• Nenhum resultado encontrado

O relacionamento interpessoal e condutas discriminatórias em relação às pessoas com D

3 PROPOSTA DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO CENTRO ENSINO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL HELENA ANTIPOFF

4 A INCLUSÃO DA MULHER COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO MERCADO DE TRABALHO EGRESSAS DO CENTRO DE ENSINO ESPECIAL HELENA

4.6 O relacionamento interpessoal e condutas discriminatórias em relação às pessoas com D

Segundo o relato de CB, não existe dificuldade de interação entre os funcionários, pois a empresa se preocupa muito com esse processo interrelacional entre seus funcionários, praticando sempre em seu espaço de trabalho todo um procedimento de sensibilização e treinamento de integração entre eles. O que foi ratificado pelas entrevistadas F1 e F2, ao serem questionadas sobre seu relacionamento com os demais funcionários das empresas em que trabalham, na qual se insere a coordenada por CB:

É bom. O relacionamento com algumas pessoas é muito bom. Eu tento me dar com algumas pessoas, não com todo mundo, porque a empresa é muito grande. É um relacionamento saudável, agradável, tento melhorar de acordo com as normas da empresa. (F1).

Me relaciono muito bem com todos daqui. Aqui conheço todo mundo, respeito todos, faço meu trabalho direitinho, ninguém se queixa de mim aqui. (F2).

De acordo com o exposto, infere-se que o envolvimento satisfatório entre os funcionários de uma empresa é muito importante, pois complementa e enriquece toda a construção de um vínculo sócio-afetivo entre as pessoas, afora o aumento da produtividade e da satisfação em executar o trabalho com eficiência, sendo tal inferência corroborada com o exposto na seção 2.

Observou-se que há uma sintonia e harmonização com os demais funcionários no ambiente de trabalho, pois F1 e F2 demonstraram satisfação em poder estar ali, desempenhando as suas tarefas, com a colaboração e o reconhecimento dos colegas, o que favorece a motivação para executarem seu trabalho e se autorrealizarem como profissional.

Segundo CB, a empresa faz treinamento com os funcionários orientando e sensibilizando-os para esta realidade. Mesmo porque a Constituição da República Federativa do Brasil/1988 proíbe qualquer possibilidade de discriminação conforme se vê em seu artigo 7º, inciso XXXI. Essa informação acerca da discriminação pode ser constatada no subitem 2. 2 do segundo capítulo deste trabalho.

Infere-se que o fato de ainda existirem condutas de origem discriminatória por parte da sociedade, torna-se necessária a efetivação de políticas públicas no sentido de garantir o acesso das pessoas com DI no contexto social, como também no mercado de trabalho, dando-lhes oportunidades de participarem ativamente e de serem pessoas socialmente aceitas e menos discriminadas por essa mesma sociedade.

Ademais, a Constituição Federal reconhece o trabalho como direito social, sendo proibido qualquer tipo de discriminação que tenha por objetivo reduzir ou limitar as oportunidades de acesso e manutenção do emprego. Portanto, foi pertinente perguntar se a empresa recebeu capacitação para receber as pessoas com deficiência intelectual.

Sobre este fato, CB foi enfático em responder que sim, pois todos os funcionários da empresa são treinados para trabalhar com a inclusão das pessoas com deficiência de um modo geral, haja vista que o trabalho oferecido e oportunizado está alicerçado no ideal de igualdade de oportunidade para todos.

Essa postura remete ao posicionamento de Costa (2012, p. 105), quando informa:

Devemos, portanto, enxergar e tratar a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho de modo responsável e consciente, olhando essa questão não apenas como uma obrigação legal, mais sim como uma

oportunidade de crescimento para todos os envolvidos, empregadores, colaboradores, fornecedores, clientes, onde todos podem contribuir a favor de uma sociedade mais justa e igualitária a todos.

Oportuno mencionar que é importante a empresa incentivar entre seus empregados um relacionamento satisfatório, visto ser essencial para todos (as), porque, isso, além de contribuir para o crescimento pessoal e profissional, se constitui também um diferencial na vida do ser humano, por se sentir valorizado e bem acolhido.

Por outro lado, foi conveniente indagar se as pessoas com DI foram orientadas pela empresa quanto aos seus direitos e deveres, ao que CB afirmou haver uma grande preocupação por parte da empresa em situá-los quanto aos seus direitos e deveres, uma vez que, ao ingressarem no trabalho, farão parte do quadro de funcionários, igualmente com os ali existentes, e todas as formalidades terão que ser cumpridas, considerando que estão sujeitos a fiscalizações por parte dos órgãos ligados ao setor trabalhistas e, em especial, ao Setor de Fiscalização para Inserção das Pessoas com Deficiência (SRTE)/MA.

