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REFLEXÕES SOBRE A AÇÃO GERENCIAL NA CESAN

PRÁTICA VII HIBRIDISMO ENTRE FORMALIDADE E PESSOALIDADE

7 REFLEXÕES SOBRE A AÇÃO GERENCIAL NA CESAN

7.1 ELEMENTOS NORTEADORES DA AÇÃO GERENCIAL NA CESAN

Desenvolvendo uma análise sobre os movimentos pelos quais passou a CESAN ao longo dos anos e sobre as práticas gerenciais que se dão nessa Companhia, foi possível perceber alguns elementos norteadores da ação Gerencial na CESAN. De maneira geral, pode-se constatar que a relação estabelecida entre governo e empresa exerce forte influência sobre o contexto interno da Companhia e que as articulações políticas internas e externas à organização têm grande relevância sob as práticas de gestão.

Sendo a CESAN uma empresa do setor público cujo maior acionista é o Governo, diretrizes nacionais e estaduais relacionadas ao setor de saneamento ambiental dão direção às ações dentro desta Companhia. Assim, como foi apontado por grande parte dos entrevistados, o crescimento da empresa está condicionado a prioridades de governo, que afetam a forma como a Companhia será gerenciada.

Ao mesmo tempo, ao momento de governo pelo qual passa a Companhia, se mesclam ainda uma multiplicidade de outros fatores que também tem influência sob a ação gerencial. Um grande condicionador percebido nesse sentido diz respeito ao fato de as funções de gerência serem ocupadas por indicação e de não existirem critérios formais para o ingresso nessas funções. Dessa forma, a realidade de gestão vivenciada na empresa se dá não só em função de um cenário macropolítico, mas também do contexto organizacional da empresa e dos atores sociais que nele estão envolvidos.

Nesse sentido, foram também percebidos como elementos norteadores da ação de gestores o estilo de gestão de cada gestor, o perfil de gestão do gestor imediato a ele, o padrão de ação dos empregados por ele gerenciados e, em consequência

disso, o alinhamento de cada gestor com o novo modelo de gestão desejado para a CESAN, com a forma de gerenciamento de seu superior imediato e com o que desejam os empregados de sua área.

Além desses fatores, também condicionam a ação dos gestores na CESAN as práticas de gestão já instituídas; novas formas de ação trazidas para dentro da empresa; as relações político, afetivas e simbólicas que se dão dentro dessa Companhia e a relação que os gestores estabelecem com a empresa, com o ofício, com a função que ocupam e com os demais agentes organizacionais.

Sobre as relações entre gestores e subordinados, de maneira geral, estabelece-se uma relação patriarcal, marcada ora pela rigidez ora pela condescendência. Sobre isso, enfatiza-se que os empregados sentem-se protegidos legalmente por serem empregados públicos, o que dificulta a gestão. E, fala-se também que o paternalismo na empresa faz com que o gestor tenha de usar do “jeitinho” e da amizade para a cobrança de resultados de seus empregados. Assim, os subordinados são vistos pelos gestores, de maneira geral, separados em duas classes, a daqueles capazes de cooperar e a daqueles que o gestor tem que “aturar”. Sobre a postura dos gestores frente a isso, estes, em geral, não buscam disciplinar ou desenvolver seus subordinados, contando efetivamente com aqueles que estão dispostos a cooperar.

Sobre as relações com os superiores hierárquicos, há tanto gestores que “se dão bem” e compactuam com a forma de trabalho de seu superior imediato, quanto os que enxergam esta figura como um entrave a sua ação, atuando de maneira a “neutralizá-lo”.

E, sobre as relações entre pares, a fala dos gestores e demais entrevistados reitera a existência de “ilhas”, assim como exposto por Palassi (1998). Nesses espaços, existe uma articulação política e de amizade que favorece a gestão. Entretanto, fora deles, prevalece a dificuldade de compartilhamento de informações. Essas “ilhas”, por sua vez, caracterizam as relações interpessoais não só entre pares, mas na empresa de uma maneira geral e também fora dela.

As “ilhas” de poder e convivência fazem parte do cenário de grupos da empresa, e são formadas não somente por membros da empresa, mas também por agentes externos, ocupantes de outras funções públicas com poder de atuação ou sobre a CESAN ou sobre pessoas que fazem parte da Companhia.

