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O início do século XX é o marco para o surgimento da ideia de redes sociais, partindo do pressuposto que as relações estabelecidas na rede irão condicionar as ações dos indivíduos que nela estão inseridos. De acordo com Costa Ferreira (2011), existe um consenso entre os cientistas sociais que Jacob Moreno, em 1934, foi quem desenvolveu os estudos acerca da sociometria10, tornando-se o pioneiro nas ciências sociais a estudar a Análise de Redes Sociais (ARS), com a obra intitulada de Who Shall Survive? Foundations of Sociometry, Group Psychotherapy and Sociodrama. Moreno investigou, através de sociogramas e matrizes sociais,

10 Sociometria é uma ferramenta analítica para estudar as interações entre grupos, ou seja, estuda a

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como o bem-estar psicológico das pessoas se relaciona com características estruturais, que ele denominou de configurações sociais11.

Assim, os sociométricos buscaram compreender as relações sociais estabelecidas em grupos pequenos com a ajuda de métodos da Teoria dos Grafos12, formando imagens de grupos, representada por pontos, que são os atores e as linhas, representando as relações estabelecidas no grupo.

Ainda nos anos de 1930, outras pesquisas contribuíram para a evolução dos estudos acerca de redes sociais, através de pesquisadores de Harvard, influenciados pelos estudos dos antropólogos Radcliffe-Brown, Lloyd Warner e Elton Mayo. Os pesquisadores começaram a examinar grupos de trabalhos nas fábricas e comunidades pequenas americanas, com o objetivo de evidenciar a importância das relações informais no comportamento dos indivíduos e dos grupos de trabalho. (LOIOLA et al, 2013).

Um terceiro grupo de estudos marcou a evolução da perspectiva de redes sociais: os antropólogos da Universidade de Manchester, na Inglaterra, em que esses pesquisadores investigaram a estrutura das relações comunitárias em pequenas vilas e em aldeias, utilizando-se das duas abordagens anteriores Moreno (teoria dos grafos) e Radcliffe-Brown (desenvolveu uma abordagem estrutural com base em poder e conflito) (SCOTT, 2000).

Entretanto, outros estudos foram desenvolvidos nas Ciências Sociais, como os de: Newcomb (1935-39); Bavelas (1950); e Cartwright (1953). Na antropologia o destaque é dado ao estudo de Michel e John Barnes (1954): “À Barnes é atribuído o primeiro uso do termo rede social (social network), quando, em 1954, começou a usá-lo, sistematicamente, para mostrar os padrões dos laços, incorporando os conceitos tradicionalmente usados, quer pela sociedade quer pelos cientistas sociais” (COSTA FERREIRA, 2011, p. 211).

Na sociologia, cabe destacar a contribuição dos estudos de Georg Simmel e Norbert Elias, dois importantes sociólogos para o desenvolvimento do campo das redes sociais (LOIOLA et al, 2013). Simmel (2006) define a sociedade como sendo relacional e os indivíduos estão conectados pela influência que exercem uns aos

11 Configurações sociais são os resultados de escolhas interpessoais, atrações, repulsão, amizade e

outras relações estabelecidas, todas representada em diagramas/sociogramas.

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Teoria do Grafo é um estudo advindo da matemática que analisa as relações entre objetos de um determinado conjunto, representado por desenhos denominado de grafos.

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outros, bem como pela reciprocidade entre si. Para o autor, a rede, de forma metafórica, é um conjunto de fios entrelaçados. Nobert Elias contribuiu para o desenvolvimento da teoria social inovadora, com o objetivo de elucidar os processos da interação humana na sociedade (LOIOLA et al, 2013).

Já nas Ciências Sociais, o tema redes sociais ganhou destaque com o estudo de Elizabeth Bott (1955), com o título Urban families: conjugal roles and social networks. A autora analisou como os papéis dos maridos e mulheres mudam de acordo com a rede social da família, esse estudo fez vinculação a dois tipos de redes: dispersed networking (i.e rede dispersa) e a highly connected networking (rede altamente conectada) (LOIOLA et al, 2013).

Considerando o breve resgate histórico da teoria de redes, percebe-se que antropólogos e sociólogos há muito tempo se mostram “preocupados com o modo com que os atores estão ligados uns aos outros, e como estes laços de filiação servem tanto como um combustível para obter coisas e como uma cola que prevê a ordem e sentido à vida social” (POWELL; SMITH-DOER, 2003, p. 3). Esses estudos buscam explicações relacionais, sistêmicas e contextualizadas ao invés de explicações individuais, atomizadas e essencialistas (BRANDÃO, 2014). A figura 01, apresenta os temas abordados ao longo dos anos no que tange a pesquisa sobre redes sociais.

