• Nenhum resultado encontrado

Quanto aos dados sócio-demográficos dos enfermeiros

3. D ISCUSSÃO DOS R ESULTADOS

3.4. Quanto aos dados sócio-demográficos dos enfermeiros

No que diz respeito à amostra dos enfermeiros, verificamos estar perante um grupo com idades compreendidas entre 23 anos (mínima) e 62 anos (máxima) com uma média de 37,11 anos, reflectindo tratar-se de um grupo profissional com um nível etário tendente para o elevado. Relativamente ao género, a maioria pertencia ao sexo feminino (84,8%), o que confirma que a enfermagem no presente é, uma profissão predominante feminina. Colliére (1989) já adverte para este fenómeno, salientando que a prática dos cuidados esteve associado à mulher desde a idade média até à actualidade e somente no século XX surge o enfermeiro que começa a conquistar relevo, posicionando-se aos poucos na profissão de enfermagem. Também, segundo os dados mais recentes da Ordem dos Enfermeiros (2010), a população portuguesa de enfermeiros é de 59745, dos quais 48512 são do género feminino e 11233 são do género masculino. Para Fontes (2009), a grande discrepância deve-se essencialmente ao contexto histórico da enfermagem e à natureza da profissão. Relativamente ao estado civil, a maioria encontra-se casada/união de facto (65,2%), seguido de 30,1% solteiros. Estes dados vão de encontro a diversos trabalhos na área da satisfação profissional em enfermagem (André & Neves, 2001; Batista et al., 2010; Campos, 2005; Fontes, 2009; Lino, 2004; Mártires, 2007; Quintela & Santos, 1996; Rodrigues, 2000).

Apuramos que a maioria tem a licenciatura ou equivalente legal (94,6%). De acordo com os dados mais recentes da Ordem dos Enfermeiros (2010), o grau académico

- 125 -

predominante é a licenciatura, com 50040 dos casos, correspondendo a 83,8% do total de enfermeiros.

No que se refere à variável anos de serviço, verificamos que a amostra deste estudo é composta por enfermeiros, entre 1 ano (mínimo) e os 40 (máxima), com uma média de 14,3 anos de serviço e um desvio padrão de 8,8 anos. Sobressaindo que 44,2% dos enfermeiros se encontram entre os “11-20 anos”, seguido de 34,6% dos enfermeiros tem menos 11 anos de serviço profissional;

Martinez e cols. (2004) concluíram que a satisfação no trabalho aparecia associada ao tempo na instituição (p<0,001) e cargo (p=0,003), onde os maiores níveis se verificaram ao nível dos funcionários com menor tempo de serviço e aqueles com cargo de direcção. Também Fontes (2009), salienta que os enfermeiros com menos tempo de serviço/carreira, habitualmente são mais jovens, pressupondo que possuem elevadas expectativas profissionais, muitas vezes difíceis de alcançar num reduzido espaço de tempo, conduzindo a um menor nível de satisfação. Por outro lado, o enfermeiro mais experiente, para além de ter mais oportunidades para realizar algumas expectativas, espera-se que apresente uma maior capacidade de enfrentar as dificuldades. Menciona também o facto dos resultados obtidos no seu estudo estarem concordantes com o exposto, devendo-se isto a uma maior experiência, proporcionando uma melhor adequação no enfrentar da diversidade das situações do cuidar, num agir mais seguro e eficaz.

Relativamente à categoria profissional, 53,7% são enfermeiros graduados, seguido de 34,6 % de enfermeiros e 11,7% de enfermeiros especialistas. Neste âmbito, Quintela e Santos (1996), destacam no seu estudo o score obtido na categoria especialista que se apresenta próximo do mais baixo, considerando que este se deveria à percepção negativa sobre a justiça salarial, em contraponto com o usufruído pelas categorias precedentes e a formação necessária para obter essa promoção. Também num estudo realizado por Gonçalves (1998), com 145 enfermeiros especialistas e 160 enfermeiros graduados a exercerem funções em dois Hospitais Centrais, conclui-se que não existe diferença estatisticamente significativa entre o grau de não satisfação profissional do grupo de especialistas e de graduados, contudo, existe uma tendência para os especialistas apresentarem maior grau de não satisfação profissional em relação aos graduados. Dias e cols. (2005) ressaltam a importância da evolução na carreira

- 126 -

profissional, salientando que os diferentes postos estão associados a diversos tipos de responsabilidades, recompensas e oportunidades, podendo traduzir-se em fonte de satisfação ou, pelo contrário, levar a situações indutoras de stresse e tensão.

