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SUCESSÃO NA PGR E O FUTURO DA LAVA JATO

No documento O Supremo Tribunal Criminal: o supremo em 2017 (páginas 175-178)

Felipe Recondo 20 | 04 | 2017

Ocupar esta posição é controlar, no fim das contas, quem pode ser denunciado no Supremo – quais inquéritos gerarão ações penais.

No calendário da Operação Lava Jato, setembro é um mês crucial para a continuidade das investigações. É neste mês que termina o mandato do Procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e quando chegará ao ápice uma batalha política pela sucessão. Quem estará no comando deste processo? Os políticos envolvidos investigados pela própria PGR e delatados pela Odebrecht e companhia.

No processo da Lava Jato, na fase de inquérito em que se encontra a “lista do Fachin”, a liderança e escolhas do PGR é fundamental. Ocupar esta posição é controlar, no fim das contas, quem pode ser denunciado no Supremo – quais inquéritos gerarão ações penais. O impacto dessas denúncias no curto prazo para o governo, inde- pendente do julgamento final, é incalculável. Se Temer mantiver sua promessa de afastar ministros denunciados, o governo pode ver comprometida sua articulação política.

À primeira vista, a sucessão de Janot pode parecer um fato relati- vamente distante dada a quantidade de informações que espocam a cada dia das investigações e a turbulência no cenário político. Mas a sucessão na PGR é um processo que já está em curso. E os primeiros passos serão dados já nas próximas semanas. Algumas datas são sensíveis.

O SUPREMO EM 2017

parão da eleição dos novos presidente e vice-presidente do Conselho. Estas escolhas podem ser cruciais neste processo.

Dessas datas surgem três indagações sobre a sucessão de Rodrigo Janot:

1. Temer respeitará a lista tríplice formulada pela ANPR, in- dicando o mais votado ou ao menos um dos três nomes? A Constituição não o obriga a considerar a lista. Se Temer decidir escolher um nome de fora da lista, terá de arcar com os custos políticos e com as críticas da categoria.

2. Temer indicará imediatamente o nome do substituto de Janot? Ou seja, escolherá o substituto de Janot já em setembro ou a vaga pode permanecer aberta por alguns meses? Se o presi- dente não indicar o substituto imediatamente, ocupará inte- rinamente o cargo o vice-presidente do Conselho Superior do Ministério Público, que será eleito em agosto.

3. E se o vice-presidente do Conselho tiver o perfil que o governo procura para a vaga? Temer poderia indicar o nome para o mandato de dois anos e se ampararia em dois argumentos: a. ao efetivar o procurador interino, evita-se interrupções

nos trabalhos da Procuradoria;

b. o vice-presidente do Conselho foi eleito para o cargo pela própria categoria. Assim, Temer não indicaria alguém sem respaldo da carreira. Ao contrário, escolheria alguém eleito pela própria categoria.

À frente deste processo estão o presidente Michel Temer, o mi- nistro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, o secretário-geral da Presidência, Moreira Franco, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB – CE), o presidente da Comissão de Constituição e Justiça, senador Edison Lobão (PMDB – MA), o líder do PMDB, Renan Calheiros (PMDB – AL), o líder do governo, Romero Jucá (PMDB – RR). Todos são citados nas delações da Odebrecht. E somente Temer não é alvo de inquéritos.

No Senado, onde o candidato a PGR será sabatinado, 24 parla- mentares foram citados nas delações de executivos da empreiteira Odebrecht e responderão a inquéritos. Outros quatro já eram alvos na Lava Jato, mencionados em outras delações e investigações. E como a escolha do novo procurador pode mudar os rumos das investigações?

O SUPREMO TRIBUNAL CRIMINAL

1. O novo procurador pode dissolver o grupo de trabalho que foi montado em Brasília por Janot. São esses oito procuradores de diferentes estados que tocam diuturnamente as centenas de inquéritos, depoimentos e delações premiadas da Lava Jato; 2. Com a desconstituição do grupo que atua hoje em Brasília,

boa parte da memória do caso teria de ser recuperada pela próxima gestão. E essa nova equipe teria de começar pratica- mente do zero a análise das centenas de milhares de páginas da investigação;

3. O substituto de Janot pode adotar uma postura mais concen- tradora, trazendo para si o passo a passo da investigação. Como se trata de um processo extenso – já estão em andamento no Supremo 113 inquéritos e cinco ações penais –, o procurador não teria condições de dar celeridade ao caso;

4. O novo procurador pode, inclusive, desconstituir a Força Tarefa da Lava Jato em Curitiba.

Esses são apenas três exemplos de como a investigação pode, no mínimo, perder ritmo em razão da troca de comando na PGR. Sem contar com a possibilidade – considerada remota por integrantes do Ministério Público neste momento – de ser escolhido uma espécie de engavetador-geral da República, um procurador com visão mais conservadora ou mais condescendente com a política. O cenário menos turbulento para as investigações seria a permanência de Janot para o terceiro mandato. A recondução é legalmente possível, mas improvável. O procurador já deu provas de que não quer permanecer no cargo por mais dois anos. Prova disso foram as longas férias que já agendou para depois de setembro.

A soma de todos esses fatores cercará o processo de sucessão na PGR. Políticos investigados, com poder de voto ou de caneta, de- verão pensar na própria sobrevivência na escolha do perfil para co- mandar o Ministério Público Federal. O anseio da sociedade por aprofundamento das investigações e celeridade dos processos estará em segundo plano.

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DEMOCRACIA OU ESTADO POLICIAL?

No documento O Supremo Tribunal Criminal: o supremo em 2017 (páginas 175-178)