Observando isso, os gestores precisam estabelecer alianças políticas dentro e fora da organização, de sua área de atuação na empresa e, até mesmo, dentro de sua própria área com seus subordinados, de forma a, por meio de dependências interpessoais e de contratos informais de ajuda mútua, assegurarem a legitimidade e a viabilidade de objetivos pessoais, setoriais e organizacionais. O que torna claro o papel da interação no cotidiano dos gestores e a forma como essas relações são mediadas por jogos de interesses e pela manipulação de recursos simbólicos e informacionais (DAVEL e MELO, 2005a).

No que diz respeito á relação que o gestor estabelece com a empresa, com o cargo e com a função que ocupa, é descrito na CESAN um forte comprometimento dos gestores para com a empresa e, como contraponto, é apontado um apego ao cargo, como visto na prática seis. Sobre o exercício da função gerencial, a prática quatro aponta para a flexibilidade do gestor para agir “a sua maneira” na área que gerencia. Dessa forma, são descritos e apontados perfis que vão dos empreendedores, que buscam inovar em suas ações, aos perfis contemporizadoras, que “remam conforme a maré” e buscam agir de forma a evitar conflitos. Na prática do gestor “desbravador” e da “subordinação nas relações hierárquicas”, respectivamente, isso foi bem ilustrado.

No caso da prática do gestor “desbravador”, os gestores relatam que, frente às barreiras estruturais, a partir de idéias simples e baseadas na excelência da gestão, vão implementando melhorias e novas técnicas gerenciais nas áreas em que atuam. O que ressalta o fato de que os profissionais oferecem muito de si aos fins organizacionais, como forma de garantia do alcance dos resultados organizacionais. E torna clara também a ponderação de Davel e Melo (2005a) segundo a qual antes de “estar gerente”, o sujeito que incorpora esta função é um “ser humano”, com desejos, valores, aspirações, formas de ser e de se relacionar que, em composição

com o contexto sociocultural e político em que está inserido, condicionam suas práticas. Nesse sentido, os gestores que relataram práticas “desbravadoras” afirmaram gostar da profissão e de desafios; possuir habilidade para contornas as barreiras por meio do “jeitinho” e buscar a melhoria contínua, além de terem demonstrado possuir uma postura confiante frente a novos e antigos obstáculos.

Ao mesmo tempo, esses sujeitos ressaltaram, como fatores que podem frear ou impulsionar suas práticas, aspectos relacionados ao contexto sociocultural e político em que estão inseridos, como a diretriz da Companhia e o perfil dos empregados, superiores hierárquicos e pares direta ou indiretamente envolvidos em suas ações. No caso da prática “subordinação nas relações hierárquicas” essa relação recursiva entre gestores e contexto também é bem elucidada. Os gestores, mesmo pensando em formas melhores de se gerir a Companhia, subordinam-se às ordens que vão de encontro aos fins organizacionais, como forma de se manterem no cargo. Assim, reitera-se a verificação de Watson (1996) de que, apesar de o pensamento dos gestores ser guiado por princípios morais e por conceitos “do que irá funcionar” no trabalho que desempenham, o uso desses princípios passa pelo crivo das circunstâncias, que condicionam a utilização ou não desses preceitos de conduta.

Essa forma de conduta, por sua vez, como trazido por Crozier (1970), não deixa de ser uma escolha. Escolha essa que reforça a reprodução de um cenário marcado por uma herança de medo frente ao “poder” de pessoas que se baseiam em articulações políticas que sustentam posturas autoritárias. Assim, fica claro não só o papel do contexto no condicionamento da ação gerencial, mas também o papel da ação gerencial na construção dos contextos nos quais os próprios gestores estão inseridos.

Em síntese, corroborando com os estudos de Reed (1997), fatores institucionais, organizacionais e comportamentais influenciam a forma como agem os gestores na CESAN. Entre esses condicionantes, destacam-se: a influência do governo, na determinação das diretrizes da empresa; o fato de as funções de gerência serem ocupadas por indicação e de não haver critérios formais para o ingresso nessas funções; práticas de gestão instituídas, assim como novas formas de ação trazidas

para a empresa; relações político, afetivas e simbólicas que caracterizam o cenário organizacional da empresa e, por fim, o próprio estilo de gestão dos gestores e suas relações com a empresa, com a função que ocupam e com os demais agentes organizacionais. Esses fatores, por sua vez, precisam ser considerados em sua recursividade e construção recíproca de forma que a ação gerencial seja compreendida em sua complexidade.

7.2

PECULIARIDADES

E

TRANSFORMAÇÕES

NO

OFÍCIO