• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3 TRABALHOS RELACIONADOS

3.2 Recomendações relacionadas a Acessibilidade Web Cognitiva

Os primeiros autores a propor formalmente recomendações de acessibilidade web para pessoas com DCNA foram Friedman e Bryen (2007). Através de uma ampla revisão de literatura, os autores estabeleceram 22 recomendações consideradas mais frequentes dentre os trabalhos analisados. Entre as recomendações consolidadas, encontram-se:

 Use figuras, ícones e símbolos junto aos textos;  Use cabeçalhos, títulos e instruções;

 Use fontes sem serifa como Arial, Verdana, Helvetica e Tahoma;  Os botões de navegação devem ser claros, grandes e consistentes;  Use cores para contraste;

 Forneça áudio ou dublagens para que as palavras sejam lidas em voz alta;

 Forneça feedbacks para as ações dos usuários, por exemplo, confirmar ações corretas, alertar os usuários sobre possíveis erros.

Embora os autores apresentem recomendações relevantes normalizadas a partir de vários trabalhos, as recomendações não apresentam detalhes que

contextualizem uma aplicabilidade prática e que expliquem a importância de cada recomendação para pessoas com DCNAs. Além disso, há recomendações muito sucintas como “Use cores para contraste” e técnicas como “Use fontes sem serifa...”, que podem fazer com que estas recomendações sejam compreensíveis somente a profissionais de tecnologia, especialmente designers e desenvolvedores front-end.

De modo análogo a Friendman e Bryen (2007), Darejeh e Singh (2013) investigaram princípios de usabilidade para pessoas com baixo letramento digital, incluindo pessoas com DCNA e especificamente pessoas com TEA. No trabalho, os autores estabeleceram as seguintes recomendações, também sucintas e sem detalhamentos, sobre usabilidade de software para pessoas com DCNA ou TEA:

 Eliminar funcionalidades que podem causar estresse desnecessário ou frustração e reduzir a complexidade do software através da diminuição de funcionalidades disponíveis;

 Projetar interfaces que não necessitem de investigação para encontrar ferramentas;

 Use componentes grandes como botões e caixas de seleção maiores. Além disso, utilize ícones e fontes maiores para mostrar funções-chave do software;

 Evite utilizar termos e nomes que não são familiares a todos os usuários  Habilite customização de cores e tamanho de fonte;

 Use textos suficientemente descritivos;

 Utilize objetos gráficos como avatares e ícones para aumentar a atratatividade do software, especialmente para crianças e também para atrair a atenção de pessoas com deficiência cognitiva.

Além de entender como a literatura aborda a acessibilidade para pessoas com DCNA, é preciso compreender quais as necessidades destes usuários. Assim, no ano de 2008, Putnam e Chong (2008) conduziram uma pesquisa através de um questionário online com pais e educadores de crianças e adolescentes com TEA e diretamente com adultos com TEA. O objetivo foi identificar soluções de software que atendem às necessidades pedagógicas e terapêuticas de pessoas com TEA.

O estudo de Putnam e Chong (2008) não define recomendações de design ou acessibilidade ao final, mas destaca aspectos que podem ajudar a construir produtos de tecnologia mais adequados a pessoas com TEA considerando seus objetivos, interesses e habilidades. Os autores identificam também que as pessoas com TEA e seus respectivos familiares têm as seguintes expectativas quanto ao uso de recursos computacionais:

 Utilizar o computador para tarefas de comunicação e engajamento social, como forma de trabalhar conjuntamente as habilidades de socialização e comunicação;

 Trabalhar a comunicação de forma geral, como aquisição de vocabulário sem dispender grande quantidade de tempo;

 Auxiliar na organização de ideias e de atividades de rotina;

 Permitir explorar conteúdos em múltiplos meios, com recursos sonoros e visuais (multimodalidade).

A investigação de Putnam e Chong (2008) também apontou que apenas 25% dos respondentes tiveram contato com tecnologias projetadas para pessoas com deficiências cognitivas e somente 7% já haviam utilizado soluções computacionais projetadas especialmente para pessoas com TEA. Os autores também alertaram que, embora tenham soluções computacionais para este público, os projetistas de software ainda desconhecem como a tecnologia se integra à vida destes usuários.

A WAI, um grupo de trabalho do W3C dedicado a estabelecer diretrizes de acessibilidade web, identificando uma lacuna semelhante, publicou em 2012 um rascunho de princípios de acessibilidade para pessoas com DCNA e suas respectivas barreiras de interação em potencial (ABOU-ZAHRA, 2012). O texto apresenta as seguintes orientações de design dependendo do indivíduo que apresenta uma condição cognitiva ou neurológica (ABOU-ZAHRA, 2012):

 Instruções claras que facilitam a visão geral do conteúdo e orientação;  Rótulos consistentes de formulários, botões e outras partes de conteúdo;

 Previsibilidade de alvo dos links, funcionalidades e comportamento geral da página;

 Diferentes formas de navegar no website como, por exemplo, através de um menu hierárquico ou opções de busca;

 Opções para suprimir conteúdos que distraem, que podem piscar ou brilhar;  Texto simplificado complementado com imagens, gráficos e outras ilustrações.

Como estas recomendações tratavam-se de um rascunho, o W3C criou um grupo de força-tarefa intitulado Cognitive and Learning Disabilities Task Force (COGA- TF) com foco na área agora denominada Acessibilidade Web Cognitiva, conforme abordamos na seção 2.5.

Em janeiro de 2015, a COGA publicou os resultados de uma pesquisa conduzida com usuários com DCNA para endereçar problemas e soluções de design para acessibilidade de conteúdos web, trazendo resultados significativos e ainda inéditos, embora necessitando uma investigação mais aprofundada (SEEMAN; COOPER, 2016b). Algumas recomendações preliminares de acessibilidade para pessoas com TEA são:

 Facilitar a navegação e compreensão do conteúdo através de linguagem visual e texto com linguagem simples que não utilize jargões;

 O tamanho de fontes pode variar de pessoa a pessoa, portanto, é preferível permitir customizar a fonte e o tamanho de acordo com as preferências pessoais;

 Cores podem ser utilizadas para diferenciar seções de um site ou relacionar conteúdos similares;

 Assegurar contraste adequado entre fonte e fundo;

 Facilitar a compreensão e minimizar distrações permitindo alterar tamanho de fonte e ativar modo de leitura;

 Evitar linguagem conotativa.

Como todos os documentos produzidos pelo W3C, os relatórios do COGA estão em constante evolução e continuam a ser redigidos pelos membros da força-

tarefa. Atualmente, estes documentos estão disponíveis no Github (um repositório de códigos abertos), permitindo que as pessoas acompanhem as alterações no documento e também contribuam. O repositório aberto dos documentos pode ser acessado em https://github.com/w3c/coga.

De modo geral, a maioria dos trabalhos apresentam resultados preliminares e necessitam de maiores detalhes para suas respectivas soluções propostas, apesar de apresentarem contribuições relevantes para a área. Um viés comum a todos os trabalhos é o foco em descrever as soluções para atender exclusivamente a lacuna de conhecimento de profissionais de tecnologia.

Assim, estes trabalhos tendem a apresentar um conteúdo mais técnico. Recomendações que consideram as habilidades de pessoas com TEA e que podem ser utilizadas por profissionais de diferentes áreas têm um potencial de maior adoção e permitem a realização de trabalhos multidisciplinares para desenvolver soluções mais adequadas não apenas no âmbito da funcionalidade, mas também quanto à objetivos pedagógicos e terapêuticos.