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Salário-de-Contribuição (contribuições previdenciárias)

2. DIREITO PREVIDENCIÁRIO

2.4. Financiamento do sistema de Previdência

2.4.1. Salário-de-Contribuição (contribuições previdenciárias)

Importa esclarecer desde logo que salário-de-contribuição e salário-de- benefício são conceitos distintos, embora, no mais das vezes, exigem análise conjunta.

Tendo em vista que o trabalhador, tanto quanto o empregador, deve recolher suas respectivas contribuições previdenciárias, o salário-de-contribuição corresponde ao montante (valor) que servirá de base de cálculo daquela contribuição.

Com a clareza que lhes é peculiar, Castro e Lazzari afirmam que

O salário-de-contribuição é o valor que serve de base de cálculo para a incidência das alíquotas das contribuições previdenciárias dos segurados, à exceção do segurado especial. É um dos elementos de cálculo da contribuição previdenciária; é a medida do valor com a qual, aplicando-se a alíquota de contribuição, obtém-se o montante da contribuição dos segurados empregados, incluindo os domésticos, trabalhadores avulsos, contribuintes individuais e, por extensão, os segurados facultativos50.

48 HARADA, Kiyoshi. Contribuições sociais: doutrina e prática. São Paulo: Atlas, 2015, p. 73. 49 Trata-se da ADI nº 3105, Relatora Min. Ellen Gracie/ Acórdão Min. Cesar Peluso, DJ de 18.2.2005.

50 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de. LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013, p. 241.

Acima já nos manifestamos no sentido de que, por expressa disposição constitucional (§ 3º do art. 201), todos os salários-de-contribuição considerados para o cálculo de benefício serão devidamente atualizados na forma da lei. Trata- se de regra de suma relevância para o segurado, a fim de que possa ter benefício de maior valor, na medida em que os efeitos nefastos da inflação poderiam corroer seu poder aquisitivo com o passar do tempo.

Considerando o objeto de estudo deste trabalho, interessa-nos investigar o que se entende por salário-de-contribuição para o segurado empregado.

A definição de salário-de-contribuição para o empregado consta do inciso I do art. 28 da Lei nº 8.212/91, o qual merece transcrição literal pela relevância que assume:

Art. 28. Entende-se por salário-de-contribuição:

I - para o empregado e trabalhador avulso: a remuneração auferida em uma ou mais empresas, assim entendida a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa;

(...)

O empregado que tiver dois ou mais empregos concomitantes, estará obrigado a contribuir relativamente a cada um deles, sempre observando os limites mínimo e máximo de contribuição.

A contribuição previdenciária do empregado será descontada pelo empregador, o qual assume o papel de responsável tributário, sem perder de vista o fato de que as contribuições para a Previdência são espécie do gênero tributo.

O desconto da contribuição do trabalhador e o não repasse pelo empregador importa crime de apropriação indébita previdenciária (art. 168-A do Código Penal). Do mesmo modo, o empregador que não incluir em folha todas as parcelas salariais do empregado integrantes do salário-de-contribuição (p.ex. salário “por fora”), estará cometendo crime de sonegação de contribuição previdenciária (art. 337-A do Código Penal).

Questão controvertida diz respeito aos casos em que o empregador não descontou a contribuição do empregado ou mesmo quando as descontou em desacordo com a legislação de regência. Quem deve ficar responsável pelo adimplemento dessas contribuições em eventual reclamação trabalhista quando o empregado tem direito a verbas de natureza salarial?

A respeito do tema em análise, em maio/2008 o TST editou a OJ-SDI1- 363, a qual possui a seguinte redação:

OJ-SDI1-363 - DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS E FISCAIS. CONDENA-ÇÃO DO EMPREGADOR EM RAZÃO DO INADIMPLEMENTO DE VERBAS REMUNERATÓRIAS. RESPONSABILIDADE DO EMPRE-GADO PELO PAGAMENTO. ABRANGÊNCIA (DJ 20, 21 E 23.05.2008) A responsabilidade pelo recolhimento das contribuições social e fiscal, resultante de condenação judicial referente a verbas remuneratórias, é do empregador e incide sobre o total da condenação. Contudo, a culpa do empregador pelo inadimplemento das verbas remuneratórias não exime a responsabilidade do empregado pelos pagamentos do imposto de renda devido e da contribuição previdenciária que recaia sobre sua quota-parte. (grifamos)

Acreditamos não ser adequada a orientação do TST sobre a matéria, uma vez que há norma legal em sentido contrário. O § 5º do art. 33 da Lei nº 8.212/91 é expresso no sentido de que:

§ 5º O desconto de contribuição e de consignação legalmente autorizadas sempre se presume feito oportuna e regularmente pela empresa a isso obrigada, não lhe sendo lícito alegar omissão para se eximir do recolhimento, ficando diretamente responsável pela importância que deixou de receber ou arrecadou em desacordo com o disposto nesta Lei. (grifamos)

Nesta linha de ideias, perfilhamos nosso entendimento com Ivani Contini Bramante quando essa assevera que:

A empresa fica diretamente responsável pelo recolhimento das contribuições previdenciárias, referentes ao período em que reconhecido o labor, uma vez que se omitiu quanto ao devido registro em CTPS e oportuna arrecadação (artigo 121, II CTN, e artigos. 30, I, e 33, parágrafo 5º, da Lei 8212/91)51.

