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4. Realização da Prática Profissional

4.1 Área 1 – Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem

4.1.3. Realização

Após toda a fase de planeamento segue-se a realização onde colocamos em prática tudo que estabelecemos anteriormente. Esta passagem da teoria para a prática não é um processo assim tão linear pois todas as aulas estão suscetíveis à ocorrência de imprevistos. O processo ensino aprendizagem é algo de muito complexo e, por isso, exige uma competência a altura por parte do professor, sendo este capaz de prever e se adaptar convenientemente a estas situações.

A minha experiência neste campo de atuação era completamente nula. Confesso que no primeiro dia de aulas (apresentação) estava bastante nervoso e, alguns dias antes, já me preocupava com o que iria dizer aos alunos. Era minha intenção tentar deixar criar já uma boa impressão junto deles. Felizmente correu tudo muito bem e fiquei bastante contente por isso. No final,

25 senti-me mais livre, mais animado e confiante por ter superado o tão esperado primeiro contacto com os alunos.

De um modo geral, ao longo do ano letivo, fui progredindo como professor ao nível da prática de ensino. A assídua reflexão que efetuava sobre todas as aulas, junto dos meus colegas de estágio e do professor cooperante, foram decisivas para a minha evolução. Recordo-me que no final de cada aula, perguntava sempre aos meus colegas aspetos negativos da minha atuação de maneira a poder melhorar esses pontos. A minha capacidade para saber ouvir, empenho e ambição em ser cada vez melhor, também contribuíram de forma categórica para esta melhoria.

Segundo Rosado e Mesquita (2009), a capacidade de comunicar constitui um dos fatores determinantes da eficácia pedagógica no contexto do ensino de educação física e desporto. Neste seguimento, faço referência à minha principal dificuldade ao nível da prática de ensino – a colocação da voz. Segundo os mesmos autores, deve ser dada especial atenção à paralinguagem (volume de voz, ressonância, articulação, entoação) e, de uma maneira geral, aos aspetos não verbais da comunicação (contacto visual, entusiasmo, expressões faciais) bem como à congruência entre mensagens verbais e não- verbais. Esta minha lacuna, que deriva, essencialmente, da minha maneira de ser, foi rapidamente identificada pelo professor cooperante e supervisor, apesar de eu já estar consciente dela. A pouco e pouco fui adotando estratégias que me permitissem melhorar este aspeto. Uma delas foi falar para todos os alunos como se tivesse apenas a falar para o aluno que se encontrasse mais distante de mim. Assim, o volume da minha voz aumentava consideravelmente. Outra foi através dos feedback´s que os meus colegas me transmitiam. No final de cada aula, perguntava-lhes sempre se me conseguiam ouvir e se o que dizia era percetível. Esta lacuna foi superada progressivamente ao longo do 1º período. Depois disto, eu próprio senti diferença na minha forma de comunicar. As seguintes passagens demonstram bem a minha evolução quanto a este aspeto: “Embora não tenha dado muito por isso, o Professor Cooperante reparou que a minha voz, ao longo da aula, já foi mais enérgica. Espero

26 continuar a melhorar este aspecto para que evolua e melhore sempre” (Reflexão da aula nº 16). “A aula correu muito bem sem nenhuma situação desagradável a analisar. Esta foi supervisionada pelo professor José Virgílio. Este elogiou a aula, o meu à vontade e a minha capacidade de comunicação com os alunos (problema este que tinha no início do ano)” (Reflexão da aula nº 57).

