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(1)UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO. MARIA DE LOURDES V. OLIVEIRA. Gênero, Raça/Etnia e Religião no Congresso Nacional. Trajetória e atuação das três deputadas federais negras evangélicas da 55a Legislatura: Benedita da Silva, Tia Eron e Rosângela Gomes.. SÃO BERNARDO DO CAMPO. 2018.

(2) UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO. MARIA DE LOURDES V. OLIVEIRA. Gênero, Raça/Etnia e Religião no Congresso Nacional. Trajetória e atuação das três deputadas federais negras evangélicas da 55a Legislatura: Benedita da Silva, Tia Eron e Rosângela Gomes.. Dissertação de mestrado apresentada à banca examinadora, em cumprimento parcial às exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, para obtenção do grau de mestre. Orientadora: Profa. Dra. Sandra Duarte de Souza. SÃO BERNARDO DO CAMPO 2018.

(3) FICHA CATALOGRÁFICA. OL4g. Oliveira, Maria de Lourdes Ventura Gênero, raça/etnia e religião no Congresso Nacional. Trajetória e atuação das três deputadas federais negras evangélicas da 55ª Legislatura : Benedita da Silva, Tia Eron e Rosângela Gomes / Maria de Lourdes Ventura -- São Bernardo do Campo, 2018. 128 fl. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Universidade Metodista de São Paulo - Escola de Comunicação, Educação e Humanidades Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião São Bernardo do Campo. Bibliografia. Orientação de: Sandra Duarte de Souza 1. Política e religião – Brasil 2. Políticos evangélicos 3. Gênero 4. Etnia CDD 261.70981.

(4) A dissertação de mestrado sob o título “Gênero, Raça/Etnia e Religião no Congresso Nacional. Trajetória e atuação das três deputadas federais negras evangélicas da 55a Legislatura: Benedita da Silva, Tia Eron e Rosângela Gomes” foi apresentada e aprovada em __ de ________ de 2018, perante banca examinadora composta pelos/as professores/as Doutores/as Sandra Duarte de Souza (Presidente/UMESP), Emerson Roberto da Costa (titular /UMESP) e Carolina Teles Lemos (titular/PUC-Goiás).. _____________________________________________________. Profa. Dra. Sandra Duarte de Souza (UMESP) Orientadora e Presidente da Banca Examinadora. ________________________________________________________ Prof. Dr. Helmut Renders – Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião. Programa: Pós-Graduação em Ciências da Religião Área de Concentração: Religião, Sociedade e Cultura Linha de Pesquisa: Religião e Dinâmicas Socioculturais.

(5) AGRADECIMENTOS. Agradeço a todas as pessoas de minha família e, em especial, ao meu filho Augusto Ventura dos Santos, sempre presente em minha vida, cuja generosidade muito tem me ensinado. Aos meus pais, Jovencio Ventura de Oliveira (in memoriam) e Nair Ventura de Oliveira, que lutaram muito para a educação de suas três filhas, pelo que tenho imensa gratidão. Ambos são as referências de homem e de mulher em minha vida. Às deputadas federais Benedita da Silva, Tia Eron e Rosângela Gomes e suas assessorias que me atenderam de forma respeitosa, concedendo seu tempo de trabalho para a realização das entrevistas das quais extraí as informações fundamentais para a realização da pesquisa. Às amigas e amigos da Universidade Metodista de São Paulo – UMESP, dentre elas, Cláudia Maria Poleti Oshiro e Eliana Aparecida Amancio, pela solidariedade, cumplicidade e incentivo durante toda a etapa do curso. Aos professores e professoras do Programa Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, que muito contribuíram para com minha formação. Às Professoras Dras. Magali do Nascimento Cunha e Dra. Carolina Teles Lemos que participaram da banca de Qualificação do Mestrado, pela contribuição especial para esta pesquisa. À Profa. Dra. Naira Pinheiro dos Santos, pelas orientações e ponderações durante o processo de formação na Universidade Metodista de São Paulo. À CAPES e ao Instituto Ecumênico de Pós-Graduação – IEPG, possibilitando, através das bolsas de estudos, meu ingresso e permanência no curso na UMESP. Por fim, agradecimento especial à minha orientadora, Profa. Dra. Sandra Duarte de Souza, mulher generosa, justa e sempre prestativa, que contribuiu imensamente para minha pesquisa com sua sabedoria. Muita gratidão!.

(6) Não digam que fui rebotalho, que vivi à margem da vida Digam que eu procurava trabalho, mas fui sempre preterida Digam ao povo brasileiro que meu sonho era ser escritora, mas eu não tinha dinheiro para pagar uma editora Carolina Maria de Jesus, escritora negra.

(7) Resumo OLIVEIRA, Maria de Lourdes Ventura de. Gênero, Raça/Etnia e Religião no Congresso Nacional. Trajetória e atuação das três deputadas federais negras evangélicas da 55a Legislatura: Benedita da Silva, Tia Eron e Rosângela Gomes. Dissertação de Mestrado (Ciências da Religião). Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2018. A presente pesquisa tem como pressuposto o fato que as desigualdades entre mulheres e homens ocorrem cotidianamente e, geralmente, são naturalizadas definindo o espaço privado para o sexo feminino e o espaço público para o sexo masculino. A esfera política é um desses espaços considerados de difícil acesso para as mulheres, haja vista a presença feminina na 55ª Legislatura da Câmara dos Deputados que representa apenas 9,9%, ou seja, das 513 cadeiras existentes, foram eleitas apenas 51 mulheres. Somado a esse cenário, verifica-se atualmente no Congresso brasileiro um movimento político de segmentos religiosos, dentre os quais se destaca a bancada evangélica, que tem se mostrado contrária a bandeiras feministas e a questões de gênero de maneira mais ampla. Entretanto, é interessante notar que, dentro do escopo das deputadas evangélicas (12 deputadas), três delas se assumem como negras e parecem, até o presente momento, estar atuando com mais proposições voltadas aos temas referentes aos direitos das mulheres e promoção da igualdade racial do que suas colegas evangélicas. São elas Benedita da Silva – PT/RJ; Rosângela de Souza Gomes PRB/RJ e Eronildes Vasconcelos Carvalho (Tia Eron) (PRB/BA). Esta pesquisa tem como objetivo estudar a atuação congressual das atuais deputadas federais evangélicas negras no período de 2015 a 2017, atentando para a forma como articulam sua trajetória de vida e procedência religiosa com seu agir político, especialmente no tocante a projetos voltados para gênero e raça/etnia. Analisar as histórias destas mulheres nos leva a considerar a importância desta pesquisa do ponto de vista da interseccionalidade de gênero, raça/etnia, classe e religião. Os procedimentos metodológicos adotados envolvem levantamento documental sobre a história de vida das parlamentares, sua atuação social, política e religiosa, informações cedidas pelo gabinete das deputadas e entrevistas com cada uma delas. Palavras-chave: Gênero; Raça/Etnia; Religião e Política..

