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Proposições das outras Deputadas Federais Evangélicas da 55ª Legislatura

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3. ATUAÇÃO CONGRESSUAL: POSICIONAMENTOS DAS DEPUTADAS FEDERAIS

3.3 Proposições das outras Deputadas Federais Evangélicas da 55ª Legislatura

Além de Benedita da Silva, adepta da Igreja Presbiteriana e de Tia Eron e Rosângela Gomes, adeptas da Igreja Universal do Reino de Deus, outras nove deputadas evangélicas tomaram posse nos cargos na Câmara dos Deputados em janeiro de 2015. Em breve levantamento realizado sobre as atuações das nove deputadas federais sobre a temática de gênero referente ao período de 2015 a 2017, registram-se trechos de suas proposições retirados no site da Câmara dos Deputados.RE0/2

Bruna Furlan (PSDB/SP) apresentou, com a deputada federal Geovania de Sá, o requerimento 60/2015, solicitando audiência pública para debater, na área da Saúde, a prescrição e os efeitos decorrentes do uso de anticoncepcionais.

Bruniele Ferreira Gomes – Brunny (PR/MG) foi signatária do Projeto de Decreto Legislativo 30/2015, que proíbe o “Nome social de pessoas trans”. O projeto susta a Resolução nº 12, de 16 de janeiro de 2015, do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoções dos Direitos de Lésbicas, Gays, Travestis e Transexuais (CNDC/LGBT), que “estabelece parâmetros para a garantia das condições de acesso e permanência de pessoas travestis e transexuais – e todas aquelas que tenham sua identidade de gênero não reconhecida em diferentes espaços sociais – nos sistemas e instituições de ensino, formulando orientações quanto ao reconhecimento institucional da identidade de gênero e sua operacionalização”.

Christiane de Souza Yared (PR/PR) solicitou Audiência Pública (56/2015) na área da Saúde da Mulher, para convidar especialista e debater a respeito da doença que atinge várias mulheres no período reprodutivo, a endometriose. Foi autora do Projeto de Lei 758/2015 para incluir a penalidade nos crimes ocorridos na direção de veículos que provocam nas vítimas a aceleração de parto ou aborto.

Clarissa Garotinho (PR/RJ) foi signatária do Projeto de Decreto Legislativo 122/2015, que susta a inclusão de gênero nos documentos do Fórum Nacional de Educação. Na área da Saúde, foi autora do Projeto de Lei 247/2016 para a realização de exame de Detecção de Mutação Genética para mulheres com histórico familiar de câncer de mama ou de ovários pelo Sistema Único de Saúde e para garantir exames de mamografia para mulheres a partir de 40 anos. No campo da política, foi autora do Projeto de Lei Complementar 247/2016, que visa à inelegibilidade para a ocupação de cargos eletivos quando acusados de violência contra a mulher. São também de sua autoria o Projeto Resolução 177/2016 no que se refere à instalação de um fraldário na Câmara dos Deputados e o Projeto de Lei 2064/2015, que visa garantir o direito do pai solicitar ou antecipar as férias no nascimento ou adoção de filhas e filhos.

Eliziane Gama (PPS/MA) foi autora do Projeto de Lei 3792/2015 voltado para o Estatuto da Criança e do Adolescente, objetivando sua proteção contra a violência, e do Projeto de Lei 8669, que propõe a elevação do percentual do Imposto de Renda Pessoa Física para o Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Geovania de Sá (PSDB/SC) foi autora do Projeto de Lei 2368/2016, que dispõe sobre a obrigatoriedade de afixação de aviso sobre o direito ao atendimento preferencial e de identificação do espaço destinado ao atendimento especial para pessoas com deficiência, idosos com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, gestantes, lactantes, pessoas com crianças de colo e obesos, assegurada pela Lei nº 10.048, de 8 de novembro de 2000. Foi signatária do Projeto do Decreto Legislativo 122/2015, que susta a inclusão de Gênero nos documentos do Fórum Nacional de Educação e do Projeto do Decreto Legislativo 214/2015, que impede a portaria do Ministério da Educação sobre o Comitê de Gênero de caráter consultivo no Ministério da Educação.

