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O CASO DA CÁTIA 1 – N OTA B IOGRÁFICA

2 Q UADROS C LÍNICO T ERAPÊUTICO , F AMILIAR E E SCOLAR

A Cátia nasceu com tempo completo de gestação e de parto normal, mas muito complicado, tendo sido necessário o recurso a “ventosa”. A Cátia teve que ser reanimada e ligada ao ventilador, só realizando movimentos respiratórios espontâneos aos dez minutos após o nascimento2 . Teve convulsões, desde as primeiras horas de vida, até completar um ano de idade.

A Cátia é “portadora de uma Paralisia Cerebral de etiologia perinatal que resultaram em sequelas ao nível motor e alterações na linguagem”3. Os exames médicos revelaram “atrofia cerebral moderada”4. Com um ano e meio de idade, é encaminhada para o CRAPPC, onde passa a ser seguida nas áreas de terapia ocupacional, psicologia e terapia da fala.

Quando tinha três anos, a Cátia foi alvo de duas intervenções cirúrgicas, em ortopedia, para corrigir o posicionamento dos pés e outra, em oftalmologia, para corrigir o estrabismo5.

Aos seis anos, o quadro clínico era o seguinte “espasticidade dos membros inferiores, não faz marcha e apresenta incoordenação evidente nos membros superiores. Faz preensão razoável com a mão dominante desde que o membro, não dominante, esteja estabilizado. Possui grandes problemas de articulação (como

1 DOC/NC– Relatório da equipa do CRAPPC (1995) e conversa informal coma a equipa técnica do CRAPPC 2 DOC – Ficha de anamnese

3 DOC - PEI 4 Idem

consequência da sua patologia)”1 e “um atraso de desenvolvimento global (não explicado inteiramente pelas suas dificuldades motoras)”2.

A Cátia, uma vez por semana, vai à terapia ocupacional e à fisioterapia. Deixou de ter terapia da fala porque o seu estado, a nível dos problemas de articulação de palavras, é estacionário com poucas possibilidades de vir a melhorar3.

Em termos motores, a sua situação agravou-se. A fisioterapeuta confirma que a Cátia possui uma luxação na anca, detectada a olho nu pela diferença que tem no comprimento das pernas quando estão estendidas. Segundo esta técnica, a coluna está a ficar deformada em compensação da luxação da anca, devida à escoliose de que padece e que tem a tendência para piorar4.

Em termos de funcionamento intelectual, o “quociente de realização é superior ao verbal. Existe um desfasamento entre a capacidade de raciocínio, inferior à média mas acima do limiar da deficiência mental, e o grau de conhecimentos gerais que apresenta e que se encontra muito abaixo do esperado na idade, fazendo com que o funcionamento mental global se revele inferior ao seu potencial”5. A nível cognitivo, “o raciocínio lógico-matemático está bastante comprometido necessitando de desenvolver competências mais básicas (comprometido também por falta de experiências quotidianas)”6. Segundo a técnica, que redigiu a avaliação psicológica, considera que as áreas fortes da Cátia são a memória a curto prazo e a persistência.

Quanto à autonomia pessoal, embora já consiga manter-se de pé com apoio, não possui locomoção autónoma, deslocando-se numa cadeira de rodas. Colabora no vestir, na higiene, na alimentação e nas idas à casa de banho, embora necessite sempre de ajuda.

O pai da Cátia tem quarenta e dois anos e a mãe tem quarenta anos. Ambos possuem a antiga 4ª classe. O pai é delegado de vendas e a mãe é vigilante, em horário nocturno, num lar de 3ª idade. A Cátia tem um irmão com seis anos que frequenta o 1º ano de escolaridade e a mãe está grávida de seis meses.

1 DOC – Relatório da equipa do CRAPPC, 1995 2 Idem

3 NC – Conversa informal com a terapeuta da fala 4 NC – Conversa informal com a fisioterapeuta 5 DOC – Relatório da avaliação psicológica, 2001 6 Idem

A família vive numa zona urbana, num apartamento T1+1 com elevador. A Cátia dorme no quarto com o irmão, em camas separadas1.

Ao longo do seu percurso escolar, há diferentes registos sobre a participação e a colaboração dos pais. Nas avaliações realizadas pelas educadoras de infância, a colaboração dos pais foi descrita como “boa”2 , preocupando-se com a filha e fazendo estimulação, em casa, “o que contribui para os progressos da Célia”3. Porém, anos mais tarde, no relatório de avaliação educacional, no final do 1º Ciclo, refere-se que houve “pouca participação e empenho dos pais”4 ao longo da permanência da aluna na escola.

Através da secção de acção social do CRAPPC, a Cátia foi integrada num jardim-de-infância, aos quatro anos. Embora integrada numa turma, durante um período do dia, a Cátia trabalhava individualmente com a educadora de apoio educativo destacada na SAP, que funcionava no jardim-de-infância5.

Na altura em que a Cátia deveria transitar para o 1º Ciclo, as educadoras e os técnicos do CRAPPC consideraram que deveria ser pedido um adiamento de matrícula evocando as seguintes razões: “observar-se ainda uma imaturidade global; a fragilidade física que apresenta e a necessidade de tratamentos frequente”6 .

