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A Reforma do Estado e o Ajuste Fiscal: restringindo recursos para as políticas sociais

principalmente, nos Quaderni del carcere Edição crítica de Valentino Gerratana 2 ed Turim, Eunaudi,

A REFORMA DO ESTADO NO BRASIL: A LÓGICA MERCANTIL NAS POLÍTÍCAS SOCIAIS

2.4. A Reforma do Estado e o Ajuste Fiscal: restringindo recursos para as políticas sociais

Um dos principais elementos usados como justificativa para a reforma do Estado é a crise fiscal, o ajuste fiscal que se constitui num dos pilares da reforma. A necessidade de controle das contas públicas, também tem sido o veio que tem permitido, especialmente ao FMI, o canal para pressionar o governo brasileiro a implementar as reformas estruturais, entre as quais, a do Estado. Além disso, a crise fiscal do Estado tem sido utilizada como justificativa para se explicar a diminuição de recursos destinados às políticas sociais, piorando, conseqüentemente, a qualidade dos serviços públicos, com o não atendimento universal desses serviços.

"diminuição do tamanho do Estado", a Emenda Constitucional 19 criou diversos mecanismos para possibilitar o ajuste fiscal: a) Ampliou os limites de despesas com pessoal previstos no art. 169 da Constituição (já regulamentados em 60% pela "Lei Camata"), a partir de então reduzidos para 50% no âmbito do Governo Federal; b) Estendeu a proibição de criação de empregos e funções (art. 169, § 1º); c) Extinguiu os cargos, após a demissão de servidores, assim como proíbiu a recriação de cargos com atribuições iguais ou assemelhadas, durante o período de quatro anos.

Para forçar o controle sobre as contas da União, dos Estados e Municípios, a EC impõe uma série de controles àqueles que não cumprirem à risca o ajustamento das finanças públicas e os limites estabelecidos para despesas com pessoal:

a) prevendo a suspensão dos repasses de verbas para esses entes federados; b) no caso da não redução de despesas com a folha, proibindo a transferência de recursos ou a concessão de empréstimos por parte da União e dos Estados ou Municípios, para o pagamento de despesas com pessoal; c) delimitando em 20% a redução de despesas com cargos em comissão e funções de confiança, se a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios não ajustarem suas contas.

Esses dispositivos concentram mais poder no governo central e diminuem o poder e a autonomia dos estados e municípios, uma vez que centralizam, no governo federal, os instrumentos de controle das verbas pertencentes aos governos estaduais e municipais, delimitando ou dificultando a efetividade dos princípios de uma república federativa, a autonomia política e financeira.

A União, desde os primórdios do pacto federativo, mantém-se centralizadora, com a arrecadação e distribuição de receitas, acentuando-se essa caraterística no governo de Fernando Henrique Cardoso, especialmente com a retirada de recursos dos Estados e Municípios, através do Fundo Social de Emergência, renovado e rebatizado

de Fundo de Estabilização Fiscal, com o Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental - FUNDEF e com a Lei Kandir, o que evidencia uma dificuldade de realização de um efetivo pacto federativo que garanta autonomia fiscal aos entes federados.

Aliás, nesses tempos de intensificação da crise econômica, essa questão da autonomia está na ordem do dia. Apesar de nos últimos anos o Brasil ter realizado diversos "Acordos" com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e com outros organismos internacionais, como o Bando Mundial e o BID, relacionados com a dívida externa brasileira e com novos empréstimos para "socorrer" o país nas diversas crises econômicas que vem vivenciando e aprofundando-se, desde os anos 1970, as negociações realizadas, pelo Brasil, entre dezembro de 1998 e janeiro de 1999, envolvendo o governo de Fernando Henrique, através de sua equipe econômica, com o FMI, revelaram quanto o país tem-se subordinado cada vez mais aos ditames desses organismos e dos interesses que representam.

A política econômica imposta tem orientado o país para um ajuste fiscal que tem inviabilizado as possibilidade de crescimento econômico e a política social e de desenvolvimento. Isso tem acarretado manifestações de insatisfação de diversas organizações da sociedade civil, como a CNBB, OAB, CUT. Em 09 de fevereiro de 1999, a OAB divulgou um manifesto onde afirma: "O país não pode ser transformado em laboratório de experiências de organismos financeiros internacionais como o FMI, cujas receitas monetaristas, desprovidas de conteúdo social, já levaram diversos países ao colapso econômico e financeiro”.

Além disso, afirma que o modelo econômico que provoca recessão deve ser revisto o mais rapidamente possível e que a discussão seja ampliada para a sociedade brasileira como um todo e não fique restrita à tecnocracia do Banco Central e do FMI.

Outra instituição que critica a política econômica adotada pelo governo de Fernando Henrique é o DIAP - Departamento Intersindical de Apoio Parlamentar, (Boletim DIAP, 1998, p. 03) que faz a seguinte análise:

O governo optou por um plano de estabilização que impõe limites à realização de investimentos. As altas taxas de juros praticadas com a finalidade de captar recursos externos, para cobrir os deficits na balança comercial, têm impacto no aumento do estoque da dívida pública e dos juros e encargos dela decorrentes (...). A agenda da imensa dívida social que se tem acumulado ao longo das últimas décadas aparece marginalmente nas prioridades do governo.

Com vistas à ampliação da autonomia de gestão da administração indireta, a EC prevê a criação de um estatuto da empresa pública e da sociedade de economia mista, estabelecendo mecanismos de fiscalização, áreas de atuação, obrigações ao regime das empresas privadas, avaliação e responsabilização dos dirigentes e normas de licitação e contratos, para essas entidades. Ela também define que as licitações e contratações nas empresas públicas e nas sociedades de economia mista serão regidas por legislação específica, distinta daquela da administração pública direta, autárquica e fundacional. Também proíbe o afastamento de empregados de empresa estatal para exercício de mandato eletivo.

2.5. A reforma da Previdência Social e a perda de direitos previdenciários dos