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A sociedade globalizada, hoje, é marcada por processos de desenvolvimento econômico e político, somados a uma nova dimensão de despolitização, descentralização e

94 ROGOWSKI, Ralf. Constitucionalização societal do direito trabalhista global. In: SCHWARTZ, Germano;

COSTA, Renata Almeida da (org.). Sociologia do Direito em Movimento. Canoas: Editora Unilasalle, 2017, p. 144.

95 TEUBNER, O direito como sistema autopoiético. Tradução de José Engrácia Antunes. Lisboa: Fundação

Calouste Gulbenkian, 1993, p. 138.

96 ROGOWSKI, Ralf. Reflexive Labour Law in the World Society. Massachusetts: Edward Elgar Publishing,

Inc., 2015. p. 34-36.

97 TEUBNER, O direito como sistema autopoiético. Tradução de José Engrácia Antunes. Lisboa: Fundação

Calouste Gulbenkian, 1993, p. 173.

98 ROGOWSKI, Ralf. Reflexive Labour Law in the World Society. Massachusetts: Edward Elgar Publishing,

Inc., 2015, p. 36-37.

desindividualização.100 Essa sociedade globalizada é uma sociedade policêntrica, não sendo

governada sob a égide da política ou economia internacional, mas acompanhada por elas, e onde os diversos âmbitos sociais podem superar suas limitações regionais e criar setores globais autônomos, as global villages.

A formatação global atual é bem diversa da mantida durante a Modernidade, período no qual o Estado se tornou o principal emissor de comunicações sociais, papel esse garantido pela soberania estatal.101 A diferenciação social daquele formato de sociedade, que levou a uma formatação funcionalmente diferenciada, também permitiu o desenvolvimento de redes comunicativas, afastadas da ideia de um único e exclusivo centro emissor de comunicação e sentido. A consequência dessa transformação foi a relativização da soberania estatal e, consequentemente, uma vez que não há Direito fora da sociedade, e diante da complexidade que apresenta inúmeras possibilidades, a estabilização das expectativas que se criam disso, faz frente à uma contingência simples.

O pós-Segunda Guerra Mundial (1945) foi o período em que melhor se puderam observar as transformações, desenvolvimento tecnológico e aumento da complexidade social, que acarretou na mudança de paradigmas em diversas esferas. Essas mudanças tiveram alcance internacional, afetando o próprio Direito Internacional e as relações jurídicas tuteladas por ele.102. Nesse tempo, o ordenamento jurídico do Estado intervencionista consistia em um “Direito central”, que garantia ao Estado todos os meios e instrumentos de produção da lei.103

Ademais, com o fim da Guerra Fria, o mundo já não estava mais dividido entre dois blocos de poder militarizado, e as fronteiras entre as nações foram firmadas e reconhecidas por um consenso internacional.104

Isso gerou um abandono ideológico ocidental das abordagens keynesianas105 de política econômica, e a política neoliberal, defendendo a independência do setor privado,

100 TEUBNER, Gunther. Global private regimes: neo-spontaneous law and dual constitution of autonomous sectors

in world society? In: LADEUR, Karl-Heinz (ed.) Globalization and Public Governance. Aldershot, UK: Ashgate Publishing, 2004, p. 71.

101 HELD, David. A democracia, o estado-nação e o sistema global. Lua Nova. São Paulo, n. 23, p. 145-

194. Mar. 1991, p. 150.

102 MENEZES, Wagner. Ordem global e transnormatividade. Ijuí: Editora UNIJUI, 2005, p. 39-42. 103 FARIA, José Eduardo. O direito na economia globalizada. São Paulo: Malheiros Editores, 2002, p. 164. 104 GIDDENS, Anthony. A Terceira Via. Tradução de Maria Luiz X. de Borges. Brasília: Instituto Teotônio

Vilela, 1999, p. 152.

