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5 ANÁLISE DOS RESULTADOS

5.1 RESULTADOS ENCONTRADOS NOS ÓRGÃOS PÚBLICOS PESQUISADOS

5.1.1 Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)

5.1.1.3 Questões relevantes encontradas na ANS relacionadas com as condições necessárias

Com relação às demandas que chegam ao órgão, o entrevistado ANS-02 destacou que “[...] os conflitos envolvendo as negativas de cobertura correspondem a mais ou menos 50% do conjunto das denúncias, de infrações que existem na saúde suplementar.”. Nesse sentido, o entrevistado ANS-01 ressaltou a necessidade de uma ação mais pró-ativa por parte da ANS nas atividades de fiscalização, pois “[...] enquanto nós não tivermos, não criarmos condições efetivas de uma fiscalização efetivamente pró-ativa, [...] vamos continuar com este quadro por longuíssimos anos. [...] você estar chegando depois já do dano efetivamente causado [...]”. O entrevistado ANS-02 destacou também que o fluxo do processo regulatório é “[...] muito incipiente, é muito fraco. É claro que se iniciou, e é um processo, é um processo que leva tempo, indeterminado.”.

Já com relação à atuação em rede/parceria as repostas indicam que, em nível institucional, a ANS vem buscando essa forma de atuação. Conforme o entrevistado ANS-01 “[...] ela se legitimou mais perante a sociedade quando ela foi mais em busca da sociedade, dos PROCONS, das Centrais, do Ministério Público, da Defensoria Pública, do próprio poder

Judiciário.”. Porém, no Estado do RS, normalmente não ocorre a atuação em parceria no desenvolvimento de suas atividades. Ou seja, “Em regra geral não. Nós atuamos por parceria basicamente hoje em dia por ofícios. [...] por exemplo, se for um crime, aí a gente remete para o Ministério Público ou uma infração estritamente consumerista que daí nós mandamos para o PROCON.” (ANS-03).

Portanto, em termos gerais, as respostas indicam que a ANS tem buscado atuar em parceria, porém com algumas dificuldades. O entrevistado ANS-01 sintetizou bem esta situação: “Então nós temos, assim, nós temos construído, talvez não de forma tão organizada, por conta da dinâmica, mas nós temos construído.”. Os órgãos públicos citados para uma eventual atuação em parceria foram o Ministério Público, a Defensoria Pública, os PROCON’s e o Poder Judiciário.

A redução da assimetria de informações e uma maior eficiência e efetividade dos órgãos foram os principais ganhos relatados pelos entrevistados para a atuação em rede, seguidos pela mudança no comportamento das empresas, conforme os relatos a seguir apresentados: “[...] a atuação em parceria é a informação. Ela circula mais pela sociedade. Ela atinge um maior número de pessoas. A informação é mais divulgada e diminui-se a assimetria de informação.” (ANS-03); “[...] ganhar maior eficiência e efetividade no papel que cabe a cada uma delas exercer. [...] Porque elas acabam se apropriando de conhecimentos recíprocos. [...] para atender as demandas de uma forma rápida, célere.” (ANS-02); “(...) esse trabalho em rede, esse olhar em rede, possa criar uma condição que as empresas parem e olhem bem: eu agora não posso me afastar das minhas responsabilidades.” (ANS-01).

As respostas também indicam que existem outras questões relevantes que podem trazer reflexos para a formação da rede. A primeira delas está relacionada com a questão dos órgãos em aceitar uma atuação em rede, pelo fato de existirem diferenças em suas atribuições/competências. Para o entrevistado ANS-01,

parceria não é subserviência. Eu jamais vou querer vincular o Ministério Público ao meu entendimento e jamais me vincularei ao entendimento do Ministério Público. Eu acho as Instituições em alguns momentos pensaremos diferente. E divergir não é crime, e divergir muitas vezes é necessário. Então o Ministério Público é Ministério Público, ele não é regulador. (ANS-01)

Nesta mesma linha, o entrevistado ANS-03, quando questionado sobre o fluxo do processo regulatório, também relatou que “[...] é uma briga entre atribuições. O Ministério Público acredita que certas atribuições não são da Defensoria Pública, ação coletiva, por

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exemplo, ação civil pública. E há uma briga judicial para ver quem seria o dono da ação coletiva [...]” (ANS-03).