(8) Abstract. OLIVEIRA, Maria de Lourdes Ventura de. Gender, Race/Ethnicity and Religion at the National Congress of Brazil. The path and the action of three black evangelical federal deputies at the 55 th Legislature: Benedita da Silva, Tia Eron, and Rosângela Gomes. Master’s Thesis (Religious Studies). Methodist University of São Paulo, São Bernardo do Campo, 2018. The purpose of the present study is to point out that inequalities between women and men occur on a daily basis and, in general, are seen as natural. That defines private space for women and public space for men. The political sphere is one of the spaces considered difficult for women to access, in view of the fact that women’s presence at the 55th Legislature of the Chamber of Deputies represents only 9,9%. In other words, out of the 513 current seats only 51 women were elected. Furthermore, presently it has been noticed at the Brazilian Congress a political move from religious segments among which we must point out the evangelical bench that has been against feminism and gender issues in a broader way. However, it is worth noticing that among evangelical congresswomen (12 representatives), three of them see themselves as black women, and it seems that until now they have been working with more proposals aiming at topics related to women’s right and promotion of racial equity than their fellow evangelicals. They are: Benedita da Silva – PT/RJ; Rosângela de Souza Gomes PRB/RJ, and Eronildes Vasconcelos Carvalho (Tia Eron) (PRB/BA). The present research intends to study the congressional actions of the current black evangelical federal deputies from 2015 to 2017. We studied the way they relate their lives and religious background to their political actions, mainly in what concerns projects regarding gender and race/ethnicity. Analyzing those women’s stories leads us to consider the importance of this study under the viewpoint of gender, race/ethnicity, class intersectionality, and religion. The methodological procedures comprise document survey of these congresswomen’s life story, their social, political and religious action; information was provided by the federal deputies’ office, and interviews were held with each one of them. Keywords: Gender; Race/Ethnicity; Religion and Politics..

(9) SUMÁRIO. INTRODUÇÃO…………………………….…...…………………………………………………10 1. AS LUTAS DAS MULHERES PELO DIREITO DE PARTICIPAR…………..…………15. 1.1 Dialogando sobre Gênero……………………………………………………………….....…..15 1.2 Dialogando sobre Gênero, Raça/Etnia e Interseccionalidade……….…...............................18 1.3 Mulheres protagonistas e conquistas femininas na política brasileira……………….….... 24 1.3.1 Mulheres negras protagonistas na Política: enegrecendo as lutas brasileiras…….…….……..27 1.4 Dialogando sobre Gênero, Religião e Políticas…………..….………………....……...……...33 1.5 Considerações Finais do Capítulo…………………………………………………….....……37 . 2. BENEDITA DA SILVA, TIA ERON E ROSÂNGELA GOMES: TRILHANDO OS CAMINHOS ENTRE A RELIGIÃO E A POLÍTICA…………….…………...........……........ 39 2.1 A trajetória do segmento evangélico na política….…………….……....................................39 2.2 A 55ª Legislatura da Câmara dos Deputados: a bancada evangélica e a baixa presença feminina na política.................................................................……..…..............................…….....42 2.3 Benedita da Silva………………………………….............................................................…...45 2.3.1 Trajetória Familiar…………………………………….……………………………. ………..45 2.3.2 Benedita da Silva e sua trajetória religiosa………………………………………………….. 52 2.3.3 Benedita da Silva – Religião e Política………………..... ………………………….………54. 2.4. Tia Eron………………………………………………………….............................……..…..55 2.4.1 Trajetória Familiar……………………........................................................................…..…...55 2.4.2 Tia Eron e sua trajetória religiosa……………….................................................…………….56 2.4.3 Tia Eron – Religião e Política……………….............................................................………..60.

(10) 2.5 Rosângela Gomes ……….....................................................………………………………….66 2.5.1 Trajetória Familiar……………...................................................................….……………….66 2.5.2 Rosângela Gomes e sua trajetória religiosa………......................................………………….68 2.5.3 Rosângela Gomes – Religião e Política……........................................……………………….70 2.6 Considerações Finais do Capítulo……….........................................................................…...76 3. ATUAÇÃO CONGRESSUAL: POSICIONAMENTOS DAS DEPUTADAS FEDERAIS EVANGÉLICAS NEGRAS ....……………………….……….................……………………….80 3.1. Desigualdades de Gênero e Raça………….......................................................……….……..80 3.2 As proposições de Benedita da Silva, Tia Eron e Rosângela Gomes…..................................82 3.2.1 Atividades Legislativas de Benedita da Silva PT/RJ (2015 a 2017)…......................………...83 3.2.1.1 Gênero……......................................................................................………………………..83 3.2.1.2 Raça……………………………….................................................................................…...87 3.2.1.3 Gênero e Raça…………..............................................................…………………………..92 3.2.2 Atividades Legislativas de Tia Eron PRB/BA (2015 a 2017).........……..................................93 3.2.2.1 Gênero……………………………………………......................................................……..93 3.2.2.2 Raça………………………………...................................................……………………....98 3.2.2.3 Gênero e Raça…………………......................................................………………………..99 3.2.3 Atividades Legislativas de Rosângela Gomes PRB/BA (2015 a 2017)….....................…….100 3.2.3.1 Gênero……………………………………………........................................................…..100 3.2.3.2 Raça………………………………........................................................................………..108 3.2.3.3 Gênero e Raça………………………….................................................................………..113 3.3 Proposições das outras Deputadas Federais Evangélicas da 55ª Legislatura…...………..114 3.4 Considerações Finais do Capítulo…………………………….......................................…...116 CONSIDERAÇÕES FINAIS…………………………...............................................................119 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS……………………..........................................……….123.

(11) INTRODUÇÃO. Participar da política sendo mulher e negra não é uma tarefa fácil. Para perceber isso, basta escutar com atenção as experiências das que se lançaram neste desafio. As dificuldades oriundas do racismo e da opressão de gênero se somam, criando grandes barreiras para acessar, permanecer e ascender nesta esfera. “Minha bisneta […] disse assim: ‘na creche o fulano de tal disse que meu cabelo é muito feio’” (Benedita da Silva); “é [preciso] retirar de nossa prática […] a ideia de que, se um negro vence […] ele deve ter algum motivo que o levou àquela vitória” (Eronildes de Carvalho); “quando você nasce numa casa pobre […] as pessoas dizem para você: ‘você é preta! não tem estudo! você não vai dar para nada!’” (Rosângela Gomes). Cada uma das frases faz parte de relatos das três deputadas federais negras cujos percursos de vida serão descritos na presente dissertação. Tais dizeres constituem sinais da multiplicidade de atos de violência que as mulheres negras sofrem no cotidiano e que dificultam sua plena participação na vida pública. Por outro lado, serão encontrados na dissertação muitos outros enunciados que evidenciam, não apenas os obstáculos, mas também a disposição dessas mulheres para enfrentar esse estado de coisas: “eu digo [para a bisneta]: ‘seu cabelo é lindo! você é uma negra linda! você já viu que é a única negra naquele lugar?’” (Benedita da Silva); “o que precisamos é ter como bandeira de luta única a causa do povo negro. Esta é minha história. E ela me trouxe aqui” (Eronildes de Carvalho); “o Estado já sentencia como uma pessoa de segunda categoria ou nada. Então, eu acho que nós temos que acordar exatamente aí e dizer: Sim, eu posso! Eu posso estudar! Eu posso mudar a história da minha vida!” (Rosângela Gomes). Neste cenário de discriminação e luta, fazem-se cada vez mais necessárias reflexões capazes de observar e analisar com atenção o que fazem e o que dizem as corajosas mulheres negras em sua atuação política, suas dificuldades e conquistas. Este é um dos pontos de partida do presente estudo, uma das problemáticas para as quais ele pretende contribuir. Esta pesquisa possui também outro conjunto de questões que compõe seu pano de fundo. Vivemos hoje no cenário político brasileiro, um acalorado e polêmico debate acerca da noção de “gênero”. Manifestações e discursos inflamados, engendrados, sobretudo, por segmentos religiosos conservadores da população, defendem o modelo da “família tradicional” e a “moral” em contraposição à diversidade de composições familiares e afetivas defendidas por movimentos feministas e LGBT. No ano de 2017, enquanto se gestava o presente trabalho, o noticiário nacional deu testemunhos da reação de alguns grupos à visita ao Brasil de uma das mais renomadas intelectuais de nosso tempo, a filósofa estadunidense Judith Butler. A razão pela qual isso ocorreu é. 10.

