• Nenhum resultado encontrado

Rearranjos da classe burguesa para a superação da crise internacional

Capítulo 1 A produção do conhecimento mercadoria no movimento

1.3 Rearranjos da classe burguesa para a superação da crise internacional

A classe burguesa utilizou-se de diversas estratégias com vistas à superação da crise iniciada nos anos de 1970. Além da mundialização do capital, outros acontecimentos também se articularam, entre os quais citamos: a emergência da acumulação flexível e da ideologia neoliberal.

83

A patente nasceu em 1474 em Veneza no contexto de abertura ao comércio com outras regiões. No entanto, a sua intensificação emerge no capitalismo monopolista. Em Barbosa (2005, p. 18) encontramos a seguinte definição de patente: “é um privilégio legal concedido pelo Governo aos inventores, e a outras pessoas derivando seus direitos dos inventores, por um período determinado de anos, a fim de excluir outras pessoas de manufaturar, usar ou vender um produto patenteado. Ao termino do prazo para o qual o privilégio é concedido, a invenção patenteada é disponível ao público em geral ou, como usualmente definido, cai em domínio público”.

84

A mundialização do capital apresenta uma característica fundamental: o comando cada vez maior da esfera financeira que decide sobre a repartição e a destinação social da riqueza que é criada no âmbito da produção. Sobre esse assunto Chesnais (1996, p. 241) afirma: “sob o ângulo da integração dos mercados nacionais dentro de mercados mundiais, que dominam os primeiros, quando não os substituem completamente, em parte alguma o processo de mundialização é mais acentuado do

que na esfera financeira85”.

A hegemonia do capital financeiro86 trouxe e ainda traz problemas para a vida em

sociedade, pois

[...] a esfera estrita das finanças, por si mesma, nada cria. Nutre-se da riqueza criada pelo investimento capitalista produtivo e pela mobilização da força de trabalho no seu âmbito, ainda que apareça de encoberto sob os mistérios do fetichismo. O capital que rende juros, cunhado por Marx de capital fetiche, aparece como se tivesse o poder de gerar mais dinheiro no

85

Para Chesnais (1998, p.12) a expressão mundialização financeira designa “as estreitas interligações entre os sistemas monetários e os mercados financeiros nacionais resultantes da liberalização e desregulamentação adotadas inicialmente pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido, entre 1979 e 1987, e nos anos seguintes pelos demais países industrializados. A abertura, externa e interna, dos sistemas nacionais, anteriormente fechados e compartimentados, proporcionou a emergência de um espaço financeiro mundial”.

