• Nenhum resultado encontrado

No capítulo 2, a partir de Baquero (2012), conceituou-se empoderamento como a capacidade dos indivíduos influenciarem nos processos que determinam suas vidas e capacitação de grupos para a articulação de interesses que levem à conquista de seus direitos e possam influenciar ações do Estado. É notório, nas entrevistas concedidas pelos ponteiros e na observação de seus comportamentos nas reuniões e fóruns de Pontos de Cultura, que não se trata de um grupo passivo, interessado apenas nos recursos financeiros repassados pelo Governo Federal e Estadual. Mais do que isso, fica clara a postura dos ponteiros como líderes, ativistas culturais de suas comunidades (alguns com destaque regional e estadual), incumbidos de amplificar reivindicações que, frequentemente, ultrapassam o campo cultural.

A rede de Pontos de Cultura de Santa Catarina adota vários mecanismos para mostrar seu descontentamento com o status quo, como moções, cartas coletivas, divulgação de atas de reuniões entre os ponteiros, representações microrregionais e regionais e até manifestações públicas, como a que aconteceu em 24 de outubro de 2012, em Florianópolis77. Na ocasião, representantes de PCs de várias cidades do estado estiveram na capital, com faixas e cartazes e, no centro da cidade, no lugar conhecido como Esquina Democrática, denunciaram à população o que

77 Vídeos da manifestação estão disponíveis em: <http://www.youtube.com/watch?v=T2Q59sbu70s> e

chamaram de “descaso com a cultura catarinense”. Munidos de microfone e caixas de som, os líderes dos PCs falaram sobre as dificuldades causadas pelo atraso do pagamento da segunda parcela. O governo federal havia feito o repasse de 66% da verba na metade do ano, mas o Governo Estadual alegava não ter recursos para o depósito da contrapartida do convênio (33%). Vários Pontos de Cultura tiveram problemas para pagar seus fornecedores e, principalmente, instrutores de oficinas. Nenhum PC chegou a interromper totalmente as atividades, mas houve diminuição destas e transtornos. O pagamento só ocorreu no final do ano, em dezembro, e – no caso da Escolinha de

Cinema Abadeus – ainda foi depositado em uma conta errada. “Só em fevereiro, depois do recesso,

é que fomos localizar onde estava o dinheiro” (MONTEIRO, 2014).

Durante a manifestação, os ponteiros também reclamaram da falta de editais públicos de cultura no Estado, da atenção dada pela Secretaria de Estado de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer a megaeventos, em detrimento das pequenas iniciativas culturais ou do “trabalho de formiguinhas” feito por entidades e associações de atuação comunitária, do cancelamento do Festival Estadual de Teatro daquele ano, entre outras demandas. O manifesto contou com a participação solidária de outras entidades, além dos Pontos de Cultura, como foi o caso da RECID (Rede de Educação Cidadã). A mesma postura combativa ou, pelo menos, sempre alerta, ficou evidenciada no Fórum Estadual de Pontos de Cultura, realizado no dia 17 de setembro de 2013, quando, aproveitando a presença de autoridades da Secretaria de Estado da Cultura e também do Minc, alguns líderes de PCs manifestaram sua insatisfação com a excessiva burocracia, questionaram os poucos recursos destinados ao programa e a preocupação com o então redesenho do Cultura Viva que se processava na época.

A observação participante nesses encontros dos ponteiros foi fundamental para refutar uma hipótese preliminar desta pesquisa, a de que a institucionalização dos Pontos de Cultura mediante destinação de uma verba de R$ 180 mil por PC pudesse provocar uma espécie de submissão desses grupos à vontade do governo ao invés de conferir-lhes empoderamento e autonomia. Ao contrário, o que se percebe o tempo todo nesses encontros e na postura dos ponteiros em suas comunidades é a de que assumem a função de porta-vozes comunitários, encorajados por uma rede de outros grupos com objetivos semelhantes de transformação da sociedade não por meio de uma grande e radical revolução, mas a partir do seu ambiente local. “Antes dos Pontos de Cultura, toda essa gente [ponteiros] já estava envolvida com suas ações culturais, assistenciais, comunitárias, mas a diferença é que cada um ficava no seu canto, isolado e por isso não aparecia no mapa do governo ou das políticas públicas de cultura. As reivindicações eram esparsas. O grito não tinha eco. Agora formam um bloco, uma teia onde um nó sustenta o outro” (MÁXIMO, 2012).

