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O empoderamento requer mobilização social em torno de contextos específicos, como o das políticas culturais, por exemplo, além de exigir um abandono da condição democrática de mero representacionismo, ou seja, de acomodação a um Estado em que apenas os representantes governamentais e as instâncias econômicas tomam decisões pela coletividade. “Precisamos de uma articulação um pouco menos piegas do princípio político (em torno de classe e nação) e de uma dose maior do princípio de negociação política”, lembra Bhabha (2003, p. 55). O intrigante, no caso dos Pontos de Cultura, é que, embora haja mobilização social por parte dos heterogêneos grupos culturais que compõem a rede, o estímulo ao empoderamento - e em consequência à autonomia e protagonismo social - vem justamente das esferas governamentais.

Seria o incentivo ao empoderamento e protagonismo social na área cultural uma forma apaziguadora de lidar com a diversidade cultural ou, ainda, o reconhecimento de uma impossibilidade de se satisfazer uma demanda cultural altamente heterogênea como a brasileira? Como já discutido anteriormente, é preciso considerar os Pontos de Cultura como resultado de um processo democrático para o qual a participação de movimentos populares exerceu forte contribuição. É importante não esquecer que, tanto do lado governamental quanto entre os ponteiros, há forte influência de pessoas – lideranças políticas e culturais – nascidas desses movimentos ou intelectualmente formadas a partir da teoria marxista. O empoderamento das classes trabalhadoras está no cerne do pensamento de lideranças de esquerda e não deixa de ser uma forma de buscar consenso e legitimação popular a decisões políticas o que, para um regime democrático, é fundamental para manutenção da estabilidade de governança. Os Pontos de Cultura tornam-se uma forma de colocar em prática preceitos alinhados ao pensamento de esquerda.

Em A Condição Pós-Moderna, Lyotard (2009, p. 6) defende que a incidência das informações tecnológicas sobre o saber traz mudanças consideráveis. “A transformação da natureza do saber pode assim ter sobre os poderes públicos estabelecidos um efeito de retorno tal que os

obrigue a reconsiderar suas relações de direito e de fato com as grandes empresas e mais genericamente com a sociedade civil”.

É razoável pensar que a multiplicação de máquinas informacionais afeta e afetará a circulação dos conhecimentos, do mesmo modo que o desenvolvimento dos meios de circulação dos homens (transportes), de sons e, em seguida, das imagens (media) o fez. Nesta transformação geral, a natureza do saber não permanece intacta (LYOTARD, 2009, p. 4).

Se, por um lado, o crescimento das populações e as grandes concentrações urbanas impedem que decisões coletivas sejam tomadas diretamente pelos cidadãos em assembleia, por outro, as possibilidades de comunicação e interação propiciadas pelas novas tecnologias permitem a criação de uma ágora moderna, em que todos possam opinar. Para Castells (2013a, p. 11), “a mudança do ambiente comunicacional afeta diretamente as normas de construção de significado e, portanto, a produção de relações de poder”. Sob tal perspectiva, as trocas comunicacionais em rede tornam-se mecanismos indispensáveis à mobilização social dos Pontos de Cultura e o próprio programa, em seu escopo, já confere aos fluxos de comunicação (entre PCs; entre PCs e governo; entre comunidades e PCs) papel fundamental. Todos os Pontos de Cultura selecionados no edital público de 2009 tinham por obrigação investir parte dos recursos da primeira parcela em um kit multimídia composto de computadores, equipamento para gravações em vídeo e um miniestúdio de rádio, a fim de permitir o compartilhamento das experiências com os demais Pontos de Cultura e com o público em geral, via internet. A organização em rede é uma característica vital do Ponto de Cultura e, para assegurar tal articulação, foi necessário fornecer mecanismos que garantissem a comunicação intra e intergrupal. Os PCs se interligaram através de uma rede de mídia independente a qual inclui blogs, sites, rádios comunitárias, fanzines, redes sociais, entre outros veículos alternativos de comunicação. A integração dessas informações ocorre por meio da Rede Cultura Viva de Santa Catarina (www.cultura.sc/pontos).