86

Em seus estudos Harvey (1990) aponta que a expressão capital financeiro nunca foi usada por Marx. Segundo Klagsbrunn (2008) a categoria capital financeiro foi cunhada por Hilferding na obra O Capital financeiro, considerada por muitos a continuação de O capital de Marx. Nas palavras de Hilferding (1985, p. 219): “chamo de capital financeiro o capital bancário, portanto, o capital em forma de dinheiro que, desse modo, é na realidade transformado em capital industrial. Mantém sempre a forma de dinheiro ante os proprietários, é aplicado por eles em forma de capital monetário – de capital rendoso – e sempre pode ser retirado por eles em forma de dinheiro [...] uma parte cada vez maior de capital empregado na indústria é capital financeiro, capital à disposição dos bancos e, pelos industriais”. Carcanholo e Nakatani (1999, p. 298) designam capital financeiro como “aquele capital cuja remuneração é formada basicamente pelos ganhos especulativos obtidos em operações financeiras dos mais diversos tipos, além da que deriva dos juros”. Segundo Guttmann (1998, p. 77) “há mais de um século Marx estabeleceu uma distinção entre dois tipos de capital financeiro (mesmo sem intitulá-los de capital financeiro): os empréstimos a médio ou longo prazo, com juros, e o que ele chamava de capital fictício. Segundo Marx, este abrangeria créditos envolvendo compromissos de caixa futuros (títulos), cujo valor é determinado unicamente pela capitalização do rendimento previsto, sem contrapartida direta em capital produtivo”. É preciso ainda destacar que a categoria capital fictício está pouco elaborada no livro III de O Capital de Marx, que foi organizado e editado por Engels. Entretanto, esse conceito pode ser considerado uma das chaves para a compreensão da crise atual do capital. Através da obra de Marx (fundamentalmente no livro III) podemos visualizar três formas de capital fictício: o capital bancário, a dívida pública e o capital acionário, sendo que todos esses eram possíveis de ser observados na época de Marx. “Se a eles agregarmos o atual mercado de derivativos, teremos, então, quase todo o capital fictício que impulsiona a acumulação de capital e forma o conjunto de capitais que comandam o processo de acumulação em geral e as formas particulares de gestão de unidades individuais de capital, nesta fase do capitalismo financeirizado” (MARQUES; NAKATANI, 2009, p. 31). De acordo com Harvey (1990, p. 171) “o capital fictício é definido como capital que tem um valor monetário nominal e existência como papel, mas que, num dado momento do tempo, não tem lastro em termos de atividade produtiva real ou de ativos físicos. O capital fictício é convertido em capital real na medida em que são feitos investimentos que levem a um aumento apropriado em ativos úteis (por exemplo, instalações e equipamentos que possam ter emprego lucrativo) ou mercadorias úteis (bens ou serviços que possam ser vendidos como lucro)”.

circuito fechado das finanças – como se fosse capaz de criar ovos de ouro -, independente da retenção que faz dos lucros e dos salários criados na produção (IAMAMOTO, 2009, p. 24).

O capital financeiro pode até parecer que é capaz de criar mais dinheiro por si só, mas, isso não é verdade. Na medida em que só o trabalho é capaz de criar riquezas, não há justificativa para a afirmação de que o capital financeiro é capaz, por si só de criar mais valor. O capital só se valoriza no processo de produção e mediante a exploração da força de trabalho, pela apropriação de trabalho não pago (HILFERDING, 1985).

Nesse ponto verificamos que a financeirização se articula de forma íntima com a

acumulação flexível87 que se instaurou desde a década de 1970, viabilizando a

valorização do capital.

Foi à base dessa flexibilidade que surgiu a reestruturação produtiva substituindo a produção rígida presente nos modelos taylorista-fordistas. Segundo Antunes (2005) a reestruturação produtiva incorporou tecnologias que implicaram a redução da demanda de trabalho vivo em detrimento do trabalho morto, ou seja, as mudanças recentes da tecnologia e sua aplicação na produção funcionam como respostas às necessidades de valorização do capital.

A reestruturação da produção permitiu a redução do trabalho protegido, a perda de direitos trabalhistas, a ampliação da rotatividade da mão de obra, as terceirizações, a emergência de trabalhadores temporários, subcontratados, e, até mesmo um aumento considerável nos níveis de desemprego (ANTUNES, 2005). É pensando nessas colocações que reiteramos a afirmação de Chesnais (1996, p. 17):

A ascensão do capital financeiro foi seguida pelo ressurgimento de formas agressivas e brutais de procurar aumentar a produtividade do capital em nível microeconômico, a começar pela produtividade do trabalho. Tal aumento baseia-se no recurso combinado às modalidades clássicas de apropriação da mais-valia, tanto absoluta como relativa. Todas as virtudes atribuídas ao “toyotismo” estão dirigidas a obter a máxima intensidade do trabalho e o máximo rendimento de uma mão de obra totalmente flexível.

87 Segundo Harvey (1993, p. 140) a acumulação flexível: “[...] se apoia na flexibilidade dos processos

de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional”.

A partir da colocação dos autores, afirmamos que o Estado neoliberal88 tem sido extremamente funcional à soberania do capital financeiro e ao aumento da exploração do trabalho para a preservação do movimento do capital.

