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4.5 REDE DAS ESCOLAS DO RIO GRANDE DO NORTE QUE COMPÕEM A REDE

4.5.2 Rede do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional (CEAF)

A rede de relacionamento do CEAF é formada por 10 (dez) organizações, das quais 3 (três) estão situadas fora do Estado do Rio Grande do Norte: o Colégio de Diretores de Escolas e o Colégio de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional dos Ministérios Públicos do Brasil (CDEMP), a Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), e a Fundação Getúlio Vargas (FGV), de acordo com a figura 11:

Figura 11: Rede Interorganizacional do CEAF Fonte: Dados da Pesquisa (2016)

Para o CEAF, a instituição que faz parte da sua rede que representa a maior importância (reputação) para o desenvolvimento das suas ações é a UFRN, pois com a universidade ele estabelece uma frequência de relação mensal e essa

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interação foi construída com base em confiança, intimidade, tempo de relacionamento e interesses comuns. O atual Coordenador, o Promotor de Justiça André Mauro Lacerda Azevedo, fez mestrado em Direito Constitucional pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, o que na visão dele facilita e fortalece as relações com a Instituição de Ensino Superior (IES).

O CEAF e a UFRN estabeleceram uma parceria de muitos anos, executando cursos de pós-graduação a nível latu senso, tanto com o departamento de direito quanto com o de administração pública. No que se refere à pós-graduação stricto senso, o Coordenador Geral do CEAF relata o seguinte:

Temos aí um projeto pioneiro de mestrado, para os membros do Ministério Público (MP), em Direito, mestrado acadêmico. Temos também, um mestrado profissional em gestão de processos institucionais, que envolve vários departamentos. Filosofia, Direito, Administração, já estamos caminhando para segunda turma, essa parceria é espetacular. Já estamos no segundo ano e formamos 17 mestres sem afastamentos, todas as dissertações desenvolvidas foram voltadas para beneficiar o MP (COORDENADOR DO CEAF, 2016).

O laço forte estabelecido entre o CEAF e a UFRN se caracteriza pela relação de confiança, intimidade e tempo de relacionamento. Percebe-se que os contatos pessoais influenciam nas relações entre os indivíduos. Assim, é mantida uma parceria formal (convênio) e o que o CEAF recebe da instituição são os cursos presenciais a nível de extensão, graduação e pós-graduação. Porém, é uma via de mão única, visto que só recebe da UFRN, mais nada fornece a Universidade, não existindo nem mesmo troca de informação entre eles, segundo o entrevistado (Coordenador Geral do CEAF). Mesmo assim, classifica-se em 1º lugar por ser a organização que fica mais próxima e tem capacidade de atender às demandas do citado CEAF.

Em segundo lugar de importância aparece o CDEMP, uma associação sem fins lucrativos, que desenvolve suas atividades desde 1997, com o objetivo de estabelecer uma aproximação científica entre os Ministérios Públicos do Brasil, o que cria uma rede à parte da rede local do CEAF/RN, junto às demais escolas dos Ministérios Públicos do Brasil. Hoje o CDEMP é presidido pelo Dr. André Mauro Lacerda Azevedo, o Coordenador do CEAF/RN, o que facilita o acesso e as informações compartilhadas nesta rede, gerando assim uma maior vinculação com este órgão.

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O CDEMP se reúne a cada 3 (três) meses para compartilhar informações e, com isso, acaba determinando o comportamento relacional dos atores envolvidos, tendo oportunidade de formar novos relacionamentos para aprofundamento ou exploração das práticas científicas dos CEAFs. De acordo com as entrevistas, essa relação foi construída pela confiança, intimidade, tempo de relacionamento e, principalmente, pelo interesse comum entre os participantes. Assim, pode-se afirmar que a relação estabelecida com o CEDMP é caracterizada por um laço forte (GRANOVETTER, 1973).

Ancorando-se nos conceitos de laços de Uzzi (1997), torna-se evidente a presença do laço embedded, o qual busca uma relação mais estreita e de longo prazo, em que o interesse vai além dos negócios.

