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Representação do conceito de gênero em 5P-2008

5 OS MODOS DE REPRESENTAÇÃO DO DISCURSO OUTRO

5.5 Representação linguística do discurso outro na escrita das

5.5.3 Representação do conceito de gênero em 5P-2008

O pesquisador 5P-2008 realiza, em sua pesquisa, uma análise discursiva de dois discursos de mestre de cerimônia, fundamentando-se nos conceitos de enunciado concreto, interação verbal e gênero discursivo, proposto pela teoria bakhtiniana. Em relação ao conceito de gênero, transcrevemos um trecho do escrito do pesquisador 5P- 2008, por meio do qual faremos a análise.

Excerto 3

Gêneros discursivos

Os gêneros são, portanto, maneiras específicas de ser dos textos de determinada esfera de atividade. E essas ‘maneiras de ser’ envolvem os formatos dos textos, ou seja, sua forma de composição; aquilo que se pode dizer neles, seus temas; e o tipo de linguagem, o estilo que podemos utilizar, mais ou menos formal (Brait e Rojo, 2002, p. 9)

Bakhtin percorre a relação entre o uso da linguagem e os enunciados para chegar ao conceito de gênero discursivo. Todos os campos da atividade humana estão relacionados ao uso da linguagem e isso se faz em forma de enunciados (orais e escritos) concretos e únicos, produzidos por integrantes de determinado grupo. “Não podemos falar de gêneros sem pensar na esfera de atividades específicas em que eles se constituem e atuam, aí implicadas as condições de produção, de circulação e de recepção” (Brait, 2002, p. 147)

Fonte: 5P-2008

Como podemos perceber, no Excerto 3, em análise, o objeto da mensagem do dizer do pesquisador é o conceito de gênero discursivo que, de acordo com sua afirmação na fundamentação teórica da pesquisa, está em consonância com os pressupostos de Bakhtin. No excerto elaborado por 5P-2008, como percebemos, são as palavras de outro que iniciam a construção enunciativa de sua mensagem de definição conceitual. Marcada linguisticamente em DD escrupulosamente textual, sob a forma de epígrafe, vemos que o enunciador/pesquisador emprega as palavras ditas por um outro (comentador) em substituição às palavras do teórico fonte para enunciar/falar as primeiras palavras de sua mensagem. Percebemos que não há, no escrito, palavra que

demostre uma explicação feita pelo pesquisador em relação à mobilização das palavras ditas por esse outro (comentador) sobre o outro (Bakhtin), discurso o qual o pesquisador traz para substituir a sua fala e a fala do teórico.

Esse modo de autorrepresentar um dizer apresenta uma situação particular de enunciação. Trata-se de uma construção enunciativa que aponta um distanciamento entre as palavras do enunciador/pesquisador e as palavras do outro (o teórico), mobilizadas no escrito. Nessas situações de enunciação, embora haja dois atos enunciativos (o gesto do enunciador de recortar e afixar as palavras de um outro sobre o outro e a mostração objetiva do discurso do outro), não há uma metaenunciação, há, apenas, a reprodução fiel do conteúdo de mensagem elaborada por um outro, enunciada em substituição ao discurso fonte teórico que fundamenta a pesquisa.

O modo de inserir um discurso outro em uma mensagem, quando construído pelo modo de dizer linguisticamente representado em forma de DD escrupulosamente textual, ocorre quando o enunciador cita exatamente, de modo a reproduzir as palavras do outro ato enunciação sem fazer nenhum comentário anterior a inserção desse dito. De acordo com Authier-Revuz (1988, p. 149), a forma de integrar, em um dizer, as palavras do outro, com o estatuto de palavras apropriadas para dizer de maneira transparente, sem que fique dúvidas para o interlocutor em relação ao que o outro disse, embora marque, no escrito, a reprodução do dito do outro, “um discurso direto escrupulosamente textual não pode, por isso, ser considerado como fiel ou objetivo”, visto que, há nesse tipo de inserção do outro, “uma ficção de apagamento, uma ostentação de objetividade no ‘eu cito’ (com valor de eu não intervenho)” nas palavras ditas por esse outro, ou seja, representa uma maneira de não intervir e nem se responsabilizar pelo conteúdo do discurso mobilizado.

No Excerto em análise, a citação do discurso do outro (comentador) sobre o outro (teórico), ou seja, a citação direta do dizer de Brait e Rojo, em substituição às palavras de Bakhtin, descrita na mensagem pelo enunciador/pesquisador, adquiri o estatuto de duplo distanciamento subjetivo do envolvimento do pesquisador com Bakhtin. Vemos que o pesquisador abre mão, em sua mensagem conceitual, do seu lugar de fala e convoca um outro discurso (Brait e Rojo) para falar sobre o outro (Bakhtin) objeto de sua mensagem.

No parágrafo seguinte, o movimento enunciativo de inserção do discurso outro, na mensagem em curso, se dá sob a forma linguística de DDL, marcado no fragmento Bakhtin percorre, em que o enunciador/pesquisador fala com suas palavras o que interpretou do caminho percorrido por Bakhtin para a construção do conceito de gênero

discursivo. Na sequência, realiza um movimento de inserção das palavras de outro sobre o outro em DD, visto que apresenta um outro ato de enunciação pela citação das palavras do outro, correspondendo a um discurso autorizado que reitera o sentido da mensagem, anteriormente reformulada. Citação evidenciada em Não podemos falar de gêneros sem pensar na esfera de atividades específicas em que eles se constituem e atuam, aí implicadas as condições de produção, de circulação e de recepção” (BRAIT, 2002, p. 147).

Por esse modo de inserção do discurso outro, em que a mensagem enunciativa em referência a esse dizer e marcada no escrito de maneira opaca, na qual as palavras do discurso outro fonte da fundamentação teórica da pesquisa, se faz presente como uma imagem de reminiscência, observa-se uma ausência tanto das palavras referentes ao conteúdo conceitual dito propriamente por Bakhtin, teórico fonte do dizer, quanto das palavras do pesquisador 5P-2008, que mantém uma posição enunciativa, quase ausente, na escrita da mensagem, referente ao conceito de gênero discursivo na fundamentação teórica de sua pesquisa.