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Representação do conceito de dialogismo em 2F-2012

5 OS MODOS DE REPRESENTAÇÃO DO DISCURSO OUTRO

5.6 Representações da escrita de conceitos menos recorrentes nas

5.6.2 Representação do conceito de dialogismo em 2F-2012

Apresentamos, a seguir, análise do conceito de dialogismo do escrito de 2F- 2012. A pesquisa elaborada por 2F-2012 visa a mostrar quais são os efeitos de sentido produzidos pela utilização de figuras de linguagem no gênero anúncio publicitário. Utiliza como referencial teórico os trabalhos desenvolvidos por pesquisadores da área dos estudos do discurso de base bakhtiniana.

Excerto 6

A noção de dialogismo é considerada como mola-propulsora dos escritos bakhtinianos, ocupando lugar privilegiado na concepção teórica do Círculo. Foi exatamente a partir da constatação feita por Bakhtin em relação à essência social da linguagem que surgiu esse princípio dialógico, o qual permeia seu arcabouço teórico.

Observando a palavra diálogo no seu sentido literal, temos a ideia de “resolução de conflitos”, mas para Bakhtin e o Círculo, como menciona Faraco (2009), essa palavra abarca diferentes significações, podendo corresponder a convergência, acordo, desacordo, embate, conflito, adesão, consonâncias, dissonâncias etc. Nessa perspectiva, o sentido do termo diálogo em Bakhtin vai além da comunicação face a face ou do seu sentido literal, podendo ser entendido como a posição axiológica dos sujeitos no discurso através da interação verbal.

De acordo com Barros (2005), coexistem nas obras do Círculo duas concepções diferentes acerca do dialogismo. A primeira consiste no diálogo entre interlocutores e a outra no diálogo entre discursos.

Em relação à primeira, a autora a localiza nos estudos sobre a interação verbal entre sujeitos e a intersubjetividade, apontando para a ideia da ação responsiva do sujeito postulada por Bakhtin, ou seja, “Toda compreensão é prenhe de resposta, e nessa ou naquela forma a gera obrigatoriamente: o ouvinte se torna falante.” (BAKHTIN, 2010, p. 271). Nessa concepção, o diálogo entre sujeitos se insere na ideia de que todo nosso enunciado é produzido em direção ao outro, até mesmo o nosso discurso interior é essencialmente dialógico, pelo fato de estar impregnado de vozes sociais. A esse respeito, Bakhtin/Voloshinov (2010, p.117) afirmam que: “O mundo interior e a reflexão de cada indivíduo têm um auditório social próprio bem estabelecido, em cuja atmosfera se constroem suas deduções interiores, suas motivações, apreciações, etc”.

No que diz respeito à segunda concepção de dialogismo, Barros (2005, p. 33) afirma que os discursos são produzidos a partir de outros discursos, ou seja, todo o discurso é um retorno ao discurso do outro. Para ela, “o dialogismo define o texto como um tecido de muitas vozes ou de muitos textos ou discursos, que se intercruzam, se completam, respondem umas às outras ou polemizam entre si no interior do texto”.

Ainda em relação a essa noção, Fiorin (2008) apresenta três conceitos de dialogismo que permeiam as obras de Bakhtin e o Círculo. O primeiro está situado no modo de funcionamento da linguagem, apresentando sua constituição dialógica, ou seja, para Bakhtin, a linguagem, em qualquer forma, sempre se orienta para o outro. O segundo conceito apresenta o dialogismo mostrado, ou seja, os enunciados de outrem que são incorporados nos

discursos, os quais são facilmente identificados através da composição do enunciado. Um exemplo disso são as citações diretas e indiretas, as paródias, a paráfrase etc. O terceiro conceito apresenta a constituição do sujeito de vozes sociais. Esta última concepção converge com o que Barros (2005) classificou como o diálogo entre interlocutores.

Fonte: 2F-2012

O Excerto 6, em análise, é parte do escrito elaborado pelo pesquisador 2F-2012. Percebemos que o objetivo da mensagem em curso, elaborada pelo pesquisador, é apontar o lugar que o conceito de dialogismo ocupa nos escritos de Bakhtin. Para tanto, de forma afirmativa, insere o discurso outro representado, linguisticamente, sob a forma de DDL, marcado na enunciação pela expressão A noção de dialogismo é considerada como mola-propulsora dos escritos bakhtinianos, [...] o qual permeia seu arcabouço teórico. Desse modo, realiza uma paráfrase discursiva, cujas palavras utilizadas recai sobre o conteúdo do discurso outro.

