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RESULTADOS E DISCUSSÃO

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Friendrich Nietzsche

Capítulo 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa foi realizada em 47 trabalhadores convidados, com idade variável entre 30 e 60 anos e média de idade de 37,9 anos, do sexo masculino, que trabalham em um mesmo posto de trabalho, no setor da centrifugação na fundição de uma indústria metalúrgica do ramo de autopeças em São Bernardo do Campo no Estado de São Paulo.

Os dados coletados nos prontuários sobre as lesões ocupacionais e absenteísmo geraram os seguintes resultados:

TABELA 1 – Dados estatísticos das lesões ocupacionais e do absenteísmo.

Lesões Ocupacionais Quantidade de Casos Horas de Absenteísmo

Queimaduras 42 16.128

DORTS 41 14.328

Trauma sem Fratura 25 528

Trauma com Fratura 8 872

Ferimento Corto Contuso 16 402

Trauma por Corpo Estranho 11 76

Dermatites 5 19

Total 148 43.728

A maior incidência de diagnóstico das lesões ocupacionais foi constatada em queimaduras o que se justifica por tratar-se de uma fundição; pelo trabalho na fábrica nota-se que esses acidentes acontecem não pelo não uso do equipamento de proteção individual, mas porque esses equipamentos não são adequados às condições de calor e também pelo processo de produção onde se fosse usada maior tecnologia não haveria os respingos de metal que causam as queimaduras.

A saber: se a temperatura externa for de 30°C a temperatura no posto de trabalho estudado chega a aproximadamente 60°C e por esse motivo todos recebem insalubridade, como se esse dinheiro pudesse compensar os danos à saúde do indíviduo.

As fundições existem em maior quantidade nos países subdesenvolvidos, e nas fundições que existem nos países desenvolvidos - onde existe maior respeito com o trabalhador e maior tecnologia - se faz uso de uniformes tipo macacão, aluminizados e com sistema de refrigeração interna porém esse tipo de uniforme tem um custo muito superior ao usado na fundição em questão.

Em segundo lugar com grande incidência também encontramos as doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho. É observado que muitos desses trabalhadores recorrem ao serviço de fisioterapia dentro da empresa e nos traz a luz uma questão importante que é o uso de recursos analgésicos, utilizados nesses trabalhadores que em seguida retornam ao seu posto de trabalho com menos dor e

“prontos para realizarem seu trabalho a todo vapor”. Será que esse tipo de

procedimento não faz aumentar a cronicidade da lesão? Não foi encontrada resposta para esta questão na literatura.

A questão do diagnóstico das DORTS não deixa de ser também algo preocupante porque muitas vezes esse diagnóstico é realizado sem maiores critérios como confirma o estudo de Sikorski (1989) que apresenta esse impasse quando, para determinar o padrão de síndrome músculo-esquelética, analisa 204 sujeitos com relatos de doença ocupacional em braços e pescoço. Conclui que em 58% das pessoas, a disfunção músculo esquelética existia, mas que para 42%, o tal diagnóstico não acontecia e a natureza da doença, nesses casos, era discutível. Antes de rotular um indivíduo como doente, deve-se reconhecer que tanto o “doente” quanto o “não-doente” não existem em si, como um dado da “natureza” ou da cultura, mas como sujeitos que recebem a denominação de doentes, vinda da medicina, e que respondem a esta como doentes ou como não-doentes (BRANT, 2001). É na condição de efeitos de práticas lingüísticas que alguém se identifica e se reconhece como doente ou não-doente.

Em relação aos problemas com as informações na área de Saúde do Trabalhador, a literatura apresenta um vasto número de estudos. O mais expressivo exemplo destes problemas está na notificação das doenças profissionais. Mendes (1986) assinala que em relação à ocorrência das doenças profissionais em nosso país, ocorre um fenômeno comum a outros países em mesmo estágio de desenvolvimento, ou seja, sua incidência, a julgar pelas estatísticas oficiais, é extremamente baixa. Prossegue ainda o autor:

contudo, não é difícil suspeitar que a verdadeira situação não é tão favorável assim, devem estar ocorrendo tanto a falta de diagnóstico quanto o sub-registro dos casos diagnosticados.

Segundo a Comissão de Saúde e Trabalho (1990), a partir de uma investigação realizada no município de Cubatão, São Paulo, revelam a “face oculta” da notificação também nos acidentes de trabalho. Dos 197 episódios de acidentes do trabalho, descritos de modo detalhado pelos trabalhadores entrevistados em seus domicílios, constataram os autores que 35 (17,7%) referiam ter sido feito o registro no INSS, enquanto que 52 (26,3%) afirmavam não ter sido o acidente registrado. A maioria, ou seja, 89 casos (45,1%) mencionou ter sido registrado o acidente apenas no serviço médico da empresa ou em outros serviços médicos. Além disso, 21 casos (10,6%) não sabiam se tinham ou não sido registrados.

