• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3 MEDIAÇÕES HISTÓRICAS: QUESTÃO AGRÁRIA, REFORMA

3.2 A Reforma Agrária na década de 1960/1970

A conjuntura política da década de 1950 e início da década de 1960 no país favoreceu a discussão sobre a necessidade da reforma agrária como alternativa para desenvolvimento em bases nacionais e com reformas estruturais. Lutas e reivindicações antes, pontuais e atomizadas, passaram a ganhar a cena política e encontrar mediação de concepções de direitos e das leis, contribuindo também para que categorias sociais, até então marginalizadas, ganhassem visibilidade e buscassem esses direitos.

Nesse sentido, essa década pode ser considerada um importante momento da história agrária brasileira, momento em que surge no Brasil uma série de debates de sobre os rumos do (sub)desenvolvimento do país, sendo a questão agrária um dos seus pontos centrais. Para Medeiros (2003) os debates foram motivados pelo

crescimento e unificação política das lutas por terra, a liberdade política e de expressão, a conjuntura da Guerra Fria e a análises sobre as condições para o desenvolvimento dos países da América Latina.

As produções dos principais ideólogos do período foram influenciadas principalmente pelos seus posicionamentos político-partidários, contudo o ponto convergente desse debate é a busca por explicações sobre a natureza do problema agrário e suas possíveis saídas. Os protagonistas desse debate pautam suas análises, na nossa formação histórica (com exceção de Ignácio Rangel), com base no contexto político da época, buscando compreender como o problema agrário influenciou os rumos do desenvolvimento do país, indo além da simples conexão entre questão agrária e questão fundiária. Os principais autores desse debate são: Alberto Passos Guimarães, Caio Prado Júnior, Celso Furtado e Ignácio Rangel.

Alberto Passos Guimarães era membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e defendeu a tese de que a realidade agrária brasileira era marcada por traços feudais, sendo o latifúndio brasileiro uma herança feudal, contudo esse Feudalismo apresentava duas variações do modelo clássico: o escravismo e a produção comercial para o mercado externo. Na visão de Guimarães (1981) para explicar a persistência dos resquícios feudais seria necessário atentar para a formação histórica do país que ao longo dos séculos criou mecanismos que cristalizaram as relações feudais, dentre eles os mecanismos de reprodução social dos latifundiários nos quatro séculos de formação da oligarquia brasileira, além da estrutura de poder e dominação.

Para Guimarães (1981), o processo de colonização no formato como foi empreendido, promoveu a concentração de terras e de riquezas impedindo o desenvolvimento capitalista e perpetuando na dinâmica social e econômica aspectos regressivos e atrasados da estrutura fundiária do país. A adoção das capitanias hereditárias e a concessão de terras aos eleitos pela Coroa Portuguesa determinaram a forma de ocupação do território, moldando também nossa estrutura social. Com a divisão do território conquistado em grandes extensões de terras, institui-se o que Guimarães (1981, p. 223-224) denominou de latifúndio:

Como latifúndios temos conceituado as unidades agropecuárias por demais extensas para serem exploradas exclusiva ou predominantemente pelo trabalho do núcleo familiar, como a propriedade camponesa, ou exclusiva ou predominantemente pelo trabalho assalariado, como propriedade do tipo capitalista.

O autor considera a formação do latifúndio como o principal elemento dessa estrutura montada pela colonização portuguesa, sendo o mesmo responsável pela determinação das relações de produção e das relações de trabalho. Ao se tornar o principal meio de produção no campo, a estrutura do latifúndio impôs ao conjunto da sociedade o formato de produção condizente com uma estrutura agrária desigual e impôs também condições sub-humanas de trabalho à maior parte da população rural do país.

Ao latifúndio açucareiro, ao latifúndio cafeeiro, ao latifúndio cacaueiro, incorpora-se agora o cada vez mais poderoso latifúndio pecuário. E todos eles reunidos, constituem o último reduto das sobrevivências coloniais e feudais que estrangulam o desenvolvimento da agricultura e da economia brasileira (GUIMARÃES, 1981, p. 226).