A elevada percentagem de enfermeiros graduados poder-se-á explicar pela publicação do DL nº412/98, de 30 de Dezembro, que prevê a passagem para a categoria de enfermeiro graduado após a permanência de um período de seis anos de exercício na categoria de enfermeiro.

Também, em relação ao tempo de exercício profissional na categoria actual, 65,7% tinha “menos de 11 anos”, e 34,3% tinha “mais de 11 anos”.

Procurámos identificar se existia uma relação entre as variáveis sócio-demográficas com a satisfação com a supervisão dos enfermeiros do CHTMAD, EPE e verificou-se que: - A nível das variáveis sócio-demográficas com o satisfação com a supervisão, verificou-se uma relação estatística significativa com o sexo, 55,4% dos enfermeiros do sexo masculino encontravam-se muito satisfeitos com a supervisão, enquanto que ao nível do sexo feminino, 44,1% encontrava-se bastante satisfeito com a supervisão. Também a nível da idade, os enfermeiros com “mais de 50 anos de idade” (64,7%) apresentam uma satisfação muito alta. Dias e cols. (2005), no seu estudo realça a importância das relações com o superior hierárquico imediato, pois estas podem contribuir para a satisfação do trabalho e bem-estar psicológico ou, pelo contrário, ser fonte de stresse e tensão.

Procurámos identificar se existia uma relação entre as variáveis sócio-demográficas com a satisfação com o trabalho dos enfermeiros do CHTMAD, EPE e verificámos que: - A nível das variáveis sócio-demográficas com a satisfação com o trabalho dos enfermeiros não se verificou uma relação estatística significativa em nenhuma variável. O que vai de encontro ao estudo de Batista e cols. (2010), no qual concluiu que no que concerne às variáveis sócio-demográficas não existe consenso quanto à influência destes factores sobre a satisfação profissional. Corrobora também com o estudo de Salomé (1999), onde relativamente às habilitações literárias não se verificou relação estatística significativa. Também Ting (1997), salienta que os funcionários com mais idade tendem a desenvolver atitudes mais positivas em relação ao seu trabalho. Batista e cols. (2010)

- 127 -

sugerem “que as pessoas com mais idade procuram ajustar, de uma forma clara os objectivos pessoais aos profissionais” (p. 68). Quintela e Santos (1996), num estudo realizado no Hospital de Lamego constataram que o grupo etário dos enfermeiros dos “45 e mais anos”, bem como o grupo com mais 20 anos de serviço, tinham uma satisfação forte. Segundo os autores, este facto sugere que os enfermeiros mais velhos poderão estar mais satisfeitos com a sua realização profissional, a que talvez não é alheia a ideia que no seu tempo puderam escolher a profissão, encontrando-se pois mais identificados com ela. Similarmente, Pereira (1996) realizou um estudo com 73 enfermeiros do IPOFG-COC sobre satisfação profissional, concluindo que os enfermeiros se encontravam bastante motivados e satisfeitos, sendo mais significativo no sexo feminino. Andrade (2001), ao analisar a satisfação profissional junto de 209 enfermeiros do Serviço de Pediatria, encontrou uma relação estatística significativa com a variável sócio-biográfica, em que o aumento da idade e da categoria profissional pareciam corresponder a níveis superiores de satisfação, contudo, ao nível das habilitações académicas, o grupo de profissionais com menores habilitações apresentou maior grau de satisfação. Em relação às variáveis sexo, oportunidades de escolha do serviço e vínculo laboral, não se verificou relações estatísticas significativas que permitam associar a sua relação com os diferentes graus de satisfação.