O CDEMP tem um papel fundamental para o desenvolvimento, principalmente dos CEAF’s. Porque hoje a gente tem centros de aperfeiçoamentos muito bem estruturados, de MP grandes, como o de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul, inclusive existe concorrência entre os MP’s, Por exemplo em Minas tem o CEAF que é institucional, escola de governo como a gente aqui no RN e tem também o Fundo Especial do Ministério Público de Minas Gerais (FUNEMP), que é uma fundação que visa aperfeiçoar o funcionamento do MP, então há concorrência às vezes, dentro do mesmo estado, de fundações ligadas aos Ministérios Públicos, muitas vezes são até benéficas. Temos outros CEAF`s que começaram agora, como por exemplo os do norte do país, o do Piauí, e só tem a coordenadora e mais ninguém, então esses centros dependem muito das relações que são estabelecidas nesta rede do CDEMP (COORDENADOR DO CEAF, 2016).

Isso faz crer que o CEAF/RN estabelece uma característica relacional diferenciada com o CDEMP em detrimento da Rede de Escolas do RN e esse fato se dá pela semelhança das atividades desenvolvidas entre as organizações (laços fortes). A relação é baseada na confiança, intimidade, tempo de relacionamento e interesses comuns, através de uma relação informal. O que mais se compartilha entre as partes são os instrutores/professores, pois também existe um forte intercâmbio de participantes em atividades formativas, na organização e execução de ações formativas de cursos presenciais e palestras.

A troca de informação também ocorre entre o CEAF/RN e o CDEMP, em que ambos fornecem e recebem informações. A divulgação de ações desenvolvidas pelos demais Centros de Aperfeiçoamentos no Brasil também é uma prática comum entre os participantes do colégio, o que acaba por proporcionar uma influência

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positiva na rede, explicitando a motivação e as habilidades dos atores organizacionais. Sem dúvida, uma rede que tem como princípio a confiança, facilita o surgimento de laços fortes.

Assim, percebe-se que os laços fortes são desenvolvidos entre o CEAF/RN e as instituições que fazem parte do CDEMP, pois existe uma identidade comum e integram o mesmo meio social, tornando-se uma ilha isolada numa configuração de cluster (aglomerado de organizações com o mesmo foco e visão).

Para os entrevistados, a instituição que aparece em terceiro lugar, em representatividade na rede do CEAF, é a UERN, que mantêm uma relação diária, pois o núcleo de práticas jurídicas da IES funciona dentro das instalações físicas do CEAF. Esse fato demanda uma relação de proximidade, baseada na confiança dos atores envolvidos no processo. Algumas pós-graduações latu sensu foram realizadas pelo intermédio do convênio com a UERN: “Tentamos montar um doutorado que envolveria o CEAF, a UERN e outra universidade, mas acabou que não prosperou, devido aos altos custos” (COORDENADOR DO CEAF, 2016).

A relação com a UERN também se caracteriza pelo estabelecimento de laço forte de Granovetter (1973), a partir da confiança e pela proximidade do núcleo que acentuou a oportunidade de se relacionar. Mesmo assim os recursos transacionados são poucos: apenas os cursos presenciais e o prédio (apenas do Núcleo). Desse modo, para o entrevistado, essas organizações poderiam estabelecer mais compartilhamento de recursos.

A ENAP aparece em quarto lugar na escala de importância/ prioridade (reputação) para o CEAF. A frequência com que esse contato acontece é a cada 6 meses, uma relação pautada por interesses comuns, porém o entrevistado deixa claro que só recebe recursos da Escola Nacional de Administração Pública, mas não os fornece. Os recursos que eles recebem são os cursos a distância, elaborados pela própria ENAP, tudo de maneira gratuita. Porém, depois de 2013, o uso da plataforma dos cursos em EaD diminuiu bastante, pois a própria CEAF desenvolveu uma estrutura para criação dos seus cursos a distância. O Centro também recebe informações relevantes para o desenvolvimento das ações internas, quando participa dos encontros promovidos pela ENAP.

Quando questionado se consegue perceber algum benefício por fazer parte da Rede Nacional de Escolas de Governo da ENAP, o Coordenador do CEAF respondeu que sim, mas que gostaria de destacar apenas 01 (um):

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Por sermos uma escola de governo legitimada, o nosso estado possibilita que ofertemos cursos de pós-graduação elaborados pela própria CEAF, o que atende mais a nossa realidade. Diferentemente de São Paulo, que a Secretaria de Educação não delega para deferir os cursos que irão ser ofertados (COORDENADOR DO CEAF, 2016).