Possas (1981), que estudou exaustivamente a questão das informações, sintetiza claramente as razões da subnotificação: ...os fatores que explicam o sub-registro dos acidentes seriam: a existência de certa de 40% de trabalhadores no país sem carteira assinada; as restrições que a legislação acidentária vem progressivamente sofrendo na conceituação do acidente e das doenças do trabalha; as restrições à concessão dos benefícios; as restrições no acesso ao judiciário; e, finalmente, a tendência crescente, favorecida pela Previdência Social, no sentido de se transferir às empresas a responsabilidade pelos acidentes, resolvendo-os no próprio local de trabalho e sem notificá-los ao INSS, o que, além de subestimar os casos passíveis de notificações, ainda desloca o seu registro para os casos mais graves.

Os dados referentes ao questionário social geraram os seguintes resultados:

TABELA 2 – Dados referentes às idades e horas de absenteísmo:

Grupos de Absenteísmo 30 – 39 anos 40 – 49 anos 50-60 anos Total de Trabalhadores do Grupo Grupo 1 - 0 Horas de Absenteísmo 7 6 2 15 Grupo 2 - 1 a 600 Horas de Absenteísmo 4 3 3 10 Grupo 3 - 601 a 1000 Horas de Absenteísmo 4 3 4 11 Grupo 4 -acima de 1000 horas de Absenteísmo 3 4 4 11

Observando-se os dados apresentados na Tabela 2 conclui-se que a idade não é um fator determinante na avaliação dentro dos grupos de absenteísmo e nem comparativamente entre os grupos.

Segue tabela referente a média de idade entre os grupos e a seguir considerações sobre a variável idade e o absenteísmo por lesão ocupacional.

TABELA 3 – Dados referentes aos grupos de absenteísmo e a média da idade dos trabalhadores de cada grupo.

Grupos de Absenteísmo Média de Idades

Grupo 1 - 0 Horas de Absenteísmo 37

Grupo 2 - 1 a 600 Horas de Absenteísmo 38

Grupo 3 - 601 a 1000 Horas de Absenteísmo 41

Grupo 4 - Acima de 1000 Horas de Absenteísmo 41

Na observação durante as anamneses realizadas, teve-se a impressão que trabalhadores com idade superior aos quarenta anos apresentavam menor índice de absenteísmo, o que poderia dar-se ao fato de serem talvez mais prudentes ou ainda por preferirem omitir a lesão por medo de perderem o emprego, haja vista que no Brasil

por causa da legislação trabalhista se torna mais difícil conseguir emprego após os quarenta anos.

Porém, nesta pesquisa não encontramos dados com significância estatística em relação à idade e absenteísmo, talvez isso se deva pelo número da amostra. Na pesquisa em literatura também não encontramos descritos; traz-se a luz o fato de que ainda existem poucos dados acerca das lesões ocupacionais e esses são muitas vezes omitidos pelas empresas, o que não permite fazer uma correlação precisa entre idade e absenteísmo.

Seguem abaixo as tabelas referentes ao estado civil e número de dependentes e suas considerações.

TABELA 4 – Dados referentes ao estado civil e os grupos de absenteísmo:

Grupos de Absenteísmo Solteiro Casado Separado/ Divorciado Grupo 1 – 0 Horas de Absenteísmo 6 9 0 Grupo 2 - 1 a 600 Horas de Absenteísmo 4 6 0 Grupo 3 - 601 a 1000 Horas de Absenteísmo 5 6 0 Grupo 4- Acima de 1000 Horas de Absenteísmo 3 7 1 Total 18 28 1

Os dados referentes ao estado civil e número de dependentes foram considerados dentro do questionário social porque foi levada a hipótese que os indivíduos que constituem família, talvez omitissem a lesão e a dor por medo de perder o emprego e, por muitas vezes, terem mais responsabilidades em sua vida familiar, enquanto indivíduos solteiros nem sempre tem a obrigatoriedade com gastos para manutenção da estrutura familiar.

Os resultados obtidos na pesquisa mostram hegemonia entre o número de solteiros e casados, tendo apenas um indivíduo divorciado entre os grupos não houve diferença relevante.

TABELA 5 – Dados referentes ao número de dependentes e os grupos de absenteísmo: Grupos de Absenteísmo 0 Dependentes 1 Dependente 2 Dependentes 3 Dependentes 4 Dependentes Grupo 1- 0 Horas de Absenteísmo 6 3 4 1 1 Grupo 2 - 1 a 600 Horas de Absenteísmo 3 2 3 1 1 Grupo 3 - 601 a 1000 Horas de Absenteísmo 3 2 4 1 1

Grupo 4 -Acima de 1000 Horas

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