3.5. Quanto aos dados relacionados com o contexto de trabalho dos enfermeiros

Quanto aos dados relacionados com o contexto de trabalho, verificámos que metade da amostra, 50,0% dos enfermeiros pertencem à Unidade de Vila Real, 32,0% à Unidade de Chaves, 16,4% pertence à Unidade de Lamego e 1,6% pertence à Unidade da Régua. Relativamente ao tipo de vínculo, constatámos que a maioria (70,3%) tinha Contrato de Trabalho por Tempo Indeterminado, seguido de com Contrato com Termo (17,1%). Estes dados podem ser indicadores de alguma segurança contratual comparativamente às tendências actuais de precarização de emprego. Num estudo sobre segurança no trabalho, realizado por Silva e Cetino (2001, como cit. pela OE, 2004), foi observado que esta é uma situação geradora de stresse e com impacto na satisfação dos enfermeiros. Pereira (1996), num estudo sobre - Os motivos na satisfação, concluiu que existiam diferenças entre o nível de satisfação profissional consoante o vínculo à

- 128 -

instituição. Os enfermeiros em regime de CAP e “Recibo Verde” apresentam índices de satisfação inferiores aos enfermeiros que pertenciam ao “quadro” e ainda constatou uma correlação positiva entre o tempo de serviço na profissão e o grau de satisfação.

Foram incluídos neste estudo cerca de 29 tipos de serviços diferentes, pertencentes às Unidades do CHTMAD, EPE. Sobressai que os serviços que mais contribuíram para o estudo foram: os serviços de Medicina com 90 (21,0%) enfermeiros, os serviços de Urgência com 49 (11,5%) enfermeiros, os serviços de Cirurgia com 37 (8,6%) enfermeiros, os serviços de Ortopedia com 26 enfermeiros (6,1%), os serviços de Bloco Operatório com 25 (5,8%) enfermeiros, com o mesmo número de enfermeiros 16 (3,7%), os serviços de Cirurgia/Ortopedia e o Serviço de Cuidados Intensivos e Cuidados Intermédios (SCICI) e também os serviços de Nefrologia/Hemódiálise com 15 (3,5%) enfermeiros. O que diverge dos resultados obtidos por Loureiro (2005), uma vez que na amostra que obteve se destacou a Cirurgia com 140 (9,8%) enfermeiros, os serviços de Urgência com 138 (9,6%) enfermeiros, os serviços de Medicina com 129 (9,0%) enfermeiros, os serviços de Bloco Operatório com 121 (8,4%) enfermeiros. Quando questionados acerca de se exerciam a profissão no serviço onde gostavam, 82,5% considerou que “Sim”. Relativamente à opção pelo serviço, 36% considerou que foi a pedido do próprio e 33,6% que foi imposto.

Quanto ao tipo de horário, a maioria (76,6%) dos enfermeiros faz “todos os turnos”, “Manhãs e Tardes” 12,6% dos enfermeiros, seguido de muito perto dos que fazem só “Manhãs” (9,8%). O trabalho por turnos é frequentemente praticado pelos profissionais da saúde, em especial pelos enfermeiros, causando importante impacto ao nível do seu bem-estar físico, mental e social (Moreno et al, 2003; Dias et al, 2005; Martins, 2003, como cit. em Dias et al., 2005), realça que os trabalhadores que praticam este tipo de horário apresentam, com frequência, queixas de fadiga crónica e alterações gastrointestinais em relação aos trabalhadores que praticam horário “normal” (entenda- se das 09.00 às 17.00 horas). Estas influências devem-se às alterações dos ritmos circadianos e do ritmo de excreção de adrenalina. Schmidt (2004, como cit. em Silva et al., 2009), num estudo sobre satisfação profissional dos enfermeiros que actuam no período nocturno, faz alusão de que o tempo de serviço é proporcional à exposição dos trabalhadores aos factores de risco físico, biológico, ergonómico, psicossocial e químico, aspectos essenciais na saúde do trabalhador e na sua satisfação com o trabalho.

- 129 -

Também Amaro (2006), na sua pesquisa verificou que os enfermeiros que desempenham a sua actividade profissional por turnos apresentam níveis de despersonalização mais elevados.