Mesmo percebendo a importância de fazer parte da Rede Nacional das Escolas de Governo, o coordenador do CEAF relatou que nunca participou de uma reunião junto à ENAP, pois quem representa a organização nos encontros promovidos pela escola nacional é a chefe do setor técnico pedagógico.

A relação estabelecida com a ENAP pode se considerar como uma relação imprescindível, pelas informações que circulam no campo da Escola Nacional de Administração Pública. Porém, o próprio coordenador admite que não é estabelecida com base na confiança, nem pela intimidade e não tem troca de favores. Sendo assim, considera como sendo um laço fraco, porém pouco aproveitado. O quadro 18 apresenta as relações que o CEAF/RN estabelece com outras organizações, o grau de importância e o que é transacionado entre as organizações que mantêm relações:

Prioridade/ Importância

Instituição Frequência Relação

baseada em:

Tipo de Relação

Recursos transacionados

1ª UFRN Mensalmente Confiança,

intimidade, e tempo de relacionamento e interesses comuns Parceria formal Cursos Presenciais

2ª CDEMP Trimestralmente Confiança,

intimidade, e tempo de relacionamento e interesses comuns Parceria informal - Intercâmbio de instrutores/ professores; - Intercâmbio de participantes em atividades formativas; - Cursos presenciais; e - Palestras.

3ª UERN Diariamente Confiança Parceria

formal

- Cursos presenciais.

4ª ENAP Semestralmente Interesses

comuns

Parceria formal

- Cursos a distância.

5ª SENAC Semestralmente Confiança,

intimidade, tempo de relacionamento e interesses comuns Parceria formal - Cursos a distância.

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6ª EGRN Semestralmente Interesses

comuns Parceria formal - Infraestrutura; e - Cursos presenciais.

7ª OAB Anualmente Confiança e

interesses comuns Parceria informal - Compartilhamento de custos; - Intercâmbio de instrutores/ professores; - Infraestrutura; e Palestras. 8ª Escola de Contas – Professor Severino Lopes Anualmente Interesses comuns Parceria Formal - Compartilhamento de custos; - Infraestrutura; e - Cursos presenciais. 9ª FGV Anualmente Interesses comuns Parceria informal - Cursos a distância. Quadro 17: Relações que o CEAF mantém, grau de importância e o que é transacionado. Fonte: Dados da pesquisa (2016)

Em quinto lugar aparece o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC). Segundo o entrevistado, a relação pode ser classificada como sendo baseada em confiança, intimidade, tempo de relacionamento e interesses comuns, e essas características demonstram a presença de laço forte. Porém, o contato só acontece semestralmente através de uma parceria formal, que demanda cursos a distância. Desse modo, para o entrevistado, desde de 2015 essa relação vem enfraquecendo, não sabendo dizer o porquê: “não sei se diminuiu a oferta ou o interesse”.

Em sexto lugar, em grau de importância, aparece a EGRN, cuja a relação é estabelecida semestralmente, baseada em interesses comuns, através uma parceria formal. Existe um compartilhamento de vagas nos cursos que são ofertados por ambas as partes e, como a EGRN dispõe de uma infraestrutura de auditório com uma maior capacidade, o CEAF sempre utiliza a estrutura e, em contrapartida, oferta vagas no evento para a escola distribuir com os servidores estaduais. Convém ressaltar que a relação é estabelecida por um laço fraco.

A OAB aparece em sétimo lugar, o CEAF mantém com esta uma relação anual, baseada na confiança e interesses comuns, estabelecida numa parceria informal, na busca de compartilhar custos com palestrantes. Nesse contexto, ambas têm uma relação muito próxima ao Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM) e conseguem vários palestrantes renomados, custeados pelo CEAF, além

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de utilizar a estrutura de auditório do centro de aperfeiçoamento. Na visão do coordenador essa relação poderia ser melhor explorada:

A gente poderia ir mais além nessa parceria, pois detemos um pouco mais de recursos, temos estrutura e eles têm boas relações externas, que poderiam conseguir bons palestrantes a custo zero, pois existe um acordo que os membros não cobram pelas palestras. De fato, a parceria com a OAB poderia ser uma parceria muito maior do que é hoje (COORDENADOR GERAL DO CEAF, 2016).

