• Nenhum resultado encontrado

REGISTRO DE OBSERVAÇÃO DE SALA DE AULA – Escola Alfa DATA: 24/10/2013

SÉRIE: 4º ano

PROFESSORA: Violeta

HORÁRIO: das 10h00 até as 11h00

Esse foi o primeiro dia de observação da classe. Cheguei na hora em que as crianças estavam, em fila, entrando uma a uma em classe depois do recreio. A professora Violeta permanecia em pé com os braços cruzados na altura do peito, com a postura muito rígida, olhar dominador e intimidador, mandíbula travada, pescoço e coluna contraídos, boca fechada de forma contraída numa fina linha arqueada para baixo.

Hoje há 28 alunos em classe.

Professora ao me apresentar para a classe: Cadê a educação de vocês para mostrar para a professora?

Classe: bom dia!

Professora dá uma circulada pela classe e chama a atenção de um aluno porque ele estava desenhando e diz “deixe isso para a aula de artes, né”.

Lição de matemática na lousa (continhas de multiplicação): para os alunos fazerem nos cadernos e depois irem à lousa quando chamados. Professora chama a atenção de vários alunos por não estarem fazendo a lição e estarem conversando.

A professora senta-se por um tempo depois de passar a lição na lousa e os alunos vão à sua mesa um a um para terem seus cadernos corrigidos. A professora sempre é muito severa com os alunos nas observações que faz dos exercícios e a maioria dos alunos precisa refazer as lições.

Sobre uma aluna em particular (J.) a professora fala para mim em voz alta na frente da classe: essa aí professora só quer saber de coisa de menino, ela só anda com os meninos, ao invés de ter figurinhas e trocar figurinhas das Chiquititas como as colegas ela joga bafo com figurinhas de meninos e com os meninos. Já falei para ela fazer coisas de menina, se comportar como menina. Qualquer dia J. eu te pego de jeito, você vai ver, vai até chorar.

Sobre um dos alunos: aquele ali (C.) sabe bem pintar o cabelo, furar a orelha, colocar piercing, andar com a molecada, mas estudar que é bom... não sabe ler nem escrever... (depois a professora continuou conversando comigo sobre esse aluno e sobre a vergonha que sente atualmente em ser professora, disse chorar várias vezes com a situação da educação, criticou o bolsa família, a nota global, disse ter ficado 15 anos afastada da sala de aula por ocupar cargo de confiança e agora ao retornar, ficou decepcionada com o que encontrou. Disse ser essa a pior

classe com a qual já trabalhou, que 3/4 dos alunos em média não sabem ler nem escrever) Com outra aluna: A., junta tudo o que é seu e vai sentar lá no fundo. Vira-se de costas para auxiliar alunos na lousa e “esquece” da aluna A. que não sai do lugar. Depois de uns 5 minutos a professora vem até ela, a puxa pelo braço bruscamente e diz “vai sentar lá no fundo” (a menina chora). A professora manda ela parar de chorar. A professora justifica para mim que a avó da menina todo dia pergunta como ela está nas aulas e ela diz mentir, que ela está bem, mas está farta disso porque ela só quer saber de brincar. Afirma que o pior é que ela sabe fazer a lição mas não se interessa.

REGISTRO DE OBSERVAÇÃO DE SALA DE AULA – Escola Alfa DATA: 31/10/2013

SÉRIE: 4º ano

PROFESSORA: Violeta

HORÁRIO: das 10h00 até as 11h00

Os alunos estão em aula com a professora. Professora está passando um texto na lousa (aula de Ciências) sobre os alimentos. Chego na porta no momento em que a professora chama a atenção de um grupo de alunos que estava conversando.

Professora me vê e faz um gesto mínimo com a cabeça para que eu entre em sala. Entro o mais quieta possível e sento no fundo da classe.

Hoje há 25 alunos em classe.

Professora vira-se para o quadro e continua a escrever o texto para os alunos copiarem. A professora copia o texto de um antigo (muito antigo, a julgar pela cor das folhas extremamente amareladas e pelo péssimo estado de conservação) livro didático.

