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3. REFLEXOS PREVIDENCIÁRIOS NO CONTRATO DE TRABALHO

3.1. Benefícios previdenciários – noções gerais

3.1.2. Auxílios

3.1.2.1. Auxílio-doença

3.1.2.1.1. Renda mensal inicial

A renda mensal inicial do benefício sofreu mudanças ao longo do tempo. A mais recente alteração foi promovida pela MP 664, convertida na Lei nº 13.135/2015 que alterou o art. 29, § 10 do PBPS. A regra até então vigente dispunha que o benefício seria calculado com base na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a 80% de todo o período contributivo, multiplicada pelo coeficiente de 91%.

A partir da nova regra, o auxílio-doença consistirá numa renda mensal correspondente a 91% do salário-de-benefício, não podendo exceder a média aritmética simples dos últimos 12 (doze) salários-de-contribuição, inclusive em caso de remuneração variável, ou, se não alcançado o número de 12 (doze), a média aritmética simples dos salários-de-contribuição existentes.

A nova sistemática no cálculo do auxílio-doença faz parte do ajuste fiscal levado a efeito pelo Governo Federal a fim de conter custos, tendo se utilizado da MP 664 que vem sendo referida ao longo desse estudo, a qual promoveu consideráveis alterações no benefício de pensão por morte, tornando mais rígidos os requisitos para sua concessão135.

A nova regra de cálculo do auxílio-doença contida na MP 664 foi mantida quando da sua conversão na Lei nº 13.135/2015, a qual inseriu o § 10 no art. 29 do PBPS136.

Segundo o Governo, o raciocínio a ser considerado na nova regra de cálculo do auxílio-doença diz respeito ao fato de que, em muitos casos, pela regra anterior, o empregado poderia receber mais se estivesse em casa, em gozo de

135 Outra Medida Provisória – MP nº 665/2015, convertida na Lei nº 13.134 de 16/6/2015 igualmente fez parte do ajuste fiscal. Essa MP tornou mais rígidas as regras para percepção do seguro-desemprego e do abono anual (PIS).

136 § 10 - O auxílio-doença não poderá exceder a média aritmética simples dos últimos 12 (doze) salários-de-contribuição, inclusive em caso de remuneração variável, ou, se não alcançado o número de 12 (doze), a média aritmética simples dos salários-de-contribuição existentes.

benefício, do que se estivesse trabalhando, e isso era visto como uma forma de desestímulo de retorno ao trabalho.

Exemplifiquemo-nos: um empregado com salário mensal de R$ 1.000,00 em seu atual emprego, afastou-se do trabalho e vai perceber auxílio-doença por 5 meses. Ao efetuar o cálculo do benefício, considerando a regra anterior, a Previdência levaria em conta a média dos maiores 80% salários-de-contribuição de todo o período contributivo, multiplicado por 91%. Impõe considerar que este empregado laborou por vários anos e teve diversos salários-de-contribuição, contribuindo com valores muito superiores ao seu salário na atual empresa. Ocorria, por exemplo, de a média deste trabalhador ter sido de R$ 3.500,00, valor este que multiplicado por 91% perfaz um total de R$ 3.185,00, ou seja, valor muito além do seu atual salário que é de R$ 1.000,00.

Ao aplicarmos a nova regra de cálculo, caso este mesmo empregado tenha percebido nos últimos 12 meses o salário de R$ 1.000,00, ao fazermos o cálculo da média desses últimos 12 meses, obter-se-á exatamente este mesmo valor de R$ 1.000,00. Ao aplicarmos o coeficiente de 91% sobre a média de R$ 1.000,00, ter-se-á o importe de R$ 910,00, ou seja, valor bem abaixo se comparado com cálculo anterior (R$ 3.185,00).

Em que pese uma das justificativas ser a de que a regra anterior estimulava o empregado a não querer retornar ao trabalho137, uma vez que em gozo de benefício sua renda podia ser maior, acreditamos que tal raciocínio não se justifica, na medida em que não é o empregado quem decide se pretende ficar ou não em gozo de benefício, mas sim a perícia média do INSS é quem irá mantê-lo em benefício ou mesmo determinar seu retorno ao trabalho, acaso verificar que o obreiro já recuperou sua capacidade laborativa, devendo ser cessado o benefício.

