• Nenhum resultado encontrado

O CASO DO EDGAR 1 – N OTA B IOGRÁFICA

2 Q UADROS C LÍNICO –T ERAPÊUTICO , F AMILIAR E E SCOLAR

Edgar nasceu de parto normal mas muito demorado e com complicações. Nos primeiros quatro dias de vida, permaneceu numa incubadora2.

A mãe, desde muito cedo, e em comparação com o irmão, detectou que o Edgar não estava a ter um desenvolvimento normal. Aos três meses, o médico de família enviou-o para uma consulta no hospital pediátrico Maria Pia, onde lhe foi diagnosticado sequelas de Paralisia Cerebral. Durante um ano, após o diagnóstico, foi acompanhado por uma equipa médica do referido hospital3.

Aos três anos, foi encaminhado para o CRAPPC da área geográfica, onde passou a ser seguido em terapia da fala, terapia ocupacional e fisioterapia4.

Como as viagens eram longas e o Edgar enjoava, aos seis anos é transferido para um centro de reabilitação mais perto da sua residência, dando continuidade à intervenção terapêutica iniciada no CRAPPC5.

Em termos de mobilidade, começou a andar aos quatro anos e meio, de forma muito insuficiente. Aos sete anos, foi alvo de uma intervenção cirúrgica em ortopedia, permitindo-lhe caminhar de forma mais eficaz6.

O seu nível de autonomia encontra-se bastante condicionado pela coordenação precária e pouco funcional, sobretudo ao nível dos membros superiores.

1 DOC – PEI, 1999/00

2 DOC – Ficha de anamnese 3 NC – Conversa informal com a mãe 4 NC – PEI, 1999/2000

5 NC – Conversa informal com a mãe 6 DOC – PEI, 1999/00

É uma criança dependente no vestir, na higiene pessoal e na alimentação; contudo, consegue realizar algumas tarefas sozinho como comer alimentos à mão, enfiar os braços num casaco, lavar as mãos.

O Pedro frequenta as sessões de terapia ocupacional e fisioterapia, uma vez por semana. Para usufruir dessas sessões, é dispensado, uma manhã, da escola1.

Edgar vive com os pais e dois irmãos. Os pais dedicam-se à actividade agrícola e vendem os seus produtos nas feiras. O pai tem quarenta e um anos e a mãe trinta e três anos. Ambos possuem a antiga 4ª classe. Tem uma irmã com cinco anos que frequenta o jardim-de-infância e um irmão, com catorze anos, estudante do 3º Ciclo2.

A mãe é quem está mais disponível para atender às suas necessidades e que o acompanha na ambulância, que o transporta às sessões de terapia ocupacional e fisioterapia.

A seguir às aulas, vai para o centro de estudos da freguesia, até às seis horas da tarde. A carrinha do centro leva-o a casa.

A mãe refere que toda a família o consegue entender, através dos sons que emite, dos gestos e das expressões faciais. O relacionamento com os irmãos, segundo ela, é bom. Habitualmente, é com a irmã que passa mais tempo. O irmão auxilia-o quando está no computador. É o único elemento da família que sabe trabalhar nele. Segundo a mãe, gosta muito de trabalhar no computador mas a actividade preferida dele é ir com ela para o campo, semear e plantar3.

O Edgar esteve em casa, com a mãe, até aos dois anos de idade. Dos dois aos quatro anos, frequentou um jardim-de-infância da localidade onde mora. Durante esse período, teve o acompanhamento de uma educadora de apoio educativo4.

No ano lectivo 1997/98, passou a frequentar uma SAP que funcionava numa escola do 1º Ciclo, a cerca de sete quilómetros de casa5.

No ano lectivo 1998/99, é transferido para o jardim-de-infância da escola onde actualmente está. Nesse ano, no seu PEI, estava previsto a introdução do sistema

1 NC – Conversa informal com a professora de apoio educativo 2 NC – Conversa informal com a mãe

3 Idem

4 DOC – PEI, 1996/98 5 Idem

aumentativo de comunicação SPC. No relatório educacional de transição para o 1º Ciclo, refere-se que Edgar já identificava muitos símbolos1.

Transita para o 1º Ciclo, no ano lectivo 1999/2000, quando tinha sete anos de idade e é inserido numa turma de vinte alunos.

Desde o 1º ano que usufrui das medidas do regime educativo especial, ao abrigo do Decreto-Lei 319/91: “condições especiais de avaliação” e “ensino especial”, com um Currículo Escolar Próprio. A turma e a professora mantêm-se as mesmas desde o seu ingresso no 1º Ciclo. Nos dois primeiros anos, usufruiu do apoio de uma tarefeira.2

3-I

NTRODUÇÃO DE

T

ECNOLOGIAS DE

A

POIO

A máquina de escrever eléctrica foi introduzida no jardim-de-infância, assim como o capacete com ponteiro, após a fase de treino no CRAPPC. Possui também uma máquina de escrever em casa, adquirida pelos pais3.

