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REFORMA TRIBUTÁRIA: A SOLUÇÃO É O MODELO CANADENSE

No documento O Supremo Tribunal Criminal: o supremo em 2017 (páginas 150-153)

Melina Rocha Lukic 03 | 07 | 2017

A ideia aqui é iniciar a mudança no nível Federal – o que já traria ganhos imediatos ao nosso sistema – e deixar a critério

dos Estados a adoção deste regime ou não posteriormente.

Mesmo diante da crise política, o governo federal parece estar dis- posto a enviar ao Congresso Nacional uma nova proposta de reforma tributária. A questão central nesta discussão é, novamente, a reforma do sistema de tributação de mercadorias e serviços. Em 1988, os constituintes tomaram a trágica decisão de não adotar o modelo de um Imposto único sobre o valor agregado (IVA). Desde então, diver- sas propostas de reforma tributária tentaram a implementação deste modelo, sem obterem, no entanto, o consenso político necessário para a sua aprovação.

Um modelo de IVA reuniria todos os tributos incidentes sobre as mercadorias e serviços: ICMS, ISS, IPI, PIS e COFINS, que hoje são de competência de diferentes entes federativos. Além disso, o IVA adotaria uma base de incidência ampla, incidindo em todas as etapas do processo produtivo e com amplo aproveitamento dos créditos das etapas anteriores, tal como ocorre na maior parte dos países do mundo. A adoção deste modelo eliminaria uma série de distorções presentes no sistema brasileiro – tal como a incidência cumulativa pelo não creditamento de certas entradas, cálculo por dentro e sobre os demais tributos, etc. – o que acaba onerando a produção, as exportações e os investimentos. Além disso, com a adoção do princípio do destino nas operações interestaduais, seria eliminado o problema da guerra fiscal.

Acontece que as experiências passadas já nos mostraram que a adoção de um IVA Nacional, reunindo de uma só vez os tributos de todos os entes, parece não ser viável no contexto político brasileiro,

O SUPREMO TRIBUNAL CRIMINAL

em virtude do grande conflito federativo que tal proposta gera. Diante desta dificuldade política, muito se tem discutido se pequenas mu- danças pontuais – tais como a extinção do PIS e COFINS para a criação de uma nova contribuição ou ajustes específicos no ICMS e ISS, não seriam o caminho para se avançar. Não nos parece, todavia, que ajustes pontuais e sem uma visão do conjunto e do norte a se chegar seja a via mais adequada. Qual seria então a solução?

Um modelo de IVA que foi adotado em um país federativo de maneira bem sucedida e que poderia nos servir de guia é o sistema Canadense. A experiência do Canadá mostrou que um IVA federal pode perfeitamente funcionar em um país onde os entes federativos subnacionais têm seus próprios sistemas de tributação de bens e ser- viços, tal como ocorre no Brasil. O IVA foi adotado no Canadá em 1991 unilateralmente pelo governo federal, que inclusive se utilizou de uma prerrogativa constitucional inédita de convocar senadores “de emergência” para permitir a aprovação da proposta. Apesar de ter sido criado em substituição a uma espécie de imposto sobre a industrialização, o IVA Federal foi visto como um imposto novo pela população e empresas, causando um enorme descontentamento popular no início, o que resultou em uma grande perda eleitoral do governo nas eleições. No Brasil, diferentemente, a adoção de um IVA Federal seria vista como uma medida para substituir ao menos três tributos: PIS, COFINS e IPI, o que poderia ser perfeitamente justificado como uma maneira de tornar o sistema mais eficaz e menos complexo, podendo contar inclusive com o apoio popular e das empresas.

A grande peculiaridade do Canadá em relação a outros países é que, quando da adoção do IVA, já se fez a previsão de uma harmo- nização futura dos tributos das províncias à mesma base do imposto federal, criando-se um modelo dual. Diversas províncias canadenses já aderiram ao sistema harmonizado, inclusive Québec e Ontário, duas das mais importantes do país. A adoção do sistema harmonizado tem significado para as províncias menos despesas administrativas e melhores resultados financeiros. As províncias que não quiseram aderir mantêm os seus tributos originais e algumas optaram até mesmo por

O SUPREMO EM 2017

previsão de harmonização futura destes impostos à base federal para criação de um IVA-Dual. Os Estados que vierem a adotar o regime harmonizado, passariam a tributar sob a mesma base do IVA Federal, com uma alíquota a ser escolhida por cada um deles. A arrecadação e administração do imposto harmonizado poderia ser de responsabili- dade da União Federal em cooperação com os governos estaduais. A adoção do regime harmonizado dependeria de negociação com cada Estado e em contrapartida a uma ajuda financeira por parte da União.

A grande vantagem deste modelo é que, do ponto de vista político, se dilui o conflito federativo que se cria com a proposta de adoção de um IVA englobando o ICMS e o ISS desde o início, tal como tem ocorrido a cada discussão de reforma tributária no Congresso. A negociação para a adoção do modelo harmonizado ficaria mais individualizada com cada Estado e postergada para o futuro, po- dendo ainda se ter a opção de manter o regime do ICMS. Assim, ao invés de ficarmos dependentes e reféns da concordância de todos os Estados para se fazer a reforma tributária, a ideia aqui é iniciar a mudança no nível Federal – o que já traria ganhos imediatos ao nosso sistema – e deixar a critério dos Estados a adoção deste regime ou não posteriormente. Isto facilita o processo de aprovação já que diminui a possibilidade de veto players para a adoção da reforma. O modelo canadense parece ser, dessa forma, o caminho mais provável e que poderia ser tomado pelo governo para a aprovação imediata da reforma tributária, trazendo resultados já para 2018.

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AUMENTO DO COMBUSTÍVEL: O QUE

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