Reconhece-se que é de suma importância para as pessoas com deficiência intelectual terem o conhecimento dos seus direitos e deveres a respeito de sua formação, qualificação e inserção ao emprego, tendo em vista poderem exercer com dignidade e respeito sua cidadania como pessoa trabalhadora consciente e autônoma.

Observa-se ainda na fala do CB que a empresa tem a satisfação em receber essa mão de obra e se interessa em continuar contratando esses funcionários com deficiência cognitiva, visto eles se constituírem grandes colaboradores, independentemente da lei de cotas.

Entretanto, as condutas discriminatórias podem estar presentes em outros espaços de vivência das pessoas com DI, sendo esta uma das indagações feitas a F1 e F2, que assim responderam:

No começo me senti discriminada, principalmente na escola, pessoas nos olham com pena, nos ridicularizando, gerando preconceito. Mas eu nunca deixei isso me influenciar, tanto que tentava agir naturalmente. Hoje em dia, posso dizer que superei o preconceito, superei muita coisa na trajetória da infância. Já sei brincar comigo mesma, tratamento de superação é com nós mesmas. (F1).

Não. Eu não tenho deficiência. A minha deficiência é só na leitura, é porque quando eu nasci o cordão umbilical estava no pescoço. Eu tive quando criança duas convulsões, tomo remédio controlado por causa das convulsões, mas isso não constitui empecilho para o meu trabalho e nem

para me sentir discriminada. Fiz tratamento para leitura, agora, já leio tudo, leio jornais, revistas etc (F2).

Quanto ao processo de discriminação sofrido pelas pessoas com deficiência intelectual na escola e no trabalho, pode-se afirmar que ainda se constitui uma realidade a ser vencida, pois existem pessoas que as ignoram e não acreditam em seu potencial, mas F1 e F2 mostraram por meio de suas respostas que é necessário romper com essa barreira do preconceito, uma vez que foi uma luta interior muito grande pela qual passaram.

De todo modo, já encaram esse fato com menos dificuldade, em virtude da sua própria superação, por acreditar em si mesma e em sua capacidade física e intelectual, embora com algumas limitações, o que não as impede de pensar, de amar, de trabalhar, de ser alguém na vida, de ser útil para a sociedade.

Chama-se atenção para a resposta de F2 quando disse que “Eu não tenho deficiência”, demonstrando, numa primeira leitura, que ela não se vê como uma pessoa deficiente, mas como quem acredita no próprio potencial e na sua capacidade de participação ativa na sociedade. Por outro lado, pode-se levantar a hipótese de que tal resposta se deva a uma resistência e até mesmo a um preconceito da própria entrevistada quanto a se reconhecer portadora de DI.

Outro aspecto relatado diz respeito a se a discriminação pode influenciar as relações interpessoais, dentro da empresa, fazendo com que a pessoa com deficiência intelectual se sinta excluída, rejeitada e ridicularizada.

Nesse sentido, assim se expressaram as egressas do CEEEHA:“A discriminação ridiculariza e gera o preconceito” (F1). “A discriminação não é empecilho para o meu trabalho. ” (F2).

Portanto, o que foi determinado pelos dispositivos legais referenciados no segundo capítulo deste trabalho ainda carece de pleno atendimento, e os estudos que fundamentam a presente pesquisa necessitam ser continuamente divulgados, estudados e inseridos no cotidiano das pessoas, na busca da superação de atitudes discriminatórias.

Em análise, percebeu-se que a discriminação em relação às pessoas com deficiência é consequência de toda a trajetória histórica das concepções construídas sobre elas. Isso, de certa forma, constitui um dado agravante quanto à promoção da sua acessibilidade ao mercado de trabalho.

Nesse contexto, citam-se Goyos e Araújo (2006, p. 34), quando destacam que

A riqueza da diversidade exige o respeito às diferenças, e a deficiência passa a ser encarada como uma diferença a ser valorizada. Assim sendo a igualdade de direitos deve buscar garantir a inclusão e o exercício de cidadania plena e consciente.

Logo, evidencia-se a necessidade de se refletir sobre o processo inclusivo, a fim de que se possam oferecer condições que valorizem as pessoas com deficiência intelectual, buscando conhecer os aspectos históricos e legais conquistados por elas ao longo do tempo.

4.7 O desempenho profissional das mulheres deficientes intelectuais na