O Edgar possui também um computador, na escola, com grelha no teclado e impressora atribuído pela DREN, e outro computador, em casa, atribuído pela Segurança Social, ambos em Dezembro de 2000. No entanto, o computador da escola só foi montado em Maio de 2001, por um elemento da ECAE4., porque na escola não havia ninguém que o soubesse montar. A prescrição do material informático foi feita em Junho de 19995.

No final do ano lectivo 2000/2001, realizou-se uma reunião com a professora da turma, a professora de apoio educativo, o terapeuta ocupacional e o fisioterapeuta, o Presidente da Junta de Freguesia e um carpinteiro, para se fazer um armário e uma mesa onde se pudesse guardar o computador em segurança na sala de aula, que fica no piso térreo da escola e está sujeito a ser assaltado. O terapeuta ocupacional detectou, nessa visita à escola, que a cadeira adaptada para o Edgar, com separador e apoio de pés, não estava adequada à mesa que habitualmente utiliza. O Presidente da Junta comprometeu-se a pagar as despesas com o armário e a mesa. Entretanto, o computador foi montado no 1º piso, juntamente com outros computadores6.

1 DOC – PEI, 1996/97

2 DOC – PEI, 1999/00

3 DOC – Relatório educacional, 1999

4 NC – Conversas informais com a professora da turma e com a professora de apoio educativo 5 DOC – Relatório educacional, 1999

4-C

ONTEXTO E

S

ITUAÇÃO

E

SCOLAR

A escola que o Edgar frequenta encontra-se inserida num agrupamento de escolas tipo vertical com as seguintes características1:

Quadro 11 Caracterização do Agrupamento

NÚMERO DE ESCOLAS NÚMERO TOTAL DE ALUNOS NÚMERO DE EDUCADORE S E PROFESSOR ES NÚMERO DE AUXILIARES DE ACÇÃO EDUCATIVA NÚMERO DE ALUNOS COM NEE NÚMERO DE DOCENTES DE APOIO EDUCATIVO JARDINS- DE- INFÂNCIA 12 25 15 ESCOLAS DO 1º CICLO 19 97 25 2º/3º CICLOS 1 1347 95 27 36 7

A escola, que dista cerca de sete quilómetros da sede do agrupamento de escolas, situa-se numa freguesia sobranceira ao mar. É um edifício tipo “P3”, constituído por várias salas de aula, polivalente, cozinha e sala de professores. Na escola também funcionam o jardim-de-infância e uma sala de Intervenção Precoce. A escola possui um grande espaço ao ar livre e um campo de jogos com pavimento em betão.

A escola possui seis turmas do 1º Ciclo e duas turmas do jardim-de-infância. A maior parte das turmas possui vários anos de escolaridade. Os seis professores do ensino regular e as duas educadoras de infância pertencem ao Quadro de Escola. A escola possui uma professora e uma educadora de apoio educativo, ambas especializadas. Trabalham na escola, três auxiliares de acção educativa2.

A escola possui uma sala com vários computadores com acesso à Internet. Os alunos vão almoçar ao centro social da freguesia. Uma camioneta transporta- os até lá.

A turma do Pedro é constituída por dezanove alunos. Segundo a professora, a turma é muito heterogénea: um grupo maioritário de catorze alunos do 3º ano, um

1 QT – órgão de gestão

pequeno grupo de três alunos do 2º ano, o Edgar e outra aluna com NEE, com “problemas emocionais e de aprendizagem”1.

Em termos comportamentais, a professora refere que os alunos são sociáveis e obedientes. A professora considera que a turma não é adequada para a integração do Edgar porque é muito heterogénea e tem dificuldade em atender às necessidades dos diferentes grupos existentes na sala2.

A professora da turma tem vinte e quatro anos de tempo de serviço. Possui o Curso do Magistério Primário. Está na escola há três anos. Não utiliza o computador como instrumento de trabalho e não possui qualquer conhecimento de informática3.

A professora de apoio educativo tem vinte e sete anos de tempo de serviço. Possui uma especialização em Educação Especial na área de Problemáticas de Risco. Trabalha na Educação Especial há dez anos. É o primeiro ano que trabalha na escola e encontra-se a apoiar sete alunos integrados em diferentes turmas4. A professora de Apoio Educativo utiliza o computador como ferramenta de trabalho para fazer fichas de apoio para os alunos, para os relatórios e outros trabalhos inerentes à sua função. Habitualmente, utiliza o Word mas, ocasionalmente, utiliza o Excel, o Power Point, programas de desenho, Internet e correio electrónico. Adquiriu estes conhecimentos por auto-formação e com a orientação dos filhos mas, também, durante o seu curso de especialização5.

O Edgar continua a usufruir das medidas do regime educativo especial, do Decreto-Lei 319/91: “condições especiais de avaliação” e “ensino especial”, com um Currículo Escolar Próprio. Actualmente, já não tem o apoio de uma tarefeira. É uma auxiliar de acção educativa que o ajuda à hora do almoço e do lanche.

No PEI elaborado para o Edgar, não estão formulados objectivos específicos para o uso e domínio dos vários programas que possui no seu computador.