(12) que ela seria uma das criadoras do que tais grupos denominam como “ideologia de gênero” (GARCIA, 2017). É importante notar que não é de hoje que este tipo de movimento se articula: data do final dos anos 1980 a formação de uma “bancada evangélica” com perfil conservador quantos aos temas gênero e sexualidade (PIERUCCI, 1989). Contudo, este movimento parece ganhar novos contornos atualmente, amplificando-se ao ponto de pautar mudanças em políticas centrais do país, como foi o caso da discussão sobre a exclusão da palavra gênero no Plano Nacional de Educação (PNE) em 2014 (SOUZA, 2014). Do ponto de vista do já consolidado campo de estudos acadêmicos que trabalha com a temática de gênero, parece ser fundamental refletir sobre os desdobramentos da articulação entre religião e política conservadora, que se vem processando no Brasil. A investigação apresentada nas páginas seguintes adquire sentido tendo essas duas problemáticas como marcos iniciais. Benedita da Silva, Eronildes Carvalho (Tia Eron) e Rosângela Gomes são três parlamentares com vidas muito distintas, que possuem em comum o fato de serem mulheres negras evangélicas eleitas para a 55a Legislatura da Câmara dos Deputados, período que vem sendo atravessado pela ascensão de um forte conservadorismo religioso no País, sobretudo no que toca à questão de gênero. O esforço de compreender como tais mulheres chegaram à política e como elas têm atuado no Congresso Nacional no período entre 2015 e 2017 da 55a Legislatura pode trazer contribuições para ampliar o entendimento dos caminhos das mulheres negras na cena pública e da atual relação entre Religião e Política. Neste caso, gênero, raça, classe, religião e política parecem se interseccionar de maneira interessante do ponto de vista analítico. Como será possível perceber nos próximos capítulos, o termo “interseccionalidade” constitui uma palavrachave do estudo, sendo o principal fundamento conceitual da pesquisa (CRENSHAW, 2002).. *** O interesse por esta matéria de pesquisa deriva em grande medida de minha própria vida. Sou mulher e negra. Como tantas outras mulheres, vivenciei desde a infância, a dupla opressão em relação ao sexo feminino e à cor da pele. Muitas vezes ouvi frases semelhantes àquelas mencionadas pelas três deputadas. Ao mesmo tempo, desde a juventude essa condição me motivou a participar de vários espaços públicos. Para adentrar esses espaços, foi muito importante a relação entre religião e política. Na década de 1980, iniciei minha militância em grupos ligados à Teologia da Libertação da Igreja Católica, através do grupo da Pastoral Operária Regional, e de missas na Igreja Cristo Operário (bairro Vila Linda em Santo André-SP). Com base nos textos bíblicos,. 11.

(13) relacionávamos temáticas como libertação da classe oprimida, reforma agrária, situação da mulher, entre outros. Enquanto moradora da cidade de Santo André-SP, região do ABC paulista, palco de muitas lutas e resistência de trabalhadoras e trabalhadores contra o regime militar e de importantes organizações da sociedade civil, passei a participar também de movimentos sociais. Atuei no Movimento de Mulheres de Santo André que, na década de 1990, passou a ser uma Organização Não-Governamental (ONG) denominada de Fé-Minina – Movimento de Mulheres de Santo André. Essa experiência ampliou meus conhecimentos sobre as condições das mulheres nos diversos espaços. O trabalho pautava a luta pela autonomia das mulheres, discutindo temas como direito sexual e direito reprodutivo, mercado de trabalho, saúde mental, mulheres negras, enfrentamento à violência doméstica e ao racismo. Busquei uma formação acadêmica de acordo com minha participação política e social. Assim, cursei Ciências Sociais na Faculdade de Santo André (FSA). Anos depois, realizei a PósGraduação em Tecnologia Assistiva para Autonomia, Participação e Inclusão Social na Faculdade de Medicina do ABC (2011) e Pós-Graduação em Gestão da Política Pública em Assistência Social na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) (2012). Profissionalmente, como professora (desde o começo da década de 1990) e gestora de políticas públicas, sempre atuei para questionar os papéis desiguais entre mulheres e homens e para enfatizar a valorização da cor negra. Trabalhei na Secretaria Municipal de Educação de Ribeirão Pires, de 2002 a 2004, como coordenadora das/os profissionais da educação desenvolvendo a temática de gênero e raça. No período de 2005 a 2008, coordenei a Casa Beth Lobo – Centro de Referência da Mulher em Situação de Violência Doméstica, um serviço que pertencia à Secretaria de Assistência Social da Prefeitura Municipal de Diadema/SP. A Casa Beth Lobo atendia e cuidava de mulheres em situação de violência. De 2009 a 2016, trabalhei na coordenação do Departamento de Políticas Afirmativas da Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania da Prefeitura de São Bernardo do Campo/SP, coordenando equipes que trabalhavam com idosas/os, mulheres, pessoas com deficiência e promoção da igualdade racial e segmento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros). Estas equipes investiam na articulação de políticas entre as secretarias e também no atendimento de pessoas que experimentaram diferentes tipos de violência doméstica. Em suma, minha trajetória de vida, profissional e militante é marcada pelas intersecções entre gênero, classe, raça, religião e política. Foi para lutar contra desigualdades e injustiças sociais sofridas pelas mulheres com experiências semelhantes à minha que me aproximei de movimentos sociais e do trabalho com políticas públicas. E o mesmo se deu no âmbito dos estudos, o que me 12.

