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Conhecer o ser humano perito criminal e o perito criminal ser humano analogamente nos remete à reflexão acerca dos próprios problemas e aqueles do seu tempo, como citado por Morin (2000, p. 53), “é preciso que compreendam tanto a condição humana no mundo como a condição do mundo humano, que, ao longo da história moderna, se tornou condição da era planetária”.

[...] se comporta de acordo com os modelos reativo e operacional. Ele possui uma consciência crítica altamente desenvolvida das premissas de valor presentes no dia-a-dia. [...] O homem parentético está apto a graduar o fluxo da vida diária para examiná-lo e avaliá-lo como um espectador (GUERREIRO RAMOS, 1984, p. 7-8).

Guerreiro Ramos (1984) cita ainda que o descontentamento com o emprego pode, em consequência, aliená-lo da sociedade global.

A abordagem fenomenológica faz aparecer o agente humano inserto na organização, surgindo assim um sujeito humano consciente (FRAGA, 2009). Husserl, citado por Schutz (1979, p. 9), ressalva que “o intersubjetivo, fenomenologicamente reduzido e concretamente apreendido, é visto como uma ‘sociedade’ de ‘pessoas’ que compartilham uma vida consciente”.

Partindo do princípio da existência de uma consciência pessoal (SCHUTZ, 1979), o eu é um dado imediato em Psicologia, ou seja, não se traduz apenas em “sentimentos e pensamentos existem”, mas em “eu penso” e “eu sinto”. Schutz (1979) comenta Husserl explicando as características da experiência psicológica.

Na medida em que vamos vivendo, vivemos em nossas experiências e, concentrados como ficamos nos objetos dessas experiências, perdemos de vista os “atos da experiência subjetiva” em si. A fim de revelar esses atos da experiência como tais, temos de modificar a atitude ingênua com a qual nos dirigimos aos objetos e temos de nos voltar para nossas próprias experiências, num ato específico de “reflexão” (SCHUTZ, 1979, p. 57-58).

O método da redução fenomenológica dá acesso à consciência em si, como um reino próprio, de natureza absolutamente única e que Capalbo (1998), citada por Fraga (2009) descreve:

A redução fenomenológica está incluída no método husserliano em busca da “fonte universal de toda a significação”, clarificando “quais são as estruturas universais da vida intencional”. A redução coloca “entre parênteses a consciência natural, imediata. “Quando o fato é colocado entre parênteses, surge o sentido. Porém, com essa redução, o mundo não fica reduzido a uma idéia, porque as essências que emergem com a redução trazem o vivido, fazendo aparecer o mundo como ele é”. Assim, “pela redução fenomenológica ou transcendental, o mundo é visto como correlato da consciência”. Não se trata aqui da transcendência kantiana, isto é, a que considera o mundo imanente ao sujeito. Trata-se da transcendência husserliana, que entreve o sujeito situado e o mundo como constituído pela consciência não de acordo com o idealismo, mas como objeto significativo, como vivência objetiva (FRAGA, 2009, p. 10).

Lujipen (1973) enfatiza o quanto a redução fenomenológica é essencial para a filosofia fenomenológica, pois é realizada por quem se coloca dentro da existência e reconhece as implicações disso. Executando-a, vai-se de fato achar uma base para todo e qualquer enunciado científico (LUJIPEN, 1973, p. 112).

Redução fenomenológica, segundo Capalbo (1987) se referindo a Husserl, se inicia pela colocação entre parênteses na crença de um mundo em si, de um mundo pré-existente ao meu nascimento e sobrevivente após a minha morte. Daí a significância da presença para a fenomenologia, pois o mundo já aí, nos antecede. Assim a fenomenologia compreende o mundo como obra de vários, como uma relação de intersubjetividade de uma comunidade de pessoas (FRAGA, 2009), quando cabe complementar a crença dos peritos criminais, especialmente neste estudo.

Considerando Henri Bérgson — filósofo francês que se dedicou ao estudo da consciência — em sua obra, Schutz (1979) cita a distinção entre viver dentro da corrente de consciência e viver dento do mundo do tempo e do espaço.

Já Schutz (1979) toma como exemplo a teoria de Husserl para descrever noese e noema, a primeira significa o que se vivencia e a segunda, o que é vivenciado e se aproxima muito dos princípios de Willian James, psicólogo e filósofo com formação em medicina na especialidade da mente humana e um dos contribuintes à fenomenologia.

Augras (1986, p. 56) cita que “a compreensão de si fundamenta-se no reconhecimento da coexistência, e ao mesmo tempo constitui-se como ponto de partida para a compreensão do outro”. A partir desse ponto, fundamentos da fenomenologia como compreensão, horizonte

husserliano, a questão do outro, a angústia psicológica e a angústia segundo Heidegger, podem clarificar asperezas e possibilidades de alento e de autorrealização do perito criminal em sua atuação crítica, porém, de grande impacto social, embora velado, sobre a sociedade da qual é parte integrante, podendo ter expectativas de conhecer o sentimento de pertencimento e contribuição.

A avaliação do perito criminal como cidadão e como agente da res pública remete à questão do ser e do dever ser:

O ser do humano, como agente-objetivo-fim-último, pois, não é uma questão de opção, é uma questão do ser. O problema está em assumir se o que já é. A possibilidade de retomada do ser, exercendo-se em uma liberdade engajada no mundo- já-aí, é exercer-se em seu dever ser, porém, conforme já foi visto, não somente movido pelo dever, mas pela ética. Essa postura é a mais desafiadora e crucial para o exercício de uma Gestão pela Formação Humana, porque ética não tem normas, é o que você decide e faz mesmo que ninguém fique sabendo (FRAGA, 2009, p. 167).

Porém, em contraste, convive-se com a ambiguidade, descritos nos fundamentos de Bauman (2008, p. 133) que discute “a tendência atual de ‘regras para por fim a todas as regras’, a qual passa a mensagem de que somos todos potencialmente supérfluos”. O autor enfatiza que as mudanças não se resumem aí que, na verdade, elas passam pelas relações econômicas, pelo trabalho e vão a mudanças sociais profundas, porém apagando o referencial social, reduzindo-o a um referencial que ele chama de “privativo”. Para exemplificar, o autor descreve as ruas como atuais espaços perigosos, não mais de troca, apenas locais de passagem.

4 – DESCRIÇÃO E ANÁLISE DO QUE ESTA PESQUISA POSSIBILITOU