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5 ANÁLISE DOS RESULTADOS

5.1 RESULTADOS ENCONTRADOS NOS ÓRGÃOS PÚBLICOS PESQUISADOS

5.1.5 Poder Judiciário

5.1.5.3 Questões relevantes encontradas no Poder Judiciário relacionadas com as condições

As respostas mostram que as demandas que mais ocorrem, relacionadas à saúde suplementar, são as negativas de cobertura assistenciais e os reajustes de mensalidades. Segundo o entrevistado JUD-02, no Tribunal de Justiça do RS circulam, por mês, cerca de “[...] 600, 800 processos relacionados à saúde suplementar. [...] E depois o processo anda, termina o primeiro grau, dá a sentença, tem o recurso. Então é bastante, é um volume muito grande [...]”.

Nestas demandas, os juízes e desembargadores atuam por meio do processo judicial, decidindo com base nos documentos presentes, e, normalmente, não buscam apoio de outros

órgãos para desenvolver suas atividades, conforme relato do entrevistado JUD-02: “[...] é uma atividade isolada, exclusivamente fruto do estudo individual que se faz, [...] se o juiz concede alguma coisa e a parte contra quem foi concedida recorre, nós vamos examinar se mantemos ou não. [...] Então nosso exame aqui é eminentemente documental.” (JUD-02).

O entrevistado JUD-01 destacou que também tenta resolver estes conflitos por meio da conciliação, principalmente nas ações coletivas, porque estas abrangem todos consumidores que tenham contrato com a empresa. Assim, “a gente tenta também solucionar através de conversas. [...] uma ação coletiva ela abrange todos que porventura tem contrato com aquela operadora [...]. Então, em razão disso, a gente tem tentado solucionar problemas.” (JUD-01).

Desse modo, na percepção da maioria dos entrevistados existe uma deficiência na atuação da ANS na regulação do setor, conforme relatos a seguir apresentados: “[...] a ANS, ela não tem que se manter como uma magistrada, [...] entre consumidores e entidades privadas que exploram essa saúde suplementar [...] ela tem que defender os interesses do consumidor, sempre.” (JUD-01); “[...] a ANS, o que a gente vê muito, eu falo isso de forma generalizada, é na regulamentação da legislação se procura dar uma extensão maior do que a própria lei deu e isso é que causa uma série de demandas no judiciário.” (JUD-02).

Nesse sentido, destacam que acaba ocorrendo uma judicialização do sistema de saúde, ou seja,

[...] eu acho que o Ministério Público, a Defensoria também, tem as suas atividades, tem as suas funções, e fazem bem feito. O PROCON também faz a sua atividade, mas limitado. Eu acho que a ANS que deveria sim, ela deveria melhorar, e muito! [...] Quer dizer, então o que acontece? Esses órgãos administrativos, uns com a competência limitada e outros que não cumprem o que tem que fazer, a história é o que tá aqui. O Poder Judiciário tem que interferir nessas relações. [...] No momento que tu tem as entidades criadas para fiscalizar ineficientes, o que vai gerar isso? Ações judiciais. Aí se busca no poder judiciário aquilo que a Agência Reguladora não faz. [...] o Estado é o maior descumpridor das regras. E aí é caminhões de audiências de ações contra o Estado, que descumpre seus deveres. E aí esse mesmo Estado não dá condições ao poder Judiciário de se estruturar. Então, sabe, é um circulo vicioso. (JUD-01)

Uma questão relevante também destacada pelos entrevistados está relacionada com a falta de informação existente no processo regulatório, qual seja:

A ANS talvez tenha as informações, mas o site na Internet teria que ser mais amigável. [...] Senão a gente até acha que a informação não existe. [...] E aumentar as informações. Sim, porque a rede toda na verdade, tudo culmina, todo objetivo finalístico, é a parte técnica. A rede ela visa criar cultura e compartilhar cultura, cultura técnica, da área medica. É nivelar, é nivelar o conhecimento, [...]. Produzir e compartilhar conhecimento para nivelar as pessoas. (JUD-03)

Com relação a uma provável atuação em parceria, todos entrevistados confirmaram a possibilidade. Para o entrevistado JUD-02 o Judiciário em alguns momentos se preocupa em

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não estar muito integrado, para não se comprometer com o objeto da discussão. Mas acredita que ele pode participar como um dos atores na busca de melhorias para o setor de saúde suplementar, pois “[...] mesmo tendo que depois ele vir a ter que dizer se a atuação dos demais integrantes esteja adequada ou não, não compromete essa busca de integração para uma solução, para atingir um objetivo comum.”. O entrevistado JUD-03 também destacou que

