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REDES SOCIAIS E ATIVISMOS URBANOS: ENTRE SUJEITOS, AFETOS,

3 CIDADES REBELDES: “A CIDADE É NOSSA OCUPE-A”

3.5 REDES SOCIAIS E ATIVISMOS URBANOS: ENTRE SUJEITOS, AFETOS,

Hoje, a comunicação de massa e a difusão da informação na sociedade em rede, como demonstrei no item anterior, vêm contribuindo, sobremaneira, para ampliar sensivelmente as formas associativas, as práticas críticas e ativistas.

Trata-se, sem dúvida, de um contexto em que as facetas de dominação e resistência, bem como dos agentes envolvidos nessa disputa, tornam-se consideravelmente complexas, em permanente transformação, não permitindo, a nós pesquisadores, reunir todas as “agências” “sob a alçada de uma grande teoria comum” (SANTOS, 2001, p.28)204

.

203

APPADURAI, A. Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Teorema, 2004.

204

SANTOS, B.S. A crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência. São Paulo: Cortez, 2001.

Acomodados nesse ambiente, os atuais coletivos e movimentos urbanos, movidos para além das necessidades, colocam-se num campo capaz de “articular a heterogeneidade de múltiplos atores coletivos em torno de unidades de referências normativas, relativamente abertas e plurais” (SCHERER‑WAREN, 2008, p.515)205

. Traduzem, portanto, uma sociedade conectada, online, “onde os movimentos sociais estão/são (des)centralizados (ao menos no que diz respeito ao seu modo de organização) e funcionam por compartilhamento da informação por meio de mensagens. Seja por SMS ou pelas redes sociais ou, ainda, pelas hashtags”. (DIAS; BARBAI; COSTA, 2014, p. 201)206.

Flutuando entre trocas horizontais e dispersas, semelhanças e diferenças, práticas e convivências, disseminação e troca, são articuladas novas solidariedades e formas de mobilização, conduzindo-nos ao acesso de conteúdos e táticas direcionadas à programação e debate dos espaços públicos, à sua intervenção, imaginação e transformação.

Fazem, dessa maneira, surgir “vozes que se colocam contra modelos de cidade pouco abrangentes e inclusivos, e que valorizam as áreas urbanas livres não apenas como espaço de uso apaziguado, mas como lugar de apropriação política, em sua esfera simbólica ou cotidiana”. (LIMA, 2015, p. 45)207

.

Há, por consequência, a construção de novas possibilidades de troca de saberes, a constituição de formas de sociabilidade e, principalmente, a ativação e apropriação do caráter público dos ambientes citadinos. Por outro lado, a própria atuação dos movimentos sociais urbanos termina abrindo, na frecha centralizadora das políticas públicas, espaço para uma participação mais horizontal, pondo em cheque a “cidade formal”, suas lógicas, fundamentos e abordagens tradicionais. Oferece, assim, uma inserção crítica ao processo de degeneração urbana e uma alternativa vocacionada para a pluralização de vozes, colocando-se na contramão do caráter totalizante dos grandes planos.

Trata-se, portanto, de um ambiente em que se destaca o uso das mídias sociais, em especial as digitais (Twitter, Instagram, Facebook e Blogs) que, por meio emprego de tecnologias desterritorializantes, funcionam como potentes recursos de mobilização de

205 SCHERER‑WAREN, I. Redes de movimentos sociais na América Latina. Caderno CRH, v.21, n.54, p.457‑475, 2008.

206

DIAS, C.; BARBAI, M. A.; COSTA. G. C. Movimentos da contemporaneidade: a rua, as redes e seus desencontros. In: RUA [online]. 2014, Edição Especial – ISSN 1413-2109.

207

LIMA, Carlos Henrique Magalhães. A cidade em movimento: práticas insurgentes no ambiente urbano. In:

pessoas, disseminação de informações e dispersão de conteúdos, colocando, dessa maneira, em contato (ou em choque) demandas e experiências locais nos processos de comunicação.

Assumem, desse modo, uma importância central na forma como as relações e interações sociais se estabelecem e se transformam. Além de permitirem a livre produção e circulação de conteúdos, diversificam os perfis, eliminam as barreiras geográficas e organizam comunidades, facilitando todo o espectro de mobilizações. Afetam, portanto, o recrutamento, adesão e mobilização de novos membros, especialmente a forma como os movimentos sociais são planejados.