105 A escola Keynesiana, enquanto conjunto de ideias propostas por John Maynard Keyness no século XX, defende

a intervenção Estatal para criar situações para a economia reagir em momentos de crise. Keyness não era a favor da estatização da economia, mas sim, apoiava a participação do Estado em socorro da economia. Sua lógica desenvolvimentista possuía forte intervenção do Estado na economia. Seu enfoque, portanto, decorrente da própria crise econômica dos anos 1929, propôs drásticas mudanças no cenário mundial e auxiliou a construir o Estado de Bem-Estar Social (welfare state), não apenas em termos de direitos e garantias, mas também na forma como as atividades estatais se entrelaçam com o papel do mercado na provisão social. O modelo, que se generalizou pela

ganhou destaque com seus argumentos de competitividade internacional. As mudanças começam com o fim do Eurocentrismo, dominante até então, uma vez que a Europa sofreu efeitos extremamente danosos com a Guerra. Assim, deu-se início à criação de um modelo de sociedade internacional diferente da existente até então, cujos desdobramentos são visíveis até hoje. Essa nova sociedade internacional se mostrou muito mais dinâmica, interligada e interdependente, exigindo maior regulação a níveis internacionais. Economicamente, o capital foi globalizado, e a sociedade civil global apareceu como uma visão alternativa da conjuntura mundial.106

Assim, a sociedade mundial assistiu à criação de novos formatos de políticas multilaterais, multinacionais, internacionais e globais emergiram, o que provocou mudanças nas estruturas de tomadas de decisões, envolvendo governos, organizações não estatais internacionais e lobbies transnacionais.107

Para além dos governos e das organizações de mercado, novos atores surgem, compreendendo Organizações Não Governamentais (ONGs); movimentos sociais populares de vários países; empresas multi e transnacionais e organismos internacionais. A sociedade civil,108 nessa análise, assume um novo papel, dessa vez a nível internacional, possibilitada pelo

aumento da tecnologia, que permitiu sistemas de comunicação e transporte mais rápidos. “Estes mecanismos, juntamente com as novas estruturas econômicas e políticas em nível internacional, estariam lançando as bases de uma cidadania global”,109 na medida em que os direitos civis, em

nível internacional, estão consolidados mediante a livre circulação de mercadorias e bens, de forma que à sociedade civil global cabe o papel de asseguradora dos direitos políticos e sociais,

Europa, mas que também tiveram grande influência nos sistemas de proteção social e assistência latino-americanos no pós-1930, possui inúmeros formatos, especialmente nas periferias capitalistas, marcando o processo de reorganização da economia mundial. FIORI, José Luís. Estado de Bem-Estar Social: Padrões e Crises. PHYSIS. Rio de Janeiro, nº 7, vol. 2, p. 129-147. Dez. 1997, p. 133-134.

106 FALK, Richard. Globalização predatória: uma crítica. Tradução de Rogério Alves. São Paulo: Instituto

Piaget, 1999, p. 234-236; MENEZES, Wagner. Ordem global e transnormatividade. Ijuí: Editora UNIJUI, 2005, p. 39-42.

107 ROCHA, Leonel Severo; DA LUZ, Cícero Krupp. Lex mercatoria and governance: the polycontexturality

between law and state. Revista da Faculdade de Direito Sul de Minas. Pouso Alegre, v. 28, p. 105-126. Jan./Jun. 2009, p. 117.

108 Não se pressupõe, aqui, que a sociedade civil englobe toda a vida social fora do Estado ou da economia, mas

sim, como uma diferenciação entre sociedade civil da organização política de partidos e de economia. Essas sociedades políticas e econômicas surgem da sociedade civil, partilhando formas de comunicação com ela. Para Richard Falk, a sociedade civil global “[...] refere-se ao campo de ação e de pensamento ocupado pelas iniciativas coletivas ou individuais de cidadãos de cariz voluntário e não lucrativo, tanto no plano nacional como internacional”. FALK, Richard. Globalização predatória: uma crítica. Tradução de Rogério Alves. São Paulo: Instituto Piaget, 1999, p. 233.

109 GOHN, Maria da Glória; BRINGEL, Breno M. Movimentos sociais na era global. Rio de Janeiro: Editora

com um caráter democratizante nos padrões das sociedades ocidentais de sistema econômico capitalista.

Estes movimentos se posicionam como agentes de transformação da agenda internacional, na busca de efetivação da ação dos movimentos sociais, reunindo-se sob o nome de minorias, que incluem tanto negros, quanto mexicanos, indígenas, comunidade LGBTQI, mulheres e feminismo, enfim, todos os grupos que se encontram em situação de minoria enquanto detentores de poder. Esses grupos segregados em guetos desenvolveram subculturas (ou anticulturas) ocupando espaços de contestação global e retiro voluntário e dependente, abrigando todos aqueles que não participam das grandes organizações.