Melhorando a minha capacidade de comunicação, posso afirmar que a minha instrução também melhorou. Sempre me preocupei em planear a informação que iria transmitir aos alunos assim como em que momentos o iria fazer. Fiz sempre os possíveis para ser o mais sucinto pois os alunos não conseguem manter níveis de concentração elevados se me alongar em demasia e, também, porque estes não captam o fundamental se transmitir muita informação de uma só vez. Esta opinião é também partilhada por Siedentop (1991), quando refere que esta instrução deve ser breve, focada sobre aspetos essenciais, adotando o professor formas de comunicação que garantam a manutenção da atenção e a compreensão da matéria transmitida. Uma dificuldade que tive a este nível foi quando tive de instruir na primeira aula de Futsal que organizei por níveis de habilidade. O que aconteceu foi o seguinte: a seguir ao exercício de ativação geral, tive de organizar e instruir os alunos para duas situações completamente distintas. Então, o que sucedeu foi que enquanto instruía uns, os outros ficaram parados. Tudo bem que a instrução foi feita rapidamente e não houve qualquer problema, até porque se trata de uma turma disciplinada. Mas, caso não fosse, poder-se-ia ter originado algum descontrolo por parte dos alunos. Rapidamente me apercebi disto (relembro que esta modalidade foi lecionada logo no início do ano letivo) e encontrei estratégias para as superar. A partir deste momento, recorri a exercícios semelhantes para os dois níveis que me permitissem instruir de uma única só vez. Assim as alterações que efetuava eram basicamente através da manipulação de variáveis. Outra estratégia que também utilizei foi em atribuir funções de organização a um nível enquanto instruía o outro, como por exemplo, responsabilizar dois alunos pela organização das equipas e atribuição de coletes (equipas pré definidas num papel). “Ao longo desta aula, senti a

27 dificuldade que é organizar uma turma em dois níveis distintos de aprendizagem. Adotei uma estratégia que consistiu em dar instrução a um nível enquanto o outro ia organizando as equipas autonomamente. Uma vez acabada a instrução, estes alunos iam exercitando e aí já podia organizar o outro grupo que já estava com as equipas feitas” (Reflexão da aula nº 8). Estas medidas posso dizer que resultaram perfeitamente, pois permitiram-me controlar sempre os alunos e não dar azos a possíveis desequilíbrios. Ainda dentro da instrução, utilizei várias vezes a demonstração para que os alunos percebessem melhor o que era pretendido na tarefa. Por vezes era eu que a executava, outras vezes pedia a um aluno. Numa fase inicial, apesar de já ter esta iniciativa, fui incentivado pelo professor orientador a recorrer mais vezes a esta estratégia. Segundo Kwak (2005), os praticantes que usufruem de explicações verbais e demonstrações completas, acompanhadas de palavras- chave, são mais eficazes na execução de uma habilidade. Neste sentido, destaco que as palavras-chave, o feedback pedagógico e o reforço positivo foram outras estratégias que, no fundo, caracterizaram a minha atuação como professor. Considero que estas devam ser adequadas às características dos alunos a quem nos dirigimos. Se se tratarem de alunos com baixos níveis de confiança e auto estima, entendo que a transmissão de reforços positivos são fundamentais para os incentivar e motivar. Por outro lado, se forem alunos que gostem de desafios e que gostem de ser colocados à prova, por vezes, o uso de um reforço negativo pode ser importante para os provocar e esperar que estes se superem.

Um aspeto que evoluí muito foi ao nível da gestão do tempo de aula. Numa fase inicial, preocupava-me sempre em controlar o tempo de todas as situações que tinha preparado, de maneira a não o ultrapassar. Por vezes, principalmente quando lecionava ao primeiro tempo da manhã, a aula iniciava mais tarde cerca de 5 minutos. Então pensava, de imediato, em que momento da aula iria recuperar esse tempo perdido. Felizmente, sempre consegui executar com êxito esta gestão e, à medida que o ano ia decorrendo, já a realizava de um modo natural e sem tanta preocupação. Apenas por duas vezes tive que abdicar de um exercício, tendo-o realizado na aula seguinte. “A

28 aula começou com um atraso de 15 minutos devido ao atraso do responsável do pavilhão. Isto refletiu-se na aula obviamente e, como consequência, tive de abdicar do meu segundo exercício (meiinhos) para que não tivesse de retirar tempo em exercícios de maior importância” (Reflexão da aula nº 10).

