• Nenhum resultado encontrado

No século XIX, em 1889, O Evangelho da Riqueza, de Andrew Carnegie foi publicado. Grande magnata e filantropo estadunidense, Carnegie inaugurou a discussão envolvendo compromisso social e negócios, inspirando filantropos, tais como Bill Gates e Warren Buffet, ao defender que os milionários deveriam utilizar suas fortunas para melhorar o mundo, de forma que não encontrassem barreiras para que entrassem no paraíso.

A tradição religiosa anglo-saxã ocidental originou correntes de valorização da ética e de incentivo à responsabilidade social empresarial, e criou uma noção de que a empresa não tem responsabilidade apenas com seus acionistas, mas também com toda a sociedade na qual ela se insere. Já a visão individualista de Carnegie, somada à busca por um modelo organizacional que dimensionasse seus interesses e a busca por uma legitimação social de sua riqueza, o tornou grande defensor da filantropia estratégica.225 Para John Gerard Ruggie, a “responsabilidade social corporativa é fruto da filantropia corporativa”.226

225 COSTA, Alessandra Mello da; CARVALHO, José Luis Felicio. Legitimando papeis ou conciliando interesses?

A reprodução discursiva da responsabilidade social empresarial. Anais do Encontro Nacional da Associação

Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração. Brasília, p. 1-16. 2005, p. 3. Disponível em:

<http://www.anpad.org.br/admin/pdf/enanpad2005-apsc-0232.pdf>. Acesso em: 1º jun. 2017.

226 RUGGIE, John Gerard. Quando negócios não são apenas negócios: as corporações multinacionais e os

A filantropia surge como uma justificativa para a pressão que exige que as empresas aumentem cada vez mais seus níveis de responsabilidade social enquanto garantam lucro para os investidores. Na década de 1990 os gastos com filantropia nas empresas estadunidenses foram de cerca de US$ 125 milhões, com estimativas de US$ 828 milhões apenas 12 anos depois, em 2002.227 A mobilização de grandes fortunas privadas para serviços sociais em 2013 foi de US$ 335 bilhões só nos Estados Unidos, o que correspondeu o equivalente a 2% do PIB do país228, criando uma “filantropia de massa” que envolve milhões de cidadãos e faz a filantropia parecer indispensável.

Essa ideologia permaneceu até a década de 1960, época em que se aceitava que, caso a autorregulação não fosse capaz de “corrigir” as empresas, o Estado poderia intervir por meio de medidas legislativas. No entanto, a partir dos anos 1980, as esferas do poder público confundiram-se com o setor privado, de forma que os papeis das empresas e da sociedade foram reconfigurados, e a responsabilidade pela questão social foi, aos poucos, sendo compartilhada entre o Estado e a iniciativa privada.229

Todavia, no atual cenário do mundo empresarial, os avanços em responsabilidade social não podem ser resumidos em uma simples convergência de interesses, com a privatização de serviços sociais, ou práticas de caridade – vistas com certa desconfiança pelo Estado – que poderão ser usadas apenas como estratégia de publicidade. No entanto,

cada vez mais, a filantropia é usada como uma forma de relações públicas ou publicidade, promovendo a imagem ou a marca da empresa por meio do marketing social ou de patrocínios que gerem grande visibilidade.230

Atualmente, a responsabilidade social empresarial é fundamentada em argumentos que buscam convencer as empresas de que elas terão proveito das transformações nos valores

227 PORTER, Michael E.; KRAMER, Mark R. A vantagem competitiva da filantropia corporativa. In:

RODRIGUEZ Y RODRIGUEZ, Martius Vicent (org.). Ética e responsabilidade social nas empresas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005, p. 134-166; p. 134-135.

228 BRÉVILLE, Benoît. Ascensão da filantropia nos países Ocidentais. Quando os cidadãos substituem o Estado

de Bem-Estar. Le Monde Diplomatique Brasil. Publicado em 1º de dezembro de 2014, s.p. Disponível em: <http://diplomatique.org.br/quando-os-cidadaos-substituem-o-estado-de-bem-estar/>. Acesso em: 1º jun. 2017.

