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RECORTE 1 – PERCEPÇÕES DA RELAÇÃO ENTRE DRAMATIZAÇÃO E

4 DISCURSOS A PARTIR DE UM PROCESSO DE DRAMATIZAÇÃO DE

4.1 RECORTE 1 – PERCEPÇÕES DA RELAÇÃO ENTRE DRAMATIZAÇÃO E

Este recorte discursivo faz menção à aprendizagem via teatro/dramatização, portanto, os enunciados serão analisados à luz dessa perspectiva. Entendemos que os excertos apresentados dizem respeito, sempre, às obras estudadas, o que significa que ao retratar a dramatização/teatro, estão falando sobre os teatros literários que foram encenados. Lembremos que as sequências discursivas (Sds), são os discursos dos alunos, os quais organizam-se conforme proximidade de ideias, ou seja, os recortes discursivos. Eis que do primeiro recorte, iniciam as análises.

Sd 1 “apesar de menosprezado, o teatro não é simplesmente apresentar algo que foi decorado, instiga a criatividade, a capacidade de improvisar, de comunicar-se, enfim, é um verdadeiro aprendizado. Não é um aprendizado engessado, algo fora do convencional, mas tão importante quanto” (A11).

O estudante deixa transparecer indícios do seu entendimento sobre o teatro e sua importância no espaço escolar. No primeiro grifo, quando traz o léxico menosprezado, há uma indicação de que o teatro não é considerado conteúdo escolar, que cai no vestibular, por exemplo; ele é tido como diversão, recreação, portanto, desnecessário. Esse apontamento já fora explorado nos estudos de Silva e Castro (2012) e Bento e Men (2009). Contra essa perspectiva recreacionista, Reverbel (1997, p. 34) afirma que “as atividades de expressão artística são excelentes recursos para auxiliar o crescimento, não somente afetivo e psicomotor como também cognitivo do aluno. O objetivo básico dessas atividades é (...) opinar, criticar e sugerir”. Ao retratar que não entende a apresentação cênica como algo decorado, infere que é preciso estudar para poder dar conta dessa atividade; esse estudo significa ler, reler, organizar, sistematizar. Isto são indícios de que houve tomada de consciência, pois ao significar a obra, o aluno produz significados sobre ela; há apropriação literária. Traz-se ainda, a necessidade e a pertinência em saber comunicar-se, ideia esta que é reforçada pela dramatização. Uma boa comunicação é extremamente necessária, já que, o personagem que dá vida às histórias precisa apropriar-se deste e fazer-se entender pela plateia. Ao afirmar que a dramatização configura-se como um verdadeiro aprendizado, o qual não é engessado, convencional e que é importante tanto quanto, sugere que hoje, apenas a educação bancária, criticada por Freire, não é aceita pelos estudantes, pois eles percebem a diferença entre o pensar e o repetir coisas mecanicamente memorizadas. A atividade da leitura dramatizada coloca em pauta conhecimentos escolares e populares dentro de uma mesma atividade. Essa ideia é reforçada, quando:

Sd 2 “Concluímos por meio dessa experiência que o teatro é uma forma muito atual de se representar visualmente e apresentar histórias por um novo método, e consequentemente, acaba dispondo as obras mais conhecidas até aos que não possuem hábito de leitura aumentando seu alcance. Mostrando-nos diante de um encontro entre duas das maiores formas de exposição cultural, aumentando ainda mais a bagagem de alunos, professores e todos os envolvidos” (A11).

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Ao destacar que a representação visual é uma metodologia interessante, sinalizamos para a importância da imitação, que segundo Vigotski (2008), difere-se da repetição, pois, ao representar um texto, há outras implicações para além da tradutibilidade do enredo: traz-se para o palco resquícios da bagagem cultural de cada sujeito, vestimentas que nem sempre são idênticas ao texto original, cenários reconstruídos; enfim, representar não é apenas repetir o que está no texto, é criar outros textos dentro do mesmo.

E isso só é possível porque cada sujeito participante da atividade traz consigo singularidades que são postas em confronto com os demais; essa troca permite a reflexão e a internalização de novos conhecimentos advindos do outro.

