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Com a finalidade de responder ao pressuposto orientador desta pesquisa de que o Programa CsF impulsionou o processo de internacionalização da UFC, buscou-se ao final das entrevistas, compreender se na percepção deles há relação entre o Programa CsF e a internacionalização da Universidade.

Quando perguntados se veem uma relação entre o CsF e a internacionalização da UFC, o reitor 1 acredita que o Programa fortaleceu a internacionalização na Universidade.

O principal legado do CsF foi o impulso ao fortalecimento da política de internacionalização da UFC. (REITOR 1).

O reitor 2, por sua vez, lamenta que não tenham sido realizados estudos que comprovassem essa correlação, mas acredita que a implementação do CsF despertou a Universidade para a internacionalização.

Olha, é difícil a gente estabelecer uma correlação porque a gente nunca fez nenhuma pesquisa. Poderia ter feito. Aliás, deveria ter feito. Deveria ter avaliado através de grupos focais, através de... qual foi o impacto desse programa na universidade. Mas é possível, a gente não pode afirmar, mas é possível que ele tenha contribuído, sim, porque de repente foi um assunto... o Ciência sem Fronteiras era uma representação da internacionalização, uma representação concreta que passou a ser parte do dia a dia da instituição. Então, isso com certeza despertou a consciência das pessoas para isso e acho que fez com que houvesse reflexão, houve muita discussão, havia preparação dos estudantes. Então, essa coisa foi difundida de várias maneiras. É difícil a gente afirmar porque a gente não fez nenhum estudo. É uma pena... deveria ter feito. (REITOR 2).

O pró-reitor de graduação 1 acredita que há relação entre o CsF e a internacionalização da UFC, comprovado pelos destaques da UFC nos rankings internacionais.

Sim, sem dúvida. Como eu disse, o Ciência sem Fronteiras tinha um foco muito forte na graduação, mas incluía fortemente a pós-graduação também. A pós-graduação já vinha fazendo intercâmbios internacionais, a grande novidade do Ciência sem Fronteiras foi a graduação porque a graduação não tinha. Mas envolve, com certeza, a nossa pontuação, a nossa participação, inclusive em rankings divulgados, em diferentes rankings, onde a internacionalização é um item importante na avaliação e que a Universidade cresceu, o Ciência sem Fronteiras tem tudo a ver com isso porque nós passamos 4 anos fazendo ciências sem fronteiras e impacta na avaliação de tudo. Então hoje, no ano passado, em 2017, 2016, 2020 a gente está colhendo frutos desse programa nas universidades, ou seja, o tempo que ele estava acontecendo, os frutos não estavam sendo dados, a semente estava sendo lançada, o fruto vem depois. (PRÓ- REITOR DE GRADUAÇÃO 1)

O pró-reitor de graduação 2 concorda que o Programa CsF sensibilizou a comunidade acadêmica para a internacionalização.

Com certeza. Mais uma vez, é aquela história o Ciência sem Fronteiras sensibilizou a comunidade para a internacionalização. Apesar de muitas críticas, todo mundo achava que era importante e o legal é que muitas vezes a gente recebia algum contato dos professores dizendo “Poxa, eu não tive oportunidade de ir... agora o governo manda alguns alunos que estão no momento ainda na metade do curso. Por que não deram a

bolsa para a gente ir?” Então, assim houve uma sensibilização muito grande. Então, se os nossos alunos foram por que que a gente não foi? Então, a partir daí muitos devem ter depois tentado esse caminho... dado que agora boa parte dos alunos, se eu não me engano mais de 1500 alunos tiveram oportunidade de ir só na UFC. Então é uma quantidade realmente razoável num período curto de tempo. (PRÓ-REITOR DE GRADUAÇÃO 2).