51 BRAMANTE, Ivani Contini. Reconhecimento de vínculo empregatício e obrigações

Prosseguindo na análise do tema objeto desse tópico, assim como ocorre com o salário-de-benefício, aqui também há limites mínimo e máximo de salário- de-contribuição. Ou seja, o empregado estará obrigado a contribuir sobre um limite mínimo, mas não estará obrigado a contribuir em valor superior ao limite máximo (teto previdenciário).

O limite mínimo do salário-de-contribuição do empregado corresponde ao piso salarial, legal ou normativo, da categoria ou, inexistindo este, ao salário mínimo, tomado no seu valor mensal, diário ou horário, conforme o ajustado e o tempo de trabalho efetivo durante o mês (§ 3º do art. 28 do Plano de Custeio).

Conforme visto acima, aqui também o limite máximo do salário-de- contribuição é de R$ 4.663,75 (para o ano de 2015). Não mais subsiste antigas regras que limitavam o salário-de-contribuição a determinada quantidade de salários mínimos (5, 10 e 20 salários mínimos). Atualmente o teto do Regime Geral de Previdência Social – RGPS tem um valor específico, não mais sendo mensurado em número de salários mínimos.

Interessante pontuar que tais limites não se aplicam em relação às contribuições do empregador, exceto o empregador doméstico.

Estamos a dizer que, caso determinado empregado tenha um salário-de- contribuição equivalente a 10 mil reais, a contribuição previdenciária do obreiro tomará por base o teto do RGPS (R$ 4.663,75), ao passo que a contribuição do empregador incidirá sobre os 10 mil, haja vista que a quota patronal incide sobre o total da folha de salários (art. 195, I, “a” da CF/88).

O décimo-terceiro salário (gratificação natalina) integra o salário-de- contribuição, exceto para o cálculo de benefício. Tal regra implica dizer que o empregado verterá contribuições para o sistema durante os 12 meses do ano, acrescida de mais uma relativa ao 13º terceiro salário, totalizando 13 contribuições no ano. Entretanto, quando do cálculo do salário-de-benefício (média dos 80% maiores), aquela contribuição relativa ao 13º salário não será levada em conta.

http://www.trtsp.jus.br/geral/tribunal2/LEGIS/CLT/Doutrina/ICB_09_11_07_01.html, Acesso em 10.3.2015.

Como regra, os benefícios previdenciários não integram o salário-de- contribuição, ou seja, sobre o valor do benefício que o empregado estiver recebendo, não haverá incidência de contribuição previdenciária, exceto quanto ao salário-maternidade.

Aliás, é bom que se diga que o salário-maternidade da segurada empregada e da trabalhadora avulsa é o único benefício da Previdência que pode superar o teto do RGPS, estando limitado apenas ao subsidio mensal dos Ministros do STF, na forma do que dispõe o art. 248 da CF/88, com redação dada pela EC 20/9852.

A contribuição do empregado é calculada mediante a aplicação da correspondente alíquota, de forma não cumulativa, sobre o seu salário-de- contribuição mensal, de acordo com a seguinte tabela:

Salário-de-contribuição (R$) recolhimento ao INSS (%) Alíquota para fins de

Até 1.399,12 8,00

de 1.399,13 até 2.331,88 9,00

de 2.331,89 até 4.663,75 11,00

Referida tabela consta do Anexo II da Portaria Interministerial MPS/MF nº 13, de 09 de janeiro de 2015 - DOU de 12/01/2015. Os valores valem a partir de 1º de janeiro de 2015, tendo sido reajustados em 6,23% (seis inteiros e vinte e três décimos por cento).

Exemplo de aplicação da tabela: Carlos recebeu salário do seu empregador no importe de R$ 2.600,00. O valor da contribuição previdenciária a ser descontada do empregado será de R$ 234,00 (9% de 2.600,00). Nesse mesmo exemplo, caso o valor do salário de Carlos for de R$ 6.500,00, sua contribuição previdenciária será calculada sobre o teto do RGPS, perfazendo o importe de R$ 513,01 (11% de 4.663,75)53.

52 Acerca do valor do salário-maternidade, remetemos o ilustre leitor ao item 3.2.3.2.5, no qual fazemos uma análise mais detalhada das regras aplicáveis ao benefício.

53 O valor de R$ 513,01 corresponde ao valor máximo de contribuição previdenciária a ser descontado de um segurado empregado, considerando a tabela vigente em 2015.

A contribuição previdenciária do empregador, em regra, corresponde a 20% (vinte por cento) calculados sobre o total da folha de salários, sem limitação no teto do RGPS54. No exemplo, a quota previdenciária do empregador será de R$ 1.300,00 (20% de 6.500,00), considerando que nesta empresa só tenha o empregado Carlos.

Adicionalmente, a empresa também deverá recolher a alíquota de 1%, 2% ou 3% a título de Seguro Acidente de Trabalho (SAT), em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho. Esses percentuais são calculados sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas, no decorrer do mês em relação ao segurado empregado e trabalhadores avulsos.