Figura 1: Temas abordados nas pesquisas sobre redes sociais Fonte: LOIOLA et al (2013, p. 152)

Anos de 1950/1960: Resolução de problema em grupo

Suporte social

Fenômeno urbano complexos Formação de coalização grupal Difusão e adoção de inovações

Anos 1970/1980:

Tomada de decisão em comunidade Poder e redes interorganizacionais

Formação de coalização Urbanização e bem-estar individual

Cognição e percepção social Resposta a crises e conflitos nas

organizações

Anos de 1990:

Cultura Organizacional e relações informais de amizade Relações de poder, sensemaking

e impacto em inovações Reputação Gênero e redes intraorganizacionais Percepção de conflito intergrupal

Relações e comportamento antiético

Após 2000:

Redes interorganizacionais Redes de alto e baixo monitoramento e desempenho

Rede e atitude individual Alternativa terapêutica e saúde

mental

Intervenção em comunidades Abordagem cognitiva e rede

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Pesquisas acerca de redes têm surgido em vários campos de estudos como na Sociologia, Antropologia, Ciência Política, estudos organizacionais, entre outros. A perspectiva de rede foca na compreensão das relações dos atores que compõem as organizações. Dessa maneira, os estudos que trabalham com a abordagem de redes buscam analisar as relações existentes entre as pessoas ou organizações, bem como a ligação entre elas.

Desta maneira, percebe-se um crescimento no que tange os estudos acerca de redes sociais a partir da segunda metade do século XX. Para Nohria (1992), o conceito de redes - desde 1950 - vem ocupando espaço relevante, em várias áreas de conhecimento, como na Antropologia, Psicologia, Sociologia e Biologia Molecular. De acordo com Lastres e Cassiolato (2003), as redes compõem uma forma organizacional de influência mútua entre os atores, através das trocas de informações, conhecimento, compartilhamento de recursos, considerada como a principal maneira de alcançar a inovação organizacional.

O conceito de redes tem sido bastante utilizado para investigar as relações que se dão entre diversos atores nos estudos organizacionais, mas, muitas vezes, de forma indiscriminada. Nohria (1992, pág. 3) atenta que essa “proliferação indiscriminada do conceito de redes ameaça relegá-la ao status de uma metáfora evocativa, aplicada tão incorretamente que acabará abarcando qualquer coisa”.

Britto (2002) explica que há uma grande confusão em diferenciar o que são organizações em redes, indústrias em redes e redes de organizações. De acordo com o autor, empresa em rede se relaciona à forma intraorganizacional, como desenvolvimento multidivisional, como a disseminação da tecnologia da informação. Já o que se refere à indústria em redes é a compatibilidade e interconexão entre unidades de trabalho. O último conceito, redes de organizações, está associado à relação interorganizacional, em que essas relações apresentam um caráter cooperativo e recíproco entre organizações, determinando outra forma de gerir as ações econômicas.

Conforme Powell (1990), as organizações têm sido entendidas como entidades estruturadas com dependências umas das outras e, desse modo, estão envolvidas em redes sociais. Dentro dos aspectos de reciprocidade e cooperação, a teoria das redes sugere que todas as organizações podem ser vistas como redes sociais. A rede social é caracterizada como um conjunto de atores e organizações

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conectadas através de relacionamentos sociais, que auxilia na forma de análise das organizações (NOHRIA, 1992).

A perspectiva de redes sociais destaca a função institucional da firma, contribuindo para o alargamento da visão limitada da perspectiva instrumental e puramente econômica. Este prisma sociológico abre oportunidades para investigar como os laços sociais influenciam as relações econômicas (CARVALHO, 2002).

Para Powell e Smith-Doerr (1994), as redes sociais apresentam duas abordagens de estudo: a perspectiva de governança e a perspectiva de redes de forma analítica; as duas abordagens apresentam conceitos como reciprocidade, conectividade e imersão. As redes são vistas como oportunidades para as organizações que fazem parte da estrutura, mas também aparece como fonte de restrição de relações, ou seja, o que se chama de redundância, fazendo com que os atores convivam com as mesmas pessoas, sem aumentar seus relacionamentos, e, por consequência, suas informações.