(14) levou ao interesse de fazer uma pesquisa que pudesse contribuir analiticamente com os desafios que enfrentei em outros setores da vida. A escolha do tema e da matéria de estudo foi em grande medida sendo processada ao longo do diálogo intelectual com minha orientadora, Sandra Duarte de Souza, estabelecido tanto através de aulas, quanto em sessões de orientação e leitura de textos. Como se verá nas páginas seguintes, alguns de seus trabalhos recentes foram referências cruciais para desenhar a pauta da pesquisa (SOUZA, 2011, 2013, 2014, 2015).. *** A dissertação analisa, em perspectiva interseccional, como gênero, raça, classe, religião e política se apresentam na trajetória de vida e na atuação de Benedita da Silva, Eronildes Carvalho (Tia Eron) e Rosângela Gomes. O estudo se desdobrou em três frentes de investigação que implicaram recortes metodológicos distintos: o referencial analítico e o contexto histórico; a biografia das deputadas e suas ações parlamentares no período de 2015 a 2017. No capítulo 1, foram delineadas as bases teórico-metodológicas e o contexto histórico e político no qual a pesquisa se insere. Foram elencados autores, autoras e conceitos que dão subsídio ao estudo, ganhando destaque a análise interseccional originada nos anos 1970 nas discussões das feministas negras nos Estados Unidos e, posteriormente, desenvolvidas no Brasil. Ademais, foram tecidas breves considerações sobre a história das mulheres negras pioneiras na política no país, aquelas que corajosamente se inseriram num espaço predominantemente masculino e branco. O intuito no capítulo foi o de entrecruzar as dimensões política e teórica para delinear os caminhos pertinentes à investigação contida nos capítulos subsequentes. No capítulo 2, entraram em cena as três deputadas negras evangélicas. Num primeiro momento, foi feita uma breve contextualização histórica sobre o segmento evangélico na política brasileira e sobre a presença evangélica na 55a legislatura da Câmara dos Deputados. Neste último ponto, foram listadas cada uma das deputadas federais evangélicas que tomaram posse em 2015. Em seguida, foram abordadas, as biografias de Benedita da Silva, Eronildes Carvalho (Tia Eron) e Rosângela Gomes. Para enfatizar alguns aspectos que nos interessam em termos da análise interseccional, a apresentação de cada uma dessas trajetórias foi dividida em seções correspondentes às trajetórias familiar, religiosa e à intersecção entre religião e política na vida dessas mulheres. O objetivo principal deste capítulo foi o de analisar de que forma a pertença religiosa conecta-se com seu agir político. No capítulo 3, foi focalizada mais precisamente a recente atuação congressual das três deputadas. O exercício consistiu basicamente em identificar e comentar as proposições no período. 13.

(15) de 2015 a 2017, da 55a Legislatura, no tocante aos projetos de leis, emendas e requerimentos voltados para a temática de gênero e promoção da igualdade racial/étnica. Na seção de cada deputada, os projetos foram listados numa sequência de temas que envolviam: primeiro, os temas de gênero; depois, os de raça/etnia e, por fim, aqueles que eventualmente entrecruzavam os dois ou que ainda mostram um posicionamento divergente em relação aos anteriores. O objetivo deste capítulo foi o de ter um quadro do posicionamento das deputadas dentro do cenário político atual no que tange aos temas-chave de gênero e políticas para a população negra. Ao final da dissertação foram feitas as considerações finais num exercício de síntese da análise empreendida. Os procedimentos metodológicos da pesquisa variaram conforme os dados presentes em cada capítulo. O capítulo 1 foi construído através de revisão de literatura referente a gênero, interseccionalidade e análise social multidimensional, bem como à biografia de mulheres negras pioneiras na política. Os dados do capítulo 2, que mostram a trajetória de vida das deputadas, foram obtidos predominantemente em entrevistas que cada uma delas concedeu a mim em 2017 e, secundariamente, através de pesquisa em livros, noticiários de imprensa e páginas da internet. Já o material do capítulo 3 foi extraído do portal da Câmara dos Deputados, através do qual foi possível elencar e sistematizar as proposições das três deputadas. Assim sendo, vale destacar que a metodologia se constituiu em levantamento, pesquisa e análise documental bem como na realização de entrevistas semiestruturadas com as três deputadas federais. Em razão da quantidade de compromissos em suas movimentadas agendas de trabalho, o encontro com elas resultou do que considero ter sido uma verdadeira "odisseia" metodológica que, pelo esforço dispendido, muito contribuiu para meu aprendizado enquanto pesquisadora. Foram sucessivos e insistentes os contatos com as assessorias de gabinete que pacientemente atendiam aos meus contatos telefônicos e eletrônicos. A primeira deputada que entrevistei foi Benedita da Silva, que veio para o estado de São Paulo participar da formatura do Curso de Cultura Africana e AfroBrasileira organizado pelo “Fórum de Promoção da Igualdade Racial Benedita da Silva” na cidade de Diadema/SP, em julho de 2017. A segunda entrevistada foi Tia Eron, com quem me encontrei na sede Estadual do Partido Republicano Brasileiro na cidade de Salvador/BA, em outubro de 2017. Neste ano, Tia Eron licenciou-se do cargo de deputada federal e assumiu o cargo de Secretária Municipal de Promoção Social em Salvador. Rosângela Gomes foi minha terceira entrevistada, sendo que nos encontramos em seu gabinete na Câmara dos Deputados em Brasília, em novembro de 2017.. 14.

(16) 1 - AS LUTAS DAS MULHERES PELO DIREITO DE PARTICIPAR. 1.1 Dialogando sobre gênero O protagonismo das mulheres com suas singularidades nos convida a refletir sobre este universo sinalizado por trajetórias diferenciadas e marcado pelas desigualdades entre o masculino e o feminino. As desigualdades de papéis, impostas pela sociedade, estabelecem às mulheres a esfera privada e aos homens a esfera pública, privilegiando o sexo masculino desde a infância e determinando para o sexo feminino limites ou a negação de sua participação em diversos espaços da sociedade. Para enfrentar a questão da presente pesquisa, é necessário recorrer a análises que problematizem concepções naturalizadas das relações entre homens e mulheres, focalizando-as sob a ótica da dimensão política e das assimetrias de poder. As produções acadêmicas e dos movimentos feministas sobre gênero demonstram cada vez mais as relações de poder estabelecidas em função do sexo/raça. Essas desigualdades trazem como consequência a submissão da mulher em relação ao homem e a invisibilidade feminina, em especial das mulheres negras enquanto agentes históricos. Tais situações ocorrem tanto no âmbito privado como no âmbito público. Simone de Beauvoir (1980) afirma que, desde os primeiros anos do patriarcalismo, os homens detêm o poder nos espaços privados e públicos, impondo às mulheres toda a responsabilidade da casa e cuidados com os filhos. Tal qual mostra pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), de 2015, a ser melhor comentada adiante, as mulheres, ao atuarem nos espaços públicos, possuem salários menores que os dos homens. Essa ideia é importante à medida em que torna a análise sensível às dificuldades das mulheres em acessar a esfera pública e, dentro dela, os espaços de decisão correspondentes à dimensão da política institucional. De acordo com a pesquisa Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, que compreendeu o período de 1995 a 2015 (IPEA, 2015), as mulheres ainda encontram muitos obstáculos para se inserirem no espaço público como, por exemplo, seu acesso ao mercado de trabalho. O estudo aponta que, dentre os estratos sociais relacionados a gênero e raça, os homens brancos encontram-se em melhores posições no mercado de trabalho, e as mulheres negras ocupam a última escala. Em relação ao trabalho não remunerado, as mulheres continuam assumindo a maior parte das tarefas, a maioria delas exercendo dupla jornada de trabalho. Essa compreensão é importante uma vez que torna a análise sensível com respeito às dificuldades que as mulheres têm. 15.