Principalmente a partir da década de 1960 e 1970, “novos” atores sociais começaram a surgir no contexto internacional. São considerados novos por terem inaugurado situações- problemas para além das relações entre capital e trabalho que figuravam até então, levantando questões de domínio meta-social que parece governar a sociedade, girando em torno de meio ambiente, direitos humanos, paz, gênero, direitos indígenas, numa agenda “pós-materialista”. Para Alain Touraine110, muito embora esses movimentos estejam espalhados e divididos

territorialmente, eles são portadores de um sentido global, representando uma imagem da sociedade, formulando fortes críticas tanto ao modelo de regulação social capitalista, quanto ao socialista, pois denunciam estratégias de opressão (tais como a guerra, o sexismo, o racismo), denunciando os excessos da modernidade. Aliás, sobre tais excessos, Sousa Santos aduz que eles compreendem não meramente os modos de trabalho e produção, mas vêm alcançando até mesmo as formas pelas quais se descansa ou vive, submetendo a sociedade como um todo.111 Essa sociedade de organizações diz respeito às possibilidades de integração dos sistemas normativos altamente diferenciados da própria sociedade, especialmente no que diz respeito aos acoplamentos estruturais entre diferentes ordens jurídicas, uma vez que os impactos são sociais, culturais, políticos e institucionais, e não se restringem a territórios determinados, podendo serem setoriais, nacionais, regionais e continentais112.

Para Luhmann, o sistema global é a sociedade com suas questionáveis fronteiras internas organizadas por meio da auto-organização de subsistemas.

As fronteiras regionais não possuem uma qualidade operacional. Elas são convenções políticas, relevantes para a diferenciação segmentária do subsistema político da

110 TOURAINE, Alain. Os novos conflitos socais. Para evitar mal entendidos. Revista Lua Nova. São Paulo, nº

17, 1989, p. 12-17.

111 SOUSA SANTOS, Boaventura. Towars a new commom sense: law, science and politics in the paradigmatic

transition. Nova Iorque: Routledge, 1995, p. 258.

sociedade global. Eles designam lugares para mostrar passaportes e, ocasionalmente, geram razões para a guerra. Não faz sentido dizer que elas são sociedades separadas113.

Dessa forma, possibilita-se uma rede de comunicações autorreferentes internas ao sistema e externas a ele, inclusive corpos e mentes humanos. Cada uma dessas comunicações no presente reconhece a si mesma a partir das comunicações do passado, se abrindo para comunicações no futuro. Assim, elas reproduzem essa memória e estabelecem as fronteiras. Essas fronteiras são claras, pois a linguagem estabelece uma distinção entre palavras e coisas. As ambiguidades que podem permanecer desse processo são resolvidas pela comunicação, que ocorrerá a nível mundial, pois fronteiras regionais partem de uma diferenciação segmentária do subsistema da política, e não conseguem fazer esse processo com qualidade, estabelecendo apenas fronteiras físicas.

O sistema autopoiético consegue descrever a sociedade sem necessariamente ter de se prender a regionalidade, pelo que se assume, então, que há uma sociedade a nível global. Isso não significa dizer que as particularidades não são importantes, mas sim, que uma teoria sociológica não deve partir dessas diferenças regionais, mas sim, assumir a existência de uma sociedade mundial e, a partir disso, procurar explicar a causa dessas inconsistências regionais.114

O espaço nacional, como visto, sempre foi um espaço de atuação do Estado, para o qual a maioria das demandas da sociedade são encaminhadas. Partindo disso, pode parecer que a sociedade civil global não teria sentido nessa relação, todavia, no momento em que suas lutas começaram a serem globalizadas em uma agenda inclusiva, aliando-se ao desenvolvimento de novas tecnologias de informação, as mobilizações se tornam locais e globais, gerando uma globalização de processos locais (como se verifica, por exemplo, com as operações mundiais das empresas transnacionais; com a transformação do idioma inglês em uma língua franca; e na globalização do fast food norte americano) e numa localização de processos globais (como no impacto das práticas de atuação transnacionais, que podem acabar em destruição dos recursos ambientais de determinada localidade; uso turístico de tesouros históricos ou religiosos regionais; ou exposição da fauna e flora nativas). Essas dinâmicas podem ser captadas em análises subparadigmáticas, a partir da análise da hierarquia da produção social e reprodução

113

LUHMANN, Niklas. Globalization or world society: how to conceive of modern society? International

Review of Sociology, [S. l.], v. 7 n. 1, p. 67-79. Mar. 1997, p. 72. Tradução nossa. Texto originaç: “Regional boundaries do not have this operational quality. They are political conventions, relevant for the segmentary differentiation of the political subsystem of the global society. They designate places to show passports and, occasionally, generate reasons for war. It does not make any sense to say that they separate societies”.