Nesse sentido, o latifúndio brasileiro seria uma espécie de feudalismo agrário, cuja transformação o capitalismo não poderia promover, por sua natureza, mas que a reforma agrária deveria fazer em função do seu conteúdo dinâmico e revolucionário, uma reforma agrária redistributiva, com caráter antifeudal, amplamente justificável em função do país ter criado “um Feudalismo à brasileira”. Seria necessário, romper com esse passado, desenvolvendo novas formas de produção e novas relações de trabalho, redistribuindo terras, mas, sobretudo vencendo o passado de dominação que o latifúndio representava através de seus senhores.

Caio Prado Júnior foi formado nos quadros do PCB , contudo divergia de alguns membros do partido em relação à formação histórica do país. Para Prado Júnior (1979) era inverossímil considerar as relações de trabalho e de produção presentes no campo brasileiro como feudais. Era a impessoalidade da relação capitalista, na qual a terra importava como mercadoria, e seus produtos como valores de troca realizáveis no mercado o que fundamentava estas relações, não intervindo aí

o estatuto pessoal do produtor e do proprietário nas formas de sociabilidade estabelecidas, conforme exemplifica Lima (1999, p. 65-66):

O emprego da designação “feudal” ou “restos feudais” atribuída às relações de trabalho na agropecuária brasileira, implica a idéia (sic) que se trata de situações institucionais, isto é, implantadas se não no direito positivo ou na legislação, o que naturalmente não é o caso, pelo menos no direito consuetudinário e em relações jurídicas institucionais não escritas. Ora não é isso que ocorre (...) certas relações de trabalho presentes na agropecuária brasileira, embora se revistam formalmente de caracteres que as assemelham a instituições que encontramos no feudalismo europeu (...) não constituem senão modalidades de pagamento que correspondem ao salário. Isto é, formas de redistribuição de serviços prestados que por um motivo ou outro – mas sempre motivo de ordem circunstancial – o pagamento em dinheiro é substituído por prestações de outra natureza.

As análises realizadas na obra A Questão Agrária (1979) buscam dissociar qualquer interpretação de reforma ou transformações no campo brasileiro como etapas de uma evolução para o capitalismo que pudessem designar a ideia de um passado feudal que foi superado. Ao analisar a empresa agrária que se constituiu aqui no Brasil na época da colonização e suas estreitas ligações com o mercantilismo, afastava a validade da tese sobre o feudalismo no Brasil:

Uma repartição melhor da propriedade agrária, e o mais fácil acesso a ela para os trabalhadores rurais, constitui, portanto a meta principal de uma política orientada para a transformação das relações de trabalho, e melhoria das condições de vida dos trabalhadores. Mas não há que ver aí, por não ser o caso, nenhuma superação de pseudo- etapa feudal ou semifeudal, e “ascensão” para o capitalismo (PRADO JÚNIOR, 1979, p. 69).

Prado Júnior (1979) considerou como essência da estrutura agrária brasileira e o sucesso do modelo de exploração pensado para o país, circunstâncias como a disponibilidade de terra e de força de trabalho, como segue:

(...) larga disponibilidade de terras em cuja apropriação não concorreu com o número relativamente reduzido dos empreendedores da exploração agrária do País (...) e a disponibilidade de força de trabalho, fornecida aos grandes proprietários pela massa da população rural que se formou e constituiu precisamente para esse fim (...), pela incorporação dos

indígenas, pelo tráfico africano, pelo afluxo imigratório dos últimos cem anos (PRADO JÚNIOR, 1979, p. 25).