(17) para acessar a esfera pública e, dentro dela, os espaços de decisão correspondentes à dimensão da política institucional. Adotando como referência as reflexões de Joan Scott (1995), podem-se visualizar três aspectos importantes do conceito de gênero que foram primeiramente explorados pelos estudos acadêmicos e feministas. Em primeiro lugar, tem-se a contraposição de gênero à ideia de “sexo” buscando uma “rejeição ao determinismo biológico” (SCOTT, 1995, p. 3). Gênero é utilizado para designar relações sociais, excluindo com isso as explicações naturalizantes, tais como aquelas que associam a mulher à maternidade e o homem, à força muscular. Em segundo lugar, tem-se o gênero como “noção relacional”, uma tentativa de aperfeiçoar os estudos feministas da época que muitas vezes pensavam as mulheres de maneira isolada, sem considerar que se trata de relações de desigualdade e dominação, nas quais os homens estão mutuamente implicados. Em terceiro lugar, o gênero como categoria transformadora de diferentes segmentos da sociedade e de diferentes áreas do conhecimento científico. Nesse sentido, é importante utilizar gênero como uma noção transversal e interseccional, que atravessa as esferas do público e do privado e que pode contribuir com as discussões de classe, de raça, de religião etc. (SCOTT, 1995). Conforme sugerido acima, conceituar o gênero implica também pensar as ideias de violência e dominação. Dominação de gênero para Heleieth Saffioti (2001, p. 115) se dá quando o homem exerce o poder, autorizado ou legitimado pela sociedade, determinando a conduta de categorias sociais vitimadas no processo (mulheres, crianças e adolescentes). A violência se manifesta auxiliando a efetivação da capacidade de mando e dominação masculina, de diferentes maneiras. Ela constitui em muitos casos uma violência física.. A maioria dos casos de violência contra a mulher é praticada pelo ex-marido, ex-companheiro ou ex-namorado, sendo geralmente marcados por agressões anteriores (OSHIRO, 2017, p. 29). Muitas mulheres não denunciam por medo, vergonha ou esperança de mudança de comportamento do agressor. Geralmente, os agressores desempenham em outros ambientes um comportamento adequado e correto, mas é no ambiente privado que ele se revela violento. Saffioti (2001) indica também que a violência pode ser de outras ordens. O conceito de dominação simbólica, pautado pela autora nas ideias de Bourdieu, é importante para conceber essas dimensões da violência de gênero. A violência simbólica impregna corpo e alma das categorias sociais dominadas, fornecendo-lhes esquemas cognitivos conformes a esta hierarquia […]. Como o poder masculino atravessa todas as relações sociais, transforma-se em algo objetivo, traduzindo-se em estruturas hierarquizadas, em objetos, em senso comum. (SAFFIOTI, 2001, p. 118-119).. 16.

(18) A hierarquia de poder que gera a violência de gênero referida por Heleieth Saffioti atinge mulheres de diferentes faixas etárias, classes sociais, religiões e cores. Claudia Poleti Oshiro (2017 p. 44) pondera que, além da violência contra a mulher, há que se considerar a violência em função da orientação sexual e identidade de gênero praticada por setores da sociedade machista e racista, a qual, em vários casos, leva lésbicas, gays, transexuais, travestis e outras identidades à morte. De acordo com o Relatório de Violência Homofóbica no Brasil, de 2013, essas violências ocorrem em função da intolerância e ódio de pessoas que somente aceitam a heteronormatividade como padrão natural para a sociedade (BRASIL, 2016). Em suma, em processos de violência de gênero, as diferenças entre homens e mulheres transformam-se em hierarquias, o que se configura como profundamente negativo. As mulheres passam a ser consideradas inferiores. E o horizonte ideal para o qual caminham as lutas feministas é uma organização em condições igualitárias para o sexo feminino e masculino, constituindo-se valores equivalentes para ambos (SAFFIOTI, 2001). O movimento feminista corajosamente tem enfrentado essa opressão de gênero e raça/etnia naturalizada pela sociedade através da educação, religião, política e outros espaços. Desde seu surgimento até os dias atuais, o movimento é marcado por ações de subversão ao domínio masculino com suas lutas voltadas para o enfrentamento das desigualdades de gênero, raça/etnia, classe, entre outras dimensões. Para Ivone Gebara (2017, p. 910), a luta do movimento feminista se estende desde o direito de exercer sua cidadania na escolha de seus/suas representantes nas esferas de poder, passando pela luta contra o assassinato de mulheres em função do gênero e a luta contra a opressão de raça/etnia. Ela ressalta que a trajetória do movimento feminista em oposição a essas opressões é desqualificada para garantir a manutenção do domínio masculino. Em contraposição a esse controle, o movimento feminista com mulheres brancas e negras do país atuou nos espaços públicos e conquistou vários marcos de nossa história, como o Movimento Sufragista no início do século XX, que redunda na conquista do direito ao voto, em 1932; a luta de mulheres contra o regime militar instaurado em 1964; o direito ao divórcio, em 1977; a realização do I Congresso Nacional da Mulher Metalúrgica em São Bernardo do Campo/SP, em 1978; a realização do I Congresso da Mulher Paulista, em 1979; o Movimento pelas Diretas Já; a criação da 1ª Delegacia da Mulher em São Paulo, em 1985; a mobilização das mulheres pelos avanços na Constituinte através da campanha do “Lobby do Batom”, em 1988; a aprovação da Lei nº 9.504, que garante a cota de 30% para candidaturas femininas, em 1997; a aprovação da Lei 11.340 (Lei Maria da Penha), em 2006, para prevenir e punir a violência contra as mulheres; a aprovação da Lei 13.104/2015, que prevê o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio. 17.

(19) 1.2 Dialogando sobre Gênero, Raça/Etnia e Interseccionalidade Ao analisar a desigualdade imposta pelas relações de gênero e a opressão sofrida pelo sexo feminino, faz-se necessário verificar as especificidades destas mulheres, entre estas, as das mulheres negras. Com isso, há elementos mais seguros para abordar a participação de mulheres negras na política brasileira, como quer o presente estudo. Nesse sentido, dois conceitos importantes norteiam o trabalho: a noção de raça/racismo e a noção de interseccionalidade. No Brasil, desde o período colonial, as mulheres negras vivenciaram a escravidão e a violência sexual (CARNEIRO, 2003, p. 1). Essa situação histórica não deixa também de configurar uma herança negativa para os tempos atuais: as mulheres negras são as mais atingidas pelas desigualdades salariais e inserção no mercado de trabalho, ou seja, encontram-se entre os grupos sociais mais pobres (IPEA, 2015). O conceito de raça surgiu na França no século XVI, para referir-se à família aristocrática. Nos séculos seguintes, o racismo desenvolve-se com o colonialismo, pregando o desprezo e a inferiorização racial para maior controle das/os negras/os (LÓPEZ, 2015).. Em poucas palavras, o racismo transforma as diferenças entre as pessoas em desigualdade e exclusão, propiciando sua dominação até os dias atuais: o termo raça é utilizado com frequência nas relações sociais brasileiras para informar como determinadas características físicas, tais como cor da pele, tipo de cabelo, entre outras, influenciam, interferem e até mesmo determinam o destino e o lugar social dos sujeitos no interior da sociedade brasileira. (LÓPEZ, 2015, p. 32).. Para pensar sobre a conjugação gênero e raça, é de fundamental importância mobilizar o conceito de interseccionalidade. A origem da ideia de interseccionalidade remete ao movimento conhecido como Black Feminism, no final dos anos 1970, “cuja crítica coletiva se voltou de maneira radical contra o feminismo branco, de classe média, heteronormativo” (HIRATA 2014, p. 62). É importante lembrar, que, na década de 1970, Danièle Kergoat cunhou o conceito de consubstancialidade, que é muito semelhante ao de interseccionalidade, sendo designado inicialmente para falar sobre a interdependência entre gênero e classe (Apud HIRATA, 2014, p. 63). As mulheres não brancas, a partir de suas experiências de exclusão, desenvolveram formas de conceituar gênero que levaram em conta raça, etnia e classe, e questionaram as feministas tradicionais pelo não reconhecimento destas questões (CALDWELL, 2000). Esse posicionamento 18.

