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Com a responsabilidade social empresarial, questões sociais começaram a ser vistas como custos do negócio. Nesse contexto, os principais agentes impulsionadores da adoção dessa postura foram, além das regulações estatais, também os consumidores organizados em grupos de pressão que contribuíram para complexificar cada vez mais as medidas adotadas pelas empresas. Dessa forma, dependendo das particularidades ambientais e sociais locais, as próprias empresas transnacionais podem atuar como agentes de reversão de impactos, quando, além de cumprir a legislação, responderem à pressão social adequando-se a determinados padrões284.

Isso permitiu o reconhecimento da responsabilidade empresarial, admitindo que essa mudança nos discursos corporativos também foi influenciada por um processo de construção e legitimação sociais. A abordagem da responsabilidade social empresarial rejeita a tradição amoral dos negócios de Friedman focada apenas no lucro, e inaugura o reconhecimento da pressão dos movimentos sociais no estabelecimento de padrões, que impulsionam os processos do assunto. Movimentos sociais são movimentos que promovem solidariedade social, representando grupos de cidadãos, na defesa também dos Direitos Humanos, existindo como relações. Dessa forma, esse movimento de responsabilidade social empresarial pode ser visto como a própria ideia de responsabilidade social aplicada às empresas e a qualquer ente social, aumentando as interações conforme essa responsabilidade social se encontrasse com os Direitos Humanos, especialmente no que condiz aos direitos civis e ambientais.

284 THE WORLD BANK (WB). Expanding the measure of wealth: indicators of environmentally sustainable

Largamente utilizadas no Ocidente desde os anos 1960, o termo “movimentos sociais” foi cunhado inicialmente para designar multidões com pautas em torno de mudanças pacíficas, desvinculadas do poder do Estado, baseando-se sobretudo em etnia (direitos civis), gênero (feminismo) e estilo de vida (pacificismo e ambientalismo) como exemplos.285

A partir de então, um novo padrão de sociedade tem se desenvolvido, e os conflitos de trabalho teriam se diluído, sendo processados pelas instituições democráticas como expansão de direitos e pelas instituições econômicas como aumento de salários. Esses movimentos sociais se organizam e atuam, então, como agentes de pressão social.286

Nos anos 1970, o repúdio à Guerra do Vietnã gerou um movimento de boicote aos produtos de empresas cujas ações se relacionavam ao conflito de alguma forma. Já nos anos 1980, tendo por fundo uma crise econômica e social direcionada contra o Estado, reconceitualizou-se a crítica direcionada ao Estado, e, em 1990, surge uma nova proposta de governo do Estado, a fim de que ele comece a atuar juntamente com a sociedade civil, o mercado e as empresas na busca pela solução dos problemas sociais.287

Em resposta inicial a essas demandas, a crescente autorregulação das empresas nacionais e transnacionais e de organizações não governamentais no direito internacional se direciona a essa compreensão.

Independentemente das raízes culturais, David Levy288 observa que, desde os anos 1980, um interessante fenômeno tem se desenvolvido no cenário global: os consumidores em todo o mundo estão se tornando cada vez mais parecidos.

Para ele, gestões tradicionais são cada vez mais acusadas de serem mecânicas e antropocêntricas, ignorando o meio ambiente e suas externalidades, suscitando a necessidade de se descrever novos paradigmas, a fim de incorporar questões ambientais e sociais, em vários níveis. Desta forma, a ênfase em questões sociais e ambientais acaba mudando o comportamento do cidadão, e com a articulação dos movimentos sociais, sindicatos, partidos políticos, organizações ambientais, das mulheres e crianças, articulou-se o Fórum Social Mundial, que se articulou na esfera global na década de 1990, sendo caracterizado como um fenômeno social e político (muito embora não seja um movimento social), sendo, portanto, um

285 ALONSO, Angela. As teorias dos movimentos sociais: um balanço do debate. Lua Nova. São Paulo, nº 76, p.

49-86. 2009, p. 49-50.

286 ALONSO, Angela. As teorias dos movimentos sociais: um balanço do debate. Lua Nova. São Paulo, nº 76, p.

49-86. 2009, p. 61.

287 COSTA, Maria Alice Nunes. Fazer o bem compensa? Uma reflexão sobre a responsabilidade social

empresarial. Revista Crítica de Ciências Sociais. n. 73, p. 67-83. Dez. 2005, p. 72.