Julia Marinho (PSC/PA) foi signatária do Projeto de Decreto Legislativo 214/2015, que susta a Portaria nº 916, de 9 de setembro de 2015, do Ministério da Educação, que “Institui Comitê de Gênero, de caráter consultivo, no âmbito do Ministério da Educação”. Outro Projeto de Lei de autoria da deputada federal foi o de número 620/2015, que visa proibir a adoção de crianças e adolescentes por casal homoafetivo.

Rejane Dias (PT/PI) (atualmente licenciada) elaborou o Projeto de Lei 788/2015 sobre a Violência contra a Mulher. O projeto visa incluir na Lei 11.340 (Maria da Penha) o acompanhamento psicossocial para o autor de violência contra as mulheres.

Shéridan Estérfany Oliveira de Anchieta (PSDB/RR), apresentou o Substitutivo 3/2017 do PL 6567/2013 sobre realização de parto humanizado pelo Sistema Único de Saúde – SUS. Também

apresentou parecer na Redação Final 1/2017 fixando o mês de agosto como o Mês do Aleitamento Materno. Também foi relatora de parecer (5/2016) sobre o Projeto de Lei 6622/2013, favorável ao enfrentamento à violência contra as mulheres. A deputada realizou audiências públicas sobre a empoderamento econômico das mulheres através do requerimento 52/2017 e visitas aos Estados que não elegeram mulheres para a 55ª Legislatura através do requerimento 51/2017.

3.4 Considerações Finais do Capítulo

No capítulo anterior, buscou-se descrever e analisar as trajetórias de vida de Benedita da Silva, Tia Eron e Rosângela Gomes com base no instrumental teórico da interseccionalidade. No presente capítulo, ainda fundamentado na interseccionalidade, o recorte foi ajustado para focalizar a recente atuação congressual das três deputadas federais negras evangélicas. Buscou-se assim verificar em que grau suas proposições no período de 2015 a 2017 da 55ª Legislatura da Câmara dos Deputados incidiram sobre as temáticas de gênero e promoção da igualdade racial, e em que dimensão tais temáticas se entrecruzaram.

As três deputadas possuem muitas proposições em políticas para as mulheres, em diferentes temas, como enfrentamento à violência doméstica e familiar, violência sexual, trabalho e renda, saúde, assistência social, entre outros. Isso fica especialmente visível quando se toma como contraponto a atuação no mesmo período das demais deputadas federais evangélicas, que tiveram poucas proposições sobre gênero, estando estas mais concentradas na área da saúde e no enfrentamento à violência contra a mulher. Até o fechamento do presente trabalho, não foi observada nenhuma proposição das nove deputadas evangélicas sobre a temática da promoção da igualdade racial.

Nesta temática, as deputadas Benedita da Silva, Tia Eron e Rosângela Gomes possuem proposições assertivas para a população negra. Importantes projetos de leis para ações afirmativas no enfrentamento ao racismo foram propostos, como cotas na área da Educação, concursos públicos, inserção no mercado de trabalho e publicidade da imagem negra. Foram realizadas audiências públicas e projetos de leis interseccionando raça/etnia com assistência social e saúde da juventude negra. Outras atuações referem-se à violência e ao assassinato de jovens negros e pobres. As deputadas realizaram audiências convidando especialistas e movimentos sociais para debater sobre o assunto, como também promoveram discussões sobre as datas significativas para o movimentos negros como 20 de novembro (Dia da Consciência Negra) e debates sobre as lutas de mulheres negras no Brasil. Verificou-se também a presença de importantes proposições das três

deputadas que interseccionam os temas gênero e raça, apresentando nesse sentido ressonâncias com as intersecções descritas em suas trajetórias de vida enquanto mulheres negras.

É importante destacar divergências entre os posicionamentos das três deputadas federais evangélicas negras, especialmente no que tange a controvérsias sobre gênero, tema que vem sendo pauta de discussões e de tensões entre os representantes políticos, movimento feminista e movimentos religiosos conservadores. Viu-se que Benedita da Silva vem propondo à Câmara dos Deputados a realização de um debate sobre o significado do tema, pois os embates entre deputadas e deputados têm causado morosidade e atrasam o encaminhamento de projetos de lei voltados para as mulheres cujas vidas acabam sendo negativamente impactadas em razão disso.