229 COSTA, Alessandra Mello da; CARVALHO, José Luis Felicio. Legitimando papeis ou conciliando interesses?

A reprodução discursiva da responsabilidade social empresarial. Anais do Encontro Nacional da Associação

Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração. Brasília, DF, Brasil, p. 1-16, set. 2005, p. 3.

230 PORTER, Michael E.; KRAMER, Mark R. A vantagem competitiva da filantropia corporativa. In:

RODRIGUEZ Y RODRIGUEZ, Martius Vicent (org.). Ética e responsabilidade social nas empresas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005, p. 135.

sociais, de forma a adquirir vantagem competitiva, e, assim, por meio de uma postura proativa, a antecipação em questões sociais evitaria o surgimento de legislações sobre o tema.231

A necessidade de se diferenciar a mera filantropia corporativa da responsabilidade social empresarial surge porque a filantropia é muito presente nas empresas para praticar a ação social na comunidade, mas muitas vezes de modo desalinhado em relação às estratégias das empresas. Isso pode dificultar essa produção social, de forma que pode ser considerada apenas estratégia de competitividade, pois se associa a um altruísmo imposto às relações de consumo, trazendo benefícios emocionais aos consumidores.232

Já a responsabilidade social empresarial é parte da governança corporativa, fruto da criação de estruturas internas de tomada de decisões das próprias empresas, sendo uma forma clássica de autorregulação como estrutura de influência no comportamento das organizações mais influentes.233

A Governança Corporativa surgiu fortemente no mercado de capitais, mas se aplica a qualquer organização, inclusive àquelas do chamado Terceiro Setor. Por meio dela buscam-se instrumentos e estratégias para minimizar os custos e otimizar o desempenho das empresas. Para tanto, se utiliza de estratégias de monitoramento, de incentivo e de mercado.

A expressão, em si, tem ganhado destaque especialmente nos últimos anos, embora tenha surgido na década de 1970, a partir da insatisfação dos acionistas que, diante da falência das empresas em que investiam, ao buscarem a satisfação de seus direitos, os viam mitigados em prol dos interesses dos executivos da empresa. Nos anos de 1980, com as políticas de Thatcher e Reagan, focadas no mercado e no crescimento econômico, a preocupação com os

stakeholders,234, que havia começado a despontar na década anterior, foi completamente

ofuscada. A consequência disso foi a criação de uma regulamentação abrangente e severa no

231 COSTA, Alessandra Mello da; CARVALHO, José Luis Felicio. Legitimando papeis ou conciliando interesses?

A reprodução discursiva da responsabilidade social empresarial. Anais do Encontro Nacional da Associação

Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração. Brasília, p. 1-16. 2005, p. 3. Disponível em:

<http://www.anpad.org.br/admin/pdf/enanpad2005-apsc-0232.pdf>. Acesso em: 1º jun. 2017.

232 PORTER, Michael E.; KRAMER, Mark R. A vantagem competitiva da filantropia corporativa. In:

RODRIGUEZ Y RODRIGUEZ, Martius Vicente (org.) Ética e responsabilidade social nas empresas. Tradução de Afonso Celso da Cunha Serra. 4ª reimpressão. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005, p. 134-166, p. 146.

233 ROGOWSKI, Ralf. Reflexive Labour Law in the World Society. Massachusetts: Edward Elgar Publishing,

Inc., 2015, p. 247.

