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CAPÍTULO 3. MULHERES ADULTAS “ANALFABETAS” E/OU POUCO

3.1 Quem eram as mulheres participantes da pesquisa?

No caso da presente pesquisa, as mulheres vieram de regiões interioranas, situadas em sítio (Raquel e Ana), em engenhos (Eva e Sara) e em cidade (Rute), cujas famílias eram de

camada popular, constituídas por um grande número de pessoas, que variavam entre 15

(quinze/Raquel), 12 (doze/Eva e Sara), 11 (onze/Rute), 8 (oito/Rebeca) e 5 (cinco/Ana) pessoas.

A profissão dos pais estava mais relacionada à agricultura: vendia o que plantava (pai de Eva), trabalhava em engenho (pai de Sara) ou em sítios (os pais de Raquel e Rute). O pai de Rebeca, porém, abandonou a família e Ana não conheceu o seu pai, nem sabia o que ele fazia. As mães das mulheres eram donas de casa e ajudavam seus maridos em suas atividades. A mãe de Rebeca e de Ana, além de cuidarem da casa, trabalhavam também em engenhos e na roça, respectivamente.

A situação financeira de cada uma dessas famílias era muito precária ou como elas mesmas disseram: não “tinham condições” (Eva) ou a condição financeira era “humilde” (Sara).

Somada às limitações econômicas, o perfil educacional dos pais não se diferenciava em muito das mulheres da pesquisa, ou seja, os seus progenitores não sabiam ler nem escrever, embora Sara lembrasse que sua mãe lia “soletrando algumas palavras, como

100 ‘hospital’ e nome de ‘ônibus’”e Raquel destacasse que seu pai dizia que não precisava ser alfabetizado, pois sempre viveu “sem estudo”.

Esse contexto descrito até aqui influenciou na criação familiar das mulheres. Eva, Sara e Raquel foram criadas por padrinhos, Rebeca pelo tio e depois por uma prima de sua mãe, Ana por sua avó e Rute pela madrasta, situação que provocou a separação entre as mulheres e seus irmãos e suas irmãs, como pode ser verificado a seguir, em três relatos particularmente dramáticos.

O primeiro relato é o de Eva, que se separou de sua família aos sete anos e morou vinte e nove anos com a família que a criou. Seus irmãos e irmãs terminaram por ser “distribuídos” para familiares e pessoas conhecidas (padrinhos). Sobre isso Eva diz:

nesse tempo foi um desgosto muito grande que nós passamos, porque foi como levar um bicho para o matadouro. Foi muito choro, muito desgosto. A gente sofremo muito [começa a chorar]. Eu não gosto nem de pensar, sabe? Chorava tanto a gente, que não tinha nem como ter consolo [continua chorando] (Eva - Entrevista 2 – 18/09/2011).

Rebeca também se separou da sua família muito cedo, aos onze anos e saiu do seu Estado, por decisão dos seus pais, para morar em Recife, para trabalhar, como ela relatou:

morava muito longe deles, separado [...] eu não sei da vida deles, assim, [na] infância(Rebeca- Entrevista 1 – 09/10/2011).

Finalmente, Rute declarou que sua mãe morreu quando ela ainda era muito pequena e nem ao menos chegou a conhecê-la.

A gente se criou- se sofrida, pela casa dos outros, com madrasta. Quer dizer que a vida da gente não foi tão muito boa, né? [...] A gente não teve oportunidade de nada (Rute - Entrevista 1 – 08/11/2011).

No que tange à escolarização das mulheres, Ana e Rute não sofreram nenhuma resistência por parte dos pais em estudarem quando criança, mas também ninguém as motivou para isso. Rebeca e Sara estudaram quando criança, porém, daí para frente, não de maneira sistemática. Ambas não se lembravam de praticamente nada do que aprenderam durante esse período na escola, o que não as diferenciava, no que tange às limitações em ler e escrever, das demais mulheres desta pesquisa, Eva, Raquel, Ana e Rute, que praticamente nunca estiveram numa instituição escolar.