A ambas as abordagens são utilizadas como um fator dinamizador das ações das organizações tanto públicas quanto privadas. Assim sendo, faz-se necessário distinguir a perspectiva analítica da perspectiva de redes como governança. Para Lopes e Baldi (2009, pág. 1008):

Diferenciar rede como perspectiva de análise de rede como estrutura de governança é importante porque quando se trabalha apenas como estrutura de governança não é possível inferir ou apontar que as redes possam produzir desenvolvimento ou mesmo melhor desempenho econômico por si só.

A perspectiva de redes se destaca por compreender aspectos organizacionais estáticos e dinâmicos, ao longo dos anos, de uma organização, o que proporciona uma melhor compreensão das organizações em diferentes níveis de análise (TICHY, TUSCHMAN e FOMBRUM, 1979).

Para Powell e Smith-Doerr (1994), os estudos acerca de redes buscam entender como os indivíduos estão conectados e como essa relação ajuda na vida social. Vale ressaltar que inicialmente os estudos não enfatizam a ação econômica, só a partir da década de 1980 que isso irá ocorrer (LOPES e BALDI, 2009). Para Powell e Smith-Doerr dentro da ação econômica existe tanto uma visão sobressocializada quanto subsocializada.

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A visão subsocializada refere-se “à atomização que resulta de uma busca estreitamente utilitarista dos interesses próprios” (GRANOVETTER, 1985, p. 6), ou seja, o homem é visto como um ser racional e egoísta. Já a visão sobressocializada refere-se às pessoas como seres “obedientes às diretrizes ditadas por sistemas consensualmente desenvolvidos por normas e valores, interiorizados por meio da socialização, de forma que a obediência não é percebida como um peso” (GRANOVETTER, 1985, p. 3).

Quando Granovetter (1985) apresenta o conceito de imersão social, que se refere à inter-relação entre a estrutura social e atividade econômica, ou seja, à natureza contingente da ação econômica, ele faz uma crítica aos pressupostos neoclássicos, assumindo uma postura de comportamento nas relações de autointeresse. Os neoclássicos deduzem que a ação econômica é minimamente afetada pelas relações sociais, logo, uma visão subsocializada.

Granovetter (1985) faz uma crítica aos cientistas políticos e aos sociólogos que veem as pessoas como indivíduos facilmente influenciados pela opinião dos outros, sendo obedientes, de forma consensual, às normas e valores e sem percebê-las como um fardo.

Tanto na visão sobressocializada quanto na subsocializada o ator é visto como um ser atomizado. Na visão subsocializada, essa atomização é detectada pelo autointeresse do ator, sendo as relações sociais o único caminho para alcançar um determinado objetivo. Já na visão sobressocializada, a atomização do ator é percebida através das relações sociais que apresentam o mesmo comportamento, ou seja, por padrões de comportamentos cuja origem passa a internalizar (GRANOVETTER, 1985).

Comungando com o pensamento de Granovetter, Barber (1995) advoga que as relações econômicas deveriam ser vistas como relações sociais, induzidas, parcialmente, por normas e valores. Para o autor, toda troca econômica é assentada apenas por valores e normas, que são variáveis sociais e culturais. Nesse caso, os estudos de redes sociais junto com a visão da imersão social permitem compreender a ação humana, bem como a estrutura e os constrangimentos dessas relações.

De acordo com Nohria (1992), a perspectiva de redes para analisar uma organização perpassa qualquer nível de análise, sejam em grandes ou pequenas organizações. O autor descreve cinco premissas para justificar a adoção dessa perspectiva, conforme quadro 02:

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Premissas Explicação

1. Organizações são redes sociais

Toda organização é uma rede social, e redes sociais são pontos (pessoas e organizações) ligados por um conjunto de relações (amizades, transferências de conhecimento ou participação em ações sociais comuns).

2. Ambiente organizacional é rede de outra organização

Como as organizações são sistemas que se relacionam com outras organizações, o ambiente, organização é entendido como uma rede de outras organizações.

3. Ações dos atores tem relação com a posição na rede

As atitudes e comportamentos dos atores dentro da organização vão depender em qual posição o ator encontra-se na rede.

4. Redes constrangem ações Essa premissa parte do pressuposto de que as redes modelam e são remodeladas pelas interações dos atores, sendo também, muitas vezes, limitadas pela posição estrutural que ocupam na rede.