Pode-se, neste ponto, conjeturar que as lideranças dos PCs estejam ideologicamente afinadas ao Governo Federal, posto que a maioria vem de movimentos sociais alinhados ao pensamento de esquerda e que, portanto, manifestações de discordância, como a expressa na manifestação em Florianópolis, integrem o modus operandi do próprio Partido dos Trabalhadores, sem que isso signifique um enfrentamento ou um ato de rebeldia contra seus líderes. A observação participante apontou, no entanto, que os ponteiros estão ligados a diferentes partidos políticos, inclusive de oposição ao governo petista, o que contribui para evitar uma submissão desses grupos às vontades governamentais.

A partir dos depoimentos e da observação da postura dos ponteiros de Santa Catarina, é possível afirmar que o empoderamento alcançado por meio da trajetória dos Pontos de Cultura corresponde à concepção proposta por Paulo Freire, ou seja, de um empowerment não individual, nem comunitário, nem meramente social, mas ligado à classe social (FREIRE; SHOR, 1986), conforme descrito no Capítulo 2. Embora os PCs atuem em todas as classes, fica evidente a priorização dos indivíduos de baixa renda, das pessoas em situação de vulnerabilidade social, dos comumente excluídos do acesso às manifestações culturais. A posição freireana coincide com o pensamento de dois expoentes dos Estudos Culturais britânicos, Raymond Williams e Edward Thompson, ambos ligados – assim como Freire – à formação de adultos das classes populares e com as teorias marxistas. Para esses estudiosos, é impossível abstrair a cultura das relações de poder e das estratégias de mudança social (MATELART; NEVEU, 2010). O que a vivência dos Pontos de Cultura parece apontar não só ao Brasil, mas à América Latina, é que uma ação cultural coletiva pode ser o cerne de uma tão almejada mudança social muito mais abrangente e também de uma mudança política que se concretiza na passagem da democracia meramente representativa para a democracia participativa a caminho, talvez, da democracia direta. Tanto em Williams (2007) como em Thompson, encontra-se a visão de uma história construída a partir das lutas sociais e da interação entre cultura e economia, em que aparece como central a noção de resistência a uma ordem marcada pelo “capitalismo como sistema” (MATELART; NEVEU, 2010).

O que, à primeira vista, parece incoerente na história dos Pontos de Cultura é que esse mecanismo de empoderamento social nasça justamente de uma proposta de governo. Embora o idealizador dos PCs, Célio Turino (2009), coloque a proposta como algo formatado “de baixo para cima” – tanto que a expressão está no subtítulo de seu livro – não se pode ignorar que todo o programa foi concebido pelo próprio Turino e equipe a partir de um local bem definido de poder, o governamental. Durante o Fórum Estadual de Pontos de Cultura de Santa Catarina, realizado em setembro de 2013, em Florianópolis, o representante do Minc, Pedro Domingues, chamou a atenção para uma constatação que, segundo ele, surgiu-lhe, naquele momento, como um insight:

Sob a lógica do serviço público, a política cultural brasileira foi estruturada desde o período de criação da Escola de Belas Artes como uma política que nunca alcançará integralmente a população. E o programa Cultura Viva é um programa que definitivamente inverte essa tradição de política pública, por isso me deparo com essa novidade na forma de eu pensar, de que, na verdade, ele não é um programa que responde a uma demanda da sociedade, ele é um programa que responde a uma demanda de governo, ou seja, à necessidade do governo chegar à população (DOMINGUES, 2013).