101 Rebeca começou os seus estudos aos nove ou dez anos, ocasião em que já morava com o seu tio, que a encaminhou à escola. A interrupção dos seus estudos aconteceu porque ela passou a trabalhar em casa de família aos onze anos, quando já estava morando em casa de uma parenta, em Recife, como ela mesma diz:

desde pequena que eu estudei. Depois de adulta já estudei, depois de até os quarenta eu já estudei, mas não desandei [no sentido de avançar] nada, assim, de leitura mesmo, pra chegar ler à vontade [...] como os outros lê não (Rebeca- Entrevista 1 – 09/10/2011).

Rebeca ingressou na escola, na adolescência, mas afirmou que não queria estudar e não aproveitou bem esse período, voltando a estudar de maneira sistemática quando adulta. No caso de Sara, as interrupções no período escolar ocorreram por dois motivos: a família se mudava frequentemente de engenho em engenho e ela começou a trabalhar cedo em casa de família, para contribuir no pagamento das despesas de casa, como relatou:

pois eu comecei a trabalhar muito cedo em casa, assim, de família [...], minha mãe não tinha condição, meu pai, eu tinha que trabalhar pra [...] arrumar o alimento da [...] gente mesmo de [...] dentro casa (Sara - Entrevista 1 – 14/06/2011).

Quando adulta, ela retomou os seus estudos de maneira mais sistemática, como ocorreu com Rebeca. Já Ana e Rute só estudariam quando adultas. A dificuldade de estudar na infância teve relação com a distância geográfica da escola pública e da falta de condições financeiras para pagar uma escola particular.

Não tinha onde a gente morava [...] não tinha escola. Escola era para quem podia pagar, né? Não tinha [...] condições de pagar escola pra mim (Ana - Entrevista 1 – 16/10/2011).

Rute afirmou que na infância não havia nenhuma instituição escolar perto de onde ela morava e fala da sua impossibilidade de estudar desde cedo:

se eu não sei ler é porque eu não tive condições de ler. Onde eu morava era muito distante da rua, não tinha [...] escola. [...] Eu morava no interior [...] aí lá não tinha [...] professora, não tinha escola, não tinha nada. Aí eu me cresci assim, sem saber de nada (Rute - Entrevista 1 – 08/11/2011).

102

Estava com o meu marido doente [...]. Aí teve uma piora, aí eu tive que parar pra cuidar dele, ter mais tempo, porque à noite era muito ruim para eu estudar e tomar conta dele. Eu saí e eu não voltei mais. Depois ele faleceu e eu não voltei mais (Rute - Entrevista 1 – 08/11/2011).

Eva e Raquel, porém, diferentemente das outras mulheres, foram impedidas de irem à escola quando criança pelas pessoas que as criaram. A experiência escolar para as duas só ocorreria quando adultas. Ao invés de estudar, Eva trabalhou durante a infância até ao início de sua fase adulta, fazendo serviços domésticos em casa da família que a criara, conforme mostraram os seus relatos:

sim havia por perto escola. Antigamente era aquela história MOBRAL. Aí, através disso, eles não quiseram que eu fosse, que eu fosse pra escola (Eva -Entrevista 1 – 12/05/2011).

quem nos criou, nos fez de escravo mesmo [...]. Eu acordava de 4h da manhã, para passar roupa direto [...] com ferro de calvão [...]. Aquilo ali se sujasse um pouquinho já era para apanhar [...]e voltava a fazer tudo de novo [...]. Foi sofrimento até o dia que Deus me tirou de lá. [...] Não tinha direito de brincar não (Eva -Entrevista 2 – 18/09/2011).

O motivo de Raquel não estudar desde cedo se diferenciava do de Eva e se relacionava a um “temor” particular de seu pai.