Apenas 16,1% dos enfermeiros faz acumulação de funções fora da instituição. Estes resultados contrastam com os obtidos por Dias e cols. (2005), em que 85% dos entrevistados possuíam dois ou mais empregos, para compensar a má remuneração e manter um padrão desejável de qualidade de vida, deixando para segundo plano o tempo de lazer e a atenção à família. Também Notaro e cols. (2009) e Scorsin e cols. (2008), fazem referência à dupla jornada de trabalho e aludem para o facto de estes profissionais passarem a maior parte das suas vidas produtivas em ambiente institucional, aumentando a exposição aos riscos existentes nesses locais, podendo ter implicações para a sua qualidade de vida dentro e fora do trabalho.

Aproximadamente metade (59,1%) da amostra estudada utiliza “Método Individual” de trabalho no serviço onde exerce funções, seguido de 18,7% com o “Método de equipa” e o “Método misto” com 16,4%. Estes resultados vão de encontro ao referido por Pereira (1996), que refere que a maioria (55,88%) dos enfermeiros prestava cuidados segundo o “Método individual”, seguido de 14,71% com o “Método misto” e “Método responsável”.

Procurámos, também, identificar se existia uma relação entre as variáveis relacionadas com o contexto de trabalho com a satisfação com a supervisão dos enfermeiros do CHTMAD, EPE e constatámos que:

- A nível das variáveis contexto de trabalho com satisfação com a supervisão dos enfermeiros, verificamos uma relação estatisticamente significativa na variável Unidade Hospitalar e o gosto pelo serviço onde trabalha. Assim, 43,9% dos enfermeiros da Unidade de Vila Real encontra-se com uma “Alta” satisfação com a supervisão, na Unidade da Régua 1 (14,3%) enfermeiro está muito pouco satisfeito, contrastando com 3 (42,9%) enfermeiros que se encontram muito satisfeitos com a supervisão, nas Unidades de Lamego e Chaves os enfermeiros encontram-se muito satisfeitos, com 48,6% e 43,1%, respectivamente. Num estudo realizado por Larraguibel e Klijn (2003), com 248 enfermeiras hospitalares (147 do sector público e 101 do sector privado) verificou-se que as enfermeiras dos hospitais públicos se encontravam levemente

- 130 -

satisfeitas, indicando maior satisfação as enfermeiras do sector privado. As condições físicas do trabalho foram um factor de insatisfação para as enfermeiras hospitalares, em especial para as do sector público. Os factores remuneração, promoção, são aspectos em que se encontram mais insatisfeitas, em ambos os grupos. O relacionamento com os colegas, com a supervisão e as actividades que realizam são os factores com os quais obtêm maior satisfação.

Quanto à variável se gostava do serviço onde trabalha, 40,0% dos enfermeiros respondeu que “Não” gostavam do serviço onde trabalhavam, contudo, encontram-se bastante satisfeitos com a supervisão, e dos que responderam que “Sim”, que gostavam do serviço onde trabalhavam, 42,3% encontra-se com uma “Muito alta” satisfação e 42,0% com uma “Alta” satisfação. Batista e cols. (2005) referem que os factores essenciais de motivação no trabalho são, gostar do que faz, bom relacionamento interpessoal, crescimento profissional, o tipo de liderança e o apoio do enfermeiro chefe.

Quanto à variável tipo de horário, é necessário dizer que 61,1% dos enfermeiros que só faz manhãs e tardes encontra-se com uma “Muito alta” satisfação com a supervisão e 45,5% dos enfermeiros que faz “todos os turnos” encontra-se com uma “Alta” satisfação.

Os resultados evidenciam que em relação à hipótese por nós colocada só existia uma relação estatística significativa de algumas variáveis relacionadas com o contexto de trabalho, com a satisfação com a supervisão ao nível da unidade hospitalar, onde sobressai, à excepção da Unidade de Vila Real, em que 43,9% dos enfermeiros se encontra bastante satisfeito, as restantes apresentavam muita satisfação com a supervisão. Cerca de metade dos enfermeiros gosta do serviço onde trabalha, contudo, os que não gostam (40%), estão bastante satisfeitos com a supervisão. Os enfermeiros que fazem só manhãs e tardes (33,3%) encontram-se muito satisfeitos, ao passo que os enfermeiros que fazem “todos os turnos” ou só manhãs estão bastante satisfeitos, com 44,5% e 40%, respectivamente.

- 131 -

3.6. Quanto aos dados relacionadas com a satisfação com a supervisão