Orlandi (2013, p. 21) contribui com essa acepção quando afirma que “no funcionamento da linguagem, que põe em relação sujeitos e sentidos afetados pela língua e pela história, temos um complexo processo de constituição desses sujeitos e produção de sentidos e não meramente transmissão de informação”. Vigotski, por sua vez, declara que são as relações que possibilitam o sujeito a desenvolver-se; ambos os teóricos, portanto, entendem que a historicidade e a dialética constituem e desenvolvem esse ser na condição de aprendiz. Também, há a ideia de que haverá leitura por parte, até mesmo, daqueles que não costumam ler, pois os mesmos serão desafiados a adentrar nesse movimento literário; nesse grifo, evidencia-se que há o reconhecimento daqueles que não têm o hábito da leitura, clarificando, ainda, que a atividade fará com que esses tenham que desdobrar-se na execução da atividade. Logo, torna-se positiva a proposta, visto que, há o entendimento da importância e da necessidade em participar e desenvolver tanto a leitura quanto a dramatização.

Nos últimos grifos, ao retratar acerca da exposição cultural, percebemos que há o entendimento de que as interações fazem emergir conhecimentos e ensina a todos, inclusive aqueles que deveriam estar imersos nesses preceitos: os professores. Esse trecho aponta para as ideias de Vigotski (2008), o qual entende que a aprendizagem se dá pelo outro, mediado pela linguagem e transpassado pela cultura. Também, devemos atentar para o trecho em que o aluno diz sobre a leitura literária e o teatro/dramatização como “duas das maiores formas de exposição cultural”, o que remete ao entendimento desse aluno sobre a arte, a qual “é uma mentira que nos faz compreender a verdade” (Pablo Picasso).

Sd 3 “Outro ponto positivo do estímulo a essas atividades é a produção em grupo, o exercício da coletividade e da ajuda ao colega. Coisas que nos constroem não só como alunos ou atores, mas como pessoas” (A11).

Nesse trecho fica evidente a premissa básica postulada por Vigotski, a saber, o conhecimento construído a partir do outro e que as funções mentais superiores se dão/desenvolvem pelas relações, quando há afirmação do aluno que um dos pontos positivos da atividade é a produção em grupo. Pelo último grifo ecoam discursos pedagógicos, os quais pressupõem a atividade como constitutiva da construção do humano. Este entendimento perpassa pela lógica da própria literatura, a qual permite ao sujeito entender o mundo e entender-se no mundo, ou seja, é vinculada às humanidades e desse modo faz com que esse sujeito se humanize. Nesse sentido, Vigotski (2010, p. 18) entende que “as aquisições novas, de origem social, entram em interação com outras funções mentais, o pensamento, por exemplo. Desse encontro, nascem as funções novas, como o pensamento verbal”. O discurso do aluno juntamente com as contribuições de Vigotski nos fazem perceber que há um movimento de aprendizagem individual dentro do coletivo, e isso faz com que haja conhecimento apropriado no ambiente escolar.

Sd 4 “Com as apresentações de teatro nos desenvolvemos mais, perdemos a vergonha de se apresentar em público, e melhora a capacidade de interagir com as pessoas” (A4).

Nesse trecho, uma expressão nos chama a atenção: nos desenvolvemos mais. Desenvolver-se, segundo a teoria histórico-cultural, se dá justamente nesse entremeio do externo/social para o interno/individual, portanto, esse aluno declara que nesse movimento das apresentações, transforma o conhecimento da dramatização em conhecimento escolar. A ideia posta acerca da interação do aluno com os outros também é papel da Literatura: fazer com que seus leitores consigam abrir-se para o mundo, possibilitando a inserção dos mesmos na cultura.

Percebemos, através desse discurso, que o aluno está inscrito em uma FD que concebe o desenvolvimento oral importante, o qual serve como melhoria na sua comunicação, tanto no teatro com apresentações para o público, quanto na vida pessoal, porque seus relacionamentos melhoram. Registramos, contudo, que “nosso objetivo na escola não é ter um aluno-ator, um aluno-pintor ou um aluno-compositor,

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mas sim dar oportunidades a cada um de descobrir o mundo, a si próprio e a importância da arte na vida humana” (REVERBEL, 1997, p. 22).

Sd 5 “... conhecemos vestimentas diferentes das que somos acostumados, pois estas obras literárias se passaram há muito tempo, há também a linguagem que não usamos. A maioria trata-se de amores proibidos, que se complicam cada vez mais ao decorrer da história” (A4).