Contudo destaca que essas circunstâncias se constituíram como “(...) fatores determinantes dos baixos padrões de vida da população trabalhadora rural (...)” (PRADO JÚNIOR, 1979, p. 26). O cerne da tese de Prado Júnior é o ataque às relações sociais fundiárias e de trabalho no meio rural brasileiro, relações estas responsáveis pelas condições sub-humanas de vida da maior parte da população rural do país. Ele considerava o formato da colonização como responsável pela concentração de terras, elemento que definiu as relações sociais de produção e a exploração do trabalhador. A crítica ao latifúndio de forma isolada e a consequente distribuição da terra sem uma modificação nas relações de trabalho no campo, na visão de Prado Júnior (1979, p. 162-163), não daria respostas necessárias à questão agrária. Assim, além da questão distributiva, seria necessário regular as relações de trabalho através da:

(...) aplicação efetiva da legislação trabalhista, sua aplicação e necessária correção em muitos pontos (...) bem como a adoção de providências complementares destinadas a consolidar e tirar todos os efeitos econômicos e sociais da nova situação criada pela maioria das condições de vida do trabalhador obtidas com a aplicação daquela legislação trabalhista. (...) implantação geral e definitiva, no campo, das normas reguladoras do trabalho. Pode-se dizer que ai reside o ponto nevrálgico e ponto principal de partida da reforma agrária que deve ser imediata e intensamente atacado.

A proposta de reforma agrária defendida por Prado Júnior possuía um caráter capitalista, com tendência ao assalariamento crescente da força de trabalho rural e por isso destaca a tese de defesa da legislação social-trabalhista. Somente a partir de uma democratização das relações de produção no campo, favorecendo os trabalhadores através da efetividade das leis trabalhistas, com melhores salários, ocupações regulares, sem vínculos exta-econômicos e extensão da legislação social trabalhista ao campo, seria possível uma mudança em direção a uma reforma agrária que contemplasse além de terra, direitos inalienáveis.

Celso Furtado compõe grupo de intelectuais que defendiam uma reforma agrária para desenvolver o mercado interno e uma economia nacional. A questão agrária

não se destaca como tema específico na obra de Celso Furtado, contudo sua atenção ao tema se dá em função da correlação entre os problemas estruturais do desenvolvimento econômico brasileiro estudado por ele possuir raízes na atividade agrícola.

De orientação Keynesiana, era adepto de uma política de desenvolvimento a longo prazo, com ampla intervenção estatal. Furtado compunha o chamado grupo da CEPAL17, composto por estudiosos que pensaram o desenvolvimento da América

Latina a partir de uma política de industrialização, por substituição de importações. Esse modelo propunha uma industrialização apoiada pela ação do Estado como forma de superação do subdesenvolvimento latino-americano.

O nacional-desenvolvimentismo acreditava que para atingir o desenvolvimento era necessário superar as heranças do passado agroexportador. Existia o entendimento sobre a necessária transição de uma economia agroexportadora para uma economia industrializada, promovendo a modernização da sociedade, via processo de industrialização, sob o comando do Estado (DOURADO; SILVA; SANTANA, 2010). Vencida essa etapa, a tarefa primordial seria a formação de mercado interno.

Era consenso entre os ideólogos cepalinos que o subdesenvolvimento no Brasil tinha como causa a inexistência de um mercado interno capaz de sustentar o processo de industrialização em curso. Nesse sentido, acreditava-se que uma reforma agrária poderia cumprir esse papel ao transformar camponeses pobres em proprietários e consumidores, criando um mercado interno para desenvolver uma economia capitalistas em bases nacionais em direção ao desenvolvimento (nacional- desenvolvimentismo). A emergência dos problemas rurais estariam relacionados ao “sistema de baixos salários”, cerne do problema agrário, que possuíam vínculos diretos com o processo de formação do mercado de trabalho para as atividades rurais.

Ignácio Rangel possuía uma interpretação diferente em relação à natureza do problema agrário brasileiro, dirigindo sua atenção para questões de ordem mais

17 CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe). Defendia a tese da industrialização

econômica em detrimento da análise histórica do processo de colonização. A matriz teórica fundante de sua análise na interpretação de Kageyama (1993, p. 6) diz respeito ao:

(...) processo de industrialização como um processo de passagem de uma economia natural fechada para uma economia de mercado, que se dá com duas transformações no sistema econômico: o aumento da divisão social do trabalho, implicando em mudanças institucionais e tecnológicas e uma realocação dos fatores produtivos, para viabilizar a substituição de importações.