Percebemos que, ao inserir o discurso outro, sob a forma de DDL, as palavras do outro, discurso segundo o qual o pesquisador fala, aparecem incluídas, semanticamente, em sua mensagem como se fossem suas. Na afirmação comunicada, temos a impressão de que não há espaço para dúvida do que foi enunciado. Contudo, a abertura para o outro, ou seja, para a heterogeneidade que constitui o sentido do dizer, reside, justamente, em virtude da incompletude do dito, da presente indefinição conceitual em relação ao conceito de dialogismo para a concepção bakhtiniana. De acordo com Authier-Revuz (1988, p.160), na forma de representação do discurso outro em DDL, as palavras marcadas no discurso em curso aparecem fazendo referência alusiva direta a palavras, anteriormente enunciadas, ou a um já dito específico existente do mundo discursivo, “o que significa que se pode considerar o DDL como um DD, sem introdutor e sem marca tipográfica”, o que, contudo, não transmite totalmente o sentido real do dizer do outro.

Notemos que o pesquisador realiza esse movimento metaenunciativo de retorno ao dito anterior buscando fixar um sentido para o seu dizer, conforme visto no trecho: observando a palavra diálogo no seu sentido literal. É perceptível, nessa glosa de retorno enunciativo, que, em decorrência da indefinição conceitual, o enunciador procura articular, na sua mensagem, um outro discurso presente no espaço do já-dito, atribuída a palavra diálogo, qual seja, o fragmento a ideia de resolução de conflitos. Contudo, percebemos que essa definição remissiva, modalizada sob a forma de Ilhota textual, não define o sentido da palavra diálogo, ou seja, o preenchimento de um dizer modalizado sob a forma de ilhota textual não esclarece o dito. Para Authier-Revuz

(1988), o modo de dizer por inserção de ilhota textual funciona como um ato de enunciação “não traduzida” que, portanto, não oferece uma resposta definitiva para o discurso outro em representação.

Notemos que, a indefinição do conceito em elaboração, no dizer do pesquisador, vai se estendendo na mensagem, como uma espécie de abertura que obriga o pesquisador a falar sobre sua fala, ou seja, a recorrer a outras palavras para preencher essa abertura. Percebe-se que o pesquisador tenta definir a palavra diálogo, direcionando seu dizer para o que Bakhtin definiu como significado de diálogo, mas para Bakhtin. Assim, a voz do outro é inserida linguisticamente no dizer do pesquisador, pela forma de representação do discurso outro em DI, como menciona Faraco (2009). É, portanto, a interpretação de Faraco (2009) sobre Bakhtin que dá a definição de dialogia.

Observamos que a busca pela definição do conceito de dialogismo materializa-se no dizer do pesquisador, em diferentes formas de representação e inserção do discurso outro, visto nos trechos marcados em que figura o DI de acordo – De acordo com Barros (2005) – mostrando o entendimento de Barros, em relação ao conceito bakhtiniano. No trecho, a autora a localiza, figura a forma de ilhota textual estendida até o fim da mensagem; e, no uso das próprias palavras de Bakhtin, visto em: Toda compreensão é prenhe de resposta, e nessa ou naquela forma a gera obrigatoriamente: o ouvinte se torna falante. (BAKHTIN, 2010, p. 271).; em DI, seguido de ilhota textual do discurso de Bakhtin, Bakhtin/Volóchinov (2010, p.117), quanto à afirmação de que O mundo interior e a reflexão de cada indivíduo têm um auditório social próprio bem estabelecido, em cuja atmosfera se constroem suas deduções interiores, suas motivações, apreciações, etc. Há, ainda, a forma de DI, seguido de ilhota textual do discurso de Barros, marcado em: à segunda concepção de dialogismo, Barros (2005, p. 33) e em, Para ela, “o dialogismo define o texto como um tecido [...] si no interior do texto, e pela forma de DI, da inserção da interpretação realizada por Fiorin, sobre o conceito de dialogismo, marcado em: essa noção, Fiorin (2008) apresenta três conceitos de dialogismo que permeiam as obras de Bakhtin e o Círculo.

Como podemos observar no excerto em análise, há, no texto, além da voz do teórico fonte do discurso em curso, Bakhtin, a presença de três vozes de comentadores, mostradas e marcadas no escrito do pesquisador. Quais sejam: Faraco (2009), Barros (2005) e Fiorin (2008), ou seja, há a presença de diferentes fontes enunciativas que dão apoio a voz do pesquisador em seu escrito.

As vozes enunciativas apresentadas na mensagem conceitual elaborada pelo pesquisador, contudo, se apresentam no dizer de 2F-2012 e falam do mesmo lugar discursivo do teórico Bakhtin, ou seja, a mobilização dos dizeres dos interlocutores acionados que, em um primeiro momento, pode ser entendida como um diálogo entre discursos concordantes com dizer do teórico Bakhtin, é utilizada como discursos que apoiam ou sustentam o dizer do pesquisador. Trata-se da inserção de palavras de pesquisadores do teórico Bakhtin que, pelo lugar que ocupa no texto, tanto substitui as possíveis palavras que o pesquisador venha a atribuir ao teórico, como substitui a voz do próprio teórico.

5.7 Representação de leitura dos conceitos utilizados nas comunidades CPUF e