Ainda no que se refere à renda do benefício, há importante regra contida no parágrafo único do art. 63 do PBPS, o qual determina que a empresa que garantir ao segurado licença remunerada ficará obrigada a pagar-lhe durante o período de auxílio-doença a eventual diferença entre o valor deste e a importância garantida pela licença. Essa diferença paga pela empresa não integra salário-de-

contribuição (portanto não incide contribuição previdenciária), caso este benefício seja concedido à totalidade de empregados da empresa (art. 214, § 9º, XIII do RPS).

A situação versada no dispositivo retro diz respeito àqueles casos nos quais o empregador está obrigado, por força de contrato ou norma coletiva138, a complementar o rendimento do empregado se o valor do auxílio-doença for menor que seu salário efetivo.

A nova sistemática de cálculo do auxílio-doença, limitando-o à média dos últimos 12 salários-de-contribuição trouxe prejuízo não somente ao empregado como também à empresa, quando esta for obrigada a fazer a complementação do benefício.

À guisa de ilustração, consideremos a seguinte hipótese: Caio, empregado, sempre contribuiu sobre o teto do RGPS139. Após vários anos de trabalho na empresa Alfa, Caio foi dispensado sem justa causa e passou a contribuir como contribuinte individual por 12 meses, sobre o salário mínimo.140 Em seguida, Caio conseguiu novo emprego na empresa Beta, passando a perceber um salário de R$ 3.000,00, sendo que já na primeira semana sofreu acidente de trabalho e precisou se afastar por auxílio-doença.

No exemplo apresentado, considerando que a média dos últimos 12 salários-de-contribuição será o salário mínimo (R$ 788,00), caso a empresa estiver obrigada a complementar a diferença, o valor desta complementação será de R$ 2.212,00 (R$ 3.000,00 – R$ 788,00).

Conforme será melhor analisado no item seguinte, a empresa está obrigada a pagar o salário integral relativamente aos 15 primeiros dias de afastamento e, após este período, o empregado em gozo de auxílio-doença será considerado pela empresa como licenciado.

É certo que o segurado que exercer mais de uma atividade remunerada abrangida pela Previdência Social, estará inscrito em relação a cada uma delas,

138 Dificilmente as empresas se obrigam contratualmente a complementar o valor do auxílio- doença. Na maioria das vezes, referida obrigação ocorre por força de norma coletiva, porém, ainda assim, não é comum acordos ou mesmo convenções coletivas contemplarem tal direito. 139 Apenas para lembrar, para o ano 2015 o teto é de R$ 4.663,75.

devendo verter contribuições em relação a todas, observando-se sempre os limites mínimo e máximo de salário-de-contribuição vigentes à época.

Determina o art. 73 do RPS que o segurado que exercer mais de uma atividade abrangida pela Previdência Social, o auxílio-doença será devido mesmo no caso de incapacidade apenas para o exercício de uma delas, devendo a perícia médica ser conhecedora de todas as atividades que o mesmo estiver exercendo.

Nestas situações, o auxílio-doença será concedido em relação à atividade para a qual o segurado estiver incapacitado, considerando-se para efeito de carência somente as contribuições relativas a essa atividade. Se nas várias atividades o segurado exercer a mesma profissão, será exigido de imediato o afastamento de todas.

Exemplo: João das Pitangas é auxiliar administrativo em uma empresa (empregado) e também é cantor na noite em bares, restaurantes etc. (contribuinte individual). Nesse caso, João está inscrito em relação às duas atividades, uma como empregado e a outra como contribuinte individual. Considerando que veio a ter problemas nas cordas vocais, João não pode exercer sua atividade de cantor, de modo que se encontra incapaz apenas para essa atividade. Em função do ocorrido, o auxílio-doença será devido apenas em relação à atividade de cantor.

No exemplo acima apresentado, se João ficar incapaz definitivamente para a atividade de cantor, deverá o auxílio-doença ser mantido indefinidamente, não cabendo sua transformação em aposentadoria por invalidez, enquanto essa incapacidade não se estender às demais atividades (art. 74 do RPS).

Conforme visto em outra passagem dessa obra, a legislação proíbe o pagamento de benefício inferior ao salário mínimo, quando este tiver por finalidade substituir o rendimento do trabalho (art. 201, § 2º da CF/88), tal como ocorre com o auxílio-doença.

Entretanto, referida regra é excepcionada pelo § 4º do art. 73 do RPS, pois, caso ocorrer de o empregado (João) ficar incapaz de forma definitiva para a atividade de cantor, o auxílio-doença poderá ter valor inferior ao salário mínimo, desde que somado às demais remunerações recebidas resultar valor superior a este.