Ou seja, a partir de uma demanda não resolvida (fazer as ações do Minc chegarem a todo território brasileiro), nascem os Pontos de Cultura. Pode-se conjeturar, no entanto, que ambas as forças – a governamental e a da sociedade civil - atuaram para o nascimento dos Pontos de Cultura como instrumental de empoderamento social. Houve, é certo, a iniciativa política a partir de uma conjuntura governamental propícia, ou seja, a ascensão de um partido alinhado à ideologia de esquerda e afinado com a necessidade de se fazer presente entre o maior número possível de pessoas num país de dimensões continentais, mas houve também todo um percurso previamente preparado pela história dos movimentos sociais no país, que precede o reestabelecimento da democracia, como visto no capítulo anterior. Nesse percurso é forte a presença de intelectuais brasileiros dispostos a pensar outra sociedade possível, como o próprio Paulo Freire e sua pedagogia da autonomia, capaz de formar sujeitos da própria história, e o geógrafo Milton Santos, que vislumbra uma outra globalização, a serviço da cidadania. Essa legitimação dos PCs pelo Governo, portanto, é reflexo de uma série de fatores que vão da conveniência, visto que se sentia a impossibilidade (financeira e estrutural) do Ministério da Cultura fazer chegar ações a todo o país, à influência de pensadores de orientação marxista, como atestam as leituras citadas por Célio Turino. Os PCs retratam uma mudança de postura governamental em relação à cultura, privilegiando a pluralidade ao invés da segmentação, o que não deixa de ser uma estratégia governamental que visa a ampliar o apoio popular ao Estado. A constatação de Baquero (2012, p. 136) é adequada ao que intentam os Pontos de Cultura, a percepção de que

[...] o empoderamento, como processo e resultado, pode ser concebido como emergindo de um processo de ação social no qual os indivíduos tomam posse de suas próprias vidas pela interação com outros indivíduos, gerando pensamento crítico em relação à realidade, favorecendo a construção da capacidade pessoal e social e possibilitando a transformação de relações sociais de poder.

Tanto a concepção teórica quanto a práxis dos Pontos de Cultura apontam diretamente para a visão marxista que prescreve um sujeito histórico, o povo se assumindo como agente transformador. Para o sociólogo e membro do Fórum Mundial das Alternativas, François Houtart, o proletariado constituía-se em sujeito histórico em potencial, a partir da contradição existente entre capital e

trabalho. Retome-se aqui a interpretação que Vásquez (2011) faz do pensamento de Marx que, em sua origem, enxerga o trabalho como força criadora do homem a qual o capitalismo trata de alienar. Esse sujeito de que trata Houtart passa a movimento, depois a partido político e, na sequência, do plano nacional ao internacional. Com as novas tecnologias, o capitalismo dá novo salto, ganhando configurações globais e o sujeito social também se amplifica. Inicia-se a fase neoliberal do desenvolvimento capitalista cuja estratégia se traduz, conforme Houtart (2007), em uma dupla ofensiva: contra o trabalho (diminuição do salário real, desregulação, deslocalização), e contra o Estado (privatizações). Para o sociólogo, o resultado é que, atualmente, todos os grupos humanos - sem exceção - estão submetidos à lei do valor, não somente a classe operária assalariada, mas também os povos nativos, as mulheres, os setores informais, os pequenos camponeses, sob outros mecanismos, como os financeiros – preço das matérias-primas ou dos produtos agrícolas, serviço da dívida externa, paraísos fiscais, normas do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial e da Organização Mundial de Comércio (OMC) - ou seja, estão todos num estado de subsunção formal ao capital. Nesse contexto, Houtart (2007) enxerga que os potenciais sujeitos históricos estendam-se ao conjunto dos grupos sociais, tanto os que fazem parte da submissão real (os “antigos movimentos sociais”), como os subsumidos formalmente (“novos movimentos sociais”). Também Castells (2013) vislumbra na evolução tecnológica a possibilidade de um novo tipo de movimento social, organizado em forma de rede e assumindo a forma de multidão. Houtart (2007) afirma que o novo sujeito histórico a ser construído será popular e plural, constituído por uma multiplicidade de atores e não pela “multidão”.

A classe operária terá um papel importante, mas compartilhado. Este sujeito será democrático, não somente por sua meta, mas também pelo próprio processo de sua construção. Ele será multipolar, nos diferentes continentes e nas diversas regiões do mundo. Tratar-se-á de um sujeito no sentido pleno da palavra, incluindo a subjetividade redescoberta, abrangendo todos os seres humanos, constituindo a humanidade (HOUTART, 2007).