(20) das mulheres não brancas tem demandado a inclusão das diferenças nas produções dos trabalhos feministas das mulheres brancas. A discriminação de gênero/raça fica perceptível ao analisar os salários dos homens brancos, que são maiores em relação aos dos homens negros e ao das mulheres, sendo que as mulheres negras recebem os menores salários. De acordo como o IPEA (2015), houve um aumento na renda da mulher negra, mas essa diferença não a aproxima dos rendimentos dos homens e mulheres brancas. Neste sentido, autoras como Sueli Carneiro (2003) e Kia Lilly Caldwell (2000) chamam a atenção para as especificidades das mulheres negras e a necessidade de levar em conta o gênero e a raça. Sandra Azeredo, em seu texto “Teorizando sobre gênero e relações raciais” (1994), reflete que pesquisadoras brasileiras elegem em seus trabalhos as mulheres brancas e de classe média, omitindo as histórias das mulheres não brancas. As mulheres negras, desde os anos 1980, têm em seus trabalhos os temas gênero e raça, mas tal intersecção não foi enfatizada pela produção acadêmica sobre mulheres, o que reforçou a invisibilidade das mulheres negras. Com a ausência das discussões sobre raça, elimina-se também o enfrentamento ao racismo. As mulheres negras tiveram um papel fundamental na redemocratização do país na década de 1980 e, neste período de efervescência política, denunciaram as injustiças expostas pelas interseccionalidades de raça, gênero e classe (CALDWELL, 2007). Elas passaram a questionar as políticas de Estado, o próprio movimento de mulheres e o movimento negro, que não consideravam estas especificidades em suas pautas para a defesa de direitos. A postura do movimento de mulheres negras foi de enfrentamento a estes pares, pois não se sentiam incluídas nas bandeiras de lutas e conquistas do movimento de mulheres e nem sentiam o reconhecimento dos homens do movimento negro em seus protagonismos. Segundo Caldwell, a fundação do Movimento Negro Unificado (MNU) e de algumas outras organizações, localizadas em grandes centros urbanos brasileiros, durante meados e final dos anos 70, sinalizavam a emergência de novas respostas políticas para ao dilema racial no país. Contudo, as mulheres negras que eram atuantes no movimento negro durante o referido período, frequentemente, percebiam que suas preocupações relativas às relações de gênero e sexismo não eram adequadamente contempladas no movimento. Embora as mulheres negras desempenhassem papel importante no estabelecimento de muitas das organizações do movimento negro, que se formaram durante este período, e ainda que a presença destas fosse vital para a sobrevivência dessas organizações, elas se depararam com o sexismo dentro de muitos grupos e eram, em geral, relegadas a desempenhar funções auxiliares em vez de ocuparem papéis de liderança. (CALDWELL, 2007, p. 55).. 19.

(21) Uma referência importante sobre interseccionalidade para orientar o presente trabalho pode ser encontrada em Kimberlé Crenshaw (2002). A autora apresenta uma importante análise interseccional sobre raça, gênero e subordinação em diálogo com os direitos humanos. Ela enfatiza igualmente que, cada vez mais, o tema direitos humanos das mulheres vem ganhando espaço nos discursos dos direitos humanos, que não mencionavam as questões específicas voltadas para o público feminino, em referência à Declaração Universal dos Direitos Humanos, que garante a proteção de todas de forma universal (CRENSHAW, 2002, p. 172).. Artigo II – Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. (Declaração Universal dos Direitos Humanos 10.12.1948).. Crenshaw (2002) ressalta que outras articulações e importantes mobilizações surgiram para incluir os direitos específicos das mulheres como a Conferência Mundial de Viena, através da Declaração e Programa de Ação de Viena, em 1993. Um importante acontecimento mencionado por ela foi a realização da IV Conferência Mundial sobre a Mulher em Beijing, em setembro de 1995. Vale enfatizar que esta importante conferência priorizou doze pontos críticos para as mulheres no tocante à situação de pobreza; à desigualdade no acesso à educação e à desigualdade no acesso aos serviços de saúde; à violência contra a mulher; aos efeitos dos conflitos armados sobre a mulher; à desigualdade na participação nas estruturas econômicas; à desigualdade em relação à participação no poder político; à insuficiência de mecanismos institucionais para a promoção do avanço da mulher; às deficiências na promoção e proteção dos direitos da mulher; ao tratamento estereotipado dos temas relativos à mulher nos meios de comunicação; à desigualdade de participação nas decisões sobre o manejo dos recursos naturais; à necessidade de proteção voltada para os direitos das meninas. A Conferência de Beijing salienta que os direitos humanos são também direitos humanos das mulheres e, neste sentido, não somente o protagonismo feminino como também a participação dos homens são importantes para essa conquista. Ainda segundo Kimberlé Crenshaw (2002), diferentes grupos, principalmente étnicos ou raciais, são tratados em um contexto universal de gênero, passando imperceptíveis em suas especificidades. Numa sociedade com padrões de masculinidade e feminilidade heterossexuais e brancos, reforça-se a subordinação de diferentes grupos raciais que se manifesta em dois diferentes tipos: a super-inclusão e a subinclusão.. 20.