Conforme depoimento dos ponteiros para esta pesquisa, a formação dessa rede é, de longe, o ganho mais importante do programa, acima do recurso financeiro e até do reconhecimento institucional do Estado. Os ponteiros revelam, no entanto, que a rede catarinense poderia ser ainda mais fortalecida, não fossem alguns percalços, entre eles, a desativação do Pontão UFSC, ao fim de 2011, quando houve a decisão do MINC de não mais firmar convênios com universidades. Enquanto o Pontão UFSC atuou, de acordo com as informações de Gilson Máximo, a rede catarinense teve alta densidade de articulação, com pico em 2011. Isso ocorreu, na opinião do ex- representante estadual dos PCs, por conta da realização de encontros e oficinas presenciais, de cinco a seis vezes naquele ano, com recursos do Pontão. Conforme Máximo, houve um hiato de quase um ano (entre 2011 e 2012, após o desligamento da UFSC), que coincidiu com a alternância de

coordenação do programa na Secretaria de Estado de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer (SOL) e isso prejudicou a articulação dos grupos por meio da rede. “O Pontão Ganesha também colaborou, mas não com a mesma ênfase da UFSC, até porque o enfoque do Ganesha é a circulação livre de informação digital. Embora o contato virtual seja importante, qualquer movimento social precisa de encontros (presenciais) para se fortalecer” (MÁXIMO, 2014). A opinião de Máximo vai ao encontro da constatação de Castells (2013a) de que, embora o espaço virtual seja utilizado para a organização em rede – no caso dos protestos – isso não elimina a necessidade do encontro presencial, da ocupação de espaços públicos reais, como praças, ruas, prédios considerados simbólicos para as relações de poder. Essa relação que deixa o mundo virtual para ocupar os espaços urbanos é necessária e ocorre, conforme Castells (2013a, p. 15-16), por três motivos: criação de uma comunidade e esta se baseia na proximidade que é um “mecanismo psicológico fundamental para superar o medo”, ou seja, um encoraja o outro; os espaços ocupados são, geralmente, carregados de poder simbólico (áreas de controle estatal ou de instituições financeiras); criação de um novo espaço público, um híbrido entre redes sociais da internet e espaço urbano ocupado. Os ponteiros acreditam que a rede virtual dos PCs funcionaria melhor se houvesse mais encontros presenciais, como fóruns e Teias, pois o contato presencial fortalece vínculos pessoais.

Para Antônio Barbosa, ponteiro do PC Cultura Nativa no Caminho das Tropas, do CTG Anita Garibaldi de Lages, primeiro CTG a ser Ponto de Cultura no país, ainda em 2004, é lamentável que Santa Catarina tenha realizado apenas uma Teia (em janeiro de 2015), mesmo tendo recursos financeiros para promover mais encontros57. “A Rede SC só promoveu uma Teia e a duras

penas. Deveria haver mais, pois é uma oportunidade para todos se encontrarem e para a sociedade participar e conhecer o que são os Pontos de Cultura. Além disso, nas conferências e fóruns só participam os coordenadores e líderes dos PCs. Na Teia podemos trazer as crianças, os jovens e assim eles já vão conhecendo um pouco das discussões sobre política cultural” (Informação

verbal)58.

Para Clarice Zucco, do PC Danças e Contradanças, de Coronel Freitas, a dificuldade de utilizar a rede, no caso do seu PC, esteve mais relacionada ao fato de o PC ser formado por pessoas idosas, sem afinidade com as novas tecnologias. “Mesmo assim, utilizamos a rede para trocar informações pela internet, principalmente por e-mail, mas não tínhamos alguém específico para

57 Por conta do atraso dos repasses da contrapartida do Governo Estadual, o valor repassado pelo Minc foi aplicado em

caderneta de poupança. Com os rendimentos, em dezembro de 2014 havia R$ 1,9 milhão disponíveis para a Teia que custou R$ 465 mil. No momento de escrita desta tese, os PCs ainda tentavam obter autorização para utilizar o restante dos recursos em cursos de formação para os PCs, do contrário, o dinheiro seria devolvido ao Tesouro Nacional.

58 Antônio Barbosa, entrevista concedida à pesquisadora, em 30 de janeiro de 2015. Nas demais ocorrências se utilizará

isso” (Informação verbal)59. No PC Belli Balli, de Blumenau, a rede serviu para receber

informações de outros PCs e sanar dúvidas. “Eu lançava os meus questionamentos e recebia respostas de outros mais experientes. A rede de informações foi bem positiva. Continuamos nos comunicando, mesmo com o fim do convênio, porque se criou um vínculo, um compromisso que permanece. Mas os encontros pessoais também são importantes porque geram novas amizades. Eu, por exemplo, jamais conheceria a Beti, de Campo Alegre, se não fossem os PCs. Quando a gente se encontra, conhece e sente melhor a cultura de Santa Catarina” (Informação verbal)60.