288 LEVY, David L. Environmental Management as Political Sustainability. Organization & Environment, vol.

conjunto de iniciativas de intercâmbio transnacional entre os movimentos sociais e ONGs.289

Isso acaba transformando o mundo empresarial, havendo a criação de entidades empresariais apenas para lidar com temas sociais, direitos humanos e sustentabilidade ambiental. Dentre elas, no Brasil, tem destaque o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, que promove práticas de gestão socialmente responsável, assegurando desenvolvimento responsável e assegurando as reinvindicações da sociedade civil.290

As grandes empresas têm maior capacidade de perceber as mudanças sociais e se adaptarem e responderem a elas, não apenas de maneira funcional, mas também simbólica, por meio de sua cultura organizacional.291 Dessa forma, as organizações se dedicarão mais a entenderem os recursos simbólicos, mediante sua adequação à padrões de conduta valorizados socialmente, que correspondam às expectativas dos atores das comunidades onde atuam. A observância dessas normas e valores construídos socialmente garante a permanência e continuidade da empresa no contexto ambiental e social, permitindo que essa empresa tenha inclusive melhor acesso aos recursos econômicos e materiais.

As questões ambientais se apresentam, muitas vezes, como estímulos às empresas para investirem em inovação tecnológica e aprimoramento da imagem. Outras vezes, são ignoradas pelas empresas, que acabam investindo apenas na continuidade dos negócios sem maiores modificações em seu comportamento ambiental. Apesar dessa aparente divisão ideológica entre empresas que investem seus recursos financeiros em produtos “verdes” e tecnologias ambientalmente menos danosas e outras que investem de outras formas, mesmo as maiores corporações que adequam práticas ambientais ainda têm dificuldade em incorporar mudanças mais radicais no cenário social. “Esta rearticulação dos discursos e das práticas corporativas está ocorrendo em um cenário social turbulento”.292

Outros movimentos ambientais apresentaram críticas mais radicais, como os de caráter neomarxista, que enfatizam a produção com fins lucrativos do capitalismo, que, com seus objetivos de maximização dos lucros e aumento constante do consumo, impulsionam as empresas a sempre externalizarem custos e internalizarem benefícios. O neomarxismo defende que que o sistema de produção do capitalismo é inerente à destruição do meio ambiente, e que

289 SOUSA SANTOS, Boaventura. O Fórum Social Mundial: manual de uso. Dez. 2004, p. 9. Disponível em:

<http://www.ces.uc.pt/bss/documentos/fsm.pdf>. Acesso em: 25 nov. 2017.

290 INSTITUTO ETHOS DE EMPRESAS E RESPONSABILIDADE SOCIAL. Responsabilidade Social

Empresarial. Sebrae: São Paulo, 2003, p. 57.

291 VIEIRA, Adriane. Cultura, poder e identidade nas organizações. Revista de Administração FEAD, v. 1, n. 1,

p. 61-75, 2010, p. 70.

292 ALMEIDA JÚNIOR, Antônio Ribeiro de; GOMES, Helena Lemos dos Reis Magalhães. Gestão ambiental e

interesses corporativos: imagem ambiental ou novas relações com o ambiente? Ambiente & Sociedade. São Paulo, v. XV, n. 1, p. 157-177. Jan./Abr. 2012, p. 159.

apenas reformas não são suficientes para resolver o problema. Dessa forma, a própria cultura moderna possui um viés ideológico que apoia a produção e consumo competitivo e materialista da sociedade.

Os movimentos ecologistas também, em grande parte, criticam o industrialismo moderno, não se concentrando, contudo, na política de produção, mas sim, nas premissas antropocêntricas que consideram o ser humano como ente separado e superior à natureza, e que, portanto, estaria autorizado a utilizar a tecnologia para controlar e subjugar o meio ambiente em benefício próprio. O ecofeminismo compartilha da crítica dos ecologistas, mas aponta o patriarcado como a ideologia que legitima a dominação masculina sobre as mulheres e a natureza.293

Esses debates “verdes” são exemplos de movimentos sociais organizados que envolvem questões ambientais, criticando e prevendo desastres ambientais se mudanças radicais não forem tomadas, com dimensões apocalípticas. Contrastando com esse discurso, argumenta-se aqui que a responsabilidade social empresarial também pode ser capaz de responder aos desafios ambientais, podendo ser comunicada, como se verá, nos sistemas político, econômico e jurídico, entendendo-a como uma possibilidade que aborda tanto os piores excessos ambientais e sociais, quanto seja capaz de deflagrar demandas para mudanças mais radicais.