A entrada para o 1º Ciclo faz-se aos sete anos de idade. Quando transitou para o 3º ano, mudou de escola. Durante a sua frequência no 1º Ciclo, teve sempre o acompanhamento, dentro da sala de aula, de uma professora de apoio educativo e de uma tarefeira para as actividades de vida diária. Usufruía da medida do regime educativo especial, do Decreto-Lei 319/91, “ensino especial” com um Currículo Escolar Próprio.7

Ao longo destes anos, as faltas à escola foram frequentes por “motivos de saúde”8. No entanto, é constante a referência que a Cátia é uma aluna “empenhada”9 e que é de “louvar o esforço e persistência com que a mesma tentou ultrapassar as

1 NC – Conversa informal com a mãe

2 DOC – Relatório de avaliação educacional, 1995 3 DOC PEI

4 DOC – Relatório de avaliação educacional, Junho 2001 5 DOC - PEI

6 DOC – Relatório de avaliação educacional, Junho 1995 7 DOC - PEI

8 DOC – Relatório de avaliação educacional, Junho 1998 9 DOC – Relatório de avaliação educacional, Junho1999

dificuldades que lhe surgiram, fazendo progressivamente tentativas de resolução autónoma”1.

3-I

NTRODUÇÃO DE

T

ECNOLOGIAS DE

A

POIO

Em 1995, quando tinha cinco anos, começou a “ser estudada em terapia ocupacional a possibilidade da escrita à máquina”2, que começou a utilizar na escola, desde que iniciou o 1º Ciclo, em 1996.

No ano lectivo 1997/98, passou a utilizar uma máquina de escrever eléctrica. No ano lectivo seguinte, 1998/99, substituiu-se a máquina de escrever por um computador, atribuído pela DREN e prescrito pelo CRAPPC, em 1996.

A adaptação ao trabalho no computador é descrita da seguinte forma: “Em relação ao computador, a Cátia está a adaptar-se razoavelmente e gosta de trabalhar nele.”3 .

No final do 1º Ciclo, a Cátia estava “mais autónoma e responsável no que diz respeito ao trabalho realizado no computador”4, revelando competências para comunicar através do mesmo: “tem grandes dificuldades expressivas, com problemas de articulação, conseguindo, no entanto, transmitir o que pretende oralmente ou por escrito no computador”5.

Através da Segurança Social, foi atribuído outro computador para a Cátia trabalhar em casa. No entanto, raramente a Cátia o utiliza porque não tem ninguém disponível para estar com ela6.

4-C

ONTEXTO E

S

ITUAÇÃO

E

SCOLAR

A escola situa-se numa zona urbana e é sede de um agrupamento de escolas tipo vertical formado por quatro estabelecimentos de ensino, com as seguintes características7:

1 DOC – Relatório de avaliação educacional, Junho 2000 2 DOC – Relatório de avaliação da equipa do CRAPPC

3 DOC – Relatório de avaliação educacional do 2º Período de 1999 4 DOC – Relatório de avaliação educacional do 2º Período, 2001 5 DOC – Relatório de avaliação educacional, Junho 2001 6 NC – Conversa informal com a mãe

Quadro 6 – Caracterização do Agrupamento Número Total Alunos Número Total Professores Número Total de Auxiliares Acção Educativa Número de Alunos C/ NEE Número de Docentes de Apoio Educativo 1488 162 28 74 7

A escola é constituída por um edifício único, com espaços verdes e de recreio coberto, com biblioteca, cantina, bar e instalações gimno-desportivas a funcionar num edifício próprio construído no recinto da escola.

Quanto às acessibilidades, existem rampas, elevadores e WC adaptado para portadores de deficiência.

A escola possui mil e cinquenta e seis alunos, distribuídos por dezoito turmas do 2º Ciclo e vinte e seis turmas do 3º Ciclo1.

Na escola funciona um Serviço de Psicologia e Orientação, a cargo de uma psicóloga, e um Núcleo de Apoio à Deficiência Auditiva que acompanha vinte e quatro alunos integrados nas turmas.

A Cátia está matriculada, pela primeira vez, no 5º ano.

A sua turma é constituída por dezasseis alunos, na maioria alunos que acompanham a Cátia desde o 1º Ciclo. Para além da Cátia, há mais um aluno com NEE2.

O director de turma lecciona as disciplinas de Matemática, Ciências da Natureza, Formação Cívica e Estudo Acompanhado. Tem quarenta e sete anos e possui o bacharelato em Contabilidade e Administração. Pertence ao Quadro de Escola há três anos e tem vinte e dois anos de tempo de serviço. Trabalhou três anos no Ensino Secundário.

A professora de apoio educativo tem cinquenta e cinco anos. Possui o Curso do Magistério Primário e uma Licenciatura em Filosofia e Humanidades. Tem trinta e sete anos de tempo de serviço, cinco no 1º Ciclo e os restantes no 2º Ciclo. Pertence ao Quadro de Escola do 2º Ciclo mas há vinte anos que está destacada nos Apoios Educativos. Ao longo do seu percurso profissional, tirou uma especialização e uma pós-graduação em Educação Especial, bem como, um mestrado em Educação.

1 Idem

Actualmente, está a finalizar um doutoramento e dá formação a professores. Esteve também envolvida em vários projectos, nomeadamente no projecto Minerva. Dá doze horas de apoio directo aos alunos, dado que usufrui da redução de horário, devido à idade e ao tempo de serviço que possui1.

A tarefeira contratada para apoiar a Cátia, por quatro horas diárias, tem cinquenta anos e possui a antiga 4ª classe. Trabalhou oito anos numa instituição particular ligada à Deficiência Mental e há quatro anos que está com a aluna2.

As medidas do regime educativo especial do Decreto-Lei 319/91 adoptadas foram: “adaptações curriculares”, “adaptações de materiais”, “condições especiais de avaliação” e “apoio pedagógico acrescido”3.

Na formulação dos objectivos curriculares das diferentes disciplinas, na metodologia a adoptar ou ainda nas formas de avaliação previstas no Plano Educativo Individual, elaborado para a Cátia, não há nenhuma referência à utilização do computador.