234 Optou-se por utilizar a expressão “stakeholder” em detrimento de outros termos, tais como “relações

comunitárias” ou “grupos de interesse” tendo em vista que o vocábulo é suficientemente abrangente, incluindo comunidades, ONGs (terceiro setor), e o sistema público e privado em geral, sendo pacificado na literatura especializada.

seio das empresas, com a difusão de códigos de governança corporativa propostos por instituições multilaterais, organizações profissionais e instituições do mercado acionário.235

Já na década de 1990, a governança corporativa se tornou um tema a ser debatido, especialmente quando relacionada à eficácia da gestão das organizações. Isso se deu, em grande medida, diante da enxurrada de denúncias de fraudes e desvios éticos nas empresas desde o crescimento da demanda de ações empresariais, principalmente a partir de 1995, que levou a um crescimento de expectativas, de demanda do mercado e preços baixos para sustentar a lucratividade.236

Dessa forma, a noção de governança corporativa foi se disseminando por todos os países, desenvolvidos ou em desenvolvimento, sendo responsável pela criação de um mecanismo de controle externo, que hoje diz respeito a todos os atores envolvidos nas organizações.237 A governança corporativa, assim, se baseia em quatro princípios: transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade.

Pela transparência (ou disclosure) os níveis de confiança internos da empresa e suas relações com terceiros são elevados, se relacionando intimamente com a imagem e reputação da empresa. A equidade (ou fairness) pressupõe o tratamento igualitário entre todos os sócios e stakeholders, equilibrando a dinâmica nas relações entre sócios e sociedade. A prestação de contas, por si só, se relaciona com o mercado, enquanto que a responsabilidade corporativa (ou compliance) se dedica à sustentabilidade das empresas, focando o desenvolvimento sustentável e ações que interessem a preservação de toda a sociedade, revisando até mesmo a forma pela qual a empresa se comporta com seus funcionários.238 Com a governança corporativa, o lucro não se torna mais a única categoria a ser desejada pela empresa, e investimentos no “capital humano”, como salários e benefícios destinados aos empregados, se tornam atrativos com

235 ÁLVARES, Elismar; GIACOMETTI, Celso; GUSSO, Eduardo. Governança corporativa: um modelo

brasileiro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008, p. 7.

236 BERGAMINI JUNIOR, Sebastião. A crise de credibilidade corporativa. Revista do BNDES. Rio de Janeiro,

v. 9, n. 2, p. 33-84. Dez. 2002, p. 68.

237 MACEDO, Álvaro Fabiano Pereira de. Governança corporativa e evidenciação de capital intelectual em

empresas brasileiras. Revista Evidenciação Contábil & Finanças. João Pessoa, v. 3, n. 1, p. 18-33. Jan./Abr. 2015, p. 21.

238 AMARANTE, Janaína Gabrielle Moreira Campos da Cunha; DERETTI, Sandro; SILVA, Eduardo Damião da.

Governança corporativa e responsabilidade social corporativa: uma revisão sistemática dessa relação. Revista de

Ciências da Administração. Florianópolis, v. 17, n. 43, p. 123-140. Dez. 2015, p. 125; MANZZIONI, Sandy; et.

al. Influência da governança corporativa e da estrutura de capital no gerenciamento de resultados. Revista

Contemporânea de Contabilidade. Florianópolis, v. 12, n. 27, p. 61-85. Set./Dez. 2015, p. 65; ÁLVARES,

Elismar; GIACOMETTI, Celso; GUSSO, Eduardo. Governança corporativa: um modelo brasileiro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008, p. 41-49.

promessas de retorno financeiro ao investimento. Isso afeta o próprio desempenho das empresas, que redirecionarão seus fluxos de investimento a outras áreas.239

No Brasil, um método de aperfeiçoamento da governança corporativa foi a criação do Novo Mercado da Bolsa de Valores de São Paulo, em 2000, que veio a se tornar o padrão de transparência e governança, pois, para negociar nesse nível, a empresa deve aplicar, de maneira autorregulatória e voluntária, práticas de governança corporativa para além das exigidas legalmente. Na BM&FBovespa, as empresas são classificadas em diferentes níveis de governança corporativa (nível 1, nível 2 e Novo Mercado), o que incentiva e prepara essas companhias a adotarem governança na relação com seus investidores e valorização de seus ativos.240