Segundo Chauí (2003) esta forma de Estado foi pensada em meados da década de 1940 sob as influências de Popper, Lippman, Hayek e Friedman. Esse grupo reuniu- se em 1947 na Suíça, e tinham em comum o fato de oporem-se ao surgimento do Estado Social e a política norte-americana do New Deal. Assim, foi elaborado um detalhado projeto econômico e político que atacava radicalmente o Estado de estilo keynesiano afirmando que este destruía a liberdade dos cidadãos e a competitividade necessária à prosperidade.

Contudo, o Estado neoliberal só começou a ser efetivamente implementado a partir

da crise vivenciada nos anos de 197089. Nesse período, o grupo de Hayek começou

a se fortalecer através de suas explicações para a crise. Para esses autores a causa da crise estava relacionada ao poder excessivo dos sindicatos e dos movimentos operários que aumentaram os encargos sociais do Estado (CHAUÍ, 2003).

A partir deste cenário, houve uma refuncionalização do Estado Social para proporcionar a ampliação dos lucros capitalistas e para dar sustentação ao processo de restauração do capital operado desde fins dos anos de 1970. O enfraquecimento do Estado de Bem Estar Social foi fundamental para o capital uma vez que esse Estado foi colocado como culpado da crise e ao se afastar de suas

88

Harvey (2008, p. 12) conceitua o neoliberalismo como: “[...] uma teoria das práticas políticas- econômicas que propõe que o bem-estar humano pode ser melhor promovido liberando-se as liberdades e capacidades empreendedoras individuais no âmbito de uma estrutura institucional caracterizada por sólidos direitos a propriedade privada, livres mercados e livre comércio. O papel do Estado é criar e preservar uma estrutura institucional apropriada a essas práticas; o Estado tem de garantir, por exemplo, a qualidade e a integridade do dinheiro. Deve também estabelecer as estruturas e funções militares, de defesa, da polícia e legais requeridas para garantir direitos de propriedade individuais e para assegurar, se necessário pela força, o funcionamento apropriado dos mercados. Além disso, se não existirem mercados (em áreas como a terra, a água, a instrução, o cuidado de saúde, a segurança social ou a poluição ambiental), estes devem ser criados, se necessário pela ação do Estado. Mas o Estado não deve aventurar-se para além dessas tarefas. As intervenções do Estado nos mercados (uma vez criados) devem ser mantidas num nível mínimo porque, de acordo com a teoria, o Estado possivelmente não possui informações suficientes para entender devidamente os sinais do mercado (preços) e porque poderosos grupos de interesse vão inevitavelmente distorcer e viciar as intervenções do Estado (particularmente nas democracias) em seu próprio benefício”.

89

responsabilidades permitiu que os serviços sociais fossem considerados como novos campos de exploração do capital (PEREIRA, 2004).

Diante da conjuntura ora explicitada cabe-nos destacar que a ciência (a produção de conhecimentos) tem força vital para o capital. Aos grandes monopólios importam o desenvolvimento de tecnologias capazes de serem aplicadas à produção para a obtenção de grandes lucros, não importando a satisfação das necessidades humanas. Observa-se que “muitos dos riscos que hoje corremos vêm menos da natureza, que haveríamos de dominar, do que dos efeitos da própria relação de luta,

de guerra, enfim, do combate que a ela fizemos” (GONÇALVES, 2012, p.13).

Aos países capitalistas centrais (e os monopólios assegurados por eles) interessam não só a produção do conhecimento-mercadoria, mas, a construção de barreiras impeditivas para que os países periféricos não produzam uma ciência capaz de superar a sua condição dependente.

Segundo Coggiola (1996) no quadro da crise capitalista mundial os Estados Unidos exigem que os países periféricos se subordinem à legislação de patenteamento intelectual preconizado por eles, o que lhes outorgaria um monopólio de um quarto de século sobre novos processos tecnológicos. A lei de patentes seria uma das mais importantes vias para aumentar a taxa de benefício dos principais capitais internacionais, em particular das indústrias farmacêuticas e de tecnologia de ponta, por meio do monopólio. Assim, a ciência, apesar de seu fantástico desenvolvimento, tem sido utilizada para fins de legitimação e fortalecimento do modo capitalista de produção.