O coordenador de assuntos internacionais relativiza a relação entre o CsF e a internacionalização da UFC, relembrando os critérios de internacionalização da CAPES:

Na verdade, eu acho que seria bom analisar os números, olhar o que é que tem no anuário, por exemplo, estatístico da universidade para ver e relacionar o que havia antes, o que havia durante e o que havia depois do Ciência sem Fronteiras. Agora, temos que ter cuidado com uma coisa: o que que é a internacionalização? Porque a internacionalização pode acontecer até aqui internamente. No momento em que, por exemplo, na época em que eu era coordenador de assuntos internacionais, nas nossas discussões lá com os colegas quando tínhamos encontro, dentro da ANDIFES, uma das discussões eram: “nós precisamos aumentar o número de disciplinas nos cursos de pós e, se possível também, de graduação, ministradas em uma língua estrangeira” isso porque se eu estivesse, por exemplo, uma pós qualquer, pelo menos duas disciplinas ministradas em inglês, eu dava oportunidades os meus alunos daqui treinarem essa capacidade de aprender sobre uma matéria em língua inglesa, francesa, o que seja. Mas também aumentaria a possibilidade de alguma universidade querer mandar os seus alunos para cá. Então, isso é um tipo de internacionalização e que talvez esse tipo aí seja ainda bastante raro dentro da UFC. Então, se eu pensar, naquela época, se a gente não entrasse no Ciência sem Fronteiras, a gente, no quesito internacionalização visto como mobilidade dos nossos alunos noutros países, nós iríamos ficar lá atrás. Como nós entramos, nós rapidamente ficamos ali entre os 10. Às vezes éramos os oitavos, os nonos, os décimos, mas estávamos bem na foto. Se a gente pensar nos critérios que os rankings tomam, a gente vai ver que a internacionalização pode ser também o número de publicações em periódicos estrangeiros. Aí onde que o Ciência sem Fronteiras pode ter entrado nisso? Talvez numa proporção bem menor mas houve alunos também que publicaram, principalmente os que foram pra uma pós, os que foram para algum programa de pós- graduação, com certeza, ajudaram a colocar nossa universidade bem na foto. Houve certamente alguns casos de alunos de graduação que também publicaram, mas provavelmente foram menos. De um modo bem geral eu diria que o Ciência sem Fronteiras ajudou, sim, a Universidade Federal Ceará do quesito internacionalização. (COORDENADOR DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS).

De forma geral, fica claro que o coordenador da CAI acredita que o CsF contribuiu para a internacionalização da UFC somente no quesito mobilidade acadêmica.

Entre os coordenadores de curso, apesar de afirmarem que há relação entre o CsF e a internacionalização da UFC, observa-se que eles relacionam esta ao aumento de parcerias entre pesquisadores brasileiros e estrangeiros, que, como falado anteriormente, não ocorreu por meio do CsF.

Eu acho que isso é uma relação direta. Por quê? Porque o aluno que sai, que vai lá fora e volta, a partir daí vínculos podem ser firmados. Por exemplo, um professor, vamos supor que eu nem conhecia um aluno meu vai para China e chegou lá, teve um contato, ficou com o professor que tá numa linha de pesquisa que a minha e esse aluno foi o intermediário que pode viabilizar o meu contato com esse professor. A partir daí, a gente tem um projeto. (COORDENADORA DO CURSO DE BIOTECNOLOGIA) Eu acho que tem tudo a ver. Então assim, a implantação do Ciência sem Fronteiras colocou as nossas sementes lá fora [...] cada local desses em que os alunos

participaram e tiveram boas relações acadêmicas é a UFC lá fora. Então teve muito retorno. Quando as alunas chegavam... eu tinha um projeto que se chamava “Eu amo design de moda, eu sou UFC”. Então esses alunos chegavam e traziam metodologias, faziam palestras, mesas-redondas, café com moda. Então a gente trouxe de volta, para eles se colocarem para os outros, até para estimular em os outros a irem também. Isso mostra que eles interagiram bem lá fora, academicamente falando. E daí outras relações, outros contatos, de eles voltarem. E aí eu acho que existem muitas coisinhas, lógico que a internacionalização envolve muitas coisas, mas estar lá fora como um aluno da UFC e desempenhando um bom papel amplia a visão que as outras sociedades têm do Brasil e da própria Universidade. Eu acho que tem muito a ver. (COORDENADORA DO CURSO DE DESIGN DE MODA 1)

Eu acho que ele é uma parte que ele ajuda, pelo menos do lado da graduação, a dar aos alunos essa oportunidade de ter essas experiências e quem sabe até, dependendo do aluno, do contato que eles têm lá, incentivar pessoas que venham de lá para cá, incentivar um convênio entre as duas universidades. Uma coisa possível que poderia ter sido exigido dos alunos que tentassem aumentar esse intercâmbio. Ou pelo menos começar um canal de diálogo, eu acho que é interessante. Até porque eles são muitos, era mais barato do que os professores saírem... ia ter mais bônus pra universidade, a bolsa deles era menor.... era um começo desse intercâmbio e que deveria continuar. A gente poderia até incentivar esses alunos a apresentar a UFC lá, a nos divulgar porque nós não somos conhecidos lá. (COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO).