No âmbito internacional, destaca-se a International Corporate Governance Network (ICGN), uma organização sem fins lucrativos, formada por grandes investidores internacionais – tais como o College Retirement Equities Fund (TIAA-CREF) e o California Public Employees Retirement System (Cal-PERS) – com o objetivo de promover a melhoria dos padrões de gestão e transparência nas empresas, com foco especial nos países em desenvolvimento. Para tanto, a ICGN adota padrões globais contábeis uniformes nas votações de acionistas, beneficiando países em desenvolvimento e seus cidadãos ao exigirem maior transparência nas organizações.241

É diante do quadro dos quatro princípios que norteiam a governança corporativa (transparência, equidade, compliance e responsabilidade social empresarial) que se pode considerar a responsabilidade social empresarial como um “braço” que cresceu e se desenvolveu, fortalecido pela discussão a respeito da conduta ética das organizações e do seu modelo de gestão.

Nesse contexto, mister se faz compreender o impacto da governança corporativa sobre as práticas de responsabilidade social empresarial, vez se tratarem de campos riquíssimos a serem explorados. Ambas temáticas possuem estreita relação, conforme pode-se verificar na correspondência entre as ações empresariais e as dimensões variadas do desempenho social

239 RIBEIRO, Henrique César Melo; COSTA, Benny Kramer. Stakeholders e sua influência na governança

corporativa: um estudo de caso múltiplo em organizações esportivas. Revista Ambiente Contábil. Natal, v. 9, n. 1, p. 246-267. Jan./Jun. 2017, p. 250.

240 MANZZIONI, Sandy; et. al. Influência da governança corporativa e da estrutura de capital no gerenciamento

de resultados. Revista Contemporânea de Contabilidade. Florianópolis, v. 12, n. 27, p. 70.

241 PORTER, Michael E.; KRAMER, Mark R. A vantagem competitiva da filantropia corporativa. In:

RODRIGUEZ Y RODRIGUEZ, Martius Vicente (org.) Ética e responsabilidade social nas empresas. Tradução de Afonso Celso da Cunha Serra. 4ª reimpressão. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005, p. 134-166, p. 147.

corporativo, já que a capacidade de resposta social das empresas e a gestão das questões sociais dependem dessa conexão.

A responsabilidade social empresarial, se torna, assim, um campo especial de estudos, e investimentos nessa área aumentam a reputação da organização perante a sociedade, de forma que ações socialmente responsáveis também são promovidas de forma estratégica, especialmente para apresentar a qualidade dos produtos de determinadas empresas.242

A Comissão Europeia define a responsabilidade social empresarial como um conceito no qual as empresas assimilam questões sociais e ambientais nas suas operações comerciais e nas suas integrações com os stakeholders em uma base voluntária. Dessa forma, a responsabilidade social empresarial é marcada pela voluntariedade e se converte em um instrumento de autorregulação abrangendo toda a empresa.243

Seu debate se originou nos anos 1950 nos Estados Unidos, mas desde 1960 se expandiu a nível global, quando, em 1970, multinacionais a reconheceram como objeto de regulação de direito internacional. A OIT e a OCDE são importantes veículos de responsabilidade social empresarial, especialmente quando direcionada à questões trabalhistas, como quando estabelece padrões internacionais de relacionamento com os empregados, incluindo treinamento, condições de trabalho e relações industriais.244

Ela surge não como iniciativas unilaterais, mas sim, fruto de negociações, como no caso de indústrias cujos sindicatos são fortes. Na União Europeia, a responsabilidade social empresarial possui grande estímulo, como é o caso da Business Contribution to Sustainable Development de 2002, que encorajava as empresas a adotarem os padrões trabalhistas da OIT como modelos mínimos para seus códigos de conduta e do Implemeting the Partnership for Growth and Jobs: Making Europe a Pole of Excellence on Corporate Social Responsability de 2006.245 Em um cenário internacional, tem-se a ISO, que desenvolveu, em 2010, a ISO 26000, que possui diretrizes de responsabilidade social empresarial. A ISO 26000, lançada em 2010, busca esclarecer o que é responsabilidade social, ajudando empresas e organizações a criarem princípios e ações efetivas a respeito das melhoras práticas de responsabilidade social, sendo

242 AMARANTE, Janaína Gabrielle Moreira Campos da Cunha; DERETTI, Sandro; SILVA, Eduardo Damião da.

Governança corporativa e responsabilidade social corporativa: uma revisão sistemática dessa relação. Revista de

Ciências da Administração. Florianópolis, v. 17, n. 43, p. 123-140. Dez. 2015, p. 128.

