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A QUESTÃO TRANSGÊNERO: UMA ANÁLISE DA INSERÇÃO SOCIAL E SEUS REBATIMENTOS

Maria de Fátima Ferreira Brasil1 Maria Erlaneide de Souza Pereira2;Marécia Ribeiro da Silva3

Raquel Alencar Lourenço4

Grupo Temático: Políticas Públicas, Direitos Humanos, Sustentabilidade.

Resumo

A presente pesquisa apresenta discussão acerca das dificuldades que indivíduos transexuais enfrentam no convívio social e o que tais dificuldades geram de malefício para a sociabilidade. Almeja-se, assim, propiciar conhecimento acerca da temática, bem como a compreensão sobre o conceito de gênero, de modo a se reconhecer a importância das dificuldades que tais indivíduos enfrentam socialmente. Trata-se de pesquisa exploratória, com abordagem qualitativa, utilizando-se de procedimento técnico bibliográfico. Conclui-se que os transexuais, são discriminados, circundando-se aos âmbitos familiar e educacional, atinge também o círculo profissional, posto que, não raro, tal grupo vê tolhido seu direito de exercer uma profissão.

Palavras-chaves: Gênero. Diversidade. Transexuais

Introdução

Louro (2014) conceitua gênero como uma categoria analítica e política, entendendo que o gênero se constitui sobre corpos sexuados, não negando a biologia, enfatizando, porém, a construção histórica e social produzida sobre essas características naturais.

As identidades de gênero podem ser diversas. Todas as pessoas possuem uma ou a mistura de diversos. Todavia, a identidade de gênero não é construída, muitas vezes, de forma autônoma, simples, já que determinada antes mesmo do nascimento (COLLING, 2018).

Portanto, para os autores anteriormente mencionados, gênero perpassa a realidade biológica do ser. Entretanto, a pessoa em seu contexto de construção social constrói e é construída no sentido de intensificar, de forma contrária ou não, essa realidade. Para Bourdier (2005), ao discutir as diversas formações de gênero, não se pode deixar de lado as expressões biológicas, já que toda a diferença constituinte se dá por meio do processo histórico-social.

1 Discente do curso de Serviço Social da Faculdade Vale do Salgado (FVS). E-mail: mbservicosocial8@gmail.com

2 Discente do curso de Serviço Social da Faculdade Vale do Salgado (FVS). E-mail: erlaneide.cedro16@gmail.com

3 Discente do curso de Serviço Social da Faculdade Vale do Salgado (FVS). E-mail: marecia20@outlook.com

4 Docente do curso de Serviço Social da Faculdade Vale do Salado (FVS). E-mail: raquelalencar@fvs.edu.br

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Diante disso, é sensato sublinhar que não se deve atrelar gênero à sexualidade, já que ao sexo referem-se as condições biofisiológicas que diferenciam o feminino do masculino, ao passo que o gênero se trata da real construção ligada aos aspectos culturais e psicossociais.

É imprescindível destacar que travestis e transexuais são pessoas que abarcam as fronteiras do gênero, causando insegurança na estruturação binária e polarizada, que critica a forma de vida hétero. Portanto, esse fator contribui para implicações voltadas à sociabilidade de tais indivíduos, o que ressalta a dificuldade da sociedade de compreender como naturais as características oriundas dessa específica do exemplo da diversidade humana (MACHADO, 2003).

Sendo assim, é fundamental que se discuta acerca do tema exposto, a fim de que, assim, se possa contribuir para o reconhecimento das dificuldades enfrentadas por esse nicho social. Tendo em vista que as diferenças existentes são hierarquizadas, desnaturalizadas – o que conduz a que as relações sociais se tornem conflituosas –, indispensável se mostra, também, a compreensão acerca da responsabilidade civil e do Estado no que tange à precoce inserção dos transgêneros na sociedade. (MACHADO DA SILVA, 2003)

Objetivos

Objetivo geral

 Analisar a questão transgênero e seus confrontos sociais a partir de uma revisão bibliográfica

Objetivos específicos

 Identificar as diversas formas de gênero;

 Averiguar as implicações para sociabilidade dos transgêneros;

 Discutir sobre as dificuldades enfrentadas pela população transgênero.

