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A Nova Sociologia Econômica (NSE) se manifestou no início da década de 1980, baseada na ideia da associação entre economia e sociedade. Porém, em 1944, Polanyi, no seu clássico “A grande transformação”, contribuiu com a análise dos sistemas econômicos na sociedade pré-capitalista, explicando o motivo do homem enquanto ser social (POLANYI, 1957). O autor acredita que, independentemente da configuração da organização social, o sistema econômico é sempre guiado por razões não econômicas. Diante dos seus estudos, o teórico é considerado o precursor da Sociologia Econômica, abrindo um novo campo de pesquisa nas Ciências Sociais (VINHA, 2001).

A NSE retoma e aprimora conceitos da Sociologia Econômica de Polanyi, fazendo uma reversão da antiga sociologia econômica, em que o foco é no determinismo econômico da sociedade e passa para uma determinação social da economia, reconsiderando clássicos como Weber, Durkheim e Simel. Assim, percebe-se que a Sociologia Econômica de Polanyi e a NSE, buscam a integração das teorias sociais às econômicas, diferenciando-se das demais correntes do

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pensamento sociológico, por considerar a dimensão histórica, bem como os estudos empíricos (VINHA, 2003). Sobre esse aspecto, Lévesque (2009, p. 109) afirma que

...a antiga Sociologia Econômica tratava exclusivamente do que se passava na origem das atividades econômicas (as condições do desenvolvimento) ou nos seus efeitos (as consequências sociais), confirmando assim a separação entre o econômico e o social.

A NSE apresenta um novo olhar sobre a economia, o da interdependência entre o econômico e o social, focando na importância das relações sociais, tornando a economia cada vez mais relacional (GADREY, 1996 apud LÉVESQUE, 2009). Dentro do paradigma da NSE existem diversas abordagens, nas quais a literatura se divide entre a língua francesa e inglesa, conforme quadro 1, a seguir:

LÍNGUA FRANCESA LÍNGUA INGLESA

MAUSS: contra o utilitarismo; paradigma da dádiva (Caillé e Godbout)

Nova Sociologia Econômica: redes e imersão social da economia (Granovetter)

Economia social e solidária, economia plural (Laville e Roustang)

Evolucionistas e neoschumpeterianos: sistemas sociais de inovação (Nelson, Winter, Dosi, Freeman)

Regulacionistas: instituições e compromissos sociais, modelo de desenvolvimento (Aglietta, Boyer e Lipietz)

Neocorporativistas: governança e democracia social (Schmitter e Streeck, Hollingsworth) Economia da grandeza: mundos e cidades

(Boltanski, Chapiello, Thévenot)

Novos institucionalistas: bifurcação e especialização flexível (Piore, Sabel, Hodgson) Economia das convenções: mundo da

produção e mercado como organização (Favereau, Orléan, Salais)

Socioeconomia: nova disciplina e dupla dimensão da economia (Etzioni, Lawrence e Coughlin)

Quadro 1: Abordagens da NSE

Fonte: LÉVESQUE (2007, p. 113)

As correntes francesas abordam as teorias de Mauus, (Economia social e solidária, as regulacionistas, a economia de grandeza e a economia das convenções) que propõem um novo paradigma, baseado no conceito de dádiva9 para interpretar a importância da relação social na economia. Segundo Lévesque (2007, p. 52):

O desdobramento dos trabalhos do MAUSS propõe uma reconstrução do objeto da economia partindo do paradigma da dádiva. Esta se torna, ao mesmo tempo, um elemento revelador da relação social e da troca mercantil, que é considerada posterior à dádiva, contrariando os diversos mitos defendidos pelos economistas. Se a troca mercantil libera as partes

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Dádiva, objeto que se dá gratuitamente, ou seja, o ato de oferecer de forma espontâneo algo de valor material ou não.

Dádiva, objeto que se dá gratuitamente, ou seja, o ato de oferecer de forma espontâneo algo de valor material ou não.

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de qualquer dívida, a dádiva cria uma obrigação, como atesta o ciclo dádiva–contradádiva, ou melhor, dar–receber–ofertar.

Na perspectiva da Mauus, os fatos sociais são vistos como elementos econômicos, políticos, religiosos, imaginários e familiares. A economia solidária e plural busca a equidade a partir da democracia e da participação dos cidadãos. Dessa forma, a teoria de Mauus visa que a relação entre as pessoas é determinante na troca de bens, reafirmando que a economia é imersa na sociedade.

Já a teoria da regulação acredita que as relações sociais são assimétricas, devido às divergências de interesses e atividades, incorporando a dimensão política da economia, como forma de moldar a regulação e a competição. A economia da grandeza é vista como o suporte para definir o mercado em termos de organização, em que acontecem as interações sociais. E, por fim, e, não menos importante, a economia de convenções coordena as ações da economia da grandeza, caracterizando o mundo da produção, das conexões em redes, de uma cidade ou até mesmo um território (LÉVESQUE, 2007).