[...] Estudei não. [...] Quando eu era novinha meu pai não me deixou estudar. Minha mãe quis me botar na escola, mas meu pai não me deixou estudar, porque meu pai dizia que [...] só quem podia estudar era os meninos e [as meninas não, pois] as meninas ia fazer bilhetinho pra namorado [...]. Ai depois que eu cresci e me casei também não dediquei mais, botei isso na minha cabeça e só fui cuidar de menino e acabou. E agora que eu quero estudar (Raquel- Entrevista 1 – 16/10/2011).

Nessas condições, se tornou difícil o acesso e/ou permanência das mulheres à escola e as consequentes dificuldades de leitura e de escrita influenciaram a maneira como as mulheres

se viam. Elas terminaram por internalizar a construção histórica – ideológica, por sinal,

negativa e estereotipada, da identidade das pessoas designadas de analfabetas, na sociedade brasileira, em geral (já mencionada anteriormente, no capítulo 1, e que esteve especialmente circunscrita à falta de escolarização de jovens e adultos/JA na história ocidental, não só brasileira). Contudo, diferentemente dos seus pais, eles não queriam a repetição dessa história de resistência à escola na vida de seus filhos, pois entendiam que a escola podia, sim, ajudá- los na concretização de suas expectativas.

103 As mulheres partícipes da pesquisa tendiam, assim, a repetir esse mesmo estereótipo, se referindo ao analfabeto como uma pessoa cega, alguém que não sabe nada e, também,

ignorante. Eva, por exemplo, afirmou que a pessoa analfabeta era uma “pessoa cega”.

Às vezes, pastor, eu fico pensando assim: meu Deus se eu soubesse ler não pediria nada a ninguém, eu mesmo fazia minhas coisas, eu mesmo. Porque a gente que sabe ler é muito bom [...] Pra mim quem não sabe ler não tem visão, é como se a pessoa

não enxerga, porque não vê aquelas letras assim, digamos assim, não enxerga, então a pessoa é cega, não saber ler, não saber ler, meu Deus! (Eva – Entrevista 01 –

12/05/2011).

Para Eva, a pessoa “analfabeta” era alguém sem autonomia. A leitura, para ela, daria isso e, assim, não “pediria nada a ninguém” e poderia “fazer” as suas “coisas”. Essa pessoa, portanto, sem autonomia, por “não saber ler”, era chamada por ela de alguém que “não tem visão”, “que não enxerga” e “é cega”, pois não “vê” as “letras” (entendidas como palavras, por Eva). Era como se o “cego”, na verdade, dependesse dos outros para tudo. Rute entendia, além disso, que o analfabeto era alguém que “não sabe nada”.

[...] Que a gente não sabendo ler não sabe nada. É que nem cego, né? Não conhecer as paradas dos ônibus, onde desce, onde [...] fica, como qual o ônibus que vai apanhar na rua (Rute – Entrevista 01 – 08/11/2011).

Ainda segundo Eva, esse “não saber” do analfabeto, que ela designava de “cego”, era da leitura, mas para Rute esse não saber da pessoa também designada de “cego”, era mais abrangente, ou seja, ela “não sabe nada”, nem mesmo coisas do cotidiano como “conhecer paradas” de ônibus e de conhecer os próprios “ônibus”. Para esse analfabeto, Ana utilizava o estereótipo de “ignorante”, por não sabe ler, e, por conseguinte, ela não queria isso para si.

Se chama de ignorante as pessoas que não sabem ler. Por isso estou querendo dar a volta por cima, para não ser ignorante (Ana – Aula 11 – 29/11/2011).

Todas as mulheres concebiam, portanto, o analfabeto sob uma ótica negativa de “quem não sabe e não faz”; e consideravam que a leitura (elas não destacam a escrita) podia reverter essa situação.

Como vimos no capítulo 1, já no início do século XX, no Brasil, o analfabeto era visto sob um ponto de vista extremamente negativo. E as mulheres desta pesquisa demonstraram que esse ponto de vista continua presente entre nós.

