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Etzioni (1976) aborda a teoria das Relações Humanas afirmando que a felicidade do trabalhador depende do equilíbrio perfeito entre os objetivos da organização e as necessidades do trabalhador, conceito da escola de Relações Humanas, que se concentra em organizações industriais e comerciais, enquanto que os Estruturalistas estudavam outros tipos de organizações.

Jameson (1962), por sua vez, diz que para o estabelecimento de uma vida humana feliz, é necessária melhor compreensão dos fatores que influenciam as relações individuais, as relações do homem consigo mesmo, o dinamismo do grupo a que pertence e suas condições. As relações humanas, por si só, não garantem que este objetivo seja atingido, mas facilitam grandemente o processo total de desenvolvimento humano, sem o qual tampouco o equilíbrio pode ser alcançado.

Tal como a psicologia organizacional, o estudo das Relações Humanas se torna interdisciplinar, interessando aos psicólogos, cientistas sociais, cientistas políticos, antropólogos, enfim, aos que se dedicam ao estudo da importância do ser humano. A interação do ser humano, seja no comportamento individual, seja no comportamento em sociedade e as inter-relações entre os homens e seus trabalhos, os homens e suas esperanças, aspirações e medos.

O estudo das relações humanas, dentro do ciclo evolutivo do homem, se dá no âmbito familiar, acadêmico, funcional e social, considerando sempre o indivíduo humano, cujo desenvolvimento não pode ser atingido na existência isolada, estando, portanto, em constante interação com o ambiente.

Para melhor compreensão das relações humanas, um dos pontos de partida é conhecer o desenvolvimento da personalidade, principalmente a própria. Considerar o “eu”, cujo significado ontológico é o ente que se é o “ser-no-mundo”. E, assim poder considerar o outro, como o fez Heidegger (2009, p. 174-5) que manifesta o seguinte:

Os “outros” não significam todo o resto dos demais além de mim, do qual o eu se isolaria. Os outros, ao contrário, são aqueles dos quais, na maior parte das vezes, não se consegue propriamente diferenciar, são aqueles entre os quais também se está. Esse estar também com os outros não possui o caráter ontológico de um ser simplesmente dado “em conjunto” dentro de um mundo. O “com” é uma determinação da presença. O “também” significa a igualdade no ser enquanto ser-no-mundo que se ocupa dentro de uma circunvisão. “Com” e “também” devem ser entendidos existencialmente e não categorialmente. À base desse ser-no-mundo determinado pelo com, o mundo é sempre o mundo compartilhado com os outros. O mundo da presença é mundo compartilhado. O ser-em é ser-com os outros. O ser-em- si intramundo desses outros é co-presença.

Heider (1970), quando trata da psicologia das relações interpessoais, apesar de considerar os estudos apenas entre poucas pessoas, centralizou na pessoa, como a unidade básica a ser pesquisada. Ainda complementa que a perceptibilidade de outra pessoa é fundamental como propriedade de estudo das relações interpessoais e cita Ichheser:

A contraparte do mundo percebido coletivamente é o mundo de nossas experiências individuais (particulares). A mesa em que escrevo é um objeto que pode ser percebido por mim, por você, e por qualquer outra pessoa, como algo que está “localizado” no mundo interpessoal, coletivo. Ao contrário, meu sentimento de ser feliz, ou minha convicção de que estou certo, são percebidos e podem ser diretamente percebidos, como esse sentimento específico ou essa convicção apenas por mim (HEIDER, 1970, p. 78).

Nas relações interpessoais, a avaliação acerca dos sentimentos é fundamental, pois muitas ações que ocorrem entre as pessoas só podem ser entendidas se avaliarmos os sentimentos que as orientam.

2.5. Emoções e sentimentos: percepção como base para o estudo das relações interpessoais

Emoção, citado por Goleman (1995) e descrito no Oxford English Dictionay é “qualquer agitação ou perturbação da mente, sentimento, paixão; qualquer estado mental veemente ou excitado”.

As emoções, segundo Goleman (1995), orientam nossas vidas em qualquer que seja a situação. Nossos anseios, paixões e os mais profundos sentimentos são diretrizes essenciais que orientam a espécie humana em sua evolução, ao longo da vida.

Goleman (1995) ainda sugere que todas as emoções são, em essência, impulsos, legados pela evolução, para uma ação imediata, para planejamentos instantâneos que visam lidar com a vida.

A própria raiz da palavra emoção é do latim movere – “mover” – acrescida do prefixo “-e”, que denota “afastar-se”, o que indica que em qualquer emoção está implícita uma propensão para um agir imediato. Essa relação entre emoção e ação imediata fica bem clara quando observamos animais ou crianças; é somente em adultos “civilizados” que tantas vezes detectamos a grande anomalia no reino animal: as emoções – impulsos arraigados para agir – divorciadas de uma reação óbvia (GOLEMAN, 1995, p. 20).

Saber lidar com as emoções, em qualquer que seja a instância da vida e, principalmente, no âmbito profissional, pode contribuir com os percalços enfrentados no cotidiano. Atuar sobre a inteligência emocional é a proposta de Goleman (1995), que afirma que a mente emocional é muito mais rápida que a mente racional, tornando-se um programa eficaz para o autoconhecimento e consequentemente para as relações interpessoais.