114 LUHMANN, Niklas. Globalization or world society: how to conceive of modern society? International

em escala global.115 Há uma evidente correlação entre esses processos e o próprio

associativismo civil numa escala global, acarretando no crescimento de entidades civis envolvidas com esta agenda, ao mesmo tempo em que cresce sua legitimidade política, econômica e social perante a comunidade nacional e internacional.

As Organizações Não-Governamentais (ONGs), são um fenômeno que, para Giddens, consegue representar a sociedade civil global: sua atuação pode ser local, regional, nacional ou global, sendo movidas por determinadas questões ou ideologia. A força das ONGs como representantes da sociedade civil a nível global é tanta que ele já conectara, na prática, questões de governo nacional e global e previra, no último ano do século passado, o crescimento exponencial de organizações do tipo que trabalham a nível global116. Muitas delas têm sua

atuação reconhecida pelo mundo todo, tais como o Greenpeace, a Anistia Internacional, a Cruz Vermelha e o Médicos Sem Fronteiras.

É claro que sua atuação não está livre de críticas, uma vez que sua capacidade de produzir benefícios sociais, seu papel na sociedade e sua relação com governos e empresas também pode ser questionada. Sua efetivação depende, em grande parte, do tratamento que recebem da mídia, pois dependem dos meios de comunicação de massa para transmitirem seus projetos e alcançarem a opinião pública.

Embora sejam um movimento que atua por todo o globo, elas acabam sempre sendo vinculadas juridicamente a um determinado país, onde constituem sua sede. Seu envolvimento no cenário internacional é tão forte que não podem mais serem ignoradas enquanto sujeitos de Direito Internacional, podendo-se atribuir a elas a mudança de determinadas posturas políticas das lideranças mundiais.117

Essas transformações questionam o próprio Direito Internacional Clássico, que se torna cada vez menos efetivo em responder aos anseios de uma sociedade internacionalizada contemporânea. Assim, uma nova sociedade internacional se edifica, cujos efeitos alcançam as relações do Direito Internacional e até mesmo o próprio Direito Interno do Estado.

Dentre os alicerces dessa nova sociedade internacional, a criação da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1945 estabeleceu um novo papel para as organizações internacionais.

115 SOUSA SANTOS, Boaventura. Towars a new commom sense: law, science and politics in the paradigmatic

transition. Nova Iorque: Routledge, 1995, p. 258-263.

116 GIDDENS, Anthony. A Terceira Via. Tradução de Maria Luiz X. de Borges. Brasília: Instituto Teotônio

Vilela, 1999, p. 152.

Tendo como precursora a Liga das Nações, sua atuação hoje é muito mais ampla, mas sua fidelidade relaciona-se com o disposto em sua carta constitutiva118.

Fruto de reuniões entre os líderes dos países vencedores da Segunda Guerra Mundial, com a presença de líderes de países socialistas e capitalistas, destacando-se a URSS e os Estados Unidos119, a ratificação da Carta das Nações que levou à criação da ONU estabeleceu uma nova ordem jurídica entre os Estados e uma ordem mundial assentada sobre o Direito Internacional. A partir de então, sua atividade tem contribuído para o fortalecimento do diálogo internacional.120

Dotada de personalidade jurídica no plano internacional, a ONU atua como uma entidade distinta e independente dos seus Estados-membros originais, adquirindo “vida própria”. Suas ações tem sido externalizadas por meio de resoluções de conteúdo, e execução de funções diplomáticas, por meio de seu Secretário-Geral, cujo processo decisório possui significativo multilateralismo, o que permite que os Estados compensem suas desigualdades de poder.121

Na prática, a atuação da ONU tem passado por uma extraordinária expansão na atribuição de poderes aos seus órgãos políticos, extrapolando, como dito, as atividades expressamente previstas na sua Carta constitutiva, como, por exemplo, o estabelecimento de missões permanentes e a convocação para conferências internacionais, sempre visando seus objetivos iniciais, de manutenção da paz e segurança internacionais. Dessa forma, as suas resoluções se tornaram fonte inquestionável de direito internacional, se tornando juridicamente relevante e, por esse meio, influenciando a prática internacional e os próprios Estados.

