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Representação do conceito de gênero dada por 4F-2015

5 OS MODOS DE REPRESENTAÇÃO DO DISCURSO OUTRO

5.5 Representação linguística do discurso outro na escrita das

5.5.4 Representação do conceito de gênero dada por 4F-2015

Apresentamos a análise do conceito de gênero do discurso, transcrito do escrito do pesquisador 4F-2015.

O pesquisador nomeado de 4F-2015 realiza uma investigação sobre a constituição do gênero autoria em monografias de conclusão de curso. Sua pesquisa objetiva identificar e descrever os esquemas de transmissão do discurso de outrem, orientando-se teoricamente pelos postulados bakhtinianos.

Excerto 4

Os gêneros discursivos constituem-se nas práticas sociais de linguagem. São muitos, variados, estão em nosso cotidiano, em todas as esferas de atividade humana. Conforme Brait (2002: 9), os gêneros “são, portanto, maneiras específicas de ser dos textos de determinadas esferas da atividade”.

Cada esfera elabora “tipos relativamente estáveis de enunciados”, definição de Bakhtin (1979/2003) totalmente incorporada nos trabalhos de Análise Dialógica do Discurso.

Maingueneau (2005), ao discorrer sobre qual é sua abordagem de trabalho com textos em seu livro Análise de textos de comunicação, traz um exemplo que clarifica a noção de gêneros discursivos:

Um texto publicitário, por exemplo, não é estudado exclusivamente como um tipo de estrutura textual, uma sequência coerente de signos verbais, nem como um dos elementos da estratégia de marketing, mas como uma

atividade enunciativa ligada a um gênero de discurso: o lugar social do qual ele emerge, o canal por onde passa (oral, escrito, televisivo, ...), o tipo de difusão que implica, etc., não são dissociáveis do modo como o texto se organiza. O analista do discurso pode tomar como base de trabalho um gênero de discurso (uma consulta médica, uma aula de língua, um debate política na televisão, ...), ou um setor do espaço social (um serviço de hospital, um café, um estúdio de televisão, ...), ou ainda um campo discursivo (político, científico, ...); mas ele só parte de um gênero para situá-los em seus lugares, e só delimita um lugar para examinar que gênero(s)

de discurso lhe é (são) associados(s). (p.12).

Há um número praticamente ilimitado de gêneros discursivos, que variam em função da esfera da atividade humana, da época, da cultura e dos propósitos comunicativos. As mudanças de esferas de produção, circulação e recepção implicam o surgimento de novos gêneros. Sobre esse funcionamento dinâmico, Souza (2002), retomando Bakhtin (1981), explica:

a) ao nascer, um novo gênero nunca suprime nem substitui quaisquer gêneros já existentes.

Fonte: 4F-2015

No Excerto 4, percebemos como sendo objeto da mensagem do dizer do pesquisador 4F-2015, a definição do conceito de gênero discursivo. Para tanto, inicia a construção textual enunciativa de sua mensagem em DDL, ou seja, elabora com “suas palavras”, uma breve descrição sobre a presença dos gêneros discursivos nas atividades humanas. Observamos que o modo de inserção do discurso outro, na enunciação, ocorre pelo uso linguístico do DI, modalizado no dizer, como discurso conforme, visto no fragmento conforme Brait (2002: 9). Contudo, como podemos observar, o dizer do outro é inserido na mensagem enunciativa em forma de DI quase-textual, visto que há a presença do modalizador do dizer do outro (conforme), marcado no fragmento conforme Brait e, na sequência enunciativa, demarca sua fala, enunciando a palavra “gênero” realizando, desse modo, um “ajuste mínimo” entre a sua enunciação e a inserção do ato enunciativo do outro, qual seja, a definição dada por Brait para o conceito de gênero, visto no fragmento: “são, portanto, maneiras específicas de ser dos textos de determinadas esferas da atividade”. São palavras que, por terem sido apenas inseridas na linearidade do dizer do pesquisador, ficaram sem interpretação.