Os alunos (muito inquietos) copiam o texto, mudando constantemente de lugares para enxergar melhor. Conversam constantemente entre si nessas movimentações. Levantam-se repetidas vezes para apontar o lápis na lixeira. Vez ou outra a professora vira-se para trás e chama a atenção dos alunos para que copiem o texto. Nesses momentos ela altera a voz, elevando-a no final das frases, enfatizando seu descontentamento com o comportamento dos alunos.

As 10h15 a professora senta-se em sua mesa em silêncio, sempre com a fisionomia muito séria, e passa a organizar papéis. Abre um pacote de folhas e começa a analisá-las. Sai da sala e volta em seguida com um grampeador. Grampeia as folhas de 3 em 3 e faz alguns comentários com uma aluna que senta em frente à sua mesa. Percebo que as folhas são provas. Os alunos continuam copiando o texto (fato que se prolongará até o final da aula), conversando, circulando pela classe. Em determinado momento, o aluno C. chuta a perna de um colega que voltava para seu lugar depois de ir apontar o lápis. O colega retribui com um pequeno soco. Uma das meninas (sentada à frente de C.) relata o ocorrido para a professora. A professora diz com trejeitos de desdém (cabeça inclinada para o lado, expressão facial contraída apenas de um lado e cabeça balançando levemente de forma negativa) “alguma o fulano aprontou porque ele não é santo”. Nesse momento a professora se dirige a mim e diz “não liga não, aqui só tem doido”, e passa a criticar o aluno C. (nesse momento altera a voz – fala comigo mas dirige o olhar repreensivo ao C. em tom de bronca publicamente) “esse aí eu já falei, não quer saber de nada, só quer saber de ficar com a molecada na rua, diz que falta porque tá doente,

mas quando a gente tá doente não quer nem sair de casa! Outro dia nem reconheci ele, com esse cabelo pintado, só vi que era ele porque os colegas dedaram, estava na rua se escondendo de mim atrás de um carro. Já falei pra mãe dele, mas ela diz que trabalha o dia inteiro. Eu também trabalho o dia todo, mas meus filhos vão pra escola, eu acompanho. Ela não quer nem saber. Isso é esse governo que dá tudo, bolsa família, auxílio gás, mas devia cortar do aluno que falta, deviam deixar de receber.” Nesse instante (C. está resmungando coisas incompreensíveis em seu lugar) a aluna sentada à frente de C. diz para a professora que ele a chamou de trouxa. A professora se irrita e eleva a voz novamente dizendo “trouxa é a mãe dele que não quer saber do que ele faz. Para de resmungar (para o C., gritando). E ele é um folgado. Vai falar para a diretora quem é trouxa na hora da saída (mas não cumpre essa promessa).” Os outros alunos ficam em silêncio. Clima de constrangimento.

A professora se concentra novamente na análise das provas. Chama a atenção de uma aluna (J.): “só quer saber de coisa de menino (altera a voz), já te falei, eu ainda vou te pegar...” Novamente analisa as provas e outra professora adentra a classe “tia Violeta, olha isso (com um livro nas mãos de literatura infanto-juvenil), agora aqui tem que ser afrodescentezinha né? E dá risadas”. A professora faz comentários sussurrados com ela e sente-se constrangida (penso que pela minha presença) demonstrando isso ao abaixar a cabeça para conversar com a professora e mudando de assunto. Chega a puxar a outra pelo braço para perto de si e coloca o livro tampando seus rostos para conversar sem ser observada. A outra professora disfarça um pouco, e elas continuam a conversar de forma relaxada, com risadas e gestos mais abrangentes e soltos. É o único momento em que vejo a professora Violeta sorrir.

REGISTRO DE OBSERVAÇÃO DE SALA DE AULA – Escola Alfa DATA: 01/11/2013

SÉRIE: 4º ano

PROFESSORA: Violeta

HORÁRIO: das 10h00 até as 11h00

Chego na escola e fico parada em frente à porta da sala que estava aberta. A professora está dando uma bronca em algum aluno. Espero que ela me autorize a entrada.