Foi graças à rede que o PC Educação Musical Popular, da Banda da Lapa, em Florianópolis, contatou novos parceiros e até se integrou ao edital Interações Estéticas, da Funarte, que rendeu um documentário. O regente da Banda da Lapa, Wellinton Carlos Correa, também defende os encontros presenciais entre os ponteiros: “A Teia é importante demais, deveria ter ocorrido antes para integrar melhor os grupos. Acabou acontecendo só no final, quando o convênio até já terminou, e ainda no mês de janeiro que é uma época complicada para mobilizar o pessoal” (Informação verbal)61. Para o coordenador geral da Secretaria da Cidadania e da

Diversidade Cultural do Minc, Pedro Domingues, “a potência da rede está em criar uma lógica alternativa à lógica dominante” (Informação verbal)62.

Apesar das dificuldades, Máximo destaca – do mesmo modo que o fazem outros ponteiros – que a formação da rede foi importante para perceberem que “não estavam sozinhos” e pela possibilidade facilitada de interlocução não só com outros agentes culturais, mas com os próprios governantes e alguns deputados. Esta percepção vai ao encontro do que pensa Castells quando diz que “a rede não garante a liberdade, mas torna mais difícil a opressão” (CASTELLS, 2013b)63.

Castells (2013a, p. 158) constata que a conexão de uma rede com outras redes amplia, sobremaneira, seu alcance e poder:

Nos últimos anos, a comunicação em ampla escala tem passado por profunda transformação tecnológica e organizacional, com a emergência do que denominei autocomunicação de massa, baseada em redes horizontais de comunicação multidirecional, interativa, na internet; e, mais ainda, nas redes de comunicação sem fio, atualmente a principal plataforma de comunicação em toda parte.

59 Clarice Zucco, entrevista concedida à pesquisadora, em 30 de janeiro de 2015. Nas demais ocorrências se utilizará

(ZUCCO, 2015).

60 Mari do Carmo Lucca Aita, entrevista concedida à pesquisadora, em 30 de janeiro de 2015. Nas demais ocorrências se

utilizará (AITA, 2014).

61 Wellinton Carlos Correa, entrevista concedida à pesquisadora, em 30 de janeiro de 2015. Nas demais ocorrências se

utilizará (CORREA, 2015).

62 Pedro Domingues, comunicação em mesa-redonda, no evento Teia Catarina, em 30 janeiro de 2015.

Os Pontos de Cultura seguem essa lógica. A rede maior (nacional), formada pelas demais redes (estaduais), recebe o nome de Teia. Embora essa Teia ainda não esteja formalizada em âmbito virtual do mesmo modo como estão organizadas as redes estaduais, ela se fortalece por meio de encontros presenciais, com representantes de PCs de todo o país, como o que ocorreu em Natal, no mês de maio de 2014. Nas Teias (estaduais, regionais e nacionais) trocam-se informações, contatos, amplia-se a conexão e novos nós vão se juntando. A força da rede está justamente na quantidade desses nós, assim, quando um se rompe, não chega a comprometer os demais. Isso é possível por conta da organização que, na opinião de Turino não é vertical nem horizontal:

[...] há que se levar em conta os mecanismos de busca, a capacidade de processar informações e o domínio de cada um sobre códigos e linguagens. Em uma geometria plana, talvez o melhor desenho fosse o da transversalidade, uma rede ao mesmo tempo vertical, diagonal e horizontal (TURINO, 2009, p. 179).

Nas redes verticais há comando centralizado e hierarquização de informações entre seus membros. Nas redes horizontalizadas a informação é distribuída por diversos pontos e não há núcleo decisório. A concepção da rede estabelecida entre os PCs não tem por única finalidade dar visibilidade às ações. Também serve para discutir dificuldades encontradas, oferecer produtos e serviços culturais, estabelecer agendas, divulgar outros editais, coletar opiniões e até articular manifestações de descontentamento, como a realizada na capital catarinense em 24 de outubro de 2012, abordada com mais detalhes adiante, no subcapítulo 4.4.