São inúmeros os exemplos recentes de movimentos sociais originados e desenvolvidos nos ciberespaços, sendo ferramenta fundamental para a ação política direcionada à intervenção e mudança. Os protestos da Primavera Árabe, em 2010, no Cairo; o movimento dos Indignados, em 2011, em Madri, e do Occupy Wall Street, também em 2011, em Nova York, o Movimento Ocupe Estelita em 2012 e as Jornadas de Junho de 2013, no Brasil atestam essas formas de mobilização e luta social. Todos eles revelam a centralidade dos processos não institucionalizados e os desejos coletivos, jogando, dessa maneira, luz sobre as forças sociais e as tensões entre os diferentes interesses.

Assim, buscam, de forma coletiva e horizontal, mudanças sociais ativando novas táticas e estratégicas, repertórios de ação não convencionais, “relacionados a novos modos de disseminação de informações e coordenação de mobilizações, como o uso de abaixo- assinados, e-mails, listas de discussão, entre outros” (FLORES; GOMES, 2017, p. 224)208.

Emergem práticas que “firmam-se em torno de uma articulação entre os novos meios e as formas tradicionais de se protestar e mobilizar, que passam a coexistir” (Ibidem, 2017, p. 224- 225). São inúmeras as estratégias, ações e práticas209 de se combinam produtivamente, fazendo surgir novos discursos, ferramentas e visibilidades de sujeitos políticos.

208

FLORES, Natália Martins; GOMES, Isaltina Maria de Azevedo Melo. #OcupeEstelita: ciberativismo e

mobilização social. In: C&S – São Bernardo do Campo, v. 39, n. 1, p. 219-251, jan. /abr. 2017

209

Rigitano aborda essa variedade de ações a partir da proposta de Vegh (2003 apud RIGITANO, 2003) de classificação do ativismo on-line em três categorias, que podem se combinar nas práticas ciberativistas. A primeira centra-se na conscientização e apoio a causas dos movimentos sociais e aborda o uso do meio como fonte alternativa de difusão de informações. A segunda trata de formas específicas de ativismo on-line, colocadas em prática a partir da organização de determinada ação de mobilização por meio do uso da rede. A terceira remete a iniciativas de ação/reação ou ativismo hacker, que envolve ações de invasão e/ ou congestionamento de sites e ciberterrorismo”. (FLORES; GOMES, 2017, p. 225)

Diante desse panorama, o movimento #OcupeEstelita, caso que tenho investigado, representa um dos exemplos mais importantes para verificar, por um lado, os debates em torno do projeto de cidade, as reivindicações e demandas sociais, o espaço discursivo de produção de sentidos sobre espaço urbano em sua agenda pública e, por outro lado, acompanhar uso de tecnologias e das mídias sociais digitais na articulação de diferentes inteligências sociais coletivas210. Representa, dessa maneira, uma oportunidade de ensejar uma reflexão sobre se o campo dos new media traduz, realmente, uma ruptura da ordem social e, caso positivo, quais são as novas configurações e suas características.

Vale lembrar, como já tratado anteriormente, que o #OcupeEstelita nasceu em 2012 essencialmente no ambiente virtual, sem um centro organizador ou liderança política,211 no sentido tradicional, congregando um número expressivo de pessoas preocupadas em questionar e denunciar a instalação do empreendimento imobiliário Projeto Novo Recife. Utilizando-se do ambiente da web, passou a construir uma agenda de debate212 que permitiu envolver a sociedade em sua causa, incitando a mobilização e participação de diversos atores, a articulação de eventos (online e off-line) e, especialmente, a construção de um espaço discursivo sobre o espaço urbano, sua degeneração e o destino de nossas cidades. Participam dele, estudantes, arquitetos, engenheiros, cineastas, funcionários públicos, pessoas com formação e trajetória de vida das mais diversas, discutindo um espectro de assuntos mais amplo, do meio ambiente à estética da cidade.

Na verdade, trata-se, principalmente, de um movimento que denuncia e expõe o “modelo de desenvolvimento” e a “crise de nossas cidades”, como nos lembra um de seus principais articuladores:

210

Mais do que verificar os atributos individuais, preocupa-me inquirir, como nos faz perceber Rodríguez (1995), sobre as relações e os tipos entre atores; as formas de relação (intensidade da união entre atores ou nível de participação nas mesmas ações); o conteúdo relacional (relações de poder, instrumental, sentimental etc.) e os níveis de análise (redes egocêntricas, díades, tríades etc.