(22) A superinclusão é uma situação em que um problema é considerado como genérico das mulheres, sem levar em conta que subgrupos de mulheres têm problemas específicos, como as mulheres negras, que sofrem racismo. Crenshaw (2002) ilustra o conceito com a questão do tráfico de mulheres: é muito mais provável que mulheres de determinada raça/etnia ou pertença social (negras e pobres, por exemplo) passem por este tipo de opressão do que outras, e isso muitas vezes não é considerado nas análises sobre o tema. Já a subinclusão ocorre quando um agrupado de mulheres subordinadas enfrenta determinados problemas que não afetam as mulheres dos grupos dominantes, o que torna esses problemas invisíveis e desconsiderados enquanto questões de gênero. A subinclusão se dá, ainda, quando determinado problema de raça/etnia atinge apenas ou predominantemente mulheres e, por esse motivo, não é considerado enquanto problema de discriminação racial. Como exemplo desta última situação, Crenshaw aponta a esterilização de mulheres marginalizadas nos Estados Unidos, que atinge majoritariamente mulheres negras e portoriquenhas, mas que, por ser uma questão que atinge exclusivamente mulheres, não é considerado um problema racial (CRENSHAW, 2002). Gênero, raça, etnia e classe são eixos que se misturam e constroem vias para o racismo, patriarcalismo e opressão de classe, entre outros. Assim, a interseccionalidade analisa as formas de discriminação existentes nestes sistemas que afetam esses eixos, sendo que a não compreensão da interseccionalidade leva à invisibilidade das violações dos direitos das mulheres e homens que estão à margem da sociedade (CRENSHAW, 2002). Crenshaw (2002) aponta várias situações de violência interseccional, como o estupro motivado por questões raciais; a subordinação interseccional de mulheres e homens; a propaganda sexualizada e racializada de mulheres; a discriminação na educação, emprego, separação por gênero e raça no mercado de trabalho para ocupação dos postos de trabalho e mudanças nas estruturas econômicas que atingem mais as mulheres.. (...) No emprego, na educação e em outras esferas há muitas mulheres sujeitas a discriminação e outras opressões, especificamente por não serem homens e por não serem membros dos grupos étnicos e raciais dominantes na sociedade. Sem dúvida, isto se trata de discriminação composta: com base na raça, elas são excluídas de empregos designados como femininos, sendo também excluídas de empregos reservados aos homens com base no gênero. De fato, elas são excluídas como mulheres étnicas ou de minorias porque não há ocupações para as candidatas com tal perfil étnico-racial e de gênero. (CRENSHAW, 2002, p. 179).. 21.

(23) De acordo com as análises e produções do Geledés sobre o Racismo Institucional e Gênero (2010), o racismo ocorre em função de preconceitos e práticas discriminatórias em relação à cor da pele escura. Desta maneira, as pessoas de pele clara têm preferências e oportunidades na sociedade, como emprego, maiores salários, oportunidades na educação, espaço na mídia, entre outros. O racismo está presente nas relações entre pessoas e grupos, criando uma hierarquia de poder de raça/etnia e de gênero, atingindo em especial a mulher negra. Esses dados são confirmados pela pesquisa do IPEA (2015), conforme gráficos abaixo, que aponta que a maioria das mulheres desempenha dupla jornada de trabalho (entre espaço privado e público). A pesquisa ainda ressalta que, na hierarquia de sexo e cor, a mulher negra ganha salários menores, sendo que a maioria é chefe de família. O estudo igualmente indica que o número de analfabetismo entre mulheres negras diminuiu, mas ainda permanece superior ao das mulheres brancas.. 22.

(24) Em 2017, o GELEDÉS – Instituto da Mulher Negra divulgou outros dados importantes sobre as diferenças salariais publicadas pelo IBGE no dia 23 de fevereiro de 2017. Os dados demonstram que a diferença entre o salário médio das(os) trabalhadoras(es) brancas(os) em relação ao das(os) trabalhadoras(os) pretas(os) corresponde a R$ 1.199,00, sendo o rendimento médio das(os) trabalhadoras(es) brancas(os) de R$ 2.660,00 e das(os) trabalhador(as) negras(os) de R$ 1.461,00. Outra diferença ocasionada pela cor da pele refere-se ao desemprego, que atinge 14,4% das pessoas de cor preta e 9,5% das pessoas de cor branca. Outros dados que reforçam o racismo no Brasil são apontados pelo Mapa da Violência da Juventude Viva, de Julio Jacob Waiselfisz (2014), que indica que a violência homicida atinge a população negra e, em especial, o jovem do sexo masculino. Essa síntese demonstra a exclusão da população negra no acesso aos seus direitos humanos em função da cor – exclusão justificada pelo racismo. Manifestações de racismo ocorrem com frequência nos campos de futebol; nos meios de comunicação digital; no estabelecimento dos padrões de beleza; no atendimento nos espaços públicos e privados, entre outros. Os casos denunciados que trazem grandes repercussões, geralmente são tratados pela opinião pública como polêmica, sob um olhar de dúvida ou com um discurso marcado pelas posteriores desculpas por parte dos agressores, como se fosse uma situação sem intenção de ofender ou agredir. Um exemplo de racismo, ocorrido em 11 de maio de 2016, envolveu Regina de Sousa, mulher negra e senadora do Congresso Nacional pelo PT/PI. A senadora, quando estava fazendo o uso da palavra na tribuna do Plenário do Senado Federal, relatou que sofreu racismo e preconceito por parte do apresentador do SBT, Danilo Gentili. De acordo com a senadora, o apresentador disse que ela não parecia uma senadora e sim “tia do cafezinho”. Regina de Sousa, em seu pronunciamento realizado no dia 18 de maio de 2016, no Senado, afirmou que iria representá-lo em nome de todas as profissionais que servem café, pois não é a primeira vez que o comentarista desrespeita as mulheres (SOUSA, 2016). O senador Paulo Paim, em apoio à senadora Regina de Sousa, apresentou requerimento nº 360/2016 em repúdio à atitude do apresentador, considerada machista e preconceituosa.. 23.

(25) Regina de Sousa. 1.3 Mulheres protagonistas e conquistas femininas na política brasileira As mulheres tecem as próprias histórias resistindo à coação que naturaliza o domínio masculino e que produz a invisibilidade de suas lutas ou as colocam em posições de coadjuvantes. Muitas vezes, a sociedade considera a participação feminina no espaço público como ato de audácia e, como punição, passa a desqualificar suas ações para que elas se silenciem diante da desigualdade de gênero e raça/etnia. Todavia, ignorando tal poder hierárquico, a sabedoria feminina demonstra que o espaço público e de decisão também pertence às mulheres que, com persistência, vão demonstrando seus protagonismos na história. A seguir, serão apresentadas as trajetórias de algumas mulheres pioneiras na política, e, em seguida, algumas políticas públicas conquistadas através da luta de tais figuras. Entre as várias protagonistas que participaram destas e de outras conquistas pode-se destacar o esforço pioneiro de personagens como Alzira Soriano (1897-1963), primeira prefeita de Lages – RN e primeira mulher a conquistar um cargo eletivo no Brasil e na América Latina. Os autores Schumaher e Brazil apontam que Alzira Soriano enfrentou uma campanha de ofensas machistas contra sua moral pelo seu adversário que, inconformado por ser derrotado por uma mulher, mudou de cidade (SCHUMAHER; BRASIL, 2000, p. 36).. 24.