243 ROGOWSKI, Ralf. Reflexive Labour Law in the World Society. Massachusetts: Edward Elgar Publishing,

Inc., 2015, p. 247.

244 ROGOWSKI, Ralf. Reflexive Labour Law in the World Society. Massachusetts: Edward Elgar Publishing,

Inc., 2015, p. 248.

245ROGOWSKI, Ralf. Reflexive Labour Law in the World Society. Massachusetts: Edward Elgar Publishing,

destinada, por isso, a todos os tipos de organizações, independentemente de sua atividade, tamanho ou localização.246

A responsabilidade social empresarial é um exemplo de soft law. Isso permite que transcenda a simples regulação pelo governo e explore outras formas de regulação que possam criar condições para que as empresas decidam conflitos entre valores sociais e métodos empresariais, resolvendo isso no interior da organização. Assim, pode levar a uma grande mudança, não apenas no nível da empresa, mas também nos padrões do conceito de Direito, reconhecendo que a própria lei é regulada por uma não ordenação, e que deve se adaptar às plurais formas de regulação. Advogados trabalhistas criticam essa forma de regulação da responsabilidade social empresarial, pois para eles, a autorregulação não deve substituir a regulação do Estado, já que seria incapaz de prover os mesmos níveis de proteção.247 Assim, a própria movimentação social, que acaba estabelecendo “padrões”, e a capacidade limitada do ambiente levam a modificações nas relações entre empresas e sociedades.248

Milton Friedman, por razões diametralmente opostas, é um ferrenho opositor desse movimento de questionamento ético das empresas, o que o levou a escrever um polêmico artigo no jornal The New York Times, onde afirmou que apenas indivíduos tem responsabilidade e que, portanto, a única responsabilidade social que as empresas terão é o compromisso em aumentar o lucro dos seus acionistas.249 Por muito tempo, esse posicionamento foi a diretriz dos empreendimentos empresariais, no entanto, outras responsabilidades, além das econômicas ou contratuais, começaram a serem imputadas às empresas a partir da década de 1970, de forma que a responsabilidade social empresarial corresponderia às expectativas de todos os interessados relacionados às atividades empresariais. Ao mesmo tempo em que atitudes responsáveis surgem como alternativas atraentes como nicho de mercado, também já se questionavam os motivos que levam essas empresas a agirem de determinadas formas.250

246 INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION – ISO. ISO 26000:2010 provides

guidance rather than requirements, so it cannot be certified to unlike some other well-known ISO standards. Disponível em: <https://www.iso.org/iso-26000-social-responsibility.html>. Acesso em: 25 nov. 2017.

247 ROGOWSKI, Ralf. Reflexive Labour Law in the World Society. Massachusetts: Edward Elgar Publishing,

Inc., 2015, p. 253.

248 RAMOS, Alberto Guerreiro. Administração e contexto brasileiro: esboço de uma teoria geral da

administração. 2ª ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1983, p. 47.

249 FRIEDMAN, Milton. The Social Responsibility of Business is to Increase its Profits. The New York Times.

13 de setembro de 1970. New York Times Archieve, p. 17. Disponível em: < http://www.nytimes.com/1970/09/13/archives/a-friedman-doctrine-the-social-responsibility-of-business-is- to.html>. Acesso em: 25 nov. 2017.