211

Vale registrar a existência da figura dos moderadores da comunidade que agem comunicativamente para manter a coesão do grupo. Essas pessoas, no decorrer dos acontecimentos, terminaram assumindo, em certa medida, uma liderança e um protagonismo, apesar do próprio movimento reafirmar a natureza horizontal e a ausência de lideranças formais. Claramente, inclusive, isso se faz perceber nas citações que me valho, especialmente, na recorrência dos mesmos atores. Nesse sentido, vale lembrar, portanto, que mesmo se tratando de uma rede, com uma lógica associativa, sua “estrutura extensa e horizontal não exclui a existência de relações de poder e de dependência nas associações internas e nas relações com unidades externas” (COLONOMOS, 1995, p.22)

212

Além do Projeto Novo Recife em si, passou a tratar temas como: democratização dos espaços públicos, mobilidade urbana, revisão e regulação do Plano Diretor e reorganização da legislação urbanística, transparência e participação popular, etc.

Aqui em Recife, a mobilização do DU a respeito do modelo de desenvolvimento da cidade começou com a oposição ao Projeto Novo Recife, um projeto simbólico de um modelo de desenvolvimento urbano segregador, excludente, privatista, que degrada o espaço público e cria uma cidade para poucos. Mas ficou claro, no decorrer da discussão que levantamos sobre esse projeto, que ele não teria sido possível sem uma grave falha institucional e sem uma proposital falta de transparência e de participação popular. Este projeto, como tantos outros (Torres Gêmeas, RioMar, Via Mangue, Arena do Sport etc.), só foi possível com um conjunto de omissões coniventes do poder público, o desprezo de diversos instrumentos que garantiriam a observância dos direitos da coletividade, um conselho de participação popular esvaziado e deslegitimado e um plano diretor que, embora construído em diversas conferências com participação da população, foi anulado por emendas do poder público e até hoje não foi regulamentado. (Leonardo Cisneiros, 2014)213

O DU e o MOE que contam com uma comunidade no Facebook, um perfil no Twitter, além de um canal no Youtube e um Blog, têm, de maneira potente, explorado as novas possibilidades de produção e distribuição de conteúdos, de cobertura de fatos e acontecimentos públicos, de contatos e interações sociais e de compartilhamento de informações, oferecendo “novas vias de mudança social, mediante a capacidade autônoma de comunicar-se e organizar-se” (CASTELLS, 2013, p. 28), construindo, assim, um caminho alternativo aos métodos usuais de controle empresarial e político, como nos lembra um de seus participantes:

O grupo funciona de fato a partir da lógica de rede que a plataforma do Facebook permite explorar, agregando virtualmente pessoas reais que conseguem convergir em alguns pontos importantes apesar e ao pesar de todas as suas diferenças. Em resumo diria que o grupo Direitos Urbanos tem pensado e catalisado uma insatisfação generalizada com a degradação da qualidade de vida gerada por um tipo de desenvolvimento econômico e urbano que não prioriza os espaços públicos, deteriorando e padronizando cada vez mais os espaços de convívio, de diversão, de encontro e de mistura na cidade do Recife. (João Paulo – Jampa, em 03 de abril de 2013, Direitos Urbanos)214.

213Em “A crise das cidades é a crise da democracia”, publicado no Blog de Direitos Urbanos em 03 de fevereiro de 2014. Disponível em: https://direitosurbanos.wordpress.com/2014/02/03/a-crise-das-nossas-cidades-e-uma- crise-da-democracia/. Acesso em: 03 de fevereiro de 2014.

214Em “O Direitos Urbanos e a política partidária: para muito além da lógica dos partidos, mas não sem eles”. Disponível em: https://direitosurbanos.wordpress.com/2013/04/03/o-direitos-urbanos-e-a-politica-partidaria- para-muito-alem-da-logica-dos-partidos-mas-nao-sem-eles/. Acesso em: 14 de abril de 2013.

Trata-se, portanto, de uma ferramenta, de uma plataforma e, ao mesmo tempo, de um fenômeno de comunicação essencial aos grupos minoritários e movimentos sociais, estruturando, de maneira ativa e engajada, um inovador processo de articulação de atores, participação e pressão social, alternativos aos espaços e práticas convencionais, conectando pessoas e saberes:

Tem esse elemento da conexão de grupos que, dificilmente, se conectam na intensidade fora da rede, ou seja, você tem saberes diferentes que se conectam, idades diferentes que se conectam, perspectivas diferentes que se conectam. Então, existe uma possibilidade de conexão para além dos círculos e que você consegue ter muito mais que é a coisa da inteligência das massas, ou seja, muita gente pensando, muita gente vinda de outros lugares consegue produzir inteligência sobre o assunto. (Leonardo Cisneiros, em entrevista).