Os Pontos de Cultura catarinenses já existiam antes de seu reconhecimento pelo governo federal e estadual. Alguns já trazem consigo um histórico de movimento social, como é o caso, por exemplo, do PC Cultura e Cidadania nas Áreas da Reforma Agrária, mantido pelo Clube de Mães Maria Rosa, em Água Doce, oeste do estado. Para chegar ao local onde acontecem as atividades, oficinas e aulas de dança e artesanato é preciso percorrer cerca de 30 km de estrada de terra até o assentamento. Possibilitar acesso à tecnologia e à cultura às famílias assentadas, evitar o esvaziamento da agricultura, aproveitar as atividades culturais já trabalhadas pelas famílias assentadas para gerar renda e valorizar as diferentes manifestações artísticas típicas das famílias

camponesas estão entre os objetivos do PC. As mulheres, jovens e crianças participam de atividades de dança, teatro, artesanato e música. O PC é praticamente a única forma de contato dessas famílias assentadas com o fazer artístico. A cultura dentro do movimento é outra forma de “estar no mundo”, que escapa da forma habitual, o trabalho. Para Juliano Gomes, administrador da cooperativa local de assentados e que ajudou a elaborar o projeto de Ponto de Cultura do Clube de Mães Maria Rosa, a história de luta das famílias assentadas está calcada nas tentativas de transformação da realidade e de subversão do modelo capitalista, tanto que hoje ocupam uma terra que antes não era sua. “O

jovem do campo não vê a hora de completar 18 anos e ir embora para cidade, tanto que vivemos um envelhecimento do campo. Se não damos alternativas de qualidade de vida a esse jovem, ele vai embora mesmo. Por isso, seja pelas ações culturais, seja por meio de outros projetos, estamos

sempre buscando alternativas para melhorar a vida dessas famílias” (Informação verbal)78.

Gomes lembra, ainda, que o Ponto de Cultura é formado essencialmente por mulheres agricultoras, acostumadas ao trabalho árduo da roça e que tiveram de enfrentar os desafios da burocracia para dar conta do PC.

Outro exemplo de PC originado de movimento social consolidado é o Imagem através das Lentes, de Laguna, mantido pela CUFA (Central Única das Favelas). O PC trabalhou durante um ano com jovens, ensinando-os a produzir audiovisuais, assim como a Escolinha de Cinema, de Criciúma. No entanto, o Imagem através das Lentes acabou descredenciado do programa no segundo ano. Por telefone, em 2 de maio de 2014, o coordenador Vinícius Lauffer dos Santos não quis explicar com mais detalhes quais foram os problemas que levaram ao descredenciamento, mas queixou-se da dificuldade de diálogo com o Governo do Estado. Ele qualificou como positivo o programa Pontos de Cultura, mas destacou a necessidade de simplificação dos mecanismos de prestação de contas, ainda muito burocratizados para instituições com pouca estrutura. Sem o recurso do Minc, a oficina de audiovisual foi interrompida, mas a CUFA continua a promover outras atividades culturais na comunidade.

Entretanto os movimentos sociais a que está relacionada a maioria dos PCs nem sempre possuem a mesma visibilidade de um MST ou de uma CUFA. Há aqueles cujo empoderamento conferido pela cultura é que faz com que seus membros se percebam como sujeitos de um movimento social nascente. Um dos exemplos mais marcantes entre os estudados em Santa Catarina é o da Escola da Terra Engenho do Sertão, de Bombinhas. O que nasceu a partir de uma escolha pessoal de Rosane Luchtenberg, a “Rô do Engenho”, acabou mexendo com a vida de toda uma cidade e até dos municípios vizinhos. Para entender a história do Instituto Boi Mamão, que abriga o

78 Juliano Gomes, entrevista concedida por telefone à pesquisadora, em 7 de maio de 2014. Nas demais ocorrências se

PC Escola da Terra Engenho do Sertão, é preciso adentrar na vida de Rosane. Ela veio para Bombinhas com a intenção de abrir uma pousada. Em 1996, participou da campanha eleitoral para vereadora e perdeu. No mesmo ano, terminou o casamento e perdeu o cargo de diretora da pousada, mas iniciou uma jornada de dedicação total à cultura, especialmente à preservação dos velhos engenhos de farinha e de todo um conjunto de saberes e fazeres tradicionais das famílias nativas da praia e que estavam adormecidos. “Costumo dizer que perdi a pousada, o marido, a eleição, mas casei com o boi. Fui perdendo os supérfluos pelo caminho e fiquei com o essencial” (UNINDO GERAÇÕES, 2008)79.

