CAPÍTULO 3 TRABALHOS RELACIONADOS
4.2 Construção do GAIA
4.2.1 Fase 1: Seleção de contribuições
4.2.1.1 Protocolo de Pesquisa Bibliográfica Exploratória
O método de pesquisa bibliográfica exploratória foi escolhido uma vez que os trabalhos sobre recomendações, padrões e diretrizes de acessibilidade web para pessoas com TEA ainda são escassos e não possuem um estado da arte consolidado em comparação com deficiências visuais, auditivas e motoras.
Portanto, o objeto de estudo deste trabalho ainda é uma área de estudos em aberto a ser desbravada, necessitando de uma abordagem em que seja possível definir uma visão geral acerca do tema e mapear problemas, limitações e relacionamentos entre conceitos apresentados em diferentes trabalhos.
Para realizar a pesquisa bibliográfica exploratória, foi conduzida uma busca extensa em bases de dados e também foram realizadas buscas manuais para encontrar soluções não restritas somente a artigos científicos.
Diferentemente de uma revisão sistemática da literatura, a pesquisa bibliográfica exploratória tem uma preocupação maior com a qualidade das descobertas do que com a quantidade de trabalhos selecionados, utilizando métodos distintos da revisão sistemática para seleção de materiais. Para garantir essa qualidade, foi seguido o protocolo apresentado na Tabela 3.
Tabela 3. Protocolo de Revisão Bibliográfica Exploratória.
Fontes de pesquisa Bases de dados (ACM, Scielo, Google Scholar, IEEE, PubMed) Buscas manuais no Google
Referências cruzadas
Recomendação de literatura especializada por revisores de artigos resultantes deste trabalho submetidos a conferências científicas
Questões a serem observadas nos materiais
Quais modelos de interação que deram certo ou que devem ser evitados para auxiliar outros projetistas a desenvolverem mais aplicações acessíveis à crianças com TEA?
As soluções propostas têm como foco características específicas do TEA? Se sim, quais?
Em caso de estudos de caso e pesquisas empíricas, o que os pesquisadores relataram de lições aprendidas sobre a forma como pessoas com TEA, especialmente crianças, usam soluções computacionais?
As soluções propostas, com base em resultados empíricos ou não, são restritas somente ao domínio do trabalho ou podem ser generalizadas para diferentes plataformas de interação?
Tipos de estudos / materiais Observação Estudos de Caso Design Participativo Revisões de Literatura Ferramentas computacionais
Critérios de Inclusão Ano de publicação ou lançamento: devido aos avanços da
tecnologia, não foram considerados trabalhos anteriores a 2005 pois poderiam resultar em recomendações de design obsoletas, em virtude das grandes mudanças de tecnologia e paradigmas de interação a partir da última década;
Qualidade das evidências: embora a busca de materiais não tenha se
restringido a artigos científicos, excluímos da seleção artigos não publicados, publicações em blogs e outros materiais que não poderiam ter as evidências empíricas verificadas. Para seleção de artigos científicos, selecionamos artigos revisados por pares publicados em conferências ou periódicos científicos nacionais e internacionais;
País de origem: a intenção desta triagem era encontrar
recomendações relevantes em pesquisas de diferentes origens culturais. Ao todo, os trabalhos são oriundos de oito países, incluindo o Brasil;
Dispositivo: os trabalhos analisados são majoritariamente focados em
dispositivos com tela sensível ao toque e ambiente web. Entretanto, 20% dos trabalhos não puderam ter o tipo de dispositivo identificado,
mas apresentaram considerações relevantes e compatíveis com os demais critérios;
Natureza dos trabalhos: foram consideradas principalmente soluções
de software voltadas a pessoas com TEA e investigações de acessibilidade e usabilidade exclusivas ou não a pessoas com TEA;
Possibilidade de extração de recomendações: foram considerados
trabalhos em que ao menos três recomendações puderam ser extraídas. Como exceção, foram considerados trabalhos em que foram extraídas somente duas recomendações, entretanto, os trabalhos e as recomendações extraídas foram semelhantes e compatíveis com recomendações identificadas em outros trabalhos;
Público: recomendações voltadas principalmente para crianças com
autismo ou que as envolvesse entre o público dos trabalhos;
Ineditismo: os trabalhos deveriam apresentar contribuições que ainda
não estão contempladas em recomendações internacionais como a WCAG. O ineditismo pode envolver as informações apresentadas, a forma de organização das informações para facilitar a compreensão das mesmas, o detalhamento de implementação das recomendações propostas e/ou os exemplos apresentados.
Critérios de Exclusão Artigos não publicados, publicações em blogs e outros materiais que não poderiam ter as evidências empíricas verificadas.
Soluções voltadas somente para os pais, terapeutas ou educadores de pessoas com TEA.
Artigos que não descrevem com clareza as decisões de design da solução quanto às necessidades da pessoa com TEA.
Trabalhos com enfoque em robótica.
Trabalhos fora dos critérios de inclusão de modo geral.
Período de seleção, leitura e consolidação dos materiais
Outubro de 2013 a Julho de 2015
Strings de busca ((Use of technology in intervention for children with) OR (Guidelines for software design) OR (Software and technologies designed for people with) OR (Interface Design Guidelines for People with) OR (web accessibility people with) OR (evaluating web accessibility) OR (interface patterns for) OR (web design for) OR (education technology
for) OR (natural user interface) OR (games for) OR (web accessibility) OR (universal design for) OR (interface))? autism (online)*
No total, foram catalogados 123 estudos, artigos com acesso ao texto completo (full text), diretrizes e software selecionados para uma primeira análise. Após a leitura de títulos e resumos ou fragmentos de texto para materiais que não possuíam estes elementos, 24 trabalhos foram desconsiderados por não se enquadrarem nos critérios de inclusão.