A professora está passando lição de Língua Portuguesa na lousa (exercícios sobre conjugação de verbos) copiando de um livro didático.

Sento-me no fundo da sala. Quando passo pela aluna A. ela faz um comentário por gestos a respeito do meu corpo e um aluno vai até a professora para dedurar. A professora grita com a A. perguntando a ela se quer que conte uma coisa dessas para a avó dela (pelos comentários é a avó que cuida da menina). A professora volta a passar a lição na lousa.

Hoje há 18 alunos em classe. Os alunos estão mais silenciosos do que nos outros dias. Durante o tempo em que passa a lição na lousa a professora somente fala se for para chamar a atenção de algum aluno, caso contrário permanece em silêncio virada o tempo todo de costas para os alunos.

Quando termina de passar a lição na lousa a professora sai da sala por uns 10 minutos para mexer num armário localizado no corredor (seleciona alguns trabalhos de alunos e muitos papéis que traz para sua mesa em classe).

A professora hoje também está mais silenciosa do que nos outros dias. Senta-se à sua mesa e começa a olhar os papéis. Vez ou outra chama a atenção de um aluno ou uma aluna por estarem bagunçando e diz (alterando a voz e franzindo o cenho) “vou já chamar pra vir na lousa e quero só ver...”. Depois vai aos poucos chamando os alunos um a um em sua mesa para mostrarem o caderno. Corrige, manda refazer, reclama porque não fizeram ainda, tudo com o mesmo olhar e semblante. Mesmo quando há acertos na correção a expressão é a mesma. Permanece o tempo todo sentada com o corpo curvado, pesado. Algumas vezes coloca a mão direita na testa escorando o cotovelo na mesa.

Hoje, apesar de ter prometido isso aos alunos várias vezes, a professora não chamou nenhum aluno para fazer os exercícios na lousa.

A orientadora chega à porta e pergunta se determinada aluna é daquela turma (porque a aluna havia esquecido a agenda na escola) ao que a professora responde que sim (com tom de voz bravo e alterado) mas diz que a aluna só vem em dia de festa. A orientadora sorri constrangida e agradece.

Os alunos começam a ficar agitados porque se aproxima o fim da aula. A aluna K. vai para a porta (que permanece quase sempre aberta) e fica interagindo com quem está do lado de fora. A professora depois de um tempo percebe e diz (com a voz bastante alterada e sem sair da sua cadeira) “Ô K. entra, folgada”.

A professora chama a atenção do aluno A. dizendo “A. já terminou? (ele responde que não), depois a perua chega e vai ficar todo atrapalhado, vai correndo atrás da perua.” (fala em tom ameaçador elevando a voz e franzindo o cenho, todos os dias essa ameaça é feita para o aluno A.). A responsável pela perua na qual o aluno A. é transportado chega na porta da classe e se dirige diretamente ao aluno “já terminou A. porque tá conversando!”.

Os alunos se agitam depois disso, guardam o material e começam a sair da classe. Não há formalidades na saída. O ritual é marcado pela presença da responsável pelo transporte escolar. Os alunos saem desordenadamente, sem dar conhecimento à professora (que não para de corrigir cadernos de alunos que estão em sua volta).

Sempre que essa moça responsável pelo transporte escolar surge à porta a professora a chama para falar alguma coisa (sua expressão se alegra e elas parecem ter bastante intimidade). OBS.: a postura corporal da professora demonstra invariavelmente cansaço e desânimo. Tem gestos contidos e lentos, movimenta-se apenas na linha imaginária entre sua mesa e a porta da classe. Raramente circula entre os alunos, sempre os solicita à sua mesa. Permanece a maior parte do tempo (3/4 aproximadamente) sentada à mesa entretida na análise de papéis enquanto os alunos fazem os exercícios propostos.