O conceito que permeia toda a sua trajetória teórica é a ideia de dualidade básica. Para o entendimento da economia brasileira, na perspectiva de Ignácio Rangel, seria necessário considerar a existência de uma economia moderna e uma economia atrasada em relação constante. Com o desenvolvimento da tese da dualidade básica da economia brasileira, Rangel procura superar as teorias centradas na dicotomia, ou seja, análises que explicam a economia a partir de dinâmicas isoladas, ou só a interna ou só a externa.

Assim no pensamento de Rangel, o conceito de dualidade é também o ponto central para a compreensão do desenvolvimento e consequentemente da questão agrária. Essa interpretação dual afirmava que na agricultura brasileira coexistiam relações de produção atrasadas e modernas. Para o entendimento do latifúndio brasileiro também seria necessário analisar a existência de várias leis, uma atuando sobre as outras, leis que regiam o modo de produção feudal e o modo de produção capitalista, sendo o latifúndio uma economia mista, internamente feudal e externamente capitalista, como segue a afirmação:

No caso do latifúndio, por exemplo, o mercado capitalista pressiona constantemente para modificar as relações vigentes no interior do instituto, ao mesmo tempo em que a presença, nesse mercado, de uma produção e de fatores de produção (inclusive homens), oriundos do latifúndio, modifica a sua fisionomia. Assistimos, assim, em nossos dias, a generalização do salariato na vida interna do latifúndio e também a certa desvirtualização do caráter do salariato fora do latifúndio, graças aos homens por ele expelidos (RANGEL, 2005, p. 29).

Para o autor a questão agrária não estava diretamente relacionada com o problema fundiário, mas vinculava-se a própria dinâmica de transformação de uma agricultura que mudava de forma e perfil, ou seja, de uma agricultura centrada no complexo rural para uma agricultura industrializada. Destarte “(...) a questão agrária poderia ser resolvida através da modernização de nossos campos e não necessariamente por uma reforma agrária” (RANGEL, 1962, p. 174). Essa transição na visão de Rangel (1962), iria liberar uma mão de obra com tempo excedente que a nova estrutura produtiva não seria capaz de absorver, assim o problema agrário se configuraria nessa superpopulação, pois o setor rural não liberava mão de obra para os demais setores, ou ao contrário, liberava em excesso (RANGEL, 1962). O problema em si não estaria no fundiário e sim no excedente de tempo rural – um excesso de força de trabalho em relação ao tempo de ocupação necessário, gerado quando se dá a transição do complexo rural para uma agricultura capitalista e uma economia industrializada.

Como para a maioria dos intelectuais da corrente nacional- desenvolvimentista, Rangel acreditava que o processo de industrialização iria conduzir o país ao desenvolvimento e por isso era natural a resolução do problema agrário à proporção que o capitalismo se desenvolvesse no campo, modernizando os fatores de produção e as relações de trabalho, fortalecendo o mercado interno, dinamizando e democratizando o consumo.

Infere-se assim que as proposições teóricas esboçadas pelos intelectuais dos anos 1960 sobre a questão agrária, de uma forma geral, buscam entender a natureza do problema agrário centrado na forma como o capitalismo se desenvolveu no país. Esse debate ainda que permeado por ideologia e concepções diferentes, em função da filiação partidária e da formação intelectual representou “(...) o encontro de perspectivas distintas e projetos diferenciados apontando para a necessidade de reformas estruturais e convergindo para uma posição crítica em relação à concentração fundiária (...)” (MEDEIROS, 2003, p. 19).

Assim percebe-se que o esforço desses intelectuais, para além de suas filiações políticas e suas ideologias, contribuiu para clarificar nosso entendimento atual sobre o problema, estabelecendo as devidas inter-relações entre passado e presente. Havia

um entendimento sobre a necessidade de uma reforma agrária, contudo não havia um consenso sobre o seu significado. Lado a lado, conviviam posições progressistas e reformistas. Para a maioria dos representantes das lutas camponesas a reforma agrária seria uma etapa necessária para mudar o próprio sentido do desenvolvimento em direção a uma sociedade socialista. Já o setor patronal e o governo estavam mais preocupados com o processo de modernização (tecnização), ficando a das condições de vida dos que trabalhavam no campo em segundo plano.

