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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO

4. ESTUDO DE CASO

4.1 RELATÓRIOS DAS ENTREVISTAS

4.1.4 Relatório da “Empresa D”

O entrevistado da “Empresa D” foi seu diretor executivo, que atua em todos os âmbitos da empresa. Possui 35 anos de idade, cursou um ano do curso de Administração de Empresas e é técnico em Edificações, daí seu interesse em um primeiro momento por maquetes eletrônicas e depois por modelos de personagens 3D para jogos eletrônicos. Entretanto, não possui capacitação formal em design.

A empresa possui dois sócios colaboradores e outros dois prestadores de serviços terceirizados. Seu objetivo é se especializar em design para jogos, para o desenvolvimento de produtos próprios e para outros desenvolvedores.

Atualmente a empresa está planejamento para o desenvolvimento de um jogo de entretenimento para PCs, consoles e dispositivos portáteis. Nesta fase, a empresa conta somente com designers, mas no futuro pretende contratar programadores. A fase atual é de organização do projeto e de conceituação do jogo. De acordo com o entrevistado: “[...] nós estamos desenvolvendo a ideia pra então sentar na frente de um [investidor] anjo, sentar na frente de um investidor pra demonstrar que nós temos um produto”.

Em relação ao conceito do seu jogo, a empresa acredita “estar no caminho certo”, entretanto ainda não recebeu qualquer tipo de investimento, público ou privado, por isso, continua buscando a aprovação de possíveis investidores para iniciar as fases seguintes.

Ainda na fase de conceito, o entrevistado comenta que o design se preocupa com a percepção do jogo pelos jogadores nos diferentes países onde o jogo deve ser distribuído. Como aponta o diretor: “[...] a gente se preocupa muito com isso em tentar mostrar nas mais variadas formas de cultura e beleza, pra

ver se não vai ofender uma etnia, uma cultura, uma religião...”. Na “Empresa D”, está sendo realizado um trabalho de pesquisa em design que deve ser transformado em um guia de estilo de arte durante a fase de pré-produção. Para ele, além de direcionar o trabalho de desenvolvimento, o guia proporciona a manutenção do conhecimento desenvolvido dentro da empresa e possibilita a utilização dos elementos de interface em outros projetos.

A estrutura organizacional da empresa é baseada nas responsabilidades de cada sócio. Um é responsável pelo design, além das finanças; e outro pela gestão da empresa. Ambos são responsáveis pela contratação de profissionais de design terceirizados para a criação de concept arts, storyboards e animação para a fase de conceito. Quando o desenvolvimento seguir adiante, com a pré-produção em andamento e com novos programadores contratados, a empresa acredita ser necessário contratar um produtor com conhecimentos em design, marketing, finanças e indústria de jogos eletrônicos.

Para a “Empresa D”, o mercado independente brasileiro não é suficientemente atrativo para o desenvolvimento de jogos eletrônicos, visto a dificuldade em promoção deste tipo de projeto e o risco da pirataria. Por isso, o investimento que busca deve ser alto e direcionado para o mercado internacional. Como comenta o entrevistado, “[...] pra ganhar um dinheiro com o

videogame, você já tem que entrar com dinheiro”.

Nesta busca de investimento, a “Empresa D” teve contato com diferentes publishers para apresentar seu conceito e seu planejamento. Para esta apresentação a empresa faz a elaboração formal de estratégia em “[...] uma reunião pra que todos saibam do que tá sendo tratado” e registra seu planejamento estratégico para apresentar aos possíveis investidores. Nesta elaboração, o design participa da reunião com os diretores.

Sobre o profissional de design e sua relação com a estratégia da empresa, o entrevistado diz que:

É o profissional, eu acredito que seja um dos profissionais mais importantes, depois do financeiro que controla tudo que é verba, que é ele que faz o financeiro ter dinheiro, porque se ele cometer um erro, a gente pode perder

todo o projeto e todo o investimento e não adianta a gente se culpar. Arriscamos, é uma estratégia. A estratégia ela nunca... ela pode estar errada, mas se você traçar uma estratégia, ela pode ir até o fim, se deu resultado ou não, depois você avalia, mas você tem que traçar uma estratégia e quem traça estratégia é o design.

Para traçar a estratégia, o design se relaciona com o mercado de forma pró-ativa, em pesquisas e no relacionamento com o público. Para o entrevistado, o design deve acompanhar o mercado, e estar atento às suas transformações. Na “Empresa D”, para o entrevistado, o design é uma vantagem competitiva da empresa pela diferenciação de seu jogo que o faz ser único no mercado.

Quando perguntado sobre o design para a empresa, o diretor responde:

O design, ele, pra mim, dá a forma do produto, quando você olha um produto, a primeira coisa que você vê são as curvas dele, se você vai gostar de tá dentro dele, se você vai gostar de interagir com ele, é quase como se fosse... você tem que despertar paixão no primeiro... ou paixão ou raiva, eu prefiro mais paixão, porque a paixão você tem o interesse e depois você descobre o amor por aquele produto, então o design ele tem que despertar isso na pessoa, então ele tem que estar agregado com beleza, curvas, dentro da tendência do que o mercado tá pedindo, do gênero, se é pra mulher, se é pra homem, se é pra criança, porque não adianta você fazer um design infantil.