Dessa forma, o que se verifica em relação à ONU é uma organização de vocação universal, com grande capacidade de adaptação à conjuntura internacional, atuando em circunstâncias e contextos não previstos na elaboração da Carta, o que representa a própria universalização dos Direitos Humanos, ascendendo o indivíduo à categoria de sujeito de direitos no contexto do Direito Internacional. Em determinadas áreas, tal como a proteção internacional de direitos individuais, a ONU possibilita que a regulação possa se dar por meio

118 CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Direito das organizações internacionais. 3ª ed. Belo Horizonte:

Del Rey, 2003, p. 14.

119 São membros-fundadores das Nações Unidas os países vencedores da Segunda Guerra Mundial: China, Estados

Unidos, França, Reino Unido e ex-União Soviética. Hoje, a ONU conta com 193 países-membros, inclusive o Brasil. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS – ONU. História [on-line]. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/conheca/historia/>. Acesso em: 26 jun. 2017.

120 MENEZES, Wagner. Ordem global e transnormatividade. Ijuí: Editora UNIJUI, 2005, p. 42-45.

121 CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Direito das organizações internacionais. 3ª ed. Belo Horizonte:

de instrumentos de conteúdo jurídico distinto, tais como tratados ou convenções, tratados, resoluções e declarações.122

Por meio da Carta da ONU, mais especificadamente seus artigos 57 e 63, há a possibilidade de que organismos internacionais vinculem-se à ONU para promover ações integradas na persecução seus objetivos iniciais. O Conselho Econômico e Social (ECOSOC) da ONU, trabalhando conexão com a Assembleia Geral, têm a competência para estabelecer acordos com organizações, que, subordinadas à ONU, atuem no cenário internacional, seja pela sua especialidade, seja pela sua importância que se assemelhe à própria ONU.123

Dentre esses inúmeros organismos, considerando poder e influência política, no cenário geopolítico, econômico e social, além da própria ONU, se destacam diante da sua importância a Organização Internacional do Trabalho (OIT); a Organização Mundial do Comércio (OMC); o Fundo Monetário Internacional (FMI); o Banco Mundial (BM) e a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

A OIT é atualmente a maior organização internacional responsável pela regulação da lei trabalhista em nível global. Criada após a Primeira Guerra Mundial, num período de mudanças históricas, fundada oficialmente em 1919, se dirigia em resolver problemas relativos às condições de trabalho por meio da criação de padrões de trabalho. A OIT opera por meio de três instrumentos legais: convenções, recomendações e declarações, dos quais as convenções são os mais importantes, pois são ratificados pelos estados membros e são obrigatórios, enquanto que recomendações e declarações não são. Até setembro de 2012 a OIT tinha 189 convenções (oito consideradas fundamentais e quatro com prioridade), 202 recomendações e quatro declarações.124

Todavia, a OIT enfrenta problemas para promover seu Direito desde sua concepção, uma vez que a força vinculante dos seus padrões depende de ratificação dos Estados-membros, além de enfrentar fortes oposições de economistas mais ortodoxos, que veem no estabelecimento de padrões trabalhistas empecilhos para o livre-comércio. Na tentativa de fortalecer seus padrões de trabalho, a OIT investiu na priorização de padrões específicos, caracterizando uma virada reflexiva em suas ações, se tornando um movimento global.125

122 CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Direito das organizações internacionais. 3ª ed. Belo Horizonte:

Del Rey, 2003, p. 84-ss.

123 MENEZES, Wagner. Ordem global e transnormatividade. Ijuí: Editora UNIJUI, 2005, p. 48-49.

124 ROGOWSKI, Ralf. Reflexive Labour Law in the World Society. Massachusetts: Edward Elgar Publishing,

Inc., 2015, p. 228-229.

125 ROGOWSKI, Ralf. Constitucionalização societal do direito trabalhista global. In: SCHWARTZ, Germano;

COSTA, Renata Almeida da (org.). Sociologia do Direito em Movimento. Canoas: Editora Unilasalle, 2017, p. 146-147.

Exemplos dessa mudança de postura para uma regulação reflexiva são a Agenda Trabalho Decente, uma iniciativa empreendida com a Declaração Relativa aos Direitos e Princípios Fundamentais no Trabalho e a discussão envolvendo a introdução de cláusulas sociais nos contratos internacionais de comércio, que visam o estabelecimento desses padrões trabalhistas a nível internacional.126 Essa postura também vai refletir em diretrizes, além da OIT, também da OMC e da OCDE.

Para compreender sua importância no cenário internacional, retorna-se ao período pós- Segunda Guerra Mundial, mais especificadamente em julho de 1944, quando os representantes da Aliança das Nações Unidas se reuniram Bretton Woods para estruturar um novo padrão