• Nenhum resultado encontrado

Representação do discurso de outrem em 1P-2008

5 OS MODOS DE REPRESENTAÇÃO DO DISCURSO OUTRO

5.6 Representações da escrita de conceitos menos recorrentes nas

5.6.1 Representação do discurso de outrem em 1P-2008

Apresentamos, a seguir, uma análise do conceito de discurso de outrem do escrito de 1P-2008. O pesquisador 1P-2008 baseia-se nas obras de Bakhtin para analisar livros didáticos de redação empresarial.

Excerto 5

O discurso de outrem é o discurso citado em outro discurso, ou, em outras palavras,

é a incorporação, pelo enunciador, de outras vozes, outros discursos no próprio enunciado:

“é o discurso no discurso, a enunciação na enunciação [...]” (BAKHTIN/VOLOSHINOV, 1929/2004: 144).

Para Brait (2001), na obra do autor russo, “o percurso para a construção do conceito de ‘outro’ está [...] totalmente ancorado na dimensão dialógica [da linguagem].” E a incorporação desse “outro” reflete diretamente no discurso e no receptor, conforme considera Brait (op.cit.):

Ao trabalhar de forma pioneira o discurso citado enquanto enunciação na enunciação, reação da palavra à palavra, discurso no discurso, recepção ativa do discurso de outrem, o teórico [Bakhtin] dá continuidade à configuração do ‘outro’ e

sua participação na constituição do sujeito e das entidades, surpreendendo-o enquanto discurso presente no discurso, uma forma de heterogeneidade mostrada e que aponta para dois ângulos: o ‘outro’ enquanto discurso e o ‘outro’ enquanto receptor. (p.11-12).

As formas de inserção do discurso de outrem impactam na sua recepção ativa “que é fundamental também para o diálogo” (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1929/2004:146). Essas formas devem considerar a pessoa a quem estão sendo dirigidos os enunciados, e utilizar- se dos elementos verbais da língua em uso na sociedade para construir o discurso. Esses elementos variam de acordo com a época, grupos sociais, contexto, país, língua, cultura, etc., conforme já mencionei. Afinal, segundo Bakhtin/Volochinov (1929/2004), as formas de transmissão do discurso de outrem não podem ser separadas do contexto narrativo, erro que o autor atribui à grande parte dos pesquisadores. Além disso, há que se considerar também a interação entre o discurso construído por um interlocutor e o uso que faz do discurso de outrem, em outras palavras, “o discurso a transmitir e aquele que serve para transmiti-lo.” (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1929/2004: 148).

De que forma, porém, se insere o discurso do outro nos enunciados? Bakhtin define duas orientações:

a) aquela em que o discurso citado é nitidamente marcado - estilo linear de citação; b) aquela em que não há separação nítida entre o discurso citado e o narrativo -

estilo pictórico.

Brait (2001) mostra que Bakhtin e Volóchinov, em Marxismo e filosofia da linguagem, voltam-se para o “estudo do discurso citado” (p. 11), considerado geralmente como

Um problema específico de sintaxe, afirmando que a dimensão escolhida deve ser observada de uma perspectiva enunciativo – discursiva, ou seja, a questão do discurso citado dos esquemas linguísticos conhecidos como discurso direto, discurso indireto e discurso direto livre, deve ser tratada de maneira diferente das abordagens gramaticais ou estilísticas: suas modificações variantes de língua (p.11). Fonte: 1P-2008

O Excerto 5, em análise, é parte do escrito elaborado pelo pesquisador 1P-2008. O objeto da mensagem do dizer do pesquisador é a definição do conceito de discurso de outrem. Percebemos que a mensagem inicial de definição conceitual está estruturada pela forma de DI, seguida da inserção do discurso outro representado na forma de ilhota textual, estabelecendo no escrito, um movimento de alternância entre as palavras do pesquisador e as palavras do teórico fonte, Bakhtin. É percebível, portanto, os dois atos de enunciação, em que um discurso complementa o outro, visto no trecho “O discurso de outrem é o discurso citado em outro discurso, ou, em outras palavras, é a incorporação, pelo enunciador, de outras vozes, outros discursos no próprio enunciado: “é o discurso no discurso, a enunciação na enunciação [...]””.

A sequência da mensagem enunciativa é construída pelas formas alternadas de inserção do discurso outro representado por DI, ilhotas textuais e DD. Por meio desses

recursos, percebemos que o pesquisador insere as palavras ditas por um outro (Brait), em referência ao discurso outro (Bakhtin). Vemos, nesse movimento enunciativo, que as palavras do enunciador/pesquisador materializam, no escrito, comentários explicativos realizados por Brait, visto em Para Brait (2001), sobre o conteúdo referente a construção conceitual relacionada ao conceito de outro, elaborado por Bakhtin, marcado pela forma de DI; seguida da ilhota textual de palavras explicativas de Brait: o percurso para a construção do conceito de ‘outro’ está [...] totalmente ancorado na dimensão dialógica [da linguagem]., seguida das palavras do enunciador/pesquisador e da inserção em ilhota textual das palavras de Brait: E a incorporação desse “outro” reflete diretamente no discurso e no receptor, conforme considera Brait (op.cit.):, na sequência, insere uma citação DD textual da palavras de Brait, que demarca na citação, uma explanação explicativa do que, de acordo com a comentadora, é a composição de discurso de outrem para Bakhtin. Observamos, assim, que a explicação de discurso citado está em conformidade com as palavras de Brait.

O enunciado que compõe a mensagem seguinte, obedece às combinações de inserção das palavras do outro pelas formas de ilhota textual e DI. Observamos que, nessa parte da mensagem, o pesquisador procura explicar as divisões e as formas de transmissão que perpassam os pontos de vista cumulativos referentes ao conceito de discurso de outrem. Nesse movimento, a inserção das palavras de Bakhtin é realizada como ilhota textual estendida até o final da mensagem, como visto em: que é fundamental também para o diálogo” (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1929/2004:146) e o

discurso a transmitir e aquele que serve para transmiti-lo.”

(BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1929/2004: 148). O enunciador/pesquisador elabora, ainda, sob a forma de DIL, uma mensagem na qual apresenta uma glosa metaenunciativa, utilizando-se de suas “próprias palavras”, enuncia sua compreensão sobre o modo como Bakhtin define as formas de inserção de discurso citado.

Notamos que o último enunciado da mensagem conceitual é elaborado pela forma de DI, em que é realizada a introdução diretiva das palavras de Brait, visto em: Brait (2001) mostra que Bakhtin e Volóchinov, para, na sequência, citar em DD quase- textual, as palavras de Brait que comenta o que seria, para Bakhtin, as possíveis especificidades do conceito de discurso citado.

Percebemos, portanto, que, na mensagem de definição conceitual do pesquisador 1P-2008, insere-se, de maneira alternada, as palavras de Bakhtin e as palavras da comentadora, Brait. É visível, no fio textual da mensagem, que as palavras de Brait ocupam, no corpo do texto, o espaço de duas citações textuais, enquanto os ditos de

Bakhtin estão apenas inseridos em forma de pequenos trechos, no dizer do pesquisador. Apresentando, dessa forma, um modo de dizer marcado pelas considerações do teórico fonte e o discurso de reformulação explícita dos conceitos do teórico realizados pelos comentadores de sua obra.