Como parte de sua cultura, a “Empresa D” considera todas as sugestões dos designers, os quais participam da conceituação do jogo em brainstorms e na escolha e aprovação das melhores ideias. O entrevistado comenta que: “[...] a nossa ideia de empresa é não existir portas, é tudo um ambiente só e cada um trabalha no seu PC, mas tem que ter livre acesso a

críticas, as alterações, sem ego”. Para ele, esse acesso livre acontece tanto entre as áreas como também nos diferentes níveis hierárquicos da empresa. E a troca de informações entre os colaboradores da empresa é essencial para o bom andamento do projeto.

Nesta troca de informações, o design interage com as outras áreas da empresa, desde aquelas diretamente ligadas ao desenvolvimento até com as outras áreas de suporte. Sobre o design, o diretor comenta:

[... ] se ele não fizer parceria com a parte de física, jogabilidade e for uma porcaria a jogabilidade, ele não se atentar a isso, ele não ver que o produto dele vai ser visto de forma errônea, errada, ele não vai vender, então, ele tem que tá atento a isso, ele envolve publicidade, financeiro, ele mexe com todo o produto final.

A “Empresa D” utiliza um processo formal de design e uma gestão baseadas em outras empresas desenvolvedoras de jogos, inclusive com a adequação de algumas normas ISO9000 adequadas aos seus processos e relacionadas aos objetivos estratégicos da empresa.

A área de design conta com dois profissionais autodidatas e não está vinculada a nenhuma outra. A gestão da área de design se resume ao acompanhamento das entregas de cada profissional. ”[...] a gente só controla o que ele nos entrega e o que a gente solicita, agora, se ele tá registrando, se ele tá guardando, se ele tá de alguma forma catalogando, aí é uma forma mais pessoal”. O entrevistado comenta que não há controle sobre o trabalho do designer, “O designer nem sempre ele chega cedo, nem sempre ele sai cedo, ele tem que resolver o problema”. Ele diz que o designer é responsável pelo seu próprio trabalho e deve entregar o que é necessário para o projeto.

A comunicação interna na “Empresa D” é pessoal mas sempre registrada por meio de formulário, e-mail, ou ata de reunião. E o design sempre participa desse processo. Como mostra o entrevistado:

Quando tem uma reunião de ideias, brainstorm e apresentação, se o designer não puder participar a reunião tem que ser cancelada, porque não adianta a gente assumir responsabilidade e ideias que depois ele não vai querer acatar, vai dar problema, então ele trabalha diretamente, ele participa, ele é obrigado a participar de todas as reuniões.

O aperfeiçoamento profissional da área de design é uma das preocupações da empresa para quando receber investimento, com o pagamento de cursos de treinamento em técnicas e ferramentas de design para seus colaboradores; o que não ocorre quando o tema é gestão e negócios. Para o entrevistado isso depende do perfil do profissional, que algumas vezes possui mais aptidão para a estética do que para a lógica.

Quando perguntado sobre o interesse em ter alavancagem de propriedade intelectual, o entrevistado responde: “[...] o produto tá sendo feito pra vender games e também pra ser até comercializado como produto, se alguém quiser comprar o produto inteiro, a gente vende”. Assim, para ele, o design da empresa pode ser utilizado para qualquer tipo de produto.

Este objetivo comercial, faz com que a “Empresa D” conte com um processo de proteção de propriedade intelectual integrado ao desenvolvimento e possui os direitos de todos os

concepts drawings desenvolvidos até agora. Como conta o

entrevistado: “Se aquilo pode virar um brinquedo, tem que ser registrado e registrar”.

Para o entrevistado o design contribui para a marca da empresa e para a marca dos jogos pelo seu valor agregado nos projetos e o seu valor é percebido somente nas vendas do produto. E como a empresa ainda não possui jogos lançados no mercado, ela não sabe como realizar as medições do desempenho financeiro e não financeiro do design.

Apesar de não medir o design, na “Empresa D”, segundo o entrevistado ele participa do sucesso da empresa de diversas formas. Na redução de custo de desenvolvimento o design reduz retrabalho porque faz concept arts de maneira produtiva e possui objetivo primordialmente comercial. No incremento de vendas o

design participa com a diferenciação do produto no mercado. Na alavancagem de propriedade intelectual o design cria elementos que podem ser comercializados independentemente do jogo. E na promoção, o design participa do material gráfico, e ele exemplifica: “Vendeu mas é uma porcaria, mas a capa você fala ‘caraca’, né?”.

Ainda não há a integração formal do design dos diversos itens de comunicação externa e interna, mas “[...] existe na verdade uma ideia e um conceito de fazer isso, ainda não está sendo feito”. Atualmente um mesmo designer fica responsável por estes itens quando necessário. Esta ideia, ou intenção apresentada pelo entrevistado, pode ser percebida pelo desenvolvimento do manual da marca da “Empresa D” em andamento, terceirizado para um designer gráfico especialista em identidade visual.