Metodologia

O presente estudo consubstancia-se em pesquisa exploratória, com abordagem qualitativa, utilizando-se de revisão bibliográfica. Conforme Gil (2016), a pesquisa exploratória tem como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais diretos ou hipóteses pesquisáveis para estudos

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posteriores. Para tanto, apresenta como principal objetivo proporcionar uma visão mais ampla, aproximativa, acerca de um determinado fato. Já a revisão bibliográfica, como afirma Gil (2016), parte de um material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos, permitindo ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que seria possível caso se desenvolvesse diretamente a pesquisa. O método utilizado foi o dialético, que fornece as bases para uma interpretação dinâmica e totalizante da realidade, já que estabelece que os fatos sociais não podem ser entendidos quando considerados isoladamente, abstraídos de suas influências políticas, econômicas, culturais etc. (GIL,2008).

A abordagem qualitativa, segundo Minayo (2014), consiste em pesquisa da história, das variadas representações e das relações sociais, levando assim a um desenvolvimento dos processos sociais ainda pouco conhecidos, organizando progressivamente os conhecimentos para se chegar a determinada compreensão. Vale destacar que tal abordagem reconhece a complexidade do objetivo de estudo das ciências sociais.

Resultados e discussão

Existem diversos tipos de gênero, tais como o cisgênero, transgênero, não binário. O cisgênero consiste no indivíduo que se identifica com o gênero biológico; transgênero é o indivíduo que se identifica com o gênero oposto ao biológico; não-binário é a mistura entre masculino e feminino ou até mesmo a total diferença entre eles. Os não-binários, portanto, compõem uma terceira classe que nem sempre está ligada ao feminino e o masculino (BUTLER, 2003).

Dessa forma, são perceptíveis as diferenças sociais, as quais, como é cediço, são naturais à vida em sociedade. De fato, sendo a espécie humana inerentemente social, não se concebe que sua existência se desenvolva alheia às influências contextuais – convenções e intervenções sociais diversas –, ou seja, de forma totalmente isenta aos dinamismos próprios de uma sociedade complexa (RUBIN, 1993).

Segundo Machado (2003), as diferenças estão ligadas mais a sua naturalização social do que à natureza inata do ser humano. Por conseguinte, tornam-se conflitantes, já que, ao mesmo tempo em que os indivíduos são membros de uma mesma espécie biológica, apresentam diferenças salutares entre si, as quais se transformam em forças hierarquizadas. Uma vez que tais hierarquias surgem, trazem com elas também os conflitos, porquanto os grupos que não se

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beneficiam socialmente passam a reivindicar os direitos que entendem lhes ser cabíveis. Nesse cenário, surgem regras para que a vida social se torne adequada, permitindo a negociação dos conflitos.

Todavia, assim como se dá com as demais categorias, por exemplo, LGBT (lésbicas, gays, bissexuais), os indivíduos transexuais veem-se diante de concepções que reproduzem a desigualdade quanto ao exercício de direitos básicos, inerentes à cidadania. Ademais, sobre tal nicho social recaem diversos fatores excludentes, como a violência, discriminação, constrangimentos os mais diversos, culminando com sua exclusão social (JESUS, 2014).

Desse modo, as implicações da sociabilidade transexuais costumam iniciar na família, quando na infância os pais trabalham para a vigilância e a punição a fim de que os filhos se adaptem ao comportamento ideal para seu sexo biológico. Ao perceber a fragilidade que a escola tem para lidar com esse tipo de diferença, Bento (2011) usa a expressão “heteroterossimo” para designar as consequências geradas ante o heteronormativo. Nessa esteira, Junqueira (2009) destaca que:

Nas escolas, não raro, enfrentam obstáculos, para se matricularem, participarem das atividades pedagógicas, terem suas identidades minimamente respeitadas, fazerem uso das estruturas da escola (os banheiros, por exemplo) e conseguirem preservar sua integridade física.