Na literatura de língua inglesa, Granovetter (1985) é compreendido como o principal autor da NSE, baseando sua abordagem na crítica da concepção do indivíduo atomizado. Granovetter (1985) faz uma crítica a Polanyi por ter superestimado a imersão social nas atividades econômicas e acredita que o mercado só funciona quando mobilizado em redes.

Granovetter (2000) estabelece três princípios para análise da economia: 1) toda ação econômica é uma ação social; 2) a ação econômica é socialmente situada; e 3) as instituições econômicas são construções sociais. Esses princípios foram construídos a partir dos estudos de Berger e Luckmann (1966) que defendem a participação das ações sociais na construção dos mercados.

Partindo desses princípios, Granovetter (2000) argumenta que a sociologia econômica deve oferecer meios para explicar a economia alternativa, “... àquela dada pelos economistas neoclássicos, principalmente os neoinstitucionalistas, os quais sustentam que as instituições se impõem pela sua eficiência e que são apenas substitutas para o mercado” (LÉVESQUE, 2007, P. 120).

Outra abordagem da língua inglesa é a dos novos institucionalistas, que apresenta três suposições: 1) que a economia não pode ser considerada uma ciência; 2) a principal força é a tecnologia, vista como um instrumento para agregar linguagem e comportamento; e 3) a economia é algo substantivo e encontra-se

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inserida na sociedade e nas instituições (HODGSON, 1988). O autor coloca que a grande contribuição dessa teoria se fundamenta na combinação da hierarquia estatal e do mercado, focando em novas formas de cooperação a partir de pequenas redes.

Já a abordagem Evolucionista inspirada na schumpeteriana defende que a ciência econômica se guia num modelo mecanicista de forma errônea. Para os autores dessa teoria, a biologia é mais apropriada para analisar as mudanças da economia (DOSI, 1991).

Os neoschumpeterianos têm o foco na inovação e seu paradigma é o tecnológico e dos sistemas sociais de inovação baseados nos institucionalistas (FREMAN, 1995). Nessa abordagem, as organizações tanto podem fomentar como prostrar os processos de inovação, criando uma dependência, e constituindo, assim, as inovações sociais que são a busca por novas soluções para um problema social, solução mais efetiva e sustentável.

Os neocorporativistas focam no governo e na democracia social a partir das relações sociais que são formalizadas pelo conjunto de regras, eles também destacam o potencial dos bens coletivos, bem como os bens públicos, representando uma vantagem para economia nacional. Desse modo, os fatores extraeconômicos e os sociopolíticos são decisivos para boa parte das ações econômicas (LÉVESQUE, 2007).

Por fim, a abordagem da socioeconômica centra-se na afirmação que a economia é parte integrante da sociedade, visando um paradigma que relacione as variáveis da ciência econômica com as demais abordagens das ciências sociais e humanas. Essa abordagem é vista como complementar à ciência econômica neoclássica, porém, “... a socioeconômica defende a inserção da economia e do mercado na sociedade...reconhece a multiplicidade das lógicas das ações...” (LÉVESQUE, 2007, P. 124), ou seja, considera seus próprios interesses, mas prevê outras motivações como: moral, emoção, obrigação, confiança e laços sociais, focada na ética dos negócios e na sociedade (TURCOTTE E SALMON, 2005 APUD LÉVESQUE, 2007).

Diante das abordagens apresentadas anteriormente, as de língua inglesa e as de língua francesa, percebe-se uma forte crítica aos fundamentos da economia neoclássica, bem como a semelhança que discorre que a economia é social. Dessa forma, apresenta uma forte dependência das relações sociais, ou seja, da

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construção social das ações, pois as organizações são vistas como instituições sociais e possuem diversas relações com outras organizações.

Nesse sentido, a NSE contribui para a construção dos pressupostos da abordagem de redes sociais, apresentado a importância das relações interorganizacionais nos grupos organizacionais (SERVA e ANDION, 2006) para o desenvolvimento organizacional e o funcionamento do mercado, criando um novo paradigma nas ciências sociais e humanas, a teoria de redes. Portanto, configura-se como uma contribuição indispensável para a teoria das organizações, colaborando para análise da competição empresarial, grupos empresariais e empreendedorismo (SERVA e ANDION, 2006).

De acordo com Serva e Andion (2006, p. 14), “para que a NSE assuma um papel relevante nos debates sobre o espaço da economia, na atualidade, parece necessário que ela avance além dos seus pressupostos básicos...”, o que poderá ocorrer com o diálogo com a teoria das organizações. Esta tese concentra-se na corrente da NSE de língua inglesa e seus desdobramentos a partir dos estudos de Granovetter, por ser a teoria que melhor responde ao problema de pesquisa, considerando ainda a corrente mais difundida no Brasil e a que gera maior discussão sobre suas implicações em casos concretos.