A responsabilidade social empresarial pode ser entendida a partir do contexto da intensificação da preocupação pública com problemas ambientais e com o aumento associado a pressões sobre as corporações para que melhorem seu desempenho socioambiental. Dessas pressões resultou o crescimento de regimes autorregulatórios internacionais, burocracias nacionais e formação de organizações não governamentais.

Além disso, o compromisso de responsabilidade social às empresas oferece espaço para que movimentos sociais possam perseguir seus objetivos ideológicos, como janelas de oportunidade, legitimando novos discursos. Uma vez que empresas passem a estimar os discursos sociais e ambientais de grupos da sociedade organizados, alcançar a regulação efetiva por meio de acordos pode evitar ou reduzir o fracasso de muitas dessas iniciativas.

Há que se cuidar, no entanto, para que o discurso social não seja apropriado pelas empresas. Para Mafoane Odara294, coordenadora de projetos do Instituto Avon, em entrevista à

293 LEVY, David L. Environmental Management as Political Sustainability. Organization & Environment, vol.

10, nº 2. Jun/1997, p. 126-177, p. 128.

294 MATUOKA, Ingrid. “As empresas não devem se apropriar do discurso social”. Entrevista a Mafoane Odara.

Carta Capital. Publicado em 29/05/2017, s.p. Disponível em:

revista Carta Capital, há uma mudança no discurso das empresas, que buscam a inclusão de grupos minorizados em resposta à pressão dos movimentos sociais, mas que o surgimento e fortalecimento dessas redes sociais não deve ser usado apenas como discurso empresarial em benefício próprio. Assim, por meio da responsabilidade social empresarial, as empresas podem potencializar o trabalho que já é desenvolvido pelos movimentos sociais, mas sem realizarem um discurso social, mantendo-se em sua posição de ente econômico.

Uma interpretação dessa atividade se deu com a produção de códigos, sob as mais variadas formas e variantes, com a intenção de garantir os interesses corporativos, dando especial destaque aos códigos de conduta “voluntários” das empresas transnacionais.

Hoje, esses códigos existem sob várias formas, porém duas variantes básicas predominam. De um lado, o mundo estatal estabelece – por meio de acordos sob o direito internacional ou de normas de organizações internacionais – códigos de conduta para corporações transnacionais (de maneira curta e imprecisa: códigos “públicos”), nos quais ele prescreve às corporações transnacionais diretrizes gerais concernentes às condições de trabalho, qualidade de produtos, políticas ambientais, proteção do consumidor e direitos humanos.295

Assim, são criados códigos corporativos de caráter “público”, como o projeto de código da ONU sobre corporações transnacionais, as diretrizes da OCDE para empresas multinacionais e a declaração tripartite da OIT, que, embora esperançosos, muitas vezes podem parecer apenas recomendações sem efeitos práticos.

O código de conduta da ONU para transnacionais estabeleceu responsabilidades positivas e negativas das empresas transnacionais, delimitando, de forma imperativa, as responsabilidades humanistas imputáveis à essas empresas. O precursor desse código foi o

Darft United Nations Code of Conduct on Transnational Corporations296, de 1983, que possuía

como principais paradigmas facilitar a cooperação entre os Estados a respeito de assuntos de empresas transnacionais e encorajar o desenvolvimento de projetos nos países onde essas empresas estão estabelecidas. No entanto, esse código jamais foi implantado.

Posteriormente, em 1999, em uma das reuniões do Fórum Econômico Mundial, em Davos, o Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan, sugeriu aos empresários que atuavam no comércio internacional, para que se unissem e adotassem voluntariamente um código

295 TEUBNER, Gunther. Autoconstitucionalização de corporações transnacionais? Sobre a conexão entre os

códigos de conduta corporativos (Corporate Codes of Conduct) privados e estatais. Tradução de Ivar Hartmann. Revisão de Germano Schwartz. In: SCHWARTZ, Germano (Org.). Juridicização das esferas e fragmentação

do direito na sociedade contemporânea. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012, p. 110.

