado por uma consultoria particular7. O estudo encomendado identificou e analisou comparativamente as cinco principais iniciativas voltadas para a formação de gestores escolares. São elas:

1) Programa de Capacitação a Distância para Gestores Escolares (Progestão); 2) Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica (MEC/INEP –

Versão Piloto);

3) Programa de Formação Continuada de Gestores da Educação Infantil e Fundamental (Proged);

4) Centro Interdisciplinar de formação de Professores (Cinfop);

5) Programa de Formação de Gestores da Escola Pública (CAED/UFJF). O estudo apresentou um esboço geral sobre os cinco programas analisados com informações sobre as instituições responsáveis, parcerias, abrangência, público-alvo, aspectos da elaboração e implementação, metodologias, alguns elementos sobre as concepções dos programas e avaliação. Esse estudo tem o mérito de apresentar ao final de cada capítulo algumas questões norteadoras que devem ser consideradas para a formulação e implementação de um curso de formação de alcance nacional.

Para definir o formato e a estrutura pedagógica e curricular da nova proposta formativa do programa a SEB/MEC instituiu um Grupo de Trabalho Interinstitucional de apoio a distância e ao processo ensino-aprendizagem. O e-Proinfo é composto por dois Web Sites: o site do Participante e o site do Administrador.

Nacional (GTIN), com a participação de instituições e entidades educacionais como ANPED, ANPAE, FORUMDIR, CONSED, UNDIME, CNTE, UNESCO, ANDIFES e órgãos do próprio MEC como a SEED e o Fundescola, este último vinculado ao FNDE.

Sobre o GTIN, Medeiros (2007) relata que:

Esse GTIN, constituído por diferentes forças políticas, analisou o contexto onde esse processo de formação continuado seria fomentado, bem como desafios, perspectivas e limitações possíveis. E assim definiu encaminhamentos, no coletivo, para a continuidade dessa proposta de formação de gestores a distância, com no mínimo 360h, tendo como base dados do Censo Escolar (2004) que demonstram a baixa formação dos gestores escolares, principalmente, no que se refere ao nível de pós- graduação (MEDEIROS, 2007, p. 49).

Nas discussões realizadas pelo GTIN ficou definido que:

a) Tendo o Curso como objeto de estudo e reflexão a gestão democrática da educação e da escola, sugeriu-se que os especialistas e membros do Grupo de Trabalho nº 5 – Estado e Política Educacional - da ANPED assumissem o processo de planejamento e desenvolvimento do Curso;

b) A articulação institucional e a oferta do Curso fosse efetivada, em regime de colaboração, com as Instituições Federais de Educação Superior – IFES (lócus da formação), por meio das Pró-Reitorias de Pós-Graduação, e nas unidades da Federação por meio das Secretarias Estaduais de Educação em articulação com a representação da UNDIME local.

c) Nas IFES, sugeriu-se que a oferta do Curso fosse vinculada aos Grupos de Estudos e Pesquisas, das Faculdades e/ou Centros de Educação, em especial, da área de Políticas e Gestão da Educação.

As diretrizes do curso apontam para uma estrutura curricular e pedagógica assentada num tripé constituído por: direito à educação, gestão democrática e qualidade social da educação. Essa proposta tem como ponto de partida o fato de que a gestão democrática das unidades escolares constitui uma das dimensões que pode contribuir substantivamente para viabilizar o direito à educação como um direito universal (BRASIL, 2007).

A partir desse tripé foi proposta uma organização curricular consubstanciada em seis Salas Ambientes, além de um ambiente introdutório à plataforma Moodle e ao Curso de Especialização.

Fonte: MEC/SEB – Diretrizes Nacionais do Curso de Especialização em Gestão Escolar (2007)

De acordo com as diretrizes e projeto do curso, verifica-se que o mesmo propõe formar o professor-gestor com uma formação ampla sobre educação e escola, comprometido com a gestão democrática e a qualidade social da educação.

As diretrizes do programa apresentam como um dos marcos políticos do Curso de Especialização a manutenção do papel do professor em detrimento à adoção da figura do tutor, presente na maioria dos cursos ofertados por meio da educação a distância. As diretrizes do curso afirmam que o papel do professor é crucial para o bom andamento do curso, razão pela qual a dinâmica pedagógica enfatiza a ação docente em todos os momentos do curso do curso, optando pela manutenção do professor na efetivação, no acompanhamento e no monitoramento e avaliação das ações de formação a serem desenvolvidas (BRASIL, 2007, p. 10).

SALA I FDE AMBIENTE MOODLE SALA II PGE SALA III PPGE SALA IV TO SALA V OF SALA VI PV

Introdução ao Ambiente Moodle e ao Curso = 40h Salas Ambientes:

I – Fundamentos do Direito a Educação (FDE) = 60h II – Políticas e Gestão na Educação (PGE) = 60h

III – Planejamento e Práticas da Gestão Escolar (PPGE) = 60h IV – Tópicos Especiais (TO) = 30h

V – Oficinas Tecnológicas (OF) = 30h VI – Projeto Vivencial (PV) = 120h

O Curso teve início a partir de 2007 nos dez Estados da Federação que participaram da experiência piloto realizada pelo INEP, sendo oferecidas 400 vagas para cada estado, num total de 4000 vagas. A responsabilidade pela gestão e oferta local do Curso coube às respectivas universidades federais de cada estado com a participação das Secretarias Estaduais e Municipais de Educação que formaram um Grupo de Trabalho Interinstitucional Local (GTIL).

Apresentado o desenho geral do Programa Escola de Gestores a próxima sessão apresenta os resultados de alguns estudos e pesquisas sobre programas de formação de gestores escolares.

1.8 O QUE DIZEM AS PESQUISAS SOBRE OS PROGRAMAS DE FORMAÇÃO