Nesse sentido, o entrevistado ANS-02 destacou que a cultura dos gestores públicos dificulta uma atuação conjunta dos órgãos, pois “As pessoas têm uma visão extremamente deficiente, [...], do papel de um servidor público, [...], da coletividade que devem ser buscados. De compreender e entender o papel dos outros órgãos nesse contexto complexo, plural.” (ANS-02).

A segunda questão relevante indicada pelas respostas está ligada à dificuldade que a ANS tem em trocar informações com outras instituições, principalmente por questões culturais do órgão e por uma falta de unidade institucional. Segundo o entrevistado ANS-01, “[...] a Agência ainda enfrenta muito internamente a cultura do segredo. Eu acho que a Agência ainda demora demais a criar condições de ter conectividade de seus sistemas. [...] Muitas vezes nós temos a cultura de achar que a informação é nossa e de mais ninguém” (ANS-01).

O entrevistado ANS-02 também relatou a dificuldade que a ANS encontra para compartilhar informações com outros órgãos, ressaltando que no processo regulatório “a informação é básica, a informação é fundamental.”. Mas “a gente ainda tem uma dificuldade muito grande de compartilhar informações. A própria ANS tem essa dificuldade, de passar informações. [...] Não há ainda uma abertura dos nossos bancos de dados para esse tipo de cooperação, não há uma abertura que se deseja ideal.” (ANS-02).

Por fim, a última questão relevante está relacionada com questões estruturais da instituição, de âmbito interno, tais como, déficit de servidores e falta de unidade institucional. Conforme relatos do entrevistado ANS-02: “um problema sério na ANS é a falta de integração, unidade institucional. Isso mais acho no âmbito interno, no âmbito interno. Há ainda um grande déficit de integração entre as áreas.”. Estes fatores podem gerar barreiras para a formação da rede, uma vez que afetam o desenvolvimento das atividades de fiscalização do órgão nos Estados, ou seja, “[...] os núcleos é o que mais sentem a deficiência crônica de pessoal. [...] é um fator, se não for o maior, é um dos maiores fatores impeditivos do avanço e consolidação da ANS enquanto entidade reguladora do setor.” (ANS-02).

O Quadro 16, a seguir, apresenta uma síntese dos resultados encontrados na ANS.

Itens Síntese dos resultados encontrados na ANS

Características

Atribuições: Regular o setor de saúde suplementar, elaborando normativos, monitorando e acompanhando o mercado frente ao marco regulatório.

Principais demandas: Negativas de cobertura assistenciais e reajustes de mensalidades.

Itens Síntese dos resultados encontrados na ANS Condições

necessárias para criação da rede

 “Receptividade” foi a categoria mais mencionada nas respostas espontâneas;  “Instrumentos de coordenação”, “Estímulo” e “Interação Constante e Duradoura” também foram mencionadas espontaneamente.

Questões relevantes

Percepções sobre a atuação da ANS: existência de déficit de fiscalização pró-ativa, fluxo do processo regulatório é incipiente.

Atuação em parceria no setor: tem construído, mas não de forma organizada. No Estado do RS, normalmente, não atua em parceria no desenvolvimento de suas atividades. Órgãos públicos citados: Ministério Público, Defensoria Pública, PROCON e o poder Judiciário.

Ganhos com uma atuação em rede: redução da assimetria de informações, mudança no comportamento das empresas, maior eficiência do órgão e efetividade da regulação;

Barreiras para formação da rede: 1) aceitação por parte dos demais órgãos em atuar em rede; 2) dificuldades da ANS em realizar trocas de informações; e 3) déficit de servidores e falta de unidade institucional.

Quadro 16 - Resumo dos resultados encontrados na ANS. Fonte: Elaborado pelo autor

Com relação às questões relevantes, destaca-se que as percepções sobre a atuação da ANS descritas pelos entrevistados vão ao encontro dos indicadores de desempenho de seu Núcleo no Estado do RS (apresentados na contextualização do setor no capítulo 2 deste estudo). Ou seja, a falta de uma fiscalização pró-ativa e a incipiência do fluxo do processo regulatório destacados pelos entrevistados refletem num aumento no quantitativo de demandas, uma vez que a fiscalização só consegue atuar após o dano já ter sido efetivamente causado ao consumidor.

Já as barreiras para a formação da rede (aceitação por parte dos demais órgãos em atuar em rede e dificuldades da ANS em realizar trocas de informações) são destacadas por Peci e Lustosa da Costa (2002) como dificuldades para a implementação de redes para a execução de políticas.