Não raras vezes, recorri ao questionamento como método de ensino. De acordo com Harvey e Goudvis (2000), o questionamento é a chave para a compreensão. Na modalidade de Basquetebol, esta foi uma estratégia que recorri várias vezes, também devido ao modelo de ensino que adotei. Desta forma “obrigava” os alunos a refletir sobre as suas ações e decisões, desenvolvendo assim a sua compreensão sobre o que estavam a executar.

Relativamente à modalidade de Natação, lecionado logo no 1º período, posso dizer que senti algumas dificuldades. No que respeita à organização da turma, tinha 22 alunos para distribuir em apenas duas pistas. Isto causou, inevitavelmente, vários tempos de espera pois os alunos tinham de esperar que os colegas iniciassem a tarefa e, só quando estes se encontrassem a meio da piscina é que poderiam sair. No que se refere à transmissão de informação, tive alguma dificuldade numa fase inicial devido ao barulho que se fazia notar naquele espaço. Então, para os instruir ou fornecer algum feedback, tive de agrupá-los junto à margem e assim falar com uma maior proximidade. No entanto, nem tudo foi mau pois trabalhar nas piscinas ajudou-me a ultrapassar o problema da colocação da voz. “Nas próximas aulas irei tentar separar os alunos pelas pistas de acordo com as suas capacidades para, deste modo, haver uma maior fluidez na realização dos exercícios. Uma dificuldade que penso que me irá surgir é ao nível da comunicação pois em certos momentos, senti alguma dificuldade em transmitir-lhes informação devido ao contexto em que se insere a aula” (Reflexão da aula nº 11).

Um aspeto positivo da minha intervenção foi relativo à organização das aulas do Fitnessgram. Como podia contar com a ajuda dos meus colegas de estágio, decidi criar várias estações, de forma a minimizar os tempos mortos e a dinamizar a aula. No final do ano, quando tornei a realizar estes testes, como tinha à disposição muitos mais colchões, decidi deixar as extensões de braços

29 e os abdominais para o final. Assim metade da turma poderia estar a executar e metade a contabilizar o número de repetições, sempre com a minha supervisão. Considero que foi uma adaptação pertinente e que me permitiu ganhar algum tempo.

A ocorrência de imprevistos, por vezes, pode ser desagradável mas, também, pode ser agradável. Aconteceu-me numa aula de Futsal, em que planeei a aula para meio campo pois a outra metade era destinada a outro professor. No entanto, por algum motivo, o professor não deu aula nesse dia e eu tive disponível todo o pavilhão. Decidi então, na situação de jogo, aumentar os campos e criar um terceiro campo para que nenhum aluno ficasse a realizar trabalho de condição física enquanto aguardavam. “Esta aula foi planeada para meio campo do pavilhão, no entanto como a outra turma foi para o espaço exterior fiquei com o pavilhão livre. Decidi manter parte da estrutura da aula como tinha planeado e adaptar a parte da situação de jogo com três campos em vez de dois, de maneira que não ficasse nenhuma equipa em espera” (Reflexão da aula nº 8). Por outro lado, devido a um erro de roulement, fiquei uma vez sem espaço de aula no Pavilhão. Mas como a modalidade que iria lecionar era Dança e havia um pequeno espaço livre dentro do pavilhão, este serviu perfeitamente para eu dar a aula.

Relativamente à modalidade de Ginástica Acrobática, os alunos no início não se encontravam muito entusiasmados, no entanto ao longo da Unidade Didática pude perceber que estes estavam cada vez mais motivados e à espera de novos desafios. De facto, a construção de figuras de acrobática foi algo que os alunos aderiram muito bem e só lamento o facto de não ter tido mais aulas desta modalidade pois estes iriam ser capazes de construir algo de grande valor. “Vou ter a preocupação de selecionar figuras desafiantes para que os alunos se entusiasmem e estejam motivados nas aulas” (Reflexão da aula nº 51). “O balanço que faço desta modalidade é bastante positivo e estou bastante satisfeito pois senti que os alunos se entusiasmaram e gostaram de praticar esta modalidade” (Reflexão da aula nº 60).