Levando em consideração esse quadro Rieznik (2012) se contrapõe à ideia de que estamos caminhando rumo à “sociedade de conhecimento”. Para o autor:

Contra o que esgrime uma sorte de discurso uniforme na nossa região a respeito das políticas de C&T supostamente renovadas, o que nos permitiria avançar para uma “sociedade de conhecimento”, que foi dito até aqui, evidencia a vulgaridade do questionamento. Não iremos em direção a uma “sociedade de conhecimento”, mas ao contrário, a uma incapacitação intelectual crescente da humanidade, a uma miséria social mais extensa e inclusive à possibilidade de um retrocesso civilizatório; tudo isto em função da explosiva combinação de capitalismo, educação e ciência (RIEZNIK, 2012, p. 28).

Em nosso entender faz parte dessa "miséria social" a situação atual da política educacional brasileira. A contrarreforma operada no âmbito do Estado permitiu a entrada e a permanência massiva dos interesses mercadológicos no interior da

universidade subsidiados pela inegável interferência dos organismos

internacionais90.

A produção de conhecimentos nas universidades tem sido regulada pelo financiamento e pelo controle do setor produtivo que incorpora às instituições privadas os produtos das pesquisas realizadas. Dessa forma, os conhecimentos produzidos são direcionados para um fim específico sendo alvo de interesse tanto

do capital nacional quanto internacional91 que têm se aproveitado do campo

educacional (SILVA JÚNIOR, 2010).

As "reformas" do ensino superior estão vinculadas às necessidades do capital de subordinar a produção intelectual ao seu processo constante de acumulação. Desse modo, não só o conhecimento se transforma em mercadoria, mas a própria formação é realizada para atender as demandas do mercado, cujo caso

emblemático é a Declaração de Bolonha92(LIMA, AZEVEDO, CATANI, 2008).

90

Esse debate será explicitado no capítulo 3 deste trabalho.

91

Lembramos que a divisão internacional do trabalho impõe papéis diferenciados para os países centrais e periféricos. Ou seja, mesmo usufruindo do conhecimento produzido no Brasil, não interessa aos países centrais o desenvolvimento da ciência e de tecnologias mais avançadas em nosso país.

92

Em 1998 os ministros da Educação da Alemanha, Itália, França e Reino Unido assinaram em Paris a Declaração de Sorbonne para a criação do Espaço Europeu do Ensino Superior. A internacionalização e a comercialização da educação superior ganharam a partir desse momento novos contornos nos países europeus rumo ao processo de reformulação da política de ensino desses países. As propostas dessa declaração foram retomadas em junho de 1999 quando 29 ministros europeus da educação formularam a Declaração de Bolonha, cujo objetivo central era uniformizar o sistema de ensino superior europeu, visando: “[...] à mobilidade e empregabilidade no espaço europeu, por meio das seguintes estratégias: adoção de um sistema de graus comparável e facilmente inteligível; adoção de um sistema baseado essencialmente em dois ciclos, pré e pós- graduado; promoção da mobilidade de estudantes, docentes e pesquisadores e garantia de uma dimensão européia ao ensino superior. Este protocolo é um marco importante da reforma da educação superior européia e está pautado na mesma fundamentação presente nos documentos do BM e da Unesco: a consideração de que a globalização econômica e a sociedade da informação – ou a ‘Europa do conhecimento’, como é identificada na Declaração de Bolonha – indicam um conjunto de reordenamentos no mercado de trabalho e, consequentemente, na formação e qualificação dos trabalhadores, exigindo a diversificação das instituições e dos cursos de nível superior. A educação superior é vista nos marcos da empregabilidade dos trabalhadores; uma formação voltada para o mercado de trabalho” (LIMA, 2007, p. 69).