5. Análise comparativa da rede por bloco

A última premissa diz que para fazer uma análise comparativa das organizações deve-se observar a rede, focando nas características dos relacionamentos como análise por blocos, técnicas analíticas, ou seja, a perspectiva de redes oferece muitas ferramentas para análise comparativa.

Quadro 2: Premissas para analisar redes Fonte: Elaborado a partir de Nohria (1992)

Isso posto, percebe-se que as redes são sistemas complexos, formados por diversos subsistemas, e que cada ator é responsável pelo seu desenvolvimento, bem como pelo desenvolvimento da rede. Dessa maneira, compreender as ligações organizacionais em uma rede ajuda na garantia de melhores oportunidades de sobrevivência ao ambiente. Essas premissas irão contribuir para compreensão das relações interorganizacionais das Escolas de Governo e para a formação profissional dos servidores públicos do estado do Rio Grande do Norte.

Ampliando o conceito de imersão social13 apresentado por Granovetter (1985), Zukin e DiMaggio (1990) consideram a ação econômica como algo contingente e apresentam quatro mecanismos distintos e inter-relacionados, que são: estrutural, cultural, político e cognitivo.

A imersão estrutural procura compreender como a estrutura da rede afeta a ação econômica dos atores, ou melhor, entender como os atores (participantes da rede) estão relacionados e de que forma trocam informação pela busca da inovação. Os estudos que subsidiam são: arquitetura da rede (BURT, 1992), posição na rede (BURT, 1992; POWELL e SMITH-DOERR, 1994; GULATI e GARGIULO, 1999), qualidade dos relacionamentos (UZZI, 1997), tipos e força dos laços

13 Imersão social refere-se ao inter-relacionamento das questões sociais e as atividades econômicas

referem-se à configuração de como a ação econômica é constituída pela questão social (GRANOVETTER, 1985; ZUKIN e DIMAGGIO, 1990).

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(GRANOVETTER, 1973) e conteúdo dos laços (UZZI, 1997; GULATI e GARGIULO, 1999).

Ainda sobre a estrutura da rede, Granovetter (2005) frisa quatro mecanismos com relação aos resultados econômicos: as normas e a densidade da rede; a força dos laços fracos; a importância dos buracos estruturais; e a interpenetração da ação econômica e não econômica.

VANTAGENS DESVANTAGENS RE D E S D E N S A S

- Informações mais refinadas;

- Facilitam o fluxo de informação e outros recursos;

- Facilitam o desenvolvimento das estruturas de comportamento em comum;

- Facilitam a atribuição de sanções;

- Gestão conjunta para resolver problemas; - Promovem confiança, cooperação, reciprocidade e controle social entre seus membros;

- Permitem a criação de diferenciais e de vantagens competitivas.

- Fornecem as mesmas informações e os mesmos benefícios;

- Precisam de significativos investimentos; - Pode reduzir a capacidade de adaptação quanto à dinâmica de imprevisibilidade do ambiente. RE D E S DIF US A S

- Facilitam o acesso às novas informações pelo caráter não redundante das relações;

- Permite enfrentar a incerteza do ambiente competitivo;

- Não necessitam de significativos investimentos.

- Informações generalistas não necessariamente úteis.

Quadro 3: Vantagens e desvantagens das redes, segundo sua densidade.

Fonte: Compilação de dados (SORENSEN, 2007; POWEELL; SMITH-DOER, 1994; GNYAWALI; MADHAVAN, 2001; ROWLEY; BEHRENS; KRACKHARDT, 2000; UZZI, 1997 APUD BRANDÃO, 2014, p. 67).

Quanto às normas e à densidade, Granovetter (2005) defende que quanto mais contatos recíprocos entre duas pessoas conectadas (diáde14), estando conectados uns aos outros, mais informações são compartilhadas entre os atores envolvidos, facilitando a modelagem do comportamento. Todos os grupos harmônicos tendem a ter estruturas normativas e culturais semelhantes que moldam o comportamento de forma igualitária entre as organizações participantes da rede, para isso, Granovetter (1992) classificou como sendo uma rede de alta densidade.