Esse excerto traz a presença de duas ideias: a primeira retrata a questão da linguagem, a qual é entendida em seu contexto, pois as obras foram escritas no século XVIII, então, já há um entendimento de que aquela linguagem tornou-se obsoleta. Essas palavras, destacadas pelo aluno, simbolizam a construção cultural da época, esta que, pela história e pelos sujeitos foi se transformando, por isso, muitos dos léxicos encontrados nas obras já não são mais utilizados. A teoria histórico-cultural entende que a partir do contexto linguístico geral é que as palavras são entendidas, e nesse mesmo sentido a AD preconiza que “a linguagem não é transparente. Desse modo ela não procura atravessar o texto para encontrar um sentido do outro lado. A questão que ela coloca é: como esse texto significa?” (ORLANDI, 2013, p. 17). Nesse mesmo viés, entendemos que a Literatura constrói- se a partir de um sistema linguístico aberto, dinâmico e mutável, ou seja, nas três perspectivas mencionadas, a palavra pode sempre assumir um novo/outro sentido, aliás, ela sempre reclama sentidos no momento da enunciação. Nesse reconhecimento das diferenças linguísticas, há o cotejo entre as linguagens, logo, há reflexão sobre a língua da época e atual; houve apropriação acerca dessa diferença.

Sd 6 “... a literatura é uma fonte inesgotável para as dramatizações” (A4).

Quando o aluno aponta para a Literatura como sendo um aparato que possibilita a dramatização, pressupõe-se que o mesmo entende a dinamicidade da linguagem literária e das características que o texto dramático deve apresentar, pois, afirmando isso coloca em pauta sua estrutura mental superior, ou seja, significou as características da linguagem literária e dramática. Também, podemos pensar, na perspectiva da AD, que “a língua não é só estrutura, mas sobretudo acontecimento” (ORLANDI, 2013, p. 19), ou seja, o estudante conseguiu perceber que a linguagem

literária não é estanque, ela é dinâmica e sempre há possibilidades de criação; basta que seu leitor consiga interpretá-la e fazê-la falar.

Sd 7 “... devemos compreender o que estamos estudando, com o teatro funciona da mesma forma, atividades que fazem entender a época em que se passou o conto, a forma que as pessoas viviam...” (A4).

Ao dizer que se deve compreender o que se estuda, o A4 aponta para o entendimento de que é preciso significar os conceitos trabalhados, fazê-los ter e fazer sentido. Atrelado a essa concepção, o aluno relaciona o ato de aprender com a dramatização, isto é, ele percebe que é necessário adentrar na atividade para poder entender, para dar sentido aos trabalhos conceituais e cênicos também. Sobre o entendimento dos conceitos escolares, Vigotski (2010, p. 23) contribui quando afirma que “o sistema de conceitos científicos é um instrumento cultural portador, ele também, de mensagens profundas e, ao assimilá-lo, a criança muda profundamente seu modo de pensar”. Nesse sentido, as “atividades” mencionadas pelo aluno significaram para ele, ou seja, o ato das pesquisas e dos seminários realizados para entender o período no qual aconteciam as histórias dramatizadas, ajudaram-no a compreender questões linguísticas, históricas, sociais e culturais presentes no texto literário. O arcabouço de informações desse estudante aumentou, e dessa forma ele conseguiu estabelecer mais relações diante o “simples” texto literário.

Sd 8 “A dramatização nos desperta o desejo pelo conhecimento porque ela possibilita operar sobre o texto literário, dá condições para que ele fale mais” (A12).

Neste discurso proferido pelo estudante, muitas questões fortes emergem: a primeira delas quando se fala sobre o desejo; este diz respeito aos temas abordados nos textos literários, os quais dizem respeito às curiosidades, às vontades dos adolescentes, e também pode ser associada ao fato de se fazer uma atividade diferente, que tem como base o texto literário, mas que não se restringe aos fichamentos ou contações das histórias. A palavra “desejo” emerge do interdiscurso e sinaliza algo prazeroso, bom, então podemos dizer que o aluno está inscrito em uma FD que considera o teatro algo que entusiasma para aprender, que dá vontade de fazer, enfim, que significa algo em sua construção. Ao falar em “operar” sobre o texto literário para que “fale mais”, podemos pensar nas possibilidades oferecidas

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pela escola, onde não se abrem oportunidades para os alunos serem protagonistas das atividades; compreendemos, portanto, que o texto literário permite extrapolar os métodos dogmáticos de ensinar/aprender Literatura.