Tudo isso, termina por permitir uma comunicação, de baixo custo e eficaz, das suas causas e ideias, como tão bem argumenta a Professora Ana Paula Portella, em texto publicado no Blog do Direitos Urbanos, no dia 11 de março der 2013:

Se constituiu como um ponto de aglutinação importante para a complexa teia de preocupações de cidadãos e cidadãs sobre o cotidiano e o destino da cidade, independentemente de suas filiações partidárias, ideológicas, corporativas e políticas e de suas identidades sociopolíticas e base territorial. Ou seja, todo mundo pode caber no DU, inclusive quem não mora em Recife ou Pernambuco, mas que se preocupa com a construção humana, justa e sustentável das cidades;

b) É uma plataforma de reflexão e debates permanentes que produz ideias, críticas e alternativas concretas aos principais problemas enfrentados pela cidade. Nesse campo, está se constituindo como um arquivo e uma base documental com textos e materiais audiovisuais diversos sobre os temas debatidos no grupo;

c) Finalmente, é também uma plataforma de articulação e mobilização política, que se organiza de forma horizontal, aberta e flexível, para a realização de ações diretas de transformação da realidade, seja no plano jurídico-político, no plano das sociabilidades, da cultura política ou das mentalidades.

Acredito que muito do sucesso do DU se deve às características que o diferenciam das ações políticas tradicionais, o que inclui a prática de alguns movimentos sociais. Abaixo listo algumas dessas características:

a) Ausência de hierarquias;

b) Estabelecimento de grupos de trabalho e lideranças pontuais a cada processo, ação ou discussão temática;

c) Ação voluntária e auto-financiada a cada momento específico (ou seja, não há caixa nem fluxo financeiro e há muita ‘vaquinha’ e ‘rá-rá’);

d) Interesse coletivo entendido da forma mais ampla (ou seja, ninguém está no grupo para defender a sua causa individual);

e) Ações planejadas uma a uma e a partir do envolvimento de quem pode e deseja participar;

f) Contribuição ‘técnica-profissional’ intensa dos membros (produzindo textos, vídeos, cartazes, maquetes etc.), de forma individual e coletiva; g) Diálogo e colaboração permanente entre diferentes saberes (urbanistas, advogados, cineastas, cientistas sociais, jornalistas etc.);

h) Transparência e ampla divulgação dos debates e ações, admitindo e valorizando a convivência de diferentes opiniões e posições – desde que coincidam no que se refere aos princípios do grupo.

Há ainda algo muito importante relacionado aos princípios e ao modus operandi do DU. Uma das principais bases de nossas formulações é o reconhecimento de que vivemos em uma cidade socialmente segregada, cuja elite opera com base na produção do medo, do ódio e do afastamento entre as pessoas. Superar esse estado de coisas é um dos nossos objetivos e, por isso, na nossa prática cotidiana procuramos propiciar o encontro – entre pessoas e grupos e entre as pessoas e a cidade e seus diferentes espaços e territórios. Além disso, em consonância com outros movimentos em muitas partes de mundo, nossa ação política procura incorporar a alegria, a beleza, a arte, o bom humor e o amor, entendido de forma ampla, generosa e solidária. O OcupeEstelita é a ação que melhor descreve esse modo de atuar, mas não é a única. (Ana Paula Portella, em 11 de março de 2013)215

Resolvi fazer essa citação na íntegra, pois a análise da Professora, além de completa, nos direciona para um campo extenso e denso que permite explorar e pensar como as mídias sociais tem assumido uma nova centralidade nos temas políticos e, especialmente, no debate sobre o destino de nossas cidades.

Ela aponta, sobremaneira, para alterações substanciais na maneira como nós, sujeitos urbanos, temos sido informados, articulados e mobilizados para causas, trazendo, ainda, a partir do encontro “entre pessoas e grupos e entre as pessoas e a cidade e seus diferentes espaços e territórios”, as novas fontes mediadoras. Funcionando como um ambiente catalisador, tem exigido dos gestores uma mudança de postura no tocante a formas tradicionais de relacionamento e, principalmente, de participação cultural e política.

Isto me leva a crer que esse processo é revelador de uma mudança social e cultural. Destaca-se, a meu ver, o lugar do empoderamento dos cidadãos, permitida, em grande parte, pela autonomia comunicativa. Ao utilizar as mídias sociais como forma de organização, sensibilização e pressão sobre as autoridades políticas e grupos econômicos, o DU e MOE,

215 Em “Direitos Urbanos | Recife: o que há de novo aqui?”, publicado em Direitos Urbanos no dia 11 de março de 2013. Disponível em: https://direitosurbanos.wordpress.com/2013/03/11/direitos-urbanos-recife-o-que-ha-de- novo-aqui/. Acesso em: 15 de setembro de 2014.

por exemplo, promovem além de uma nova forma de convocação e engajamento, uma nova audiência.