No ensejo da sanção da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) em 1996, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) acentuou a sua posição como agência reguladora da pós-graduação no Brasil. O modelo de avaliação da CAPES implementado a partir de 1996/1997 modificou as relações estabelecidas para a produção de conhecimentos nas instituições em âmbito nacional, no qual se ressaltam dois pontos:

[...] o primeiro consiste no formalismo abstrato da carreira do professor universitário contratado para o exercício da docência, pesquisa e extensão, mas que, em face da realidade atual das políticas públicas derivadas da reforma do Estado e da educação superior, vê-se compelido à complementação salarial e à ideologia do produtivismo acadêmico, produzida pela burocracia estatal e, hoje, um dos pilares centrais da cultura da instituição universitária. O segundo ponto consiste em produzir a materialidade institucional para o que se chama produtivismo acadêmico em suas múltiplas formas de concretização: da produção de muitos artigos, seções de livros e livros, mas de forma mais acentuada na relação direta com o mercado. Esta ideologia do produtivismo acadêmico origina-se do Estado, com mediação da Capes e do CNPq, acrescidos da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), entre outros. O produtivismo acadêmico assume sua forma mais acabada, objetivada e cultural no Currículo Lattes (CV-Lattes). O Currículo Lattes consiste no portfólio de muitos doutores, formados depois de implantado o novo Modelo Capes de Avaliação, em 1996-1997, a correrem atrás de pós-doutoramentos, de publicações, de bolsas de produtividade, de participação em congressos bem classificados academicamente, isto no objetivo de fazer caminhar a “nova universidade”, sem saberem bem para onde ela caminha (SILVA JÚNIOR, 2010, p. 173).

Observa-se que a universidade está cada vez mais voltada para o atendimento das necessidades do capital. Assim, parece ser de suma importância compreender quais são os rebatimentos desses processos na universidade sendo este o reconhecido lócus onde o conhecimento é produzido com maior consistência. Cabe-nos também refletir como a autonomia científica, preconizada pela Constituição Federal de 1988, pode fazer parte de um ambiente onde as pesquisas são direcionadas às áreas que mais interessam ao setor produtivo.

Observamos desse modo, que sendo a ciência um instrumento fundamental para dar continuidade ao processo de valorização do capital, a autonomia científica nas universidades está sem dúvida alguma sendo limitada em virtude do que se considera importante ou não para a sustentação desse modo de produção. Nesse sentido, argumentamos que a autonomia científica é exercida de forma limitada diante das imposições e necessidades apresentadas pela classe burguesa com vistas à defesa da manutenção do capitalismo. Esse comprometimento ou limitação

está presente, em maior ou menor grau, em todas as universidades de países capitalistas em decorrência da subordinação da produção de conhecimentos às necessidades do capital.

Assim, a ciência como parte de um contexto contraditório atende a algumas necessidades dos seres humanos, mas, também acabou sendo incorporada para atender ao modo de produção capitalista. Embora exista uma redução das possibilidades do exercício da autonomia científica em âmbito mundial, não podemos deixar de ressaltar que essa condição é ainda mais vigorosa nas universidades situadas na periferia do capitalismo, como no caso do Brasil.

Partindo dessas ideias iniciais prosseguiremos no próximo capítulo com a discussão sobre as condições em que o Brasil se desenvolveu (segundo as necessidades de acumulação primitiva do capital) e que, ao não romper com "o sentido da colonização", espraiou sobre toda a forma de viver a sua condição heterônoma, periférica e dependente. A política de educação, construída nessas bases, não se desvinculou dos interesses das elites brasileiras e internacionais. Nesse quadro, a contrarreforma da educação serviu para enfraquecer a universidade pública, laica e gratuita onde a produção de conhecimentos passou a ser objeto de compra e venda com o surgimento de legislações nesse sentido. A pós-graduação stricto sensu também foi reordenada colocando em xeque a acalorada discussão sobre a autonomia científica.