• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 3 – As romarias e o Minho: Fenómenos culturais

3.2 Região do Minho

Portugal nasceu há muitas gerações passadas. Considerando o estabelecimento do Reino de Portugal no século XII e a definição das fronteiras no século XIII. Por isso é tido como o mais antigo Estado-nação da Europa (Herculano, 2014). Hoje Portugal, ou a República Portuguesa, é um país soberano localizado no sudoeste do continente europeu.

Como em muitos Estados Nacionais existem subdivisões territoriais do país. Sejam elas de cárater geográfico, legal, administrativo, estatístico, histórico e socio- culturais. Logo, o Estado Português tem um conjunto de territorialidades pertencentes ao seu território total. As divisões politico-administrativas e simbólico-ideologicas são

45 resultado de determinações mais recentes e de permanências históricas de outros

tempos.

Portanto, quando se diz sobre a “Região do Minho” apoia-se sobre uma noção de territorialidade próprio dos contextos locais. Pois, administrativamente não há uma “Região do Minho”. A subdivisão em regiões, em Portugal, inclui o “Minho” na Região Norte. A Região Norte é uma região ou unidade territorial para fins estatísticos, assim como para outros direcionamentos de políticas públicas.

As divisões administrativas de Portugal são os distritos, no continente, e as regiões autónomas dos Açores e Madeira. Os distritos são as subdivisões que servem de base para uma série de definições administrativas, como por exemplo, os círculos eleitorais. Os Distritos se subdividem em concelhos e freguesias. A freguesia é a unidade mínima de organização administrativa e política do território.

O “Minho” é uma subdivisão de caráter histórico e cultural que é bastante utilizado como referências territorial nos dias atuais. Essa delimitação do espaço é coincidente, e talvez decorrente, da antiga subdivisão do território em províncias. Essas não têm mais consequências administrativas, ainda que grande parte das pessoas mantenha a identificação do Minho, assim como era Província do Minho.

Portanto, utiliza-se aqui a expressão região do Minho mais como uma forma de aproximação das categorias locais de referência territorial e cultural, onde “região” é uma definição de lugar, que faz parte de um país, e o Minho como o conjunto de

conselhos que estão inseridos no território da antiga província. Ou melhor, diz-se região do Minho simplesmente como categoria local. Nesse sentido, a região do Minho é composta por 2 distritos: Viana do Castelo e Braga.

Por certo, essa região do norte de Portugal apresenta características próprias, que podem ser descritos pela sua geografia e historiografia. O território apresenta em sua história de ocupação a presença de povos desde da pré-história. Além dos vestígios que revelam a presença de populações muito antigas, também é possível constatar a

presença de povos romanos, suevos, entre outros que também marcaram sua presença na região; seja pela configuração de estradas e caminhos ou na formação de cidades.

Com o resgate de uma história bem mais recente podemos ver períodos de maior transformação nas características do território. Como o aumento da população e o crescimento das cidades. Ainda assim, é possível perceber que o Minho não sofreu de modo tão significativo, como outras regiões da Europa e de Portugal, processos de industrialização, urbanização e explosões demográficas. Nesse sentido, o Minho

46 apresenta características de uma longa ocupação histórica que se deu de formas

continuamente ligadas à agricultura, às pequenas propriedades rurais e à baixa densidade populacional.

As marcas de uma determinada “ruralidade”, articulada com pequenos centros urbanizados, regiões de plantio e montanhas, confere ao Minho particularidades de sua paisagem. Ou seja, a paisagem cultural do Minho possui traços distintivos. Seja nas marcas da relação de ocupação humana no ambiente ou na configuração cultural e modos de vida.

É claro que essa visão geral não alcança a complexidade de um território e das sociedades que nele vivem. Porém, importa perceber como as transformações mais recentes ainda estão a modificar a paisagem e os elementos culturais da região.

Pois, processos transformadores podem ser resultantes, inclusive, de

movimentos migratórios. E a região do Minho tem marcas de diferentes processos de emigração, inclusive mais recentes, o que acarretou em reconfigurações das redes de relações sociais.

O fenómeno da emigração recente na região do Minho e as transformações que acarretam podem ser sentidas e percebidas no contexto cultural das romarias. Para muitas pessoas que emigraram para outro país as romarias são uma forma de resgatar relações de identidade e pertencimento com suas localidades de origem. A afirmação de raízes culturais no Minho passa muitas vezes pela participação em romarias, e em alguns casos com contribuições financeiras para a sua realização.

Identidade Minhota. Outro ponto importante da análise sobre o Minho no

contexto de patrimonialização de romarias é uma reflexão sobre as noções de identidade existentes. Ainda de modo superficial, é possível identificar um sentido identitário regional do Minho. Porém, são necessários maiores estudos para revelar como essas noções identitárias se estabeleceram historicamente. Como parte da afirmação de “uma identidade minhota” foi construída em processos recentes de regionalização, e se esses processos resultam de condições históricas e culturais identificáveis. Além disso, seria relevante um aprofundamento da questão da percepção de uma “identidade minhota” e da sua situação no contexto da narrativa identitária nacional.

Para concluir essa discussão, é fundamental que os trabalhos de inventariação se debrucem sobre uma perspectiva ampliada de questões de identidades nacional, regional e local. Pois, é inevitável que noções identitárias sejam usadas para a construção de perspectivas patrimoniais. Por isso, mais do que mapear intrincados níveis de

47 pertencimento que se colocam sobrepostos, é útil identificar diferenças internas capazes de desconstruir noções pré-concebidas de identidades culturais.