(26) Schumaher e Brazil (2000) se referem, também, a Carmem Edwiges Savietto (1922-1956), líder sindical na área metalúrgica no ABC paulista, que atuava pelos direitos das mulheres e em 1947, concorreu às eleições para deputada estadual pelo Partido Comunista, conseguindo a vaga de suplência. Sua plataforma eleitoral também continha programa voltado aos interesses femininos (SCHUMAHER; BRAZIL, 2000, p. 133). Diversos pesquisadores abordam a trajetória de Carmem Savietto consagrada pelo seu compromisso inspirado nos ideais da esquerda.. A ditadura do Getúlio estava acabando. Depois de muitos anos, foram realizadas as primeiras eleições municipais, em 1947[…]. Mauá pertencia a Santo André/SP. E uma das candidatas comunistas foi a Carmem Savietto, uma tremenda oradora. Subia num caixote em frente à Pirelli e, na hora que saíam os operários, começava a discursar e chamava a atenção, pela oratória e pela beleza. (MEDICI, 2013).. Carlota Pereira de Queirós (1892-1982) foi a primeira deputada federal da América Latina (SCHUMAHER; BRASIL, 2000, p. 129). É interessante observar que ela, ao assumir a cadeira de deputada federal, dia 13 de março de 1934, registra em seu primeiro pronunciamento a relevância da participação da mulher para tomar decisões sobre a legislação do País.. Além de representante feminina, única nesta Assembleia, sou, como todos os que aqui se encontram, uma brasileira, integrada nos destinos do seu paiz (sic) e identificada para sempre com os seus problemas (…). Num momento como este, em que se trata de refazer o arcabouço das nossas leis, era justo, portanto, que a mulher também fosse chamada a collaborar (sic). (Trecho do discurso de Carlota P. de Queirós contido em ORIÁ, 2004, p. 243).. Bertha Lutz (1894-1976), feminista que lutava pelos direitos das mulheres, em 1936, assumiu o mandato de deputada federal deixado pelo suplente. Com passagem marcante na Câmara dos Deputados, propôs a criação do Departamento Nacional da Mulher para articular a política voltada para essa temática e o Estatuto da Mulher para estabelecer e garantir os direitos femininos (MARQUES, 2016, p. 9). Em seu discurso de posse como deputada federal, expõe o compromisso com seus ideais e seu trabalho em defesa e garantia dos direitos das mulheres.. […] A mulher é metade da população, a metade menos favorecida. Seu labor no lar incessante e anônimo; seu trabalho profissional é pobremente remunerado, e as mais das vezes o seu talento é frustrado, quanto às oportunidades de desenvolvimento e expansão. É justo pois, que nomes femininos sejam incluídos nas cédulas dos partidos e sejam sufragados pelo voto popular […] Observando-os de perto, veremos que cada vez que a civilização é eclipsada, temporariamente, pela barbárie, com ela soçobram a. 25.

(27) paz, a justiça, a lei; as liberdades públicas e as garantias individuais; com ela submerge o respeito da personalidade humana, principalmente pela personalidade humana que não ostenta armas, como é o caso da mulher. (MARQUES, 2016, p. 157).. O Estatuto da Mulher, criado pela Lei nº 4.121 de 1962, que regulamenta a situação jurídica da mulher, foi um importante mecanismo para a autonomia daquelas que eram casadas. Com essa legislação, as mulheres passaram a ter proteção na relação conjugal, a qual era regida pelo Código Penal, instituído pela Lei nº 3.071 de 1916, que punha as mulheres em uma condição de subordinação ao esposo. Maria Brandão dos Reis (1900-1974), mulher negra que ajudava as pessoas que necessitavam de recursos para a sobrevivência, se destacou na Campanha da Paz promovida pelo Partido Comunista Brasileiro – PCB (RUFINO; IRACI; PEREIRA, 1987). Antonieta de Barros (1901-1952), jornalista e educadora, enfrentou a opressão de gênero e raça para ocupar o espaço público e foi a primeira deputada estadual negra, exercendo dois mandatos na Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Seus mandatos foram exercidos no período de 1934 a 1937 pelo Partido Liberal Catarinense e, nas eleições de 1945, ficou na suplência, assumindo a vaga de deputada estadual entre 1947 e 1951 pelo Partido Social Democrático (FONTÃO, 2010, p. 358). Pode-se perceber que a atuação destas mulheres pioneiras na política no século XX está relacionada, de alguma maneira, com a conquista do voto feminino garantido na Constituição de 1934, que pode ser considerado uma das grandes conquistas do movimento feminista e movimentos sociais com participação de mulheres. Também foi importante, neste sentido, a conquista do princípio da igualdade entre as pessoas, efetivada nas Constituições Federais nos períodos de 1967, 1969 e de 1988 (RIBEIRO, 2015, p. 161). A Lei do Divórcio nº 6.515, regulamentada em 26 de dezembro de 1977, é outra dessas conquistas, pois estabelece os direitos para mulheres e homens na separação judicial e na dissolução do casamento. Há que se considerar também: o Decreto Estadual nº 20.892, de 4 de abril de 1983, que criava o Conselho Estadual da Condição Feminina em São Paulo com a finalidade de propor e desenvolver políticas para as mulheres visando ao fim da discriminação; a criação da primeira Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), em 6 de agosto de 1985, em São Paulo, para proteger e investigar crimes de violência doméstica e sexual contra as mulheres e outros serviços; a Constituição Federal de 1988, por ocasião da qual as feministas e deputadas federais se mobilizaram através do lobby do batom e conquistaram vários direitos e igualdade entre os sexos; a Lei nº 12.034/2009 (altera a Lei nº 9.504/1997), que determina no mínimo 30% de candidaturas 26.

(28) femininas para os partidos ou coligações para disputas eleitorais; a Criação da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) e da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) da Presidência da República, em 2003; a Lei nº 11.340, Maria da Penha, sancionada em 7 de agosto de 2006, que impede e previne a violência doméstica e familiar contra a mulher e que tipifica a violência (física, sexual, psicológica, moral e patrimonial); o Estatuto da Igualdade Racial, criado por Lei nº 12.288 de 20 de julho de 2010, que garante os direitos da população negra e constitui um importante instrumento de enfrentamento ao racismo; a Lei 13.104, Lei do Feminicídio, que torna crime hediondo o assassinato de mulheres decorrente de violência doméstica ou de gênero, criada em 9 de março de 2015. É importante apontar que as conquistas do movimento feminista concretizadas em legislações e políticas públicas possibilitam o rompimento do ciclo da violência e promoção de autonomia das mulheres. A mobilização feminina resultou em leis para o enfrentamento à violência e contra o feminicídio. Com isso a realidade da violência doméstica e familiar contra as mulheres, antes silenciada pelo medo, passa a ser denunciada ganhando visibilidade. Em suma, pode-se dizer que tais conquistas e as histórias de vida das mulheres brevemente apresentadas acima romperam com os limites entre os espaços público e privado e desafiaram o papel restrito destinado ao segmento feminino. O sofrimento e luta das mulheres e, em especial, das mulheres negras, reforçam a importância de considerar a intersecção referente ao sexo, à cor da pele, à religião e outras singularidades do feminino para romper as barreiras da superioridade masculina e do racismo.. 1.3.1 Mulheres negras protagonistas na política: enegrecendo as lutas brasileiras1 As mulheres negras do Brasil, no processo de enfrentamento à discriminação e ao preconceito, vão ao longo de suas histórias construindo suas marcas e inquietando o domínio de uma sociedade que impõe seus padrões brancos. Dar visibilidade a estas protagonistas negras é uma oportunidade de resgatar a história destas mulheres, que lutaram para ocupar o espaço na política negado a elas. As protagonistas cujas trajetórias serão abaixo abordadas foram selecionadas tendo como critério o destaque no âmbito da militância na política partidária, sindicatos, movimentos sociais. 1. 27. A expressão “enegrecendo” é uma referência livre ao artigo de Sueli Carneiro (2003)..

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