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1.7 S UBJETIVIDADE E SUJEITO

1.7.3 Representação

O conceito de representação é discutido por vários autores. Moscovici (2003) cita Bower (1977, p. 58), que diz:

[...] Por representação eu quero dizer um conjunto de estímulos feitos pelos homens, que têm a finalidade de servir como um substituto a um sinal, ou som que não pode ocorrer naturalmente. Algumas representações funcionam como substitutos de estímulos; elas produzem a mesma experiência que o mundo natural produziria (MOSCOVICI, 2003, p. 32).

Spink (1993, p. 303) define representação como “uma construção do sujeito enquanto sujeito social. Sujeito que não é apenas produto de determinações sociais nem produtor independente, pois as representações são sempre construções contextualizadas, resultados das condições em que surgem e circulam”, e acrescenta: “as representações sociais não são meras (re)combinações de conteúdos arcaicos sob pressão das forças de grupo. Elas são também alimentadas pelos produtos da ciência, que circulam publicamente através da mídia e das inúmeras versões populares destes produtos” (Ibidem, p. 305, grifo da autora).

Goffman (1975, p. 29) diz que usa o termo representação para “referir a toda atividade de um indivíduo que se passa num período caracterizado por sua presença contínua diante de um grupo particular de observadores e que tem sobre estes alguma influência”.

Moscovici (2003, p. 34-40 passim) afirma que as representações intervêm na atividade cognitiva dos indivíduos e discute sobre até que ponto essas a determinam. Assume que as representações possuem duas funções. A primeira sendo a convencionalização de objetos, acontecimentos e pessoas, dando-lhes forma definitiva, localizando as representações em uma determinada categoria e gradualmente as estabelecendo como modelo de determinado tipo, distinto e partilhado por um grupo de pessoas. E afirma:

Nós pensamos através de uma linguagem; nós organizamos nossos pensamentos, de acordo com um sistema que está condicionado, tanto por nossas representações, como por nossa cultura. Nós vemos apenas o que as

46 convenções subjacentes nos permitem ver e nós permanecemos inconscientes dessas convenções (MOSCOVICI, 2003, p. 35).

Para a segunda função das representações, Moscovici (Ibidem, p. 36) diz serem prescritivas, ou seja, elas se impõem sobre as pessoas com uma força irresistível, sendo essa força uma combinação de uma estrutura que está presente antes mesmo que a pessoa comece a pensar, e de uma tradição que estabelece o que deve ser pensado.

Esse autor (Ibidem, p. 40-41) afirma que as representações não são criadas por um indivíduo isoladamente, surgem de duas ou mais pessoas ou entre grupos e que, uma vez criadas, “adquirem uma vida própria, circulam, se encontram, se atraem e se repelem e dão oportunidade ao nascimento de outras representações, enquanto velhas representações morrem” (Ibidem, p. 41). Acredita que estudar essas representações, suas origens, propriedades e seu impacto é a tarefa principal da psicologia social (Ibidem, p. 41).

Moscovici (Ibidem, p. 13) atribui a Durkheim a separação radical ente as representações individuais e as representações coletivas, sendo as primeiras do campo da psicologia e, as últimas, do campo da sociologia.

As representações coletivas, no sentido clássico, segundo Moscovici (2003),

[...] Se constituem em um instrumento explanatório e se referem a uma classe geral de idéias e crenças (ciência, mito, religião, etc.), para nós, são fenômenos que estão relacionados com um modo particular de compreender e de se comunicar - um modo que cria tanto a realidade como o senso comum (Ibidem, p. 49).

A representação social é definida por Moscovici (2003) como:

Um sistema de valores, idéias e práticas, com uma dupla função: primeiro estabelecer uma ordem que possibilitará às pessoas orientar-se em seu mundo material e social e controlá-lo; e, em segundo lugar, possibilitar que a comunicação seja possível entre os membros de uma comunidade, fornecendo-lhes um código para nomear e classificar, sem ambigüidade, os vários aspectos de seu mundo e da sua história individual e social (Ibidem, p. 21).

Segundo Moscovici (2003), a finalidade das representações sociais é:

[...] Tornar familiar algo não-familiar, ou a própria não-familiaridade. [...] A dinâmica das relações é uma dinâmica de familiarização, onde os objetos, pessoas e acontecimentos são percebidos e compreendidos em relação a prévios encontros e paradigmas. [...] O pensamento social deve mais à

47 convenção e à memória do que à razão; deve mais às estruturas tradicionais do que às estruturas intelectuais ou perspectivas correntes (MOSCOVICI, 2003, p. 54-55, 57).

As representações sociais e a ciência são diferentes entre si, mas ao mesmo tempo são complementares. Moscovici (Ibidem, p. 60) diz que Bachelard “observou que o mundo em que nós vivemos e o mundo do pensamento não são um só e o mesmo mundo”.

Para tornar familiar o não-familiar, Moscovici (Ibidem, p. 60-78 passim) diz que é necessário pôr em funcionamento dois mecanismos, ou seja, maneiras de lidar com a memória, que são a ancoragem e a objetivação. A ancoragem “mantém a memória em movimento e a memória é dirigida para dentro, está sempre colocando e tirando objetos, pessoas e acontecimentos, que ela classifica de acordo com um tipo e os rotula com um nome” (Ibidem, p. 78). A objetivação “sendo mais ou menos voltada para fora (para outros), tira daí conceitos e imagens para juntá- los e reproduzi-los no mundo exterior, para fazer coisas conhecidas a partir do que já é conhecido” (Ibidem, p. 78).

Sá (1998, p. 62-63) diz que Jodelet (1984) delineia pelo menos seis diferentes perspectivas de estudo para representações sociais, em diferentes tradições de estudo do pensamento social. Assim, esse autor aconselha ao pesquisador iniciante que não se preocupe muito com essa profusão de diferentes maneiras de conceituar os fenômenos da representação social, apesar de elas existirem de fato e não haver como excluir algumas delas simplesmente por não serem compatíveis com a perspectiva teórica que se prefira. Acrescenta que todos podem argumentar, “mas definitivamente ninguém tem autoridade ou poder para legislar sobre os limites do campo de estudo, em termos de quais perspectivas devem ou não fazer parte dele”

(Ibidem, p. 64).

Para sintetizar as representações sociais, Moscovici (2003, p. 242) diz que “todos nossos discursos, nossas crenças, nossas representações provêm de muitos outros discursos e muitas outras representações elaboradas antes de nós e derivadas delas. É uma questão de palavras, mas também de imagens mentais, crenças, ou pré-concepções”.

Buscando pontuar as diferenças sobre representações sociais, Spink (1993, p. 301) citando Sperber (1989) apresenta as abordagens na psicologia e antropologia. Dentre essas, caracteriza as representações como “elementos coletivos, comunicados repetidamente e

48 distribuídos igualmente numa determinada formação social”, sendo então representações culturais que diz serem objeto de estudo da antropologia.