296 UNITED NATIONS – UN. Draft United Nations Code of Conduct on Transnational Corporations.

específico, criando, assim, o Global Compact.297 Posteriormente, em 2011, o Conselho de

Direitos da ONU aprovou um novo conjunto de princípios orientadores globais para empresas, concebidos para assegurar que elas não violem os direitos humanos durante suas operações, e implemente o Quadro “Proteger, Respeitar e Reparar”, cuja estrutura é baseada em três pilares: dever do Estado de proteger contra abusos de direitos humanos por terceiros (inclusive empresas); responsabilidade das empresas de respeitarem, independentemente da ratificação de tratados pelos Estados de origem os direitos humanos e acesso à remediação, em casos de violações de direitos humanos, sendo obrigação dos Estados adotar medidas para investigar, punir e corrigir quaisquer violações ligadas com empresas, se ocorrerem dentro do seu território ou jurisdição.298 Desta forma, esse novo Quadro proposto por John Ruggie estabeleceu os novos

parâmetros da ONU sobre empresas e direitos humanos.299

Nesse ritmo, a OCDE também começou a desenvolver suas recomendações voluntárias, com conteúdo que objetivava as empresas transnacionais, resultando no seu código para empresas transnacionais, cujo conteúdo aborda questões de geração de emprego, ética, meio ambiente, relações industriais e direitos humanos de uma forma geral. Embora recomendações, as diretrizes da OCDE são rígidas, pois fornecem princípios e padrões voluntários, multilateralmente aprovado. Essas diretrizes foram atualizadas em 2011, e desde então vigoram com previsão de serem objeto de legislação nacional e compromissos internacionais.

1. As Diretrizes são recomendações conjuntamente dirigidas pelos governos às empresas multinacionais. Estabelecem princípios e padrões de boa prática, consistentes com a legislação aplicável e os padrões reconhecidos internacionalmente. O cumprimento das Diretrizes pelas empresas é voluntário e não é legalmente exigível. No entanto, algumas questões abrangidas pelas Diretrizes também podem ser reguladas pela legislação nacional ou compromissos internacionais.300

297 UNITED NATIONS – UN. The Ten Principles of the UN Global Compact. Disponível em:

<https://www.unglobalcompact.org/what-is-gc/mission/principles>. Acesso em: 26 nov. 2017.

298 RUGGIE, John Gerard. Quando negócios não são apenas negócios: as corporações multinacionais e os

Direitos Humanos. Tradução de Isabel Murray. São Paulo: Planeta Sustentável, 2014, p. 139-160.

299 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS – ONU. Empresas e Direitos Humanos: parâmetros da ONU

para Proteger, Respeitar e Reparar. Relatório Final de John Ruggie – representante especial do Secretário-Geral. Tradução não-oficial feita a pedido da Conectas Direitos Humanos. Disponível em: <http://www.conectas.org/arquivos/editor/files/Conectas_Princ%C3%ADpiosOrientadoresRuggie_mar2012(1)(2 ).pdf>. Acesso em: 26 nov. 2017.

300 BRASIL. Diretrizes da OCDE para as Empresas Multinacionais. Ponto de Contato Nacional das Diretrizes

da OCDE para Empresas Multinacionais, s.p. Disponível em:

<http://www.pcn.fazenda.gov.br/assuntos/ocde/diretrizes-da-ocde-para-as-empresas-multinacionais>. Acesso em: 26 nov. 2017.

Finalmente, a OIT proferiu sua Declaração Tripartite de Princípios sobre Empresas Multinacionais e Política Social, cujos temas tratam de emprego, formação, condições de vida, de trabalho e relações industriais e, assim como os códigos públicos da ONU e da OCDE, se destinam às empresas nacionais e multinacionais, mas também para governos e organizações de empregadores e trabalhadores. Destaca-se que em março de 2017, quarenta anos após a declaração original, adotada em novembro de 1977, a OIT atualizou sua declaração e se mantém como único instrumento global sobre responsabilidade social empresarial e práticas sustentáveis de empresas que é adotado de forma tripartite, ou seja, por governos, empregadores e empregados do mundo inteiro.301

No âmbito das Nações Unidas, foi lançado o Pacto Global pelo Secretário Geral, Kofi Annan, no Fórum Mundial Econômico de Davos, em 1999 e em Julho de 2000, em Nova Iorque. É um código de conduta, de adesão voluntária, para empresas e organizações, cujo objetivo é o de formar uma “aliança global” em torno da defesa de direitos e princípios reconhecidos internacionalmente e ratificada pela maioria dos governos. É uma iniciativa internacional, emoldurada no esforço conjunto de empresas, de agências das Nações Unidas e de agentes da sociedade civil e laboral. O código abarca nove princípios em três áreas: direitos humanos, direitos laborais e defesa do ambiente.302

De outra banda, também há códigos “privados”, originados da pressão da mídia e de movimentos sociais, que, como visto, criam padrões em áreas de foco, mas que, por serem caráter de autocompromisso, muitas vezes apenas aparecem como uma tentativa de evitar e prevenir a regulação estatal303.