Não se pode ignorar também que Tia Eron participou como signatária do projeto de lei que sustou o decreto do Governo Federal que permitia o uso do nome social para transexuais e travestis no âmbito da administração pública federal. Rosângela Gomes, por sua vez, foi signatária do projeto de lei que proibiu a expressão “Gênero” e “Orientação Sexual” no Plano Nacional de Educação. Tal projeto se justifica como iniciativa em “defesa da família e dos valores éticos e sociais”. A deputada também foi signatária do Projeto de Lei que sustava a portaria que criava o Comitê de Gênero no Ministério da Educação. Alegou-se, neste projeto (PL 1859/2015), que o termo “gênero” é um conceito da ideologia de gênero que visa à destruição da família e submete o homem a uma inferiorização diante da sociedade.

Tomando em comparação estas proposições, percebe-se uma diferença entre a posição de Benedita da Silva, de um lado, e as posições de Tia Eron e Rosângela Gomes, de outro, em relação ao termo “gênero”. O movimento feminista e o movimento LGBT consideram em suas bandeiras de lutas que as diferenças de gênero causam a desigualdade entre mulheres e homens e que o sexo biológico não define a orientação sexual das pessoas. Outros setores conservadores da sociedade e religiosos não aceitam esses posicionamentos, afirmando que o único modelo da família se baseia na relação homem e mulher. Viu-se, por exemplo, como os conceitos de gênero e orientação sexual perpassaram as proposições de Bruniele Ferreira Gomes, Clarissa Garotinho e Geovania de Sá e Julia Marinho com posicionamentos contrários à definição de gênero como uma construção social e da heteronormatividade como um padrão único e aceitável nas famílias, tal como o Projeto de Lei da deputada federal Júlia Marinho, que proíbe a adoção de crianças e adolescentes por casal homoafetivo.

Cabe afirmar brevemente que também houve no período analisado a votação do Projeto de Lei sobre a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, que foi muito polêmico no debate com a sociedade civil, nos meios de comunicação, entre grupos de direitos humanos e na Câmara dos Deputados. As deputadas Tia Eron e Rosângela Gomes votaram favoráveis ao Projeto de Lei e

Benedita da Silva contrária, alegando que as/os jovens pobres e negras/os serão atingidas/os e que o papel da Câmara dos Deputados deveria conduzir as discussões a partir do Estatuto da Criança e do Adolescente. Numa fala em tribuna na votação, Benedita da Silva evidenciou uma conexão do tema com a questão racial:

Nós estamos falando como se fosse o filho dos outros. Aqueles filhos que são das mulheres pobres aqueles filhos e filhas de uma comunidade negra. Porque que esse é o perfil no qual nos encontramos nas estruturas, nas instituições perversas que fazem com que os nossos filhos e as nossas filhas não tenham sem dúvida nenhuma esperança de frequentar uma boa universidade e uma boa escola, que é isso que nós devíamos estar nessa casa discutindo e propondo, fortalecendo o estatuto da criança e do adolescente […]13

Assim, tal qual no capítulo 2, foi possível perceber diferenças e semelhanças no modo como as três deputadas se posicionam e articulam a interseccionalidade entre gênero, raça, classe, Religião e Política. A seguir, nas considerações finais da presente dissertação, serão retomadas algumas dessas comparações.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É importante considerar a conclusão deste trabalho não como um término definitivo, um ponto final, mas como uma espécie de pausa, um eventual ponto de partida para novos trabalhos e reflexões sobre o tema ou sobre temáticas semelhantes. Assim, as considerações finais devem ser interpretadas tanto como breves sínteses das considerações dos capítulos anteriores quanto como apontamentos para o futuro, sugestões de caminhos a seguir em análises que estão por vir.

Toda pesquisa é um longo processo de aprendizado. No percurso percorrido nesta dissertação, espero ter sido possível evidenciar o quão inspiradoras foram as lições contidas nas trajetórias das mulheres negras na política brasileira, tanto das pioneiras em geral, apresentadas no primeiro capítulo, quanto das três deputadas negras evangélicas comentadas no segundo e no terceiro capítulos.