104 Miguel Couto diz que o analfabeto, na verdade, “é um microcéfalo: a sua visão física estreitada, porque embora veja claro, a enorme massa de noções escritas lhe escapa” (apud PAIVA, 2003, p.109). E como dizem Galvão e Soares (2004), o analfabeto vem sendo concebido, e não é de agora, como um “ignorante, incapaz, cego, imbecil, dependente, portador de uma doença grave, que precisa ser extirpada [o negrito é nosso]” (p.50).

Pesquisas apontam a internalização dessa construção pelos JA (Freire, 1987; Pinto, 2010; Albuquerque e Ferreira, 2008). Tal internalização, no entanto, foi levada às últimas consequências por esses JA, a ponto de alcançar a totalidade de sua identidade, indo, portanto, além da simples designação de serem analfabetos no sentido de não saberem ler e escrever, mas, sim, de serem, dentre outras coisas, cognitivamente limitados, de não possuírem saberes, incapazes de exercerem sua cidadania e até mesmo serem culpados pelo atraso econômico de toda uma nação. Apesar dessa concepção internalizada pelas mulheres quanto à pessoa “analfabeta”, Eva acreditava ser possível uma pessoa superar essa situação.

Aí a pessoa tem que pedir força ao Senhor pra Ele ajudar. Com a ajuda de Deus eu vou aprender. Pra ler logo, a primeira letra que eu venho correndo ler é a Bíblia. Quando a primeira, quando eu aprender meu Deus, eu tenho fé no Senhor, o Senhor vai me ensinar (Eva – Entrevista 01 – 12/05/2011).

Eva, na verdade, tinha “fé”, que essa situação podia mudar. Por isso, ela “pede” a Deus “ajuda”, pois no final das contas é o “Senhor” quem a ensinará. Ainda assim, as mulheres não deixaram de expor como se sentiam não sabendo ler nem escrever: os sentimentos são de “tristeza” (Eva), por se achar uma pessoa “cega”, “inútil, que não serve para nada”; de que não saber ler é a “pior coisa” (Sara) e de se sentirem “mal” (Rebeca e Ana). Apesar da tristeza, Eva destacou (chorando) que mesmo não sabendo ler tinha um dom, o da oração, e que essa prática ela fazia melhor do que uma pessoa que sabia ler.

[...] Deus me deu um dom. Por exemplo, de orar eu sei um pouco, o senhor sabe que eu sei. Eu já sei graças a Deus. Deus já me deu esse dom. E eu oro. Às vezes eu oro, que eu chego fico pensando assim: meu Deus, brigado Senhor. Fico só aqui, às vezes, aqui sozinha orando aqui a Deus, eu e Deus. Eu oro que nem toda gente que sabe ler. Pela fé, pela minha fé em Jesus. Pela graça Dele. Ele é nossa graça. Ele está nos ouvindo aqui agora. Esse Pai maravilhoso (suspira) (Eva – Entrevista 1 – 12/05/2011).

Essa declaração é particularmente interessante, pois a oração era compreendida como algo intimamente associada à Palavra (registrada na Bíblia), ou seja, à leitura da Palavra forneceria o conteúdo para oração. No caso de Eva, como ela tinha dificuldade de ler,

105 procurava ouvir a Palavra e fazia isso com muita atenção, quando participava dos eventos na igreja.

Duas delas, porém, não expressavam sentimentos negativos por não saberem ler e escrever. Mesmo elas querendo aprender a ler, se sentiam felizes por outros motivos ou compreendiam que não tiveram oportunidade de ler, quando crianças: “tô lutando pra aprender a ler, eu sou feliz” (Raquel) e “eu me sinto bem como sou, sem saber ler [...], se eu não sei ler é porque eu não tive condição de ler” (Rute).

Finalmente, ao avaliarem a responsabilidade por essa situação de não saberem ler e

escrever, duas delas disseram que elas mesmas não eram as culpadas (Eva e Raquel); outra

culpou o pai, a mãe e a si mesma (Sara), Rebeca e Ana responsabilizaram a si mesmas e Rute não culpou “ninguém”. Nenhuma delas, porém, culpou a instituição escolar ou a professora.

