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CAPÍTULO 3 O CONTEXTO DAS RELAÇÕES MÚTUAS DE INCENTIVO À COPRODUÇÃO CINEMATOGRÁFICA ENTRE BRASIL E ARGENTINA

3.3 O papel do Programa Ibermedia

Outro mecanismo de fundamental importância para a cinematografia na região é o Programa de Desenvolvimento Audiovisual em Apoio à Construção do Espaço Visual Ibero- americano (Ibermedia), que faz parte da política audiovisual da Conferência de Autoridades Cinematográficas Ibero-americanas (CACI). O programa foi aprovado como um fundo financeiro multilateral de fomento da atividade cinematográfica na VII Cimeira Ibero- americana de Chefes de Estado e de Governo, celebrada também na Venezuela, na ilha de Margarita, nos dias 8 e 9 de novembro de 1997.

O Brasil e a Argentina estão entre os 18 financiadores do Fundo Ibero-americano de Apoio Ibermedia, um programa de estímulo à promoção e à distribuição de filmes Ibero-

americanos. Cada país deve contribuir com no mínimo US$ 100 mil anuais. A Espanha, país- sede, é o maior investidor com US$ 3 milhões por ano. O Brasil é o segundo maior financiador, colaborando com US$ 600 mil anuais. Já a Argentina está em quinto lugar, aportando US$ 400 mil por ano (ZAMBRANO, 2012, em entrevista à pesquisadora). Há ainda outros 17 países membros que financiam o programa através de cotas anuais, são eles: Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Chile, Equador, Guatemala, México, Panamá, Paraguai, Peru, Portugal, Porto Rico, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. É significativo ressaltar que esses dados são de 2012; não conseguimos informações se o volume de investimento no programa foi alterado.

O comitê intergovernamental do fundo promove quatro programas de apoio, um deles voltado à coprodução de filmes ibero-americanos. De 2009 a 2015, o fundo ajudou a financiar 339 projetos de coproduções da região, beneficiando principalmente cineastas iniciantes na dinâmica da coprodução internacional. Desde 1998, quando o Ibermedia foi criado, até 2015 o programa realizou 23 convocatórias e ajudou 736 projetos de coprodução ibero-americanos, contribuindo também com apoio à exibição dos filmes e com a formação de cineastas, por meio do oferecimento de bolsas de estudo para profissionais de todos os países da comunidade.

Entre os projetos financiados pelo programa Ibermedia no período de 2009 a 2015, pelo menos nove são coproduções brasileiro-argentinas. São elas: Historias que só existem quando lembradas (2009115, 2012116), uma coprodução entre Brasil, Argentina e França, dirigido por Julia Murat; A sorte em suas mãos (2011, 2012), entre Argentina, Brasil e Espanha, dirigida por Daniel Burman; Infância clandestina (2011, 2012), entre Brasil, Argentina e Espanha, dirigida por Benjamin Ávila; A memória que me contam (2011, 2013), entre Brasil, Chile e Argentina, dirigida por Lúcia Murat; Mate-me por favor (2012, 2016), entre Brasil e Argentina, dirigida por Anita Rocha da Silveira; Habi, a estrangeira (2012, 2013), uma coprodução entre Brasil e Argentina, dirigida por Maria Florencia Alvarez; O mistério da felicidade (2011, 2014117), entre Brasil e Argentina, dirigida por Daniel Burman; Zama (2014, 2017118), filme realizado entre Argentina, Brasil e Espanha, quarto longa de

115 Ano de recebimento do financiamento pelo Ibermedia. 116 Ano de estreia do filme nas salas de exibição no Brasil.

117 Ano de lançamento da obra nas salas comerciais da Argentina. Esse filme não consta na lista de coproduções

internacionais com nacionalidade brasileira lançadas até 2016, segundo a Ancine (2016).

118 2017 é o ano previsto para o lançamento de Zama nas salas comerciais, porém, até o fechamento dessa

ficção de Lucrécia Martel, que é uma das cineastas latino-americanas mais reconhecidas internacionalmente; e Sueño Florianópolis (2015, 2017119), uma coprodução entre Brasil e Argentina, dirigida pela argentina Ana Katz.