Martins (1999, p. 100), contudo destaca a necessidade de melhoria nas condições de vida dos trabalhadores enfatizando que:

Se as condições de vida dos trabalhadores em geral e dos pequenos agricultores são ruins, é necessário que elas melhorem para que eles ampliem sua entrada no mercado com seu trabalho ou seus produtos. Se eles entram no mercado de produtos ou no mercado de força de trabalho de modo restrito, reduzem as possibilidades da reprodução ampliada do capital em seu conjunto. Por isso, em princípio, a modernização das relações de trabalho e a melhora das condições de vida dos trabalhadores interessa, em primeiro lugar, ao próprio capitalista.

Nesse sentido, apesar do debate entre reformistas e progressistas, houve um consenso em torno da necessidade de modernização do campo e de transformações na estrutura fundiária, uma vez que o estado de “(...) pobreza seria um empecilho ao desenvolvimento do capital e, por extensão, ao desenvolvimento da sociedade, ainda que nos limites do capitalismo” (MARTINS, 1990, p. 100).

No governo de João Goulart, de orientação popular, a reforma agrária estava incluída nas Reformas de Base18, pensadas pelo governo de Jango para promover o

desenvolvimento do país. Em 13 de março de 1964, num comício histórico realizado na Central do Brasil no Rio de Janeiro, Goulart afirmou em sua fala a necessidade de mudanças que a aprovação da lei de reforma agrária, submetida à aprovação do

18 As Reformas de Base era uma proposta de reestruturação de uma série de setores econômicos e

sociais, sob influência do pensamento de esquerda. Nas “Reformas de Base” estavam reunidas iniciativas que visavam alterações bancárias, fiscais, urbanas, administrativas, agrárias e universitárias.

Congresso, seria o primeiro passo para “(...) uma porta que se abre à solução definitiva do problema agrário brasileiro (...)”.

(...) o que se pretende com o decreto que considera de interesse social, para efeito de desapropriação, as terras que ladeiam eixos rodoviários, leitos e ferrovias, açudes, públicos federais e terras beneficiadas por obras de saneamento da União, é tornar produtivas áreas inexploradas ou subutilizadas, ainda submetidas a um comércio especulativo, odiosas e intoleráveis (...). A reforma agrária não é um capricho de um governo ou programa de um partido. É produto da inadiável necessidade de todos os povos do mundo. Aqui no Brasil constitui a legenda mais viva da esperança do nosso povo, sobretudo daqueles que labutam no campo (STEDILE, 1997, p. 103- 105).

O comício da Central do Brasil em 13 de março de 1964 foi também um dos últimos atos do Governo de Jango e os acontecimentos que se seguiram culminaram com o golpe militar de 1964. “Perdemos a democracia e ganhamos o autoritarismo. E desse autoritarismo de transição, passou-se a um regime autoritário que se prolongou por 21 anos” (BRUM, 1999, p. 300). O golpe militar representou o fim do projeto de reforma agrária da ala progressista do país e o início de um período de mudanças econômicas e politicas, mas, sobretudo de cerceamento de liberdades individuais e coletivas. Contudo, convém destacar que apesar das propostas do governo de Jango no campo da reforma agrária não terem se efetivado, algumas conquistas singulares datam desse período a exemplo da regulamentação em 1962, do direito a organização sindical dos trabalhadores rurais e a aprovação do Estatuto do Trabalhador Rural em 1963.

Com a instauração do governo militar em 1964, o debate da questão agrária e a reforma agrária passam a ganhar outros contornos, dentro dos limites da modernização tecnológica e da política agrária. De certa forma esse debate é censurado e dá-se início a um período de intensa perseguição e repressão aos movimentos sociais e as organizações de uma forma geral (trabalhadores, estudantes, partidos políticos). Nos “Anos de Chumbo” movimentos sociais foram desarticulados e reprimidos, seus lideres presos, torturados, assassinados. As ligas

camponesas foram eliminadas e os sindicatos em sua grande maioria invadidos, extintos ou cooptados.

A partir desse período as discussões sobre o desenvolvimento do país e a