Em estudo realizado pelo IPEA, Bezerra e colaboradores (2011) identificam três dimensões diferentes na rede de Pontos de Cultura. A primeira mostra que os PCs se organizam em circuitos articulados intencionalmente, relacionando agentes culturais, atividades de produção, circulação e difusão. Um circuito cultural abarca prática política, encontros, reuniões, fóruns, recursos financeiros, formas de comunicação, seminários, exposições, debates e, tudo isso, relacionado a formas organizacionais (comunidades, mercado, Estado). O circuito ainda compreende, segundo a visão dos pesquisadores do IPEA (BEZERRA et al., 2011), associações, grupos, projetos, atividades, técnicas, etc., ligados a lugares de reunião, como as sedes dos PCs, teatros, cineclubes, praças...

A segunda noção de rede, conforme o IPEA (2011), refere-se à forma como os circuitos culturais são organizados. O estudo constatou que, no caso dos PCs, a sociedade civil encarrega-se da maior parte das parcerias com diversos atores, como associações de moradores, universidades, bancos, escolas, comércio local, entre outros. Além disso, há ações da própria rede de PCs, dos Pontões (unidades responsáveis por promover a articulação de PCs de uma região).

A terceira noção de rede está relacionada aos recortes seletivos do Estado, ao direcionar que tipo de trabalho será realizado, que áreas e segmentos serão incentivados, que ações políticas serão desenvolvidas. A conexão em rede é considerada pelo idealizador dos Pontos de Cultura como um dos elementos fundamentais no processo de transformação desencadeado pelos PCs, ao lado de novas formas de pactuação entre Estado e Sociedade, fortalecimento da autonomia, intensificação da troca de saberes e fazeres, liberação de sonhos e energias criativas.

É importante frisar que o conceito de rede para os Pontos de Cultura, tal como na percepção de Castells (2013a), não se restringe ao uso da internet como ferramenta de comunicação, mas está associado a toda uma forma de organização socioeconômica e cultural. Produtos e serviços são ofertados, trocados e comercializados entre os PCs. A promoção de intercâmbios culturais também se dá por meio da organização em rede. Em Joinville, o PC Itinga pede Passagem organiza encontros de todos os Pontos de Cultura da cidade. No mesmo espaço reúnem-se os tocadores de tambores japoneses do PC Taiko e os integrantes da banda do Polo de Produção

Musical dos Bombeiros Voluntários. Em Lages também é comum o encontro entre os cinco

Pontos de Cultura, cujas ações congregam atividades da cultura popular, como contação de causos e recomenda de almas, teatro, educação museológica, dança gaúcha e cultura afro. Mas não é só entre PCs de uma mesma cidade que o intercâmbio se articula via rede. O PC Luzes do Amanhã, de Araranguá, recebeu integrantes do PC Escolinha de Cinema (Criciúma) para produção de um curta e o grupo Açor-Sul de dança açoriana de Sombrio para uma oficina, além do Ganesha (Florianópolis). “Mas também ampliamos nossa rede por meio de contatos com vencedores de outros editais, como o Cine Mais Cultura, Fundação Biblioteca Nacional”, afirma a coordenadora Cinthia Hahn (Informação verbal)64.

Embora a rede não se restrinja à comunicação via internet, a dificuldade de acesso aos meios digitais constitui-se em obstáculo a essa conexão com os demais PCs. É o caso do PC

Cultura e Cidadania nas Áreas da Reforma Agrária, mantido pelo Clube de Mães Maria Rosa,

em Água Doce. Como a sede do Ponto fica no interior do município, na área do assentamento, não há acesso à internet. Uma base instalada no centro da cidade é que permite o uso da rede mundial de computadores, mas a distância (mais de 30 km de estrada de chão) e a falta de familiaridade com as novas tecnologias são fatores que impedem o uso mais frequente da rede para comunicação com os demais grupos. Para a coordenadora do PC Cultura, Memória e Desenvolvimento, ligado ao Museu Thiago de Castro, em Lages, o fortalecimento da rede poderia ter sido maior e é perceptível que alguns grupos ainda não estão habituados a utilizar as novas tecnologias para comunicação em

64 Cinthia Hahn, entrevista concedida à pesquisadora em 17 de janeiro de 2014. Nas demais ocorrências se utilizará

rede. “Alguns são mais ativos, outros menos. Tivemos oficinas sobre uso de recursos digitais com o Pontão Ganesha e foi possível perceber que alguns Pontos de Cultura ainda têm dificuldade para se integrarem à comunicação pela internet, para alguns isso ainda é muito novo” (Informação verbal)65.