As que não se culpavam (Eva e Raquel) responsabilizaram ou a família que a criou (Eva) ou o pai (Raquel). O relato de Eva é particularmente dramático, sobre isso:

o povo que me criaram, né. O povo que me criaram, que me criaram como escrava. Ali eu não era gente, não, era escrava. Apanhava, não comia direito. Era uma solidão minha vida, pastor, naquele tempo. Digo a todo mundo. Minha vida era uma solidão, viu (fica emocionada). Eu não tinha vida naquele tempo. Era uma prisão, como se fosse o povo de antigamente, do outro tempo, que era escravo, uns era escravo. Naquele tempo do escravo. Não era do povo de Deus, não. Era do tempo do escravo, não tinha o escravo? Aqueles povo? Judiavam, fazia deles. A minha vida era essa. E apanhava até de palmatória, doze bolos em cada mão, porque eu não fazia as coisas direito. Apanhava de macaca de coro cru. A minha vida foi essa. E um dia eu falei com Deus: Deus, eu fui criada pelos outros, mas eu tenho fé no Senhor que nunca eu vou abandonar meus filho. Até o fim eu crio eles. Criei meus filhos sozinha, eu e Deus. De pequenininho, quando eu fui separada [...] (Eva – Entrevista 1 – 12/05/2011).

Rebeca demonstrou certa decepção com o pai, embora o fizesse com muito respeito e cuidado.

Assim, eu agora não quero fazer isso com meu pai, não, Papai do céu levou ele, mas se meu pai tivesse dado oportunidade a mim, nera, irmão? Feito deu a meus irmãos [...] hoje eu sabia ler, feito meus irmãos sabe [...] (Rebeca – Entrevista 1 – 16/10/2011).

Sara é do grupo que culpava, além de si mesma, a família e assim se justificou:

porque a gente naquele tempo era muito menor [...], muito pequeno, assim, era criança e meu pai e minha mãe ficava se mudando, se mudando, se mudando, dum lado, mudando pra outro [...] eles moravam muito em engenho. Pronto, terminou não conseguindo ler nada, nem escrever, pronto (Sara – Entrevista 1 – 14/06/2011).

106 Enfim, duas delas se culpavam ao reconhecer que não aproveitaram a oportunidade que tiveram de estudar, seja na infância (Rebeca) ou quando mais adulta (Ana):

[...] A culpada foi eu mesmo, né? Que [...] se o pai, a mãe, seja lá que for da família botou a criança pra estudar, se é um menino que tá ali, que foi para estudar, é pra estudar, mas quando vai [...] pra escola, que não quer nada, vai para brincar [...], vai mexer com os outros, aí ele não tá querendo nada mesmo [...]. Tem pessoa que bota culpa na mãe, no pai, nos professor, não tem nada a ver não. [...] Eu não vou julgar ninguém não, é eu mesmo [...]. [...] Não consigo, por causa do cansaço, do dia-a-dia (Rebeca – Entrevista 1 – 09/10/2011).

[...] Depois que eu me entendi de gente, se eu tivesse pensado antes, se eu tivesse me interessado, eu hoje sabia alguma coisa, mas a culpada foi eu mesmo, porque quando me entendi de gente não me interessei. Não vou culpar ninguém, entendeu? Não vou culpar meu pai, nem minha mãe. Meu pai eu não conheci, minha mãe não me criou. Minha avó já foi um favor que ela me fez, de me criar e eu não me culpar isso dela [...] (Ana – Entrevista 1 – 25/10/2011).

A respeito dessa tendência a se culparem Garcia diz que

suas falas estão impregnadas por uma concepção autônoma de letramento [tratado no referencial teórico], ou seja, é natural para eles se sentirem inferiorizados, pois se o discurso do poder dominante, das classes privilegiadas afirma que analfabetismo é ‘mancha’ [...] ‘erva daninha’ etc. com que autoridade os alfabetizandos poderão questionar ou discordar desses pressupostos? (2006, p.74).

Como vimos até aqui, metade das mulheres se culpava por não ter aprendido a ler e a escrever.