Assim, cresce o índice de abandono escolar no seio da população transgênero, que busca, com a evasão, evitar os sofrimentos experimentados no ambiente educacional. E é justamente a baixa escolaridade, aliada ao preconceito e à discriminação, que dificulta a inserção dessa população no mercado de trabalho, conduzindo-os, por vezes, a situação de vida degradante. (BERNARDO, 2009)

De acordo com Nascimento (2003), as possibilidades de inserção dos transgêneros no mercado de trabalho são mínimas. Para as mulheres transgêneros, segundo entende o autor, as visto que “é difícil para mulher entrar no mercado de trabalho e ter as mesmas condições trabalhistas e salariais do homem, o desafio aumenta para a travesti”.

Segundo Mello e col. (2010), a dificuldade para a sociabilidade dos transgêneros é oriunda, principalmente, da falta de aparato legal que os acolha, visto que, mesmo o já existente é considerado, pelos autores, frágil e estruturalmente insuficiente, o que leva por vezes ao questionamento acerca de sua efetividade.

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60 Conclusões

No presente estudo conseguiu-se analisar as questões de gênero na sociedade contemporânea, não apenas sob viés biológico, mas principalmente quanto às suas implicações e dificuldades no meio social, apresentando-se, outrossim, a diversidade de gêneros presente na conjuntura social atual.

A despeito dos avanços obtidos pela população transgênero no âmbito das relações sociais e no exercício de seus direitos sociais e políticos, são evidentes, ainda, o preconceito e a discriminação experienciados por esse nicho social, notadamente no convívio familiar, educacional e profissional. Conforme exposto, essas três frentes excluem e dificultam a sociabilização dos transgêneros, o que gera consequências nefastas sobre sua autonomia e liberdade enquanto sujeito de direitos, além de gerar distorções quanto à alocação econômica do indivíduo na sociedade.

A escassez de instrumentos normativos que amparem e assegurem os direitos civis, políticos e sociais desse grupo é um aspecto que obstaculiza o acesso e o reconhecimento dos transgêneros frente a sociedade, de forma que é essencial que se consolide a normatização existente, bem como se desenvolvam inovações legais que visem à inserção da população transgêneros nas diversas esferas sociais.

REFERÊNCIAS

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Diferença. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, agosto, 2011.

BERNARDO, Marcia. Hespanhol. Discurso flexível, trabalho duro: o contraste entre a

vivência de trabalhadores e o discurso de gestão empresarial. São Paulo: Expressão

Popular, 2009.

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BUTLER. J. Problemas de gênero. Feminismo e Subversão da Identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

COLLING, Leandro. Gênero e sexualidade na atualidade. UFBA, Instituto de

Humanidades, Artes e Ciências; Superintendência de Educação a Distância. Salvador, 2018. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. Ed. São Paulo. Atlas, 2016.

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JUNQUEIRA, Rogério Diniz (org). Diversidade sexual na educação: problematizações sobre a homofobia na escola. Brasília: Ministério da Educação, Secretária de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, UNESCO, 2009.

LOURO, Guacira Lopes. (org.). O corpo educado: Pedagogias da Sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010.

MINAYO, Maria Cecilia De Sousa (org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Ed.18. Petrópolis. Vozes, 2001.

NASCIMENTO, Ewerton S; LARA, Sheila V. Alternativas de mercado de trabalho para

as travestis de Aracaju. Aracaju: Ministério da Justiça, 2003.

RUBIN, Gayle. O tráfico de mulheres: notas sobre a “economia política do sexo”. Recife: SOS corpo, 1993.

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O PAPEL DA MONITORIA PARA O EXERCÍCIO DA

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