Abrindo um parêntese, é significativo pontuar que Lucrécia Martel é uma diretora argentina que ganhou diversos prêmios internacionais pelos seus longas: O Pântano/La ciénaga (2001); A mulher sem cabeça/ La mujer sin cabeza (2008); e La niña santa (2004). Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Martel comenta sobre a sua experiência em coprodução internacional no filme Zama e opina que “ainda estamos vivendo o começo das coproduções entre os países latino-americanos” (2015, n.p) . Em seguida: “Há muito o que aperfeiçoar nelas, e isso não vai acontecer enquanto não houver motivos orgânicos pelos quais elas se realizem”(MARTEL, 2015, n.p), argumenta. Destacamos esse depoimento a título ilustrativo, mas também para sublinhar um aspecto emblemático das coproduções: por um lado, os mecanismos de apoio às coproduções possibilitam um aumento da democracia audiovisual; por outro, são alvos de um discurso conservador que critica a abertura de financiamento público a obras de qualidade supostamente duvidosa. A crítica de Martel reflete esse pensamento de que somente certos tipos de filmes deveriam receber dinheiro público. Essa é uma questão para longas discussões.

Analisando por outro prisma, verificamos que do total de coproduções brasileiro- argentinas lançadas no Brasil no período de 2009 a 2015, 57% receberam financiamento do Ibermedia, a saber: A festa da menina morta (2006120, 2009), filme dirigido por Matheus Nachtergaele e coproduzido por Brasil, Portugal e Argentina; Olhos azuis (2010), de José Joffily, entre Brasil e Argentina; Violeta foi para o céu (2010, 2012), do diretor chileno Andrés Wood, realizado entre Brasil, Chile e Argentina. Além dos citados anteriormente: Infância Clandestina (2011, 2012); Histórias que só existem quando lembradas (2009, 2012); Habi, a estrangeira (2012, 2013); A sorte em suas mãos (2011, 2013); e A memória que me contam (2011, 2013).

Como podemos observar no quadro 7, a seguir, os projetos que mais receberam apoio, no período analisado, foram originários da Espanha (43 filmes), Argentina (42),

119 Apenas uma referência citava 2017 como o ano previsto para o lançamento de Sueño Florianópolis nas salas

comerciais. No entanto, até o fechamento dessa pesquisa, o filme ainda não havia sido lançado.

120 Como na metodologia usada anteriormente, aqui as referências desse filme e dos demais estão identificadas

da seguinte maneira: primeiro o ano da convocatória do Ibermedia pelo qual o projeto foi contemplado; e, em seguida, o ano do lançamento da obra nas salas brasileiras, cuja data às vezes não coincide com o ano de estreia na Argentina.

Uruguai (26), Venezuela (26) e Brasil (24). Como as produções envolvem dois ou mais países, a quantidade de filmes beneficiados de cada país é bem superior a esse número. No caso, ressalta-se, para a elaboração do quadro a seguir consideramos apenas os países sedes das produtoras majoritárias que solicitaram o benefício; de acordo também com o critério de busca de projetos por país, como disponível no site do programa Ibermedia na internet121. Os anos listados no quadro representam os anos das convocatórias nos quais os projetos de coprodução foram contemplados.

Quadro 7 - Quantidade de obras apoiadas pelo Ibermedia – por país solicitante do projeto de coprodução (2009-2015) 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Total Argentina 6 8 7 5 7 4 5 42 Brasil 4 3 3 2 3 3 6 24 Bolívia 3 1 3 1 2 1 1 12 Colômbia 4 3 5 3 3 2 2 22 Costa Rica 2 1 1 1 3 0 2 10 Cuba 2 1 1 2 2 1 1 10 Chile 4 5 4 2 2 3 2 22 Equador 4 5 3 3 1 2 2 20 Espanha 6 9 6 5 6 6 5 43 Guatemala 1 1 0 0 0 0 0 2 México 3 4 2 2 2 2 2 17 Panamá 1 2 0 4 1 2 0 10 Paraguai 0 0 0 2 0 1 1 4 Peru 3 3 4 2 3 3 2 20

121 Disponível em: <http://www.programaibermedia.com/categorias-proyectos/proyectos/>. Acesso em: 06 jan.

Portugal 3 3 1 2 2 2 3 16