O empenho com que Alzira Soriano, Carmem Edwiges Savietto, Carlota Pereira de Queiros, Bertha Lutz, Almerinda Farias Gama, Maria Brandão dos Reis, Antonieta de Barros, Maria José Camargo Aragão, Sofia Campos Teixeira, Edilza Sotero, Laélia de Alcântara, Teodosina Ribeiro, Marina da Silva, Helenira Resende de Sousa, Matilde Ribeiro, Benedita da Silva, Eronildes de Carvalho, Rosângela Gomes, adentraram numa esfera excludente e hostil como a política, pode servir como um convite para que muitas outras protagonistas marquem seu espaço e consolidem a presença ativa de mulheres na cena pública em seus mais diferentes âmbitos.

Espero ter sido possível também alertar para os desafios que emergem das atuais disputas acerca do tema gênero na política do país. Como foi possível perceber ao longo de todo texto e, especialmente, quando se falou sobre as atuações de setores religiosos evangélicos e católicos no Congresso, existe uma investida contundentemente contrária a conquistas de movimentos sociais quanto à temática dos direitos sexuais e reprodutivos. Os tempos são difíceis e, mais do que nunca, precisamos nos munir de estratégias e ferramentas de ação e reflexão em prol da diversidade e garantia dos direitos de mulheres, mulheres negras, segmento LGBT etc.

A ênfase dada ao aparato teórico da interseccionalidade tencionou mostrar justamente sua potencialidade enquanto uma dessas ferramentas de ação e reflexão. Ter atenção a diferentes categorias (raça, gênero, classe, religião, política, entre várias outras) e ao modo como elas se

entrecruzam é muito importante para entender de forma aprofundada a diversidade de experiências do mundo social e a multiplicidade de processos de discriminação e opressão sofridas pelas pessoas. Nos anos 1970, as feministas negras dos Estados Unidos e de outros países começaram a indicar para as feministas brancas as especificidades de suas vivências e o preconceito que sofriam pelo entrecruzamento com a questão étnico-racial. Um movimento semelhante se verificou no Brasil a partir dos anos 1980, consolidando-se com cada vez mais força nos últimos anos.

A interseccionalidade permitiu lançar luz sobre a trajetória e atuação de Benedita da Silva, Tia Eron e Rosângela Gomes de diferentes maneiras. Entrecruzando os dados referentes a cada uma delas, foi possível levantar diferenças e semelhanças quanto ao modo como relacionam gênero, raça, classe, política e religião. Em primeiro lugar, vimos como na configuração familiar de Benedita da Silva e Rosângela Gomes, há uma experiência marcada por dificuldades ligadas ao racismo e às condições precárias das classes pobres, que tiveram que ser superadas por ambas. Tia Eron, por sua vez, relatou ter passado por dificuldades financeiras em um período específico, quando o pai faleceu e a mãe sofreu preconceito ao assumir os negócios da família por ser mulher. Isso reflete uma das dificuldades que tantas mulheres sofrem ao assumirem a condição de chefes de seus lares. Tal ponto remete a uma convergência entre as trajetórias de Benedita da Silva e Tia Eron: o papel de destaque e inspiração que suas mães exerceram para que as filhas se efetivassem enquanto mulheres de liderança. Benedita da Silva, em especial, recorda sua mãe como uma “matriarca”, que exercia grande “autoridade” sobre a família e que gozava de grande “prestígio” frente à comunidade em que morava. Sobre sua mãe, Tia Eron chegou a afirmar: “Ela enfrentou tudo e todos, ela enfrentou um sistema, porque o problema do preconceito é sistêmico. E eu passei a ter conhecimento de cátedra do que era uma mulher chefiar”.

Um elemento comum que atravessa a trajetória das três deputadas é a influência da religião sobre suas formações políticas. Nos três casos, a participação em espaços religiosos em alguma medida impulsionou sua participação em esferas políticas, tendo influenciado sua formação como lideranças. Há que se notar, contudo, as especificidades dos processos: Tia Eron e Rosângela Gomes começam a despontar na cena pública em trabalhos realizados no âmbito da Igreja Universal do Reino de Deus (no primeiro caso, trabalho assistencial com crianças e adolescentes pobres da periferia de Salvador e, no segundo caso, a participação no grupo de juventude dentro da Igreja em Nova Iguaçu). Benedita da Silva, por sua vez, começa sua participação muito antes de se tornar evangélica, no trabalho comunitário do terreiro de sua mãe e em movimentos sociais ligados à Teologia da Libertação da Igreja Católica. Foi possível notar também uma diferença entre a orientação política da formação delas: Tia Eron e Rosângela Gomes trabalhavam enquanto

“obreiras” da IURD, oferecendo assistência a pessoas em situação de emergência, que era um dos trabalhos realizados pela Igreja. Já Benedita da Silva participou de movimentos de luta por direitos que, mesmo relacionados e influenciados por grupos religiosos (como as CEBs), apresentavam certa autonomia.