Outros coordenadores preferiram não opinar sobre essa relação.

Olha, eu não sei, o quanto isso foi importante, certo? Eu não tenho nenhum dado sobre isso como é que foi que o Ciência sem Fronteiras pôde contribuir para isso. O que eu posso pensar é que pelo fato desses estudantes terem vindo para vários países, não posso dizer do mundo todo porque seria uma coisa muito grande, mas teve gente na América do Sul, na Ásia, na Europa... então de alguma forma, esses estudantes, buscando esses saberes, de forma muito abrangente, ou querendo ver como é que se realizava determinado processo em determinado lugar, eles foram buscando essas parcerias para a universidade. Eu acho que isso foi uma das coisas importantes. E as portas foram abertas pelos estudantes, né? E depois foram firmadas essas parcerias pela Universidade Federal. Então, eu acho que foi uma coisa muito positiva, né, para a instituição. (COORDENADORA DO CURSO DE DESIGN DE MODA 2). Não sei qual é a internacionalização que você fala. Assim de ela ser... com certeza se ela tá melhorando, mas é porque a internacionalização passa muito pela pós- graduação. Existe o Ciência sem Fronteiras na pós, mas eu acho que é um número menor. Então aí eu não posso falar porque eu não tenho essa informação até mesmo porque Engenharia de Produção, nós temos um problema, que não temos pós- graduação. (COORDENADOR DO CURSO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO MECÂNICA 2).

Então... Se eu relaciono? Não sei. Em que sentido? Como assim? Eu acho que é parte dela, né? Eu imagino que sim. Eu não sei medir. Tem uma questão que às vezes é quantitativa... “ah tantos por cento dos alunos...” Mas no qualitativo em que realmente repercute? O dado quantitativo pode ser fácil verificar, mas qualitativamente se você perguntar hoje nos corredores... A gente talvez se depare: “não, não conheço esse programa, não vi.” (COORDENADOR DO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO).

No relato acima, o coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo, o segundo curso da UFC que mais enviou alunos ao Programa CsF, traz uma questão pertinente quando diz que o dado quantitativo pode ser facilmente verificado. No entanto, quais as repercussões qualitativas? De fato, a UFC, em termos numéricos, teve uma posição de destaque no Programa

CsF e nos demais rankings de internacionalização. Mas entender o que esses números representaram em termos qualitativos foi um dos objetivos intrínsecos desta pesquisa avaliativa. Observa-se que a relação entre o CsF e a internacionalização da UFC apresenta diferentes interpretações por parte dos gestores, conforme sintetizado no quadro 11 abaixo.

Quadro 11-Síntese: o Programa CsF e a internacionalização da UFC

Gestores da Administração Superior (reitores, pró- reitores de graduação e coordenador de assuntos

internacionais)

Coordenadores de Cursos

-O CsF representou a internacionalização da UFC; -O CsF sensibilizou a comunidade acadêmica para a internacionalização;

-O CsF influenciou nos rankings de internacionalização; -O CsF contribuiu para o aumento da mobilidade acadêmica (passiva) na UFC;

-O CsF não aumentou as parcerias e cooperações entre as universidades.

-O CsF fez parte da internacionalização da UFC.

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

Depreende-se que, entre os gestores da administração superior todos reconhecem a influência do CsF, de modo geral, no processo de institucionalização da internacionalização da UFC. Entre os coordenadores de curso, embora haja quem acredite que a relação é pertinente, percebe-se que a maioria não identificou relação direta entre o Programa e a internacionalização da UFC, mas acreditam que o CsF fez parte da internacionalização da UFC naquele período.