Em oitavo se encontra a Escola de Contas Professor Severino Lopes. O contato do CEAF acontece anualmente, pois existem interesses comuns através de uma parceria formal, em que são compartilhados custos nos cursos presenciais e infraestrutura. Mas, segundo o entrevistado, essa relação era uma harmonia perfeita, capacitando gestores públicos, como por exemplo nas prestações de contas e facilitando tanto o trabalho do Tribunal de Contas como o do MP. Porém, essa parceria vem perdendo força, já que no último convênio foi colocada uma cláusula que todos os custos seriam do CEAF, inviabilizando as parcerias.

Em nono aparece a FGV, uma relação que foi desenvolvida pelo interesse nos cursos a distância que são oferecidos pela Fundação, constituindo uma relação informal e sem custo para o CEAF, ou seja, uma relação muito pontual. O quadro 19 apresenta as organizações com que o CEAF mantém relações e os tipos de laços a partir da classificação de Granovetter:

Atores organizacionais Tipo de laço

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Laço forte

Colégio de Diretores de Escolas dos Ministérios Públicos (CDEMP) Laço forte

Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN) Laço forte

Escola Nacional de Administração Pública (ENAP) Laço fraco

Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) Laço forte

Escola de Governo do Rio Grande do Norte (EGRN) Laço fraco

Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Laço forte

Escola de Contas – Professor Severino Lopes Laço fraco

Fundação Getúlio Vargas (FGV) Laço fraco

Quadro 18: Relações estabelecidas com base nos tipos de laços de Granovetter. Fonte: Dados da pesquisa (2016)

Diante do exposto anteriormente, percebe-se que das 09 (nove) relações da rede do CEAF, 5 (cinco) estão baseadas em confiança, o que estabelece como sendo laços fortes; e que 04 (quatro) estão baseados em interesses comuns, o que se caracteriza como sendo laço do tipo fraco. Mas, é perceptível que o Centro de

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Aperfeiçoamento não está aproveitando os ganhos dos laços fracos. (GRANOVETTER, 2005).

No caso da rede do CEAF, fica claro pelo discurso dos entrevistados que as organizações que mais denotam ganhos para eles são: a UFRN e o CDEMP (geograficamente fora da rede local). Assim, o Coordenador do CEAF comunga com o pensamento dos representantes da EGRN que a falta de encontro tem enfraquecido a rede local.

Outra questão relevante é que das 21 organizações participantes da Rede Geral das Escolas de Governo do RN, mapeada a partir das 3 (três) escolas em estudo, o CEAF não se relaciona com 11 (onze) delas: Instituto de Educação Superior Presidente Kennedy, ILP, TRT, Escola do Legislativo Miguel Arraes, Escola Penitenciaria, ACADEPOL, Diretoria de Ensino da Polícia Militar, Centro Superior de Formação e Aperfeiçoamento do Corpo de Bombeiros, CRA, CEFOPE e EMGESP, conforme figura 12:

Figura 12: Rede Interorganizacional do CEAF: atores desconectados Fonte: UCINET/ Dados da pesquisa (2016)

Percebe-se também que as redes pessoais do atual coordenador têm contribuído para o alcance do objetivo organizacional do CEAF, como no caso da UFRN e do CDEMP. Já existem estudos que comprovam que as redes pessoais interferem nas relações interorganizacionais, como o estudo de Keister (1998) com grupos empresariais chineses. Porém, Knoke e Chen (2014, p. 417) defendem que

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“em termos metodológicos, os analistas ainda precisam refletir sobre como encontrar as conexões entre redes pessoais e laços interorganizacionais”.

Para o CEAF fica claro no discurso que a rede mais importante na qual está inserido é a rede do CDEMP. Porém, vale ressaltar que a composição desta rede é formada apenas por CEAF’s de todos os estados brasileiros, o que leva a uma redundância nas informações a partir da reciprocidade dos contatos (GRANOVETTER, 2005; NEWMAN, 2003; OLIVEIRA e GAMA, 2010).

Pode-se concluir a partir da pesquisa que a Rede do CEAF chama atenção que os recursos oriundos de redes não locais (i.e CDEMP) tem influenciado o comportamento do CEAF de forma positiva, porém com pouco visibilidade local. Desse modo, fica evidente que o Centro precisa desenvolver uma maior articulação na rede local, na busca de aumentar a sua centralidade e deixar a rede mais homogenia. E por consequência obter uma maior reputação na rede e se beneficiar da posição na arquitetura da rede.

4.5.3 Rede da Escola Municipal de Gestão Pública da Prefeitura de Natal