Dos 99 trabalhos restantes, 88 foram excluídos após a leitura detalhada, porém, alguns dos materiais foram considerados para embasamento teórico. Nesta leitura detalhada, foram encontradas na referências dos trabalhos outros materiais potencialmente interessantes para identificar recomendações. Após leitura destas referências, seis trabalhos foram incluídos na seleção final. A Tabela 4 apresenta o mapeamento das referências cruzadas.
Tabela 4. Referências cruzadas da pesquisa exploratória de literatura. Referência cruzada Fontes
Battochi et al., 2009 Millen, Edlin-White e Cobb, 2010; Weiss et al., 2011; Muñoz et
al., 2012; Silva, Salgado e Raposo, 2013; outras referências
excluídas
Friedman e Bryen, 2007 Darejeh e Singh, 2013; Borg et al., 2014* Lau, Yuen e Lian, 2007 Referências excluídas
Millen, Edlin-White, Cobb, 2010 Poulson e Nicolle, 2014*; outras referências excluídas
Putnam e Chong, 2008 Millen, Edlin-White e Cobb, 2010; outras referências excluídas Weiss et al., 2011 Referências excluídas
* Utilizado como referência para embasamento teórico do trabalho
Um grande desafio desta etapa foi o acesso ao texto completo de alguns artigos científicos, o que impediu que determinadas referências fossem incluídas entre os trabalhos selecionados.
Entretanto, este é um viés com o qual era esperado lidar ao realizar uma pesquisa bibliográfica exploratória, dado que o objetivo é estabelecer um panorama inicial do assunto com foco na qualidade das informações obtidas e não estabelecer uma revisão sistemática do estado da arte.
A omissão de alguns trabalhos relevantes é uma potencial limitação desta pesquisa, entretanto, embora alguns trabalhos não estejam inclusos como input para a geração das recomendações finais deste trabalho, foi possível respaldar os resultados com contribuições relevantes.
Outra barreira encontrada foi que muitos trabalhos descrevem o impacto da solução computacional para a pessoa com TEA através de avaliações empíricas, mas não especificam quais soluções bem-sucedidas de design podem ter contribuído para que a solução fosse bem aceita e bem utilizada pelo usuários. Assim, não era possível determinar com clareza quais aspectos da interface e da interação afetavam o uso da solução.
Este aspecto corrobora com os problemas que motivaram o desenvolvimento desta pesquisa: grande parte das pesquisas em computação que aborda DCNA, especificamente o TEA, preocupa-se com o desenvolvimento de um produto final com funcionalidades que trabalham habilidades das pessoas com estas deficiências, mas não identificam se as interfaces são bem-sucedidas ou quais barreiras elas apresentam em potencial.
Ao final desta etapa, foram selecionados 17 trabalhos envolvendo o design de soluções computacionais acessíveis a pessoas com TEA ou outras deficiências cognitivas, neuronais ou de aprendizagem.
Entre os trabalhos selecionados de acordo com os critérios apresentados na seção anterior, encontram-se 8 trabalhos científicos, 3 software educacionais e/ou voltados a crianças com autismo, 3 conjuntos de recomendações ou proposta de recomendações (guidelines) de acessibilidade de interfaces para pessoas com autismo e 1 trabalho com enfoque em design universal para aprendizagem, não exclusivo para pessoas com TEA, mas com recomendações compatíveis com outros trabalhos e com a proposta da pesquisa.
A Tabela 5 apresenta um resumo sobre os trabalhos selecionados, a classificação correspondente, seus autores e a quantidade de recomendações que foram extraídas.
Tabela 5. Resumo dos trabalhos selecionados.
Classificação Autores Ano País Plataforma Sujeitos / Público Recomendações extraídas Recomendações Internacionais Seeman e Cooper (W3C) 2015 Global Web Pessoas com deficiências cognitivas, neuronais ou de aprendizagem 6 WebAIM 2014 17 Abou-Zahra 2012 6 Software para pessoas com TEA PuzzlePiece 2014 Estados Unidos Tablet (aplicação nativa)
Pessoas com TEA 3
Proloquo2Go 2014 Pessoas com deficiência de comunicação e linguagem 5 Carrer, Pizzolato
e Goyos 2009 Brasil Desktop Pessoas com TEA 2
Artigos científicos
Darejeh and
Singh 2013 Malásia Desktop
Pessoas com baixo letramento
digital 7
Silva, Salgado e
Raposo 2013 Brasil Mesa multitoque
Pessoas com TEA
10
Muñoz et al. 2013 Chile, Brasil Tablet (aplicação
nativa) 4
Sitdhisanguan et
al. 2012 Índia Interfaces Tangíveis 4
Weiss et al. 2011 Israel, Itália Mesa multitoque 4
Millen, Edlin-
White e Cobb 2010 Inglaterra
Desktop / Realidade
Virtual 3
Battochi et al. 2009 Itália Mesa Multitoque 3
Putnam e Chong 2008 Estados Unidos Não especificado 2
Lau, Yuen e Lian 2007 Hong Kong Desktop 6
Friedman e
Bryen 2007 Estados Unidos Web
Pessoas com deficiências cognitivas, neuronais ou de aprendizagem 20 Desenho universal para aprendizagem (não relacionado à tecnologia)
UDL Center 2012 Estados Unidos Não aplicável Não especificado 5