250 VASCONCELOS, Isabella Francisca Freitas Gouveia de; ALVES, Mario Aquino; PESQUEUX, Yvon.

Responsabilidade Social Corporativa e Desenvolvimento Sustentável: olhares habermasianos. Revista de

Assim, analisar a responsabilidade social empresarial, , é compreender a dimensão da responsabilidade das empresas frente a ganhos ou prejuízos ao meio ambiente, à comunidade, à própria sociedade, pois elas não podem ser indefinidas quanto a seu posicionamento enquanto agentes de transformação, pois isso permitiria abusos, de forma que estabelecem os certos e errados, esclarecendo para os funcionários seus padrões validados.251

Desta forma, encarando que as empresas possuem um compromisso consigo mesmas e com a finalidade para as quais foram criadas, que é a obtenção de lucro252, e, ao mesmo tempo, mantém essa responsabilidade social perante a sociedade253, o comportamento ético das organizações, mais além do mero conflito entre diferentes valores morais, uma vez que eles são uma construção histórica e social, deve ser pautado diante de parâmetros estabelecidos, para que não haja uma indefinição teórica que leve a abusos.

A responsabilidade social é vista, assim, como um veículo para a transformação social, desde que a empresa vá além de seus interesses próprios estritamente definidos, posicionando-se como ator importante na comunidade, no contexto nacional e até em relação aos processos internacionais.254

Pode-se assumir a premissa de que os fundamentos empresariais para a efetivação de medidas de responsabilidade social empresarial refletem um processo marcado pelos conflitos entre individualismo e busca por legitimação social para a riqueza, como a exemplo de Carnegie. Nos seus primórdios, a responsabilidade social empresarial era considerada mero ato filantrópico, cuja natureza era assistencialista, caridosa e temporária, efetivada mediante doações e criação de fundações.255

No berço da literatura sobre responsabilidade social empresarial, juntamente com o desenvolvimento de grandes corporações, os Estados Unidos da América, o Caso Dodge vs.

Ford Motor Company256 figura como um exemplo desse conflito de racionalidades. Henry Ford

251 SROUR, Robert Henry. Ética empresarial sem moralismo. Revista de Administração. São Paulo, v. 29, n. 3,

p. 03-22. Jul./Set. 1994, p. 21.

252 FRIEDMAN, Milton. The Social Responsibility of Business is to Increase its Profits. The New York Times.

13 de setembro de 1970. New York Times Archieve, p. 17. Disponível em: <http://www.nytimes.com/1970/09/13/archives/a-friedman-doctrine-the-social-responsibility-of-business-is- to.html>. Acesso em: 25 nov. 2017.

253 ANN GRIESSE, Margaret. Ética Empresarial e Responsabilidade Social Corporativa à Luz da Teoria do

Julgamento Moral, de Lawrence Kohlberg. Impulso. Piracicaba, v. 14, n. 35, p. 33-48. 2003, p. 37.

254 ANN GRIESSE, Margaret. Ética Empresarial e Responsabilidade Social Corporativa à Luz da Teoria do

Julgamento Moral, de Lawrence Kohlberg. Impulso. Piracicaba, v. 14, n. 35, p. 33-48. 2003, p. 37.

255 COSTA, Maria Alice Nunes. Fazer o bem compensa? Uma reflexão sobre a responsabilidade social empresarial.

Revista Crítica de Ciências Sociais. n. 73, p. 67-83. Dez. 2005, p. 69.

256 VASCONCELOS, Isabella Francisca Freitas Gouveia de; ALVES, Mario Aquino; PESQUEUX, Yvon.

Responsabilidade Social Corporativa e Desenvolvimento Sustentável: olhares habermasianos. Revista de

foi acusado pelos irmãos Dodge de beneficiar consumidores e empregados à custa dos acionistas. O caso foi julgado procedente em prol dos irmãos Dodge, e criou jurisprudência que fortalecia a concepção neoclássica, que considerava a atividade empresarial adstrita à obtenção de lucro, ideia essa sacramentada por Milton Friedman.

Essa visão dominante, todavia, sofreu ataques durante a Grande Depressão, quando