As palavras do discurso de outro, deixadas sem interpretação, são retomadas, ou seja, o enunciador/pesquisador, no parágrafo seguinte, realiza uma espécie de metaenunciação sobre a citação dita, pois, como podemos perceber, o enunciado se inicia com as palavras do enunciador, retomando as palavras anteriormente enunciadas na citação. O pesquisador, metaenunciativamente, retoma a palavra “esfera”, contudo,

integra a sua mensagem para dizer/definir, no seu lugar, na forma de ilhota textual, as palavras de Bakhtin, marcado no fragmento Cada esfera elabora “tipos relativamente estáveis de enunciados”, definição de gênero da Bakhtin (1979/2003). Sendo, portanto, uma outra citação, desta vez, é a citação de Bakhtin que define/explica o conceito no lugar do pesquisador.

O enunciado seguinte dá-se como uma espécie de cola dos pedaços de enunciados. Não é estabelecida relação interlocutiva entre o que Brait afirma ser gênero e a afirmação de Bakhtin. A mensagem enunciativa seguinte é inserida pela forma de DI, as palavras de Maingueneau (2005), através das quais, o enunciador/pesquisador elabora, com “suas próprias palavras”, uma espécie de resumo informativo sobre a existência de uma obra de Maingueneau que, segundo ele, ajuda a entender o que é gênero discursivo. Na sequência textual, é inserida, no corpo do texto, sob a forma de DD, uma citação literal do que seria a explicação. De acordo com o pesquisador, a abordagem de Maingueneau clarifica o entendimento do conceito de gênero. Como podemos observar, a inserção da citação de Maingueneau parece que não conseguiu definir para o pesquisador, o real sentido do conceito de gênero. Dúvida de indefinição indicada pela recorrência a um outro discurso, desta vez, pela forma de DI, é feita a inserção das palavras de Souza (2002), em forma de DD para explicar as palavras de Bakhtin sobre o conceito de gênero.

É importante observar que o movimento enunciativo realizado pelo pesquisador para inserir as palavras de Souza (2002) é estabelecido pelo entendimento de que, segundo o pesquisador, Souza (2002), ao retomar as palavras ditas por em Bakhtin (1981), conseguiu explicar com “suas palavras”, melhor do que o próprio Bakhtin, os aspectos relacionados ao conceito de gênero, ou seja, o pesquisador compreendeu melhor o dizer de Bakhtin pelos comentários explicativos elaborados por Souza.

Como verificamos, as palavras referentes as fontes discursivas mobilizadas pelo pesquisador para a escrita do conceito de gênero do discurso ocupam, no fio de sua mensagem, um espaço significativo. As palavras de Bakhtin, fonte teórica a qual o pesquisador afirma está baseada a sua pesquisa aparecem apenas uma vez na mensagem conceitual, como visto em: “tipos relativamente estáveis de enunciados”.

Observamos, no escrito, que as palavras dos comentadores mobilizadas pelo pesquisador exercem, discursivamente, funções variadas na formulação de sua mensagem conceitual. São dizeres que ora assumem a função de definição conceitual, ora assumem a função de reformular metaenunciativamente o dito de outros, referenciando-os de maneiras diferentes, estabelecendo, assim, uma negociação

paralisante com vozes que falam sobre o mesmo referente conceitual. Observamos, ainda, que a tentativa de articulação com discursos de outros não estabelece, no escrito, um diálogo entre os ditos e ainda suspende o conteúdo informacional das palavras da teoria bakhtiniana. Nesse sentido, embora se possa entender a inserção das palavras dos comentadores, como sendo uma não coincidência do discurso com ele mesmo, o sentido dos dizeres dos interlocutores/comentadores inseridos, além de substituir o lugar de fala do pesquisador em seu escrito, substitui, principalmente, o discurso do próprio teórico Bakhtin.

5.6 Representações da escrita de conceitos menos recorrentes nas dissertações das