Nesse sentido, tem destaque a organização não-governamental CEPAA (Council on Economic Priorities Accreditation Agency) e a SAI (Social Accountability International), ambas fundadas em 1997 com o fim de criarem códigos de condutas para as empresas, estabelecendo, em 1998, o padrão Social Accountability 8000 (SA 8000), nos mesmos critérios da ISO 9000, com estratégias para garantir qualidade nos negócios, com base nas normas de

301 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO – OIT. Declaração Tripartida de Princípios sobre

Empresas Multinacionais e Política Social. Genebra: Organização Internacional do Trabalho, 2017. Disponível

em: <http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_emp/--- emp_ent/documents/publication/wcms_579899.pdf>. Acesso em: 26 nov. 2017.

302 COSTA, Maria Alice Nunes. Fazer o bem compensa? Uma reflexão sobre a responsabilidade social empresarial.

Revista Crítica de Ciências Sociais. n. 73, p. 67-83. Dez. 2005, p. 77.

303 TEUBNER, Gunther. Autoconstitucionalização de corporações transnacionais? Sobre a conexão entre os

códigos de conduta corporativos (Corporate Codes of Conduct) privados e estatais. Tradução de Ivar Hartmann. Revisão de Germano Schwartz. In: SCHWARTZ, Germano (Org.). Juridicização das esferas e fragmentação

direitos humanos internacionais, acordos de defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente e resoluções da OIT.304

Algumas empresas têm adotado códigos de ética que abrangem condutas de empregados, relações com a comunidade e o ambiente, fornecedores e prestadores de serviços, atividade política e tecnologia. Essas empresas passaram a ter duas metas dentro de suas estruturas éticas: obter vantagem competitiva e alcançar legitimidade empresarial. [...] Assim, as organizações devem ser sensíveis às expectativas e aos valores da sociedade.305

A promulgação e implementação dessas ações não vinculativas e voluntárias na criação de padrões de conduta envolve todas as funções de regulação administrativa no sistema jurídico: elaboração, promoção e implementação de regras, monitoramento de conformidade e imposição de sanções306. A multiplicação desses esquemas de padronização nesse complexo sistema emergente acaba articulando a própria responsabilidade social empresarial com movimentos sociais mais amplos e a ONGs, que se confrontam com o poder econômico e político, chegando até a cidadania empresarial, reafirmando o compromisso das empresas para além do lucro.

Assim, a noção de cidadania distingue o espaço de origem da ação, qual seja, o mundo empresarial, e o espaço da política que ela cria, ampliando o próprio exercício democrático e a desregulamentação público estatal da economia de mercado. Nesse contexto, surge uma “sociedade civil” que demanda por responsabilidade.

Assim, compreender a forças sociais que respondem aos padrões de comportamento e contrastar com as organizações internacionais e globais que, de forma organizada, provoca a sociedade civil global, com o governo dos Estados e com a organização além do Estado, enquanto elementos eficazes de provocar resposta aos movimentos trabalhistas e ambientais.

Dentro desse contexto de discussão sobre questões sociais e ambientais, nos anos 1970, a discussão envolvendo temas ambientais passou por um intenso crescimento, sendo realizada, em 5 de junho de 1972, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, também conhecida como Conferência de Estocolmo, que representou um marco na ecopolítica

304 COSTA, Maria Alice Nunes. Fazer o bem compensa? Uma reflexão sobre a responsabilidade social

empresarial. Revista Crítica de Ciências Sociais. n. 73, p. 67-83. Dez. 2005, p. 75-76.

305 COSTA, Maria Alice Nunes. Fazer o bem compensa? Uma reflexão sobre a responsabilidade social empresarial.

Revista Crítica de Ciências Sociais. n. 73, p. 67-83. Dez. 2005, p. 76.

306 ABOOT, Kenneth W; SNIDAL, Duncan. Strengthenin International Regulation Through Transnational New

Governance: Overcoming the Orchestration Defiit. Vanderbilt Journal of Transnaional Law, nº 42, p. 501-578, p. 508.

mundial, estabelecendo princípios para questões ambientais internacionais e criando as diretrizes ambientais que vieram a originar grande parte das legislações ambientais atuais307.

No entanto, foi durante uma reunião sobre a utilização de recursos hídricos, em 26 de maio de 1972, que os países membros do Conselho da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aprovaram a “Recomendação sobre os Princípios Diretores Relativos aos Aspectos das Políticas Ambientais, sobre o Plano Internacional”, que