Sd 9 “A dramatização ajuda a criatividade do ator, quando se consegue fazer uma ligação da apresentação com a vida real” (A12).

Nesta Sd o estudante demonstra entender a Literatura como uma “fuga” da vida real ou então uma associação, pois essa “ligação” a qual se refere é a possibilidade que a literatura nos oferece: poder entender e ser no mundo. Este relato nos faz pensar no engessamento dos currículos, os quais não conseguem propiciar aos estudantes atividades que os façam mais ativos no processo da aprendizagem. Conseguir estabelecer relações, encontrar-se nas atividades propostas e se ver como elemento constitutivo dessa construção torna o estudante mais participativo, mais engajado, mais atuante nas questões escolares e sociais também. Esse discurso proferido pelo aluno aponta para a FD na qual está inscrito: consegue ver na literatura/dramatização resquícios de vida real, ou seja, entende a literatura como forma de compreender e ver a realidade, colocando-se nela ou vice- versa. Sobre a criatividade, expressa nesse discurso, Reverbel (1997, p. 27) defende que “o indivíduo criativo tem ainda senso de humor, possui sensibilidade estética e afetiva, intuição aguda, além de capacidade de empatia, isto é, sabe compreender o outro e colocar-se na posição dele”. Nessa perspectiva, o estudante pôde constatar que houve evolução, pois personagem criativo é aluno mais dinâmico em sala de aula, independente da disciplina curricular; o teatro mobiliza o aluno a aprender, a ser.

Sd 10 “O interessante da dramatização do texto é fazer um papel totalmente diferente do que você é, que depois você pensa como que eu fiz aquilo”

(A9).

Este estudante reconhece a potencialidade do teatro quando percebe que conseguiu extrapolar suas próprias capacidades. Admirar-se por conseguir desenvolver um papel significa que ele entende que a atividade reverberou em um aspecto positivo, em um crescimento pessoal a partir da atividade escolar. O papel da escola não se limita apenas em transferir conhecimentos da tradição escolar, mas

propiciar aos estudantes ter um lugar no mundo, perceber suas potencialidades e seus limites e fazê-lo aprender a administrar essas questões. O teatro, nesse sentido, possibilitou esse olhar.

Podemos perceber que a FD em que o estudante inscreve-se diz respeito à falta de otimismo sobre si, porque ele admira-se por ter conseguido executar um papel dramático. Diante de seu próprio testemunho, verificamos que houve aspectos positivos pessoais perante sua participação na atividade. Essa melhora na comunicação certamente reverberará na sala de aula, nas apresentações orais, na sua motivação para desenvolver as atividades solicitadas na escola. Como afirma Reverbel (1997, p. 31), “atuar, observar e criticar são ações fundamentais para a formação da personalidade do aluno, o qual adquire ao mesmo tempo domínio da linguagem gestual e verbal”.

Sd 11 “Ao apresentar um teatro na escola ou para a comunidade para mim é diferente por que na escola você conhece todo mundo e se você erra, não dá nada, mas se erra pra comunidade é diferente porque tem mais gente”

(A9).

O discurso do estudante evidencia a importância em mostrar para além da escola, as produções feitas nela, visto que o trabalho então é realizado com mais cuidado, afinal, o outro irá internalizar aquilo que foi feito ou dito. Aqui podemos perceber a preocupação do sujeito em ter consciência sobre o que está fazendo, que precisa qualificar sua função, seu papel.

O discurso deixa evidente que a FD discursiva na qual o aluno está inscrito diz respeito ao entender que o espaço escolar não é levado a sério, visto que verbaliza a expressão “não dá nada”, que o erro é aceitável; todavia, entende também que o público externo ao da escola é mais exigente, que repara nos “erros”. No interdiscurso buscamos outros discursos relacionados à fala do aluno e resgatamos a ideia de que se profana que a escola pública é desleixada, que nada é levado a sério, que a escola se omite aos erros. Esse discurso é latente e preocupante, pois sinaliza o caos que a educação vivencia, e que, de certa forma, é percebida pelo aluno.

Sd 12 “A dramatização ajuda a ter mais facilidade na hora de escrever e falar, por ter muita leitura” (A2).