A inclusão digital não chega com a mesma velocidade para todos, tal como observa Milton Santos (2000) em relação à globalização. Ainda assim, mesmo reconhecendo que a rede de PCs de Santa Catarina poderia ser melhor utilizada, esse tipo de organização é considerada como ponto positivo pelos ponteiros. “Não fossem as Teias, conferências, a rede, jamais teria oportunidade de conhecer o trabalho que o pessoal do Oeste ou da Serra faz. A rede é a melhor coisa dos Pontos de Cultura”, resume Eduardo Milioli (Informação verbal)66, do PC

Multiplicando Talentos, de Criciúma. A historiadora Gabriella Pieroni, do PC Engenhos de Farinha, de Florianópolis, afirma que “o caráter autônomo do trabalho em rede demanda encontros

periódicos, fundamentais para o amadurecimento dos debates e das estratégias de ação em coletivo” (PIERONI, 2014, p. 26).

O que distingue a rede de Pontos de Cultura dos movimentos sociais desencadeados via redes sociais, aos quais Castells (2013a) denomina de “novas formas de contrapoder”, é a organização prévia da rede e que parte, justamente, de um estímulo governamental. Seria lícito questionar se então essa rede de PCs não aparece como estratégia de enfrentamento do contrapoder exercido pelos grupos culturais envolvidos. Na prática, isso não parece funcionar desse modo, pois embora as redes possam contar com nós representativos de órgãos governamentais, os componentes – em sua maioria – são agentes culturais não-governamentais. O que a rede permite é a facilitação do contato direto do governo com os ponteiros, mecanismo que também não é bem aproveitado, ao menos no caso catarinense. Os ponteiros Gilson Máximo, Adilson de Oliveira Freitas e Eduardo Milioli afirmam que o Governo de Santa Catarina ainda não compreendeu o conceito de Pontos de Cultura nem seu modo de funcionamento. Para Máximo, os PCs foram tratados pela Secretaria de Estado da Cultura, Turismo, Esporte e Lazer como apenas mais um mecanismo de repasse de recursos à cultura e a troca constante de responsáveis pelo setor acentuou esse mal-entendido. “Nossa rede está ao sol secando. Vivemos num estado que não tem a compreensão do que propõem os Pontos de Cultura e a riqueza do PC está na proposta. É muito mais que mero repasse de

65 Carla Juliane Nogueira de Souza, entrevista concedida à pesquisadora, em 16 de janeiro de 2014. Nas demais

ocorrências se utilizará (SOUZA, 2014).

66 Eduardo Milioli, entrevista concedida à pesquisadora em 17 de janeiro de 2014. Nas demais ocorrências se utilizará

dinheiro” (Informação verbal)67. “O Estado (SC) não sabe o que são pontos de cultura, não posso cobrar que a mídia saiba” (MILIOLI, 2014).

Os depoimentos colhidos dos ponteiros para esta pesquisa e o monitoramento da Rede Cultura Viva de Santa Catarina demonstram que a rede se encontra formada, mas ainda é subutilizada, tanto pelos agentes culturais da sociedade civil quanto pelos órgãos governamentais.

Uma das vantagens da organização em rede é sua possibilidade de expansão, sobretudo quando se considera o encadeamento de uma rede de redes, como alertou Castells (2013a). A abrangência que o conceito de Pontos de Cultura começa a tomar na América Latina, abordada no subcapítulo 3.8, exemplifica tal constatação. Independente da existência ou não de recursos financeiros governamentais, da participação ou não de agentes governamentais na rede de PCs, ela já está posta. O blog que reúne os PCs de Santa Catarina (cultura.sc/pontos) será abordado mais especificamente no próximo capítulo ao se tratar da relação dos Pontos de Cultura com os campos da comunicação e educação. Mas é preciso compreender que a organização em rede não se dá apenas no campo comunicacional – embora este seja imprescindível ao seu funcionamento. A capacidade de articulação em rede é um dos mecanismos principais de empoderamento dos PCs e quando devidamente reconhecida pelas esferas governamentais pode tornar-se uma poderosa ferramenta de diálogo e participação.