30 No 2º período, como já referi anteriormente, foram realizados dois torneios intra-turma. Estas foram aulas com uma organização completamente diferente daquilo que era habitual. Decidi anexar cartazes com o calendário dos jogos dentro do Pavilhão e colocar um cd de música de maneira a criar outro ambiente. A ideia era aproximar ao máximo estes torneios de um torneio real. A entrega dos prémios foi realizada num pódio improvisado com steps e ao ritmo da música “We are the Champions”. Foram momentos bonitos de se ver e que os alunos adoraram.

Relativamente aos conceitos psicossociais, tentei promovê-los sempre em todas as aulas, através de situações em que os alunos trabalhassem em grupo e, também, com algumas conversas. Por vezes, e de modo a desenvolver esta mesma componente, na realização de alongamentos e exercícios de condição física, agrupava os alunos dois a dois para executarem a tarefa.

Dois aspetos muito importantes que sempre me preocupei em cumprir à risca, ao longo de todo o ano, é relativo à assiduidade e pontualidade. Estes são pontos chave que dizem muito sobre a competência de um professor e sentido de responsabilidade. Cheguei a todas as aulas, sem exceção, com 10 a 15 minutos de antecedência, de maneira a organizar já o material que iria utilizar e, também, para ter tempo em arranjar alternativas caso acontecesse algum imprevisto. Defendo, também, que para o professor exigir algo dos alunos, este deve dar o exemplo. A minha turma no início do ano letivo, revelou-se ser bastante pontual e responsável, no entanto num determinado período do ano, descuidaram-se um pouco a este nível. Fui forçado a ter uma conversa com eles, apelando ao seu sentido de responsabilidade e que os horários foram feitos para serem cumpridos. Contudo, se eu próprio me atrasasse frequentemente, não teria moral nenhuma para ter esta conversa com eles.

Estou bastante satisfeito com a minha prestação ao longo do ano. Consegui criar uma relação ótima com todos os alunos e senti-me muito bem a exercer as funções de professor. Sempre que saia da escola, saia sempre com

31 mais um pouco de conhecimento e experiência. Aprendi imenso aula após aula e através da observação das aulas dos meus colegas. Sem dúvida que, hoje, me sinto muito mais capaz do que no início do ano e, sem dúvida, que amanhã ainda mais capaz irei estar. Pretendo manter esta vontade de melhorar e de aprender sempre que possível pois esta é, e de modo crescente, uma condição necessária desta profissão. Deixo agora algumas frases que os alunos escreveram na aula de autoavaliação do 3º período, que tiveram como objetivos principais fazer um balanço ou uma apreciação geral das aulas e do professor de Educação Física:

“Gostei muito das aulas lecionadas pelo professor. Conseguiu sempre despertar o nosso interesse e participação, desenvolvendo atividades que penso que todos adoraram cumprir” (Margarida Araújo).

“O professor Rui fez um ótimo trabalho, ajudou os alunos quando se encontravam em dificuldades, faz uma boa explicação de como serão feitos os exercícios e interage muito com os alunos” (Francisco Faria).

“No que toca às aulas, só tenho o melhor a apontar, achei que foram bastante apelativas e bem conseguidas, e a atitude do professor Rui com os alunos foi sempre uma atitude de amigo, fazendo com que ficássemos mais à vontade mas sem perder o devido respeito. Espero que os futuros alunos também se sintam como toda a turma do 11ºCT6” (João Reis).

“O professor soube como organizar as aulas, soube como dar as aulas e soube como puxar por nós. Acho que tem futuro como professor!” (Guilherme Braga).

“Um dos aspetos positivos das aulas é o facto de o professor nos chamar a atenção quando se apercebe de algum erro técnico (…)” (Cláudia Novais).

“Preocupou-se sempre em dar-nos conselhos para nós melhorarmos e manteve uma relação professor-aluno que beneficiou e contribuiu para o bom

32 desenrolar das aulas. Explicou-nos com clareza os exercícios e as regras das diversas modalidades, o que nos ajudou no nosso desempenho” (Joana Luís).

No documento Relatório Final de Estágio Profissional (páginas 38-46)

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