Em Bombinhas, Rosane lançou um jornal, e, por conta disso, entrevistou várias pessoas idosas, percebendo o quanto a cultura local era rica e, ao mesmo tempo, escondida, pouco valorizada pelos próprios moradores de Bombinhas. Rosane acabou adquirindo um antigo engenho de farinha e iniciou o processo para transformá-lo em um museu comunitário. Mas havia outros engenhos desativados e prestes a se perderem para sempre. Em 1998, ela fundou, com ajuda de amigos, o Instituto Boi Mamão e, desde então, passou a trabalhar com atividades que fomentassem a cultura local. “Foi bem difícil, no começo, convencer a comunidade a reavivar sua cultura. Estavam intimidados diante do desenvolvimento turístico que chegava, mais gente nova chegando”, (UNINDO GERAÇÕES, 2008). Em 1999 o Instituto iniciou o mapeamento dos engenhos de farinha. Em 2007 já eram 14 engenhos cadastrados, dos quais 8 em funcionamento e 3 produzindo farinha. “Bombinhas é agora o município de Santa Catarina com mais engenhos preservados. Valeu a pena” (UNINDO GERAÇÕES, 2008). Desde 2005, o Instituto participa de editais de captação de recursos e também conta com o patrocínio direto de algumas empresas. O reconhecimento governamental da importância do trabalho desenvolvido pelo Instituto Boi Mamão ocorreu antes mesmo do edital de Pontos de Cultura de 2009. O Boi Mamão recebeu o selo Cultura Viva e o Prêmio Culturas Populares, do Minc. Também há um cineclube no Engenho, reconhecido pelo programa Mais Cultura.

Especificamente para o Edital de Pontos de Cultura, o projeto do Instituto propunha como objetivo retomar as atividades do Programa Aluno Cidadão, voltado a estudantes de 14 a 18 anos, a fim de facilitar seu ingresso no mercado de trabalho por meio das oficinas práticas orientadas para a formação e aperfeiçoamento de habilidades e para a afirmação de cidadania. No Engenho funcionam o NACA (Núcleo de Ação e Criação Artesanal), que trabalha o artesanato com linguagem popular, e o NAPO (Núcleo Agrícola de Produção Orgânica). Além das atividades desenvolvidas pelo PC, o instituto mantém grupo folclórico açoriano, o museu comunitário,

79 Documentário produzido por Rosane Luchtenberg e Ricardo Seeling, em 2008. O vídeo está disponível em:

educação patrimonial e ambiental, cantorias e folguedos do Boi de Mamão, terno de reis, oficinas de artesanato e gastronomia regional, como a fabricação do beiju de farinha.

Figura 5 - Atividade com Boi de Mamão no Ponto de Cultura Escola da Terra Engenho do Sertão

Fonte: Disponível em: <www.engenhodosertao.com.br>. Acesso em: 16 jan. 2014.

Figura 6 - Oficina de artesanato no PC Escola da Terra Engenho do Sertão

Figura 7 - Gastronomia regional: fabricação de beiju

Fonte: Disponível em: <www.engenhodosertao.com.br>. Acesso em: 16 jan. 2014.

O empoderamento vivido pelas pessoas envolvidas nas atividades do Instituto Boi Mamão aproxima-se da concepção freireana, ou seja, auxiliar os outros a desenvolverem habilidades para que possam adquirir poder pelos seus próprios esforços. Para Baquero (2012), o empoderamento, na condição de categoria, perpassa noções de democracia, direitos humanos e participação, mas não se limita a estas:

[...] e é mais do que trabalhar em nível conceitual, envolve o agir, implicando processos de reflexão sobre a ação, visando a uma tomada de consciência a respeito de fatores de diferentes ordens – econômica política e cultural – que conformam a realidade, incidindo sobre o sujeito (BAQUERO, 2012, p. 184).

O olhar estrangeiro80 de Rosane Luchtenberg enxergou o que os moradores de Bombinhas já não viam mais: a importância de sua própria história. E a atenção de Rosane à preservação da memória dessa gente acabou tomando proporção bem maior do que ela própria inicialmente podia supor. O Instituto Boi Mamão e o Ponto de Cultura Escola da Terra Engenho

do Sertão enredaram a comunidade, conectando-se a outras áreas: turismo, economia solidária,

80 Para Simmel, o estrangeiro vive uma condição peculiar na sociedade, numa forma positiva de interação, pois não