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CAPÍTULO 5 RESULTADOS

5.6 Triangulação dos dados

Ao utilizar três métodos de pesquisa distintos neste trabalho, a revisão bibliográfica exploratório, o questionário online e as entrevistas com pais de crianças com TEA, era necessário convergir todos resultados de forma a relacioná-los entre si dentro dos objetivos da pesquisa. Cada método de pesquisa escolhido teve um escopo e todos nos levaram a descobertas relevantes sobre a acessibilidade de interfaces web para pessoas com autismo.

A triangulação permitiu comparar os resultados obtidos em cada um dos métodos para que pudéssemos traçar um cenário sobre a relação da pessoa com TEA com soluções computacionais sob a perspectiva do que era relatado na literatura, o que os profissionais de desenvolvimento web conheciam sobre projetar soluções acessíveis para este público e como os pais de crianças com TEA percebiam a relação de seus filhos com estas soluções.

Assim, a triangulação nos permitiu entender melhor o fenômeno estudado nesta pesquisa e permitiu que identificássemos divergências entre os resultados obtidos em cada método de pesquisa.

Confrontando os resultados da literatura com o questionário realizado, percebeu-se que, de fato, ainda há uma lacuna de conhecimento muito grande dos profissionais de desenvolvimento web acerca de acessibilidade, em especial quando falamos sobre acessibilidade web cognitiva.

Através do questionário, pode-se confirmar que as recomendações de acessibilidade web já estabelecidas e que fizeram parte da nossa pesquisa bibliográfica exploratória, como o WCAG, nem sempre são facilmente compreendidas pelos profissionais de desenvolvimento web. Os artigos científicos, além de se apresentarem inacessíveis em alguns casos, também não são tão utilizados ou compreendidos com facilidade, embora ainda sejam mais inteligíveis comparado às diretrizes internacionais.

Acredita-se que a forma de divulgação, a linguagem e o idioma de diretrizes internacionais pode ser um fator de barreira para que elas sejam adotadas, conforme foi apontado na Subseção 5.4.4.2. A falta de conhecimento sobre as DCNAs e a dificuldade de seguir as diretrizes internacionais na prática foi algo que evidenciamos através do questionário e que já foi alertado por Nicolle e Poulson (2004) mais de uma década antes desta pesquisa, corroborando que ainda temos um longo caminho a avançar para promover acessibilidade web cognitiva.

Estas evidências auxiliaram a calibrar os objetivos e os métodos de realização desta pesquisa para conceber o GAIA em um formato que pudesse ajudar a reduzir este gap que identificamos na comunidade de desenvolvimento web brasileira.

A triangulação possibilitou analisar de forma mais crítica as informações coletadas na literatura frente às entrevistas que realizamos e identificar que as mesmas apresentam algumas limitações em suas contribuições, a saber:

 Nenhum dos trabalhos que selecionamos na literatura menciona diretamente a questão de popups intrusivas e propagandas que aparecem em jogos ou vídeos, gerando muito estresse na criança com

TEA. Estes aspectos foram relatados por todos os familiares entrevistados, mostrando que esta é uma das barreiras mais recorrentes;

 Mesmo os trabalhos mais recentes ainda não mencionavam a preferência de crianças com TEA por conteúdos em vídeo, especialmente animações musicais;

 Os trabalhos geralmente não se aprofundam na descrição dos problemas que a pessoa com TEA pode apresentar com metáforas, navegação e conteúdo textual;

O problema “evita algum conteúdo, site ou aplicativo devido a uma cor predominante” que consta na questão 5 do roteiro de entrevistas (Apêndice E) foi baseado em uma lista do COGA (SEEMAN; COOPER, 2016b) de potenciais barreiras da pessoa com TEA ao interagir com conteúdo web. Porém, não encontramos evidências desta barreira em nenhuma das entrevistas realizadas.

Porém, também foi possível confirmar diversos aspectos de interação da pessoa com TEA frente à tecnologia que havíamos identificado na literatura, como a preferência pelo uso de recursos visuais ao invés de texto, dificuldade de lidar com longas passagens de texto e preferência por recursos, ações, comandos e layouts previsíveis.

Ao confrontar as informações coletadas na literatura e nas entrevistas acerca da forma de interação da criança com TEA, foi possível confirmar soluções encontradas da literatura e identificar outras barreiras ou soluções que são mais aplicáveis ao contexto real de uso.

Assim, foi possível complementar as recomendações do GAIA com informações relevantes sobre a importância de determinadas técnicas e o que fazer ou não fazer ao projetar um determinado recurso para a aplicação.

5.7 Considerações Finais

A desinformação é uma barreira para a inclusão de pessoas com deficiência cognitiva, pois muitos desenvolvedores ainda acham que elas não são parte de seu público-alvo (SEEMAN; COOPER, 2016a), conforme pudemos evidenciar através da survey. Uma forma de aumentar a conscientização dos desenvolvedores é através de diretrizes e recomendações de acessibilidade web, entretanto, ainda faltam materiais acessíveis e inteligíveis sobre o assunto.

Estes fatores motivaram o desenvolvimento do GAIA, um conjunto de recomendações para ajudar desenvolvedores de software e educadores digitais a entender melhor como desenvolver websites mais adequados às necessidades de crianças com autismo.

Com este conjunto de recomendações, espera-se contribuir para o estado da arte de acessibilidade web sob aspectos de deficiências cognitivas, neuronais ou de aprendizagem, mas com foco nos aspectos do TEA.

Embora o foco das diretrizes seja o uso da soluções computacionais para pessoas com TEA, acreditamos que os resultados potencialmente poderão beneficiar usuários com diferentes características, necessidades ou limitações.

Este conjunto de recomendações compõe a primeira versão de um repositório de boas práticas e orientações para o projeto de interfaces com foco nas necessidades da pessoa com autismo, bem como complementa materiais já existentes sobre acessibilidade web para pessoas com DCNAs adicionando orientações relacionadas ao TEA.

As recomendações propostas no GAIA também podem auxiliar professores da área de educação especial e educadores digitais, não especializados em tecnologia, a compreender melhor os requisitos para o projeto de conteúdos digitais voltados a crianças com autismo.

Ao identificar soluções recorrentes em trabalhos de diferentes culturas, naturezas e objetivos, pode-se ter maior clareza das estratégias mais adequadas para desenvolver software acessíveis a pessoas com autismo.

Prover artefatos que auxiliem educadores e profissionais de educação especial a trabalhar com a tecnologia para crianças com autismo pode permitir a construção que software mais flexíveis, inclusivos e que minimizem barreiras de interação do uso da tecnologia pela criança com TEA.

É importante frisar que as recomendações propostas no trabalho podem ajudar a resolver gaps e fornecer direcionamento sobre melhores práticas para projetar interfaces mais acessíveis a pessoas com TEA, entretanto, elas não garantem a usabilidade e acessibilidade.

Conforme identificado na survey, os desenvolvedores ainda têm dificuldade de encontrar materiais sobre acessibilidade web com um enfoque prático e que estejam em português. Eles também apontaram que nem sempre conseguem compreender os materiais já existentes com facilidade e muitos profissionais ainda não possuem conhecimento sobre as DCNAs, por que eles devem desenvolver soluções acessíveis a elas e como. Pensando nestes aspectos, fora desenvolvidas descrições detalhadas das recomendações e um website para divulgar o GAIA, descritos no Capítulo 6.