As estratégias e usos, por sua vez, foram diversas. Poderia, inicialmente, evidenciar o papel dessa plataforma na própria fiscalização (da mídia, das políticas e dos governos), seja no sentido de compartilhar, contestar, corrigir informações, seja no sentido de denunciar fatos, acontecimentos e mobilizar para eventos e ocupações:

19 de setembro, 9h15, Helena Castelo Branco, integrante do Direitos Urbanos, posta no grupo do Facebook: “Os lenhadores acabaram de chegar e vão derrubar a Acácia centenária. Em detrimento da recomendação do Ministério Público de PE- Belize Câmara. Socorro! Chamem a imprensa e todos pra evitar essa atrocidade! (Sic)”. Às 12h07, a própria Belize Câmara, promotora de meio ambiente, responde via celular: “Estive lá agora de manhã. A derrubada está suspensa!!!”. Mais que instrumentos de ativistas de sofá, a internet virou ferramenta fundamental para as novas manifestações sociais.

“Eu fui avisada sobre a árvore pelas redes sociais. Muitas vezes eu tomo conhecimento de denúncias pelo Facebook e já instauro o procedimento. Depois de algum tempo é que chegam as denúncias à promotoria. As redes sociais fazem com que eu me adiante”, disse Belize Câmara. No grupo dos Direitos Urbanos, ela já chegou a pedir adesão à luta pela preservação de imóveis de relevância histórico-cultural e arquitetônica e já solicitou que, ao fazerem uma denúncia, os internautas marquem o nome dela na publicação para que ela tome conhecimento do fato mais rapidamente.

Segundo Ana Paula Portella, o Facebook não serve apenas como instrumento de divulgação das ações, mas como plataforma de trabalho. Lá, são levantados debates, divulgadas notícias, documentos, postados vídeos das ações e criados seminários. “É uma ferramenta de trabalho importantíssima. Fazemos reuniões que duram três, quatro, cinco dias pelo inbox (mensagem interna), divulgamos cartazes, música, vídeos…”, disse, enfatizando que foram justamente as redes sociais que deram visibilidade ao movimento. (Juliana Colares, em 30/09/20012)216.

Sobre esse aspecto, desde o início o DU e o MOE se destacaram pela capacidade de mobilização dos atores, principalmente, em situações emergenciais envolvendo o projeto Novo Recife, como é possível notar nos recortes de publicações realizadas no Facebook

216

Disponível em: https://direitosurbanos.wordpress.com/2012/10/01/diario-de-pernambuco-destaca-novos- movimentos-sociais-organizados-pela-internet/. Acesso em: 15 de setembro de 2015.

Assim, fatos passaram, por meio da mobilização online, rapidamente a serem compartilhados informações e denúncias, obtendo uma disseminação sem precedentes na web. Entre eles, destacam-se, além das ocupações, a exemplo da Câmara de Vereados,

supramencionadas, o episódio da demolição dos galpões do Cais José Estelita, em maio de 2014, e a Reintegração de posse do terreno, em junho de 2014:

Nesses episódios, travaram-se ações emergenciais de mobilização de membros do movimento Ocupe Estelita, do grupo Direitos Urbanos, de atores individuais e de comunidades locais. Nesses casos, “o uso de tecnologias digitais tornou-se estratégico e importante, já que o movimento só ficou sabendo dessas ações pelo alerta dado via redes sociais digitais por simpatizantes ou membros do grupo que estavam no local dos eventos. A partir dessas informações o grupo pôde agir e organizar as ocupações e protestos”. (FLORES; GOMES, 2017, p. 232)217

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FLORES, Natália Martins; GOMES, Isaltina Maria de Azevedo Melo. #OcupeEstelita: ciberativismo e

Houve momento, também, que o perfil no Facebook, além de um canal de comunicação, destinava-se ao estímulo da população para o monitoramento, a vigilância e o engajamento na fiscalização do terreno objeto de disputa, lançando a campanha #VigieOEstelita:

Figura 21 – Publicações da campanha #vigieoestelita

Fonte: MOE.

Nela, em tom de alerta, o MOE chamava a atenção para o risco de derrubada dos armazéns, após a aprovação do Projeto Novo Recife no CDU, passando, desse modo, a instigar a verificação da manutenção dos prédios e da área:

Está passando pelo Cais? Tire uma foto e poste: