2. DIREITO PREVIDENCIÁRIO
2.3. Relação Jurídica Previdenciária
2.3.2. Dinâmica do Vínculo Previdenciário
2.3.2.4. Salário-de-benefício
O salário-de-benefício corresponde ao valor que será utilizado para o cálculo da renda mensal da maior parte dos benefícios previdenciários, por meio da aplicação de percentuais, a depender do benefício.
Quando da feitura do cálculo dos benefícios, a Previdência levará em conta o salário-de-benefício, o qual sofreu inúmeras mudanças com o passar do tempo.
Mantendo-nos em conformidade com o propósito do presente estudo, não se fará aqui uma minudente análise de todas as possíveis teses que permeiam o estudo do salário-de-benefício.
A partir disso, cumpre referir que o texto original do art. 202 da CF/88 dispunha que o cálculo da aposentadoria seria feito com base na média dos 36 (trinta e seis últimos) salários-de-contribuição.
Nesta mesma linha era o texto primitivo do art. 29 do PBPS, o qual previa que o salário-de-benefício seria a média aritmética simples de todos os últimos salário-de-contribuição dos meses imediatamente anteriores ao do afastamento da atividade ou data de entrada do requerimento, até o máximo de 36 (trinta e seis), apurados em período não superior a 48 (quarenta e oito) meses.
A nosso ver, Ivan Kertzman43 ressalta com acerto que esta forma de cálculo era desprovida de razoabilidade financeira e afrontava, fortemente, a “saúde” da Previdência Social, colocando em risco a continuidade do sistema de proteção social. Os segurados costumavam, nesta época, aumentar as suas contribuições, sempre que possível, apenas nos três últimos anos, para alcançar benefícios mais elevados.
A partir da edição da Lei nº 9.876/99 que alterou o art. 29 do PBPS, o salário-de-benefício consiste:
I - para a aposentadoria por idade e tempo de contribuição, na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a 80% (oitenta por cento) de todo o período contributivo, multiplicada pelo fator previdenciário44;
II - para a aposentadoria por invalidez, especial, auxílio-doença45 e auxílio-acidente, na média aritmética simples dos maiores salários-de- contribuição correspondentes a 80% (oitenta por cento) de todo o período contributivo.
A Emenda Constitucional nº 20/98 igualmente revoga o texto anterior do art. 202 que previa que a média seria feita com base nos últimos 36 meses.
43 KERTZMAN, Ivan. Curso prático de direito previdenciário. 12. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 346.
44 Conforme será melhor analisado quando tratarmos das aposentadorias, o fator previdenciário incidirá obrigatoriamente apenas na aposentadoria por tempo de contribuição, ao passo que na aposentadoria por idade somente será aplicado se for para beneficiar o segurado.
45 A Lei nº 13.135/2015, oriunda da conversão da MP 664/2014 alterou o cálculo do auxílio- doença, dispondo que referido benefício não pode ultrapassar média aritmética simples dos últimos 12 (doze) salários-de-contribuição, inclusive em caso de remuneração variável, ou, se não alcançado o número de 12 (doze), a média aritmética simples dos salários-de-contribuição existentes.
De outro lado, referida emenda acrescentou o § 3º ao novel art. 202, assegurando que todos os salários-de-contribuição considerados para o cálculo de benefício serão devidamente atualizados, na forma da lei46.
Importa salientar que o salário-maternidade e o salário-família não são calculados com base no salário-de-benefício (média), haja vista que possuem regras próprias, tal como será verificado quando da análise detalhada desses dois benefícios.
A pensão por morte e o auxílio-reclusão levam em conta o salário-de- benefício apenas indiretamente, haja vista que a renda mensal desses benefícios tomará por base o valor da aposentadoria que o segurado recebia ou daquela que teria direito se estivesse aposentado por invalidez no momento do óbito ou da reclusão.
O § 2º do art. 29 da Lei nº 8.213/91 estabelece valores mínimo e máximo de salário-de-benefício. Assim sendo, o valor do salário-de-benefício não será inferior ao de um salário mínimo, nem superior ao do limite máximo do salário-de- contribuição na data de início do benefício47.
A própria Constituição Federal estabelece em seu art. 201, § 2º que nenhum benefício que substitua o salário-de-contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário mínimo.
Outra regra importante está contida no § 11 do mesmo dispositivo, ao dispor que os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao salário para efeito de contribuição previdenciária e consequente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.
É dizer, quanto maior for a contribuição do segurado, tanto maior será o valor de seus benefícios, sempre observado o limite máximos de contribuição (R$ 4.663,75 em 2015).
Por fim, os percentuais a serem aplicados sobre os benefícios, após a apuração da média (salário-de-benefício) serão: a) 100% para as aposentadorias
46 Art. 29-B – Os salários-de-contribuição considerados no cálculo do valor do benefício serão corrigidos mês a mês de acordo com a variação integral do Índice Nacional de Preços ao Consumidor - INPC, calculado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. 47O valor do limite máximo é de R$ 4.663,75 e o valor do salário mínimo é de R$ 788,00 (para o ano de 2015), ambos instituídos pela Portaria Interministerial MPS/MF nº 13, de 9 de janeiro de 2015.
por tempo de contribuição, por invalidez e especial; b) 91% para o auxílio-doença; c) 50% para o auxílio-acidente e d) 70% acrescido de 1% a cada grupo de 12 (doze) contribuições mensais para a aposentadoria por idade, até o limite de 30%.