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A relação das Feiras de Ciências com seus diferentes atores

2.1 FEIRAS DE CIÊNCIAS E SUAS TRAJETÓRIAS

2.1.3 A relação das Feiras de Ciências com seus diferentes atores

As FCs são ambientes favoráveis para o desenvolvimento de múltiplas aprendizagens e envolvem diferentes atores nesse momento: professores- orientadores, avaliadores de projetos, organizadores do evento, estudantes- expositores e público visitante. Constituem-se também em ambientes significativos para a iniciação científica (NEVES; GONÇALVES, 1989). Além disso, as FCs são espaços que permitem momentos de compartilhamentos de diferentes culturas, saberes, conhecimentos, estabelecimento de novas parcerias de trabalho e de novas amizades.

Dessa forma, busco nesta parte da pesquisa apresentar alguns aspectos relacionados à relevância das FCs aos diferentes participantes: estudantes- expositores, visitantes e professores. Ressalto que, na próxima seção retomo as questões ligadas aos professores e sua constituição enquanto professores- orientadores, já que são eles os sujeitos principais desta investigação.

A pesquisa como princípio educativo vem, aos poucos, sendo incorporada no trabalho das escolas brasileiras e ganhando espaço nos documentos oficiais, como as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica (DCNEB) (BRASIL, 2013) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2017), por exemplo. As

Diretrizes recomendam o desenvolvimento da capacidade de pesquisa para que os estudantes envolvidos “busquem e (re)construam conhecimentos” (BRASIL, 2013, p. 164), de maneira autônoma.

Conforme Demo (2011, p. 2, grifo do autor), “educar pela pesquisa tem como condição essencial primeira que o profissional da educação seja pesquisador, ou seja, maneje a pesquisa como princípio científico e educativo e a tenha como atitude cotidiana”. Faz-se necessário que tanto o estudante quanto o professor se mobilizem para a produção de conhecimentos por meio da pesquisa.

O estudante que possui contato com a pesquisa se torna mais criativo e engajado em seu processo de aprendizagem (NASCIMENTO; BRAGA, 2015) e, além disso, potencializa sua capacidade investigativa, tornando-o capaz de questionar os mistérios do mundo (BELLIPANNI; LILLY, 1999). Na opinião dos professores investigados por Grote (1995a), a participação nas FCs estimula os jovens pesquisadores a terem maior interesse e entusiasmo pela Ciência. Do mesmo modo, Mancuso (1993) e Lima (2011) afirmam que as FCs permitem ampliar diversas habilidades dos estudantes, tais como: aquisição de conhecimento (espaço de compartilhamentos e ampliação de aprendizagens); aprimoramento da capacidade comunicativa (melhoria na habilidade de argumentação/compreensão e relacionamentos interpessoais); modificações em hábitos e atitudes (desenvolvimento da atenção, reflexão, análise); avanços na criticidade e motivação; desenvolvimento de uma avaliação quanto ao próprio desempenho, do outro e do evento; formação de um protagonismo juvenil; desenvolvimento da criatividade, politização e senso de cooperatividade. Pereira (2000, p. 38) entende que a realização de FCs vai além da criticada “formação de pequenos cientistas”, uma vez que se apresentam como estratégias pedagógicas que possibilitam vivências interdisciplinares que são complementares à escolarização.

Francisco, Castro e Francisco Junior (2017) destacam que, na visão dos estudantes visitantes, as FCs são espaços dinâmicos que favorecem o compartilhamento de saberes, principalmente em suas relações com o mundo. Como empreendimento social-científico, as FCs podem proporcionar, igualmente, o intercâmbio de informações, conhecimentos e saberes entre diferentes grupos sociais. Destaco aqui que existem poucos trabalhos que compreendem a visitação como um momento de aprendizagem (GALLON; ROCHA FILHO; NASCIMENTO, 2017),

constituindo-se na maioria das vezes em um passeio, o que, porém, não diminui sua importância diante da ampliação do repertório cultural proporcionada a esse sujeito.

Nas FCs, os trabalhos são expostos tanto para a comunidade visitante quanto para os avaliadores dos projetos (RIBEIRO, 2015). Durante o evento, os estudantes envolvidos com as pesquisas apresentam o problema proposto e de que modo alcançaram os resultados exibidos. Sendo assim, a FC pode ser o momento destinado a essa interação com o público e a comunicação dos resultados da investigação (GALLON et al., 2019b).

Neste contexto, o professor recebe destaque, sendo responsável por incentivar os estudantes a elaborarem projetos utilizando metodologias que potencializam os processos investigativos na escola (NASCIMENTO; VENTURA, 2017). Além disso, os professores podem ofertar materiais de apoio e estabelecer contatos que contribuam na organização e no cumprimento das tarefas. Assim, o professor ocupa o papel de professor-orientador, ultrapassando conteúdos e formas de ensinar e criando um vínculo afetivo com os estudantes, gerenciando cuidados com aspectos emocionais e pessoais que possam influenciar o desenvolvimento dos jovens pesquisadores, seus orientandos, ao longo do trabalho investigativo.

O processo da orientação também proporciona aprendizagens aos professores (GONÇALVES, 2011), pois, na medida em que estes orientam os alunos, consequentemente acabam por aprender nesse processo, aprimorando sua autonomia durante a prática. Mbowane, Villiers e Braun (2017), Rohers, Castro e Castro (2017) e Farias e Gonçalves (2007) destacam que as FCs podem representar potenciais espaços para a formação docente, visto que oportuniza a esse sujeito perceber seu perfil e aptidões, a partir do envolvimento com o tema da pesquisa do estudante e com a sua forma de orientar.

Dessa maneira, o professor-orientador cumpre um papel que vai além da docência, uma vez que se compromete com o desenvolvimento do estudante- pesquisador bem como com sua progressiva autonomia na pesquisa e criticidade (GONÇALVES, 2011).

Sendo assim, as FCs são muito mais do que espaços destinados a uma apresentação de projetos. São formadas pelo antes, durante e depois do evento realizado. No antes, é elaborado um projeto investigativo, que pode durar meses até a obtenção dos dados para posterior apresentação; durante, é realizado o processo avaliativo dos projetos, envolvimento com organizadores, outros estudantes

expositores, público visitante e as múltiplas experiências proporcionadas; o depois é o momento em que o público realiza as considerações e são realizadas as avaliações a respeito do projeto, bem como os possíveis desdobramentos da pesquisa para sua continuação. Assim, tornam-se cruciais a produção de estudos que analisem, também, as aprendizagens que ocorrem e de que maneira ocorrem nesses eventos. Dentre o universo de possibilidades de estudos no campo das FCs aqui exposto, opto por me dedicar aos professores-orientadores participantes desses eventos. A próxima seção aborda elementos sobre esses sujeitos que, posteriormente, serão resgatados para a análise desta pesquisa.