Sim, eu até de uma certa maneira mencionei que vislumbro. Eu até falei que os juízes gaúchos mereciam ter uma consultoria. Eu acho que para as questões que exigem tomada de decisões, os juízes tinham que ter uma consultoria técnica. [...] A própria ANS poderia, não sei se tem um corpo técnico, um corpo técnico que poderia também produzir pareceres técnicos sobre determinados tratamentos e medicamentos, e disponibilizar isso num site, que os juízes consultassem. (JUD-03)

Porém, os entrevistados destacam que existem algumas barreiras para que uma atuação em parceria possa ocorrer, tais como, falta de iniciativa do poder Judiciário e de interação entre os órgãos. Assim, este tipo de atuação não ocorre “porque não houve, não houve ainda de parte da administração do Poder Judiciário o estabelecimento de um convênio. [...] Houve uma falta de iniciativa. [...]” (JUD-03). Para o entrevistado JUD-02,

Então eu acho que esse tipo de diálogo, esse tipo de conversa, esse tipo de interação, na minha avaliação, falta e muito. Entre todos os órgãos: PROCON, Ministério Público, a ANS, Defensoria Pública, Poder Judiciário. Nós estamos juntos, só que nós estamos todos no mesmo barco, cada um remando no seu tempo, para o seu lado, e ora o barco vai para a direita, ora vai para a esquerda, ora entra água, ora joga água pra fora, quando poderíamos todos estar remando pro mesmo lado. (JUD-02)

Por fim, com relação aos ganhos obtidos por uma possível atuação em rede, destacam- se:

 Maior efetividade da regulação: “[...] ele só vai vir até o judiciário quando for muito necessário e muito violador do seu direito, e muito visível que o seu direito foi violado. [...] Então nós reduziríamos a desobediência e reduziríamos o ingresso de ações.” (JUD-02);

 Maior eficiência dos órgãos: “Bom, os ganhos, na verdade, eles não seriam para o Judiciário. [...] ela daria um suporte para acertar mais e errar menos, as decisões seriam mais justas e adequadas. E eu acredito que isso produziria uma economia, [...] mas uma economia para o sistema de saúde.” (JUD-03); “No momento que tu tem essa interação, obviamente que a solução dos conflitos é muito mais, muito mais fácil de enfrentar e de solucionar.” (JUD- 01).

Itens Síntese dos resultados encontrados no Poder Judiciário

Características

Atribuições: Julgar ações, dando direito para satisfazer eventual lesão sofrida. Principais demandas: Serviços de relevância pública, serviços financeiros e planos de saúde.

Atividades: Instrução e julgamento de ações ou resolução dos conflitos por meio de conciliação.

Atua em parceria: Não. Apenas recebe auxílio do Ministério Público em algumas situações.

Condições necessárias para

criação da rede

 Desconhecimento com relação às categorias propostas. Quatro não foram aceitas: Confiança, Suporte Político, Instrumentos de Coordenação e Interação Constante e Duradoura;

 “Receptividade” foi mencionada de forma espontânea por todos entrevistados;  “Instrumentos de coordenação” obteve uma citação de forma espontânea.

Questões relevantes

 Atuação nas demandas da saúde suplementar: as principais são negativas de cobertura assistenciais e reajustes de mensalidades. Atuam por meio do processo judicial e não buscam apoio de outros órgãos;

 Há uma judicialização no setor: por limitação e ineficiência dos órgãos do Estado, sendo que as decisões judiciais afetam todo o setor;

 Percepções sobre a atuação da ANS: atuação deficiente: tem que defender os interesses do consumidor, falta fiscalização e apresenta problemas na

regulamentação da lei;

 Processo Regulatório: faltam informações para a tomada de decisões;

 Atuação em parceria no setor: Sim, é possível. Algumas barreiras citadas: falta de iniciativa do poder Judiciário e de interação entre os órgãos.

 Ganhos com uma atuação em rede: maior efetividade da regulação e eficiência dos órgãos.

Quadro 20 - Resumo dos resultados encontrados no Poder Judiciário Fonte: Elaborado pelo autor

Com relação às questões relevantes, destaca-se que as percepções negativas do Judiciário sobre a atuação da ANS podem criar dificuldades para a formação de confiança interorganizacional, conforme destaca Balestro (2002). Ainda, a geração de um ambiente de cooperação para a formação da rede (CASAROTTO FILHO; PIRES, 2001) pode ser prejudicada pela forma de atuação do Judiciário nas demandas da saúde suplementar. Nesse sentido, a falta de interação dos órgãos também é apontada por Fleury e Ouverney (2007) como um dos desafios administrativos para a criação das redes de políticas. Por fim, o aumento da eficiência dos órgãos também é relatado por Oliver (1990) como uma das contingências para a formação das redes.

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