• Nenhum resultado encontrado

3. REFLEXOS PREVIDENCIÁRIOS NO CONTRATO DE TRABALHO

3.1. Benefícios previdenciários – noções gerais

3.1.2. Auxílios

3.1.2.1. Auxílio-doença

3.1.3.2.4 Sistemática de pagamento

A forma de pagamento do salário-maternidade, sobretudo em relação à segurada empregada, já passou por diversas modificações ao longo do tempo, as quais podem ser resumidas em três fases:

a) no texto original do art. 72 do PBPS, em caso de segurada empregada, o salário-maternidade era pago diretamente pelo empregador, o qual efetivava a compensação quando do recolhimento das contribuições sobre a folha.

b) a Lei nº 9.876/99 estabeleceu que o benefício seria pago diretamente pelo INSS a todas as seguradas ou, mediante convênio podendo ser pago pela empresa, sindicato ou entidade de aposentados.

c) entretanto, a Lei nº 10.710 de 5 de agosto de 2003 retomou a sistemática inicial de pagamento, inserindo o § 1º no art. 72 do PBPS, estabelecendo que

Cabe à empresa pagar o salário-maternidade devido à respectiva empregada gestante, efetivando-se a compensação, observado o disposto no art. 248 da Constituição Federal, quando do recolhimento das contribuições incidentes sobre a folha de salários e demais rendimentos pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço.

Quanto às demais seguradas, salvo existência de convênio, a forma de pagamento continua sendo por intermédio do INSS, inclusive no caso de benefício de corrente de adoção ou guarda judicial para fins de adoção213.

Há, ainda, uma ressalva a ser feita quanto ao pagamento do salário- maternidade de empregada contratada por microempreendedor individual – MEI. Neste caso, a Lei nº 12.470/11 alterou a forma de pagamento do benefício à empregada contratada por MEI, imputando tal responsabilidade diretamente à Previdência Social.

Tal fato sucede, uma vez que seria inviável ao MEI efetuar o pagamento do benefício à sua empregada e depois reembolsar de tais valores, na medida em que o benefício terá montante muito superior àquele devido pelo MEI empregador em relação à sua contribuição previdenciária.

Em suma, podemos afirmar que, em regra, a empregada recebe o salário- maternidade do empregador, o qual efetuará o reembolso dos valores pagos, salvo a empregada do MEI que receberá da Previdência.

O procedimento de reembolso a ser efetivado pelo empregador segue as mesmas regras já mencionadas quando tratamos do salário-família, as quais

213 Conforme será analisado no item seguinte, o segurado homem (empregado) que adotar, igualmente fará jus ao benefício e, neste caso, em regra, o benefício será pago diretamente pela Previdência.

estão dispostas nos arts. 37-40 da Instrução Normativa RFB nº 1300, de 20 de novembro de 2012.

À guisa de ilustração, caso determinada empresa tenha efetuado o pagamento de 2 (dois) salários-maternidade no valor de R$ 2.000,00 cada um, poderá deduzir o equivalente a R$ 4.000,00 mil reais do valor relativo às contribuições incidentes sobre a folha de salários e demais rendimentos pagos ou creditados a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço214.

Conforme visto, determina o § 2º do art. 37 da IN/RFB 1300 que, quando o valor a deduzir for superior às contribuições previdenciárias devidas no mês, o sujeito passivo (empregador, inclusive doméstico) poderá compensar o saldo a seu favor no recolhimento das contribuições dos meses subsequentes, ou requerer o reembolso.

Quanto à comprovação do efetivo pagamento, o art. 94, § 3º do RPS determina que a empregada deve dar quitação à empresa dos recolhimentos mensais do salário-maternidade na própria folha de pagamento ou por outra forma admitida, de modo que a quitação fique plena e claramente caracterizada.

A mesma lei acima referida inseriu o § 2º no art. 72, mantendo a regra anterior que obriga a empresa a conservar durante 10 (dez) anos os comprovantes de pagamentos e os atestados correspondentes para exame pela fiscalização da Previdência215.

Entretanto, em interessante estudo sistemático das normas aplicáveis à espécie, Ivan Kertzman sustenta que o prazo para conservação dos documentos não será 10 anos, mas sim de 5 anos, in verbis:

Note-se que, de acordo com o art. 94, § 4º, do Regulamento da Previdência Social e com o art. 72, § 2º da Lei 8.213/91, o prazo obrigatório para guarda da documentação referente ao salário- maternidade é de 10 anos. Ressalte-se, no entanto, que esses artigos foram revogados tacitamente pela Súmula Vinculante 8/2008 do STF que considerou inconstitucional o prazo decadencial de 10 anos para que o fisco efetue a cobrança de seus créditos, definindo o novo prazo em 5 anos, conforme previsto no CTN. Ademais, o art. 32, § 11 da Lei 8.212/91 inserido

214 Em regra, a contribuição das empresas (quota patronal) equivale a 20% sobre a folha de salários e deverá ser paga até o dia 20 do mês subsequente ao da competência, devendo antecipar o pagamento caso não houver expediente bancário.

215 Cumprindo sua função regulamentar, o art. 94, § 4º do Decerto 3.048/99 igualmente prevê o prazo de 10 anos para conservação dos documentos,

pós Súmula Vinculante 8 pela Lei 11.941/09, dispõe que em relação aos créditos tributários, os documentos comprobatórios do cumprimento das obrigações previdenciárias, devem ficar arquivados na empresa, até que ocorra prescrição relativa aos créditos decorrentes das operações a que se refiram216.

Todas as regras referentes ao pagamento do salário-maternidade evidenciam se tratar de benefício tipicamente previdenciário, sendo o empregador apenas um facilitador no que tange ao repasse dos valores às empregas a seu serviço. Em outras palavras, queremos aqui reforçar a ideia de que não é possível transferir o ônus do pagamento do benefício ao empregador.

A Convenção nº 103 da OIT de 1952 que versa sobre o Amparo à Maternidade, tendo sido ratificada pelo Brasil em 18/6/1965 e promulgada via Decreto nº 58.820 de 14/7/1966, dispõe que, “Em hipótese alguma, deve o

empregador ser tido como pessoalmente responsável pelo custo das prestações devidas às mulheres que ele emprega (art. IV – 8)”.

Entendemos que tal encargo não deve ser transferido ao empregador, nem mesmo nas hipóteses em que o valor do benefício for superior ao subsídio dos Ministros do Supremo Tribunal Federal (art. 248 da CF/88)217.