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Esta Sd denota, principalmente a partir do advérbio “muita”, que o estudante sentiu a necessidade da leitura para desenvolver a atividade proposta, além disso, atrela a leitura literária como potencilizadora de outras atividades: escrever e falar melhor. Percebemos nesse discurso, que a leitura auxiliou o aluno na escrita, uma vez que a mesma deve ter melhorado significativamente e também auxiliou com a questão da oratória, dicção, afinal, estar no palco significa soltar-se, fazer-se entender pela plateia.

Esse aluno inscreve-se na FD que entende que para poder ler e escrever bem é necessário muita leitura, porque não criamos nada novo, sempre buscamos no interdiscurso as ideias que proferimos; diante disso, fica evidente que nossa rede de relações fica maior quanto mais bagagem leitora tivermos. Este aspecto simboliza que as condições de produção dos nossos discursos, nossas falas, estão intrinsecamente ligadas ao que lemos, ao que sabemos e às relações que estabelecemos. Por este viés, Reverbel (1997, p. 34) salienta que:

As atividades de expressão artística são excelentes recursos para auxiliar o crescimento, não somente afetivo e psicomotor como também cognitivo do aluno. O objetivo básico dessas atividades é desenvolver a auto-expressão do aluno, isto é, oferecer-lhe oportunidades de atuar efetivamente no mundo: opinar, criticar e sugerir.

Sd 13 “... a linguagem falada nos teatros retrata como eles falavam e agiam naquele tempo. Os autores dos textos daquela época usavam uma escrita com palavras que agora são desconhecidas, mas que naquele tempo era comum (...) a dramatização contribui com o trabalho em grupo, pois ajuda a unir as pessoas para trabalhar juntas. A minha participação nos teatros é boa, estou aprendendo interpretar o meu personagem (...)” (A2).

O primeiro grifo nos faz pensar que o aluno conseguiu cotejar realidades e épocas diferentes, as quais são retratadas a partir da linguagem. Essa percepção o faz entender a língua e também a história, visto que consegue perceber alterações linguísticas com o passar do tempo. O grifo seguinte nos dá indícios de que estar em grupo contribui com a produção, visto que são pessoas trabalhando em prol de um mesmo objetivo. O terceiro e último grifo retrata um aspecto particular do estudante, quando reconhece que está “aprendendo a interpretar”, ou seja, em seu discurso ecoa a ideia de que entende que o personagem é mais que uma representação de si, é mostrar uma identidade literária que ultrapassa seu aspecto físico ou emocional. O estudante compreende, a partir desse trecho, que é necessário incorporar o

personagem, e isso só ocorre mediante muita leitura e estudo do livro e do período histórico da obra.

Sd 14 “As atividades relacionadas aos teatros foi muito produtiva sendo muito importante para o aprendizado, pois são atividades que envolvem muita leitura e decorar as falas e perder o nervosismo em cena” (A2).

Este trecho novamente menciona a relevância da leitura sob o viés do aluno. Ele verbaliza duas questões: a leitura e a oportunidade em conseguir se expressar em público. Diante disso, podemos dizer que a FD que inscreve-se o aluno é de que ler aumenta nossa capacidade de compreensão do mundo, por isso foi produtiva a atividade; e também por entender que para perder o medo do público, é preciso enfrentá-lo.

Sobre ler muito, as Orientações Curriculares (BRASIL, 2006, p. 60) sugerem que “quanto mais profundamente o receptor se apropria do texto e a ele se entregar, mais rica será a experiência estética, isto é, quanto mais letrado literariamente o leitor, mais crítico, autônomo e humanizado será”. Dessa forma, esse discurso enfatiza que a atividade exigiu bastante leitura, então é possível compreender que esse estudante aumentou significativamente suas compreensões acerca da obra e do mundo.

Sd 15 “As obras literárias, ao serem somente lidas não se tornam tão interessantes quando comparado a proposta de uma peça teatral. Ao elaborarmos um teatro, aprendemos a entender/imaginar com mais facilidade o que se diz, pois estudamos os personagens e procuramos saber a fundo a história para poder contracená-la” (A7).

Esta Sd traz um discurso em que se percebe o potencial visto pelo estudante ao se fazer teatro, pois, pelas suas palavras, considera ele uma forma de fazer com que haja mais implicação na leitura, visto que entende que é preciso estudar para poder desenvolver qualquer papel teatral. A FD a qual pertence o estudante diz respeito à maneira como ele vê a leitura: uma possibilidade de entendimento do