Outro aspecto convergente apareceu na atuação congressual das três deputadas, que estão bastante engajadas em ações ligadas aos temas gênero e raça. Há um leque considerável de proposições em que articulam gênero e/ou raça/etnia com violência, mercado de trabalho, oportunidades educacionais, saúde, assistência social e datas comemorativas. Ademais, verificaram- se igualmente algumas interessantes proposições que articulam gênero e raça/etnia entre si, atentando-se para as especificidades das mulheres negras. Pode-se sugerir que isso implica uma relativa sinergia entre as trajetórias das três deputadas enquanto mulheres negras e as atuais pautas de movimentos de mulheres e do movimento negro.

Por outro lado, há uma divergência de posicionamentos políticos quando observamos a postura diante de algumas controvérsias sobre gênero que despontaram na agenda política nacional nos últimos anos. Benedita da Silva chamou a Câmara dos Deputados à realização de um debate sobre o significado da palavra “gênero”, entendendo que a falta de entendimento razoável vinha paralisando importantes projetos ligados aos direitos das mulheres. Rosângela Gomes, por sua vez, foi signatária do Projeto de Lei que sustava a portaria que criava o Comitê de Gênero no Ministério da Educação, e Tia Eron participou como signatária do Projeto de Lei que impediu o decreto do Governo Federal que permitia o uso do nome social para transexuais e travestis no âmbito da administração pública federal.

Assim, conclui-se que as três deputadas têm uma atuação congressual intensa e diversificada nos temas gênero e raça, por vezes entrelaçando-os de maneira muito interessante do ponto de vista da interseccionalidade. Todavia, um contraste significativo foi percebido quanto ao acalorado debate atual sobre o termo “gênero”, algo que denota uma diferença de orientação política e posicionamento quanto às pautas de lutas dos movimentos de mulheres e LGBT. Neste ponto, delineia-se um indicativo de novas possibilidades de pesquisa sobre o tema, ou seja, desafios para análises vindouras.

Os elementos recolhidos referentes à trajetória das deputadas possibilitaram visualizar intersecções reveladoras entre seu proceder político e seu pertencimento religioso. Em outras palavras, verificou-se de que modo a religião proporcionou oportunidades de inserção das mulheres em espaços políticos e como, em certo sentido, a diferença entre seus posicionamentos políticos deriva do percurso particular de cada uma delas na fronteira entre religião e política. Este aspecto

poderia desdobrar-se em pesquisas futuras a partir de duas frentes: em primeiro lugar, uma análise sistemática de discursos e opiniões de cada uma delas capaz de denotar com detalhes a localização no espectro político-ideológico quanto a alguns temas-chave da intersecção entre religião e gênero; e, em segundo lugar, uma ampliação do recorte da atuação congressual, analisando-se não apenas a 55a Legislatura (desenho que foi pontualmente pensado segundo os limites de tempo e espaço pertinentes à presente dissertação), mas outros mandatos parlamentares (como vereadoras e como deputadas em outras legislaturas), enfatizando-se igualmente o maior ou menor alinhamento ao posicionamento majoritário de outros parlamentares evangélicos quanto aos temas de gênero.

Em síntese, ao focar a atuação de Benedita da Silva, Tia Eron e Rosângela Gomes, a pesquisa resgata, de algum modo, as trajetórias das mulheres negras (comentadas no capítulo 1) atuantes no cenário político, constituindo uma oportunidade de observar um passado e um presente esquecidos por ideias e ações dominantes que buscam impor uma postura política e teórica homogeneizante no que tange aos marcadores de gênero e raça. Essas protagonistas negras levaram suas experiências de vida para a política pública para garantir direitos para as mulheres. Ao mesmo

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