Nesse contexto, a rede é considerada de alta densidade quando os atores imersos estão ligados de tal maneira que conseguem suscitar informações relevantes. Já a rede difusa (esparsa) é uma rede de atores com baixo grau de relação ou até mesmo desconectados, que apresentam interesses distintos, gerando pouca informação, muitas vezes generalista e até mesmo desnecessária

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(SORENSEN, 2007). Ambos os tipos de redes (densas e difusa) têm vantagens e desvantagens, a depender do contexto ao qual a rede esteja inserida. Para Rowley et al (2000), as redes de alta densidade são mais benéficas em ambientes estáveis, já as redes difusas são mais vantajosas em ambientes incertos. O quadro 03 mostra as vantagens e desvantagens das redes densas e das difusas.

As duas perspectivas (densas e difusas) mostram o mérito das redes sociais a partir das relações estabelecidas pelos laços entre os atores (indivíduos e/ou organizações). No entanto, para explicar a força dos laços se faz necessário compreender o que são os laços. O conceito de redes sociais dita que as redes são formadas por um conjunto de relações ou laços existentes entre os atores. O laço tem conteúdo e forma, o conteúdo se relaciona ao tipo de relação existente entre os atores, como o fluxo de informação, de recursos ou até mesmo um conselho ou amizade. Já a forma explica a força e a intensidade da relação (POWELL; SMITH- DOER, 1994), denominada por Granovetter de laço fraco e forte.

Granovetter (1973) foi um dos pioneiros na discussão dos laços sociais, pois explicou a teoria de redes sociais a partir dos laços e os classificou entre fortes e fracos. Para o autor, a intensidade dos laços e as interações podem ser medidas por meio da intimidade, confiança, quantidade de tempo e favores entre os atores, como intensidade emocional e a reciprocidade. Os laços fortes se caracterizam pelas relações mais próximas e diretas, como um amigo íntimo que se encontra conectado a outras pessoas e com isso surge a oportunidade de se relacionar. Já os laços fracos são aqueles imprescindíveis para criação de uma integração dos atores em uma comunidade, em que surgem as oportunidades, por vincular atores de vários grupos.

Desse modo, Granovetter explica que se atinge o maior número de pessoas por meio dos laços fracos, pois estes podem tornar-se pontes (bridges ou capital social de ponte) entre dois grupos, ampliando as ligações com outras comunidades, aumentando as suas ações, baseando-se na ampliação das fontes de informação e conhecimento. Enquanto que nos laços fortes, a redundância desses laços impossibilita o alcance de novas trocas de informações. Sendo assim, as relações de base para construção das redes seriam entre similares, entre indivíduos iguais do ponto de vista de suas características demográficas (bonding ou capital social de ligação), enfatizando aspectos como confiança e comprometimento.

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Uzzi (1997) contribuiu com a teoria dos laços, mostrando que existem dois tipos de laços e diferenciando as relações de mercado das relações imersas socialmente. O primeiro tipo é o arm`slength, relações comuns do mercado e ações coletivas entre os parceiros, caracterizado, para o autor, pela falta de reciprocidade entre os diversos parceiros, que buscam a realização de trocas, visando apenas fatores econômicos.

O segundo tipo são os laços embedded, que são os imersos, em que se trabalha a confiança como meio de governança. Esse tipo de laço busca uma relação mais estreita e de longo prazo, na qual o interesse vai além dos negócios. Mesmo nas relações caracterizadas como arm’slength sempre existirão relações sociais entre os atores, pois a própria ação econômica pressupõe uma influência social (Uzzi, 1997).

Nesse sentido, pode-se utilizar da perspectiva dos laços para explicar vários eventos nas relações interorganizacionais. Assim, Granovetter (1985) e Uzzi (1997) mostram que as estruturas dos laços podem influenciar as ações econômicas entre os atores. A partir desses conceitos e diferenciação pode-se avaliar a força dos laços existentes entre os atores participantes de uma rede.

Burt (1992) mostra que mais do que a força do laço, a arquitetura da rede impacta no desempenho das organizações, na tentativa de compreender como a estrutura de certos arranjos na rede melhora o desempenho entre eles. O autor parte do pressuposto que as redes mais densas são as que mais prosperam, estando ligadas a contatos mais distantes e não redundantes. Então, para sustentar os conceitos de relação redundante da relação não-redundante, Burt apresenta os "buracos estruturais".

De acordo com Burt (1992) os buracos estruturais são relações não- redundantes (atores desconectados) entre os contatos, eles podem não se comunicarem, mas terão um intermediário entre eles, que são conhecidos como Broker e detêm benefício de informação e controle. Algumas são as vantagens de se estabelecer relações não-redundantes: muitas informações que não se tinha acesso e maior poder e controle para o Broker (intermediário). Assim posto, percebe-se que