Ainda, descreve emoção se referindo a um sentimento e seus pensamentos distintos, estados psicológicos e biológicos, e a uma gama de tendências para agir. Segundo o autor, há centenas de emoções, juntamente com suas combinações, variações, mutações e matizes.

Algumas propostas de famílias básicas de emoções:

· Ira: fúria, revolta, ressentimento, raiva, exasperação, indignação, vexame, acrimônia, animosidade, aborrecimento, irritabilidade, hostilidade e, talvez no extremo, ódio e violência patológicos.

· Tristeza: sofrimento, mágoa, desânimo, desalento, melancolia, autopiedade, solidão, desamparo, desespero e, quando patológica, severa depressão.

· Medo: ansiedade, apreensão, nervosismo, preocupação, consternação, cautela, escrúpulo, inquietação, pavor, susto, terror; e, como psicopatologia, fobia e pânico;

· Prazer: felicidade, alegria, alívio, contentamento, deleite, diversão, orgulho, prazer sensual, emoção, arrebatamento, gratificação, satisfação, bom humor, euforia, êxtase e, no extremo, mania.

· Amor: aceitação, amizade, confiança, afinidade, dedicação, adoração, paixão, ágape.

· Nojo: desprezo, desdém, antipatia, aversão, repugnância, repulsa.

· Vergonha: culpa, vexame, mágoa, remorso, humilhação, arrependimento, mortificação e contrição.

Goleman (1995) cita ainda que na gama de definição acerca das emoções, há ainda emoções que se combinam, tal como o ciúme que seria uma variante da ira que também funde tristeza e medo e dos sentimentos como dúvida, complacência, preguiça e torpor ou tédio.

Já Heider (1970) define sentimentos como uma maneira pela qual uma pessoa sente ou avalia alguma coisa e podem ser classificados, grosseiramente, em negativos ou positivos e, para o autor, sentimentos constituem parte importante das relações interpessoais.

Dos sentimentos que fazem parte de nossa vida, a angústia, a frustração e a ansiedade despertam o ser para “a indistinta possibilidade de tudo” (FRAGA e SCHULTZ, 2009), dos quais investigados por Heidegger, proporcionando uma compreensão do papel do ser humano consigo mesmo, na relação com as organizações e com o mundo. No artigo em questão, a postura fenomenológica possibilitou transformar a percepção em um pensar consequente, desvelando os sentimentos e emoções.

2.6. O trabalho e seu sentido: a impermanência do bem-estar

Bohlander (2010) cita que a realização e a autoexpressão pessoais são fatores cruciais na complexa variedade de atitudes relativas ao trabalho.

Muitas pessoas consideram que a satisfação em relação à vida possa mais provavelmente resultar no equilíbrio entre os desafios e as recompensas proporcionados pelo trabalho e aqueles obtidos em suas vidas pessoais. Contudo, a maioria dos indivíduos ainda gosta de trabalhar e quer ter o melhor desempenho possível em suas profissões; eles tendem a se dedicar a encontrar um trabalho que seja de seu interesse e podem experimentar diversas carreiras, em vez de se satisfazerem com somente “ter um emprego” (...) as pessoas parecem buscar também meios de vida menos complicados e mais significativos. Novos estilos de vida certamente causam impacto na maneira de motivar e gerenciar (BOHLNADER, 2010, p. 29).

Em Trabalho Paradoxal, Martins (2009) descreve que como fenômeno, o trabalho é um fazer humano estreitamente vinculado ao ser humano.

Na obra, Martins (2009) cita Robbins definindo satisfação e motivação para caracterizar as percepções individuais em relação ao trabalho e que apontam para a complexidade e para a subjetividade do fenômeno denominado bem-estar, quando o autor propõe o conceito como sendo o conjunto de percepções e comportamentos favoráveis de um indivíduo em relação a seu trabalho.

Quando Martins (2010), com sua tendência fenomenológica, pesquisa a percepção de significado e de propósito no trabalho e seus efeitos no bem-estar, evidencia uma crescente instabilidade no cenário ocupacional.

A instabilização provoca o declínio das ‘estruturas de sentido’ proporcionadas pela profissão ou pela organização. A busca de significado e propósito se complexifica e se torna cada vez mais individualizada. O trabalho passa a ser percebido e avaliado em si mesmo, e não mais referenciado a uma contribuição coletiva, seja de uma organização, seja de uma categoria profissional. [...] apontam para a complexificação e para a impermanência do fenômeno de bem-estar no trabalho. E o processo de individualização relatado descortina outro âmbito de impermanência: o da própria compreensão que esse indivíduo tem de si mesmo (MARTINS, 2009, p. 85).

O fenômeno bem-estar faz emergir nos discursos dos entrevistados o desvelamento dos sentimentos e emoções, relacionados com motivação e satisfação. Na compreensão de si mesmo, a presença projeta seu ser para possibilidades. Esse ser para possibilidades em compreendendo é um poder-ser que repercute sobre